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25/07/2020

Filosofia e religão


Teologia do Sacrosanctum Concilium 3

3 – O mistério pascal

Depois de ter esboçado a história da salvação, o Concílio Vaticano II diz em sua constituição sobre a liturgia: “Esta obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas operadas no povo do antigo testamento, completou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão.
Por este mistério, Cristo, ‘morrendo, destruiu a nossa morte e ressuscitando, recuperou a nossa vida’ [i]. Pois do lado de Cristo dormindo na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja. Portanto, assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para pregarem o evangelho a toda criatura, (…) mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação através do sacrifício e dos sacramentos, sobra os quais gira toda a vida litúrgica. (…) Nunca, depois (…) a Igreja deixou de se reunir para celebrar o mistério pascal: lendo «tudo quanto a ele se referia em todas as escrituras» [ii], celebrando a eucaristia, na qual se torna presente a vitória e o triunfo de sua morte [iii] e, ao mesmo tempo, dando graças ‘a Deus pelo dom inefável’ [iv] em Jesus Cristo, ‘para louvor de sua glória’ [v], pela força do Espírito Santo” [vi].

O mistério pascal é, portanto, a páscoa de Jesus que Ele viveu, há quase dois mil anos, sua paixão, morte, ressurreição e ascensão. Esta páscoa, no entanto, é o ponto culminante de. toda a vida e obra pascal de Jesus. E devemos abrir o horizonte ainda mais: Ela tinha seus prelúdios no antigo testamento e se completará no fim dos tempos. Ela é realmente o centro de toda a história da salvação.
No entanto, desde que Jesus, que se tinha tornado um de nós pela encarnação, nos uniu a si pelo dom do Espírito Santo, que é o fruto da sua páscoa, somos um com ele e ele connosco como membros do seu corpo místico, como filhos e filhas do Pai do céu. Assim também nossa vida e história são vida e história de Cristo glorioso. Os bispos latino-americanas reunidos em Medellin, no ano de 1968, disseram claramente que Cristo está “activamente presente em nossa história” e que “não podemos deixar de sentir seu passo que salva quando se dá o verdadeiro desenvolvimento” (Docum. de Medellin, introdução n. 5-6). Portanto, nosso sofrer e vencer são participação da morte e ressurreição de Cristo, da sua páscoa. A páscoa de Cristo continua na páscoa do povo.
Ora, é esta páscoa de Cristo e do povo que celebramos quando na liturgia anunciamos a morte do Senhor e proclamamos a sua ressurreição, até que ele venha. É como também os bispos em Medellin constataram: “A presença do mistério da salvação, enquanto a humanidade peregrina até sua plena realização na parusia do Senhor, culmina na celebração da liturgia eclesial” (Cap. 9,2).

Ainda uma outra dimensão do mistério pascal e de sua celebração foi destacada em Medellin, quando os bispos ai reunidos declararam: “O gesto litúrgico não é autêntico se não implica um compromisso de caridade, um esforço sempre renovado para ter os sentimentos de Jesus Cristo e uma continua conversão” (Cap. 9,3). Logo em seguida lemos no documento de Medellin: “Na hora actual de nossa América Latina, como em todos os tempos, celebração litúrgica coroa e comporta um compromisso com a realidade humana (…) precisamente porque toda a criação está inserida no desígnio salvador” (Cap. 9,4).

Desta maneira Medellin explicitou e acentuou uma constatação que o Concílio Vaticano II já tinha feito, dizendo que “a liturgia é o cume para o qual tende a acção da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10). Embora o Concílio tenha falado da liturgia como cume e fonte da acção da Igreja, é evidente que a liturgia, na qual celebramos o mistério pascal, é o ponto culminante também de toda a vida da Igreja, e não apenas da Igreja, e sim de toda a humanidade e de sua história.


(P. Gregório Lutz, CSSp)



[i] Prefácio da páscoa
[ii] Lc 24,27
[iii] Conc. de Trento
[iv] 2 Cor 9,15
[v] Et 1,12
[vi] SC 5s

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