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27/04/2011

Só peço que olheis para Ele


Obras de misericórdia
Caravaggio
Esta frase de Santa Teresa de Jesus sempre criou em mim uma certa mossa interior. Olhar para Cristo, fazer-lhe perguntas, sobre o que Ele faria em situações idênticas às minhas, deixar-me acompanhar por Ele, sempre foi para mim motivo de paz interior e motor do meu agir...
Mas ultimamente, quando leio os escritos de Santa Teresa, quando peregrino até Ávila, a sua terra Natal, esta frase tem mexido comigo a outro nível: ao nível dos meus irmãos mais carenciados. “Olhar para Ele” não só quando rezo mas sobretudo quando me “cruzo” com  Ele pelos caminhos da vida.

“Só peço que olheis para Ele”
Nesta frase simples de Teresa escuto hoje o apelo:
Olha para Ele que vive sozinho, abandonado, numa casa sem condições, com uma reforma de 150€ que não dá para pagar  sequer o que gasta na farmácia e o que deve na mercearia. E ao olhar para Ele, olho-o concretamente, na senhora que visito todas as semanas e que conheço pelo nome, que não digo por respeito a esta senhora, que não tem apoio de viuvez porque o marido trabalhou sempre para um latifundiário que nunca lhe fez descontos, que não teve filhos, mas que educou duas sobrinhas que hoje “não a conhecem”, não ajudam nem visitam. Se não fosse o MTA que “encarnado” nos seus voluntários vai passando pela casa desta senhora, o que seria deste “Cristo” abandonado que vive todo dia acompanhada pelas imagens de uma televisão antiga que quase não funciona e que, pela sua surdez não lhe ouve as palavras? Quer estar na sua casinha e ainda bem porque se batemos à porta de uma Instituição para idosos a casa está sempre cheia se não tem por traz o FC (quero dizer factor cunha) ou um bom punhado de Euros para dar de “entrada”.

“Só peço que olheis para Ele”
E “olhei para Ele” na “Alexandra”, 52 anos, cancerosa, numa minúscula casa arruinada, um marido alcoólico, que lhe bate, que a humilha chamando-lhe nomes, que não me atrevo a deixar aqui, perante a queda do cabelo, efeito da quimioterapia, um filho toxicodependente que lhe rouba a comida, que não a deixa dormir, que a engana e maltrata e se ri das metástases exteriores que a mãe transporta no seu corpo.
Sento–me a seu lado, olho para ela, ponho as suas mães entre as minhas, ficamos em silêncio, e rezo como se estivesse a “olhar para Ele”.
Quanto  sofres Senhor. Põe o Amor no meu coração para que saiba olhar para Ti, sofredor na “Alexandra” e amar – Te nela.

Quão atual é hoje o grito de Teresa de Jesus:

Só peço que olheis para Ele”!
maria de fátima magalhães, STJ, in Ecclesia, 2011.04.27

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