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05/06/2020

LEITURA ESPIRITUAL


São Marcos

Cap. XIV




1 Dali a dois dias era a Páscoa e os Ázimos; os príncipes dos sacerdotes e os escribas andavam buscando o modo de O prender à traição, para O matar.2 Porém, diziam: «Não convém que isto se faça no dia da festa, para que não se levante nenhum motim entre o povo».3 Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão o leproso, enquanto estava à mesa, veio uma mulher trazendo um frasco de alabastro cheio de um perfume feito de verdadeiro nardo, de um grande valor e, quebrando o frasco, derramou-Lho sobre a cabeça.4 Alguns dos que estavam presentes indignaram-se e diziam entre si: «Para que foi este desperdício de perfume? 5 Pois podia-se vender por mais de trezentos denários e dá-los aos pobres». E irritavam-se contra ela. 6 Mas Jesus disse: «Deixai-a. Porque a molestais? Ela fez-Me uma boa obra, 7 porque pobres sempre os tereis convosco, e quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; porém a Mim, não Me tereis sempre. 8 Ela fez o que podia: ungiu com antecipação o Meu corpo para a sepultura. 9 Em verdade vos digo: Onde quer que for pregado este Evangelho por todo o mundo, será também contado, para sua memória, o que ela fez». 10 Então, Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os príncipes dos sacerdotes para lhes entregar Jesus. 11 Eles ouvindo-o, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava ocasião oportuna para O entregar.12 No primeiro dia dos Ázimos, quando imolavam a Páscoa, os discípulos perguntaram-Lhe: «Onde queres que vamos preparar-Te a refeição da Páscoa?». 13 Então, Ele enviou dois dos Seus discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade e encontrareis um homem levando uma bilha de água; ide atrás dele, 14 e, onde entrar, dizei ao dono da casa: “O Mestre manda dizer: Onde está a Minha sala onde hei-de comer a Páscoa com os Meus discípulos?”. 15 E ele vos mostrará uma sala superior, grande, mobilada e já pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». 16 Os discípulos partiram e chegaram à cidade; encontraram tudo como Ele lhes tinha dito, e prepararam a Páscoa. 17 Chegada a tarde, foi Jesus com os doze. 18 Quando estavam à mesa e comiam, disse Jesus: «Em verdade vos digo que um de vós, que come comigo, Me há-de entregar». 19 Então começaram a entristecer-se, e a dizer-Lhe um por um: «Porventura sou eu?». 20 Ele disse-lhes: «É um dos doze que se serve comigo do mesmo prato. 21 O Filho do Homem vai, segundo está escrito d'Ele, mas, ai daquele homem por quem for entregue o Filho do Homem! Melhor fora a esse homem não ter nascido». 22 Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciada a bênção, partiu-o, deu-lho e disse: «Tomai, isto é o Meu corpo». 23 Em seguida, tendo tomado o cálice, dando graças, deu-lho, e todos beberam dele. 24 E disse-lhes: «Isto é o Meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por todos. 25 Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da videira, até àquele dia em que o beberei novo no reino de Deus». 26 Cantados os salmos, foram para o monte das Oliveiras. 27 Então Jesus, disse-lhes: «Todos vós vos escandalizareis, pois está escrito: “Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão”. 28 Mas, depois de Eu ressuscitar, preceder-vos-ei na Galileia». 29 Pedro, porém, disse-Lhe: «Ainda que todos se escandalizem a Teu respeito, eu não». 30 Jesus disse-lhe: «Em verdade te digo que hoje, nesta mesma noite, antes que o galo cante a segunda vez, Me negarás três vezes». 31 Porém, ele insistia ainda mais: «Ainda que seja preciso morrer contigo, não Te negarei». E todos diziam o mesmo. 32 Chegando a uma herdade, chamada Getsemani, Jesus disse aos Seus discípulos: «Sentai-vos aqui enquanto vou orar». 33 Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a sentir pavor e angústia. 34 E disse-lhes: «A Minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai». 35 Tendo-Se adiantado um pouco, prostrou-Se por terra e pedia que, se era possível, se afastasse d'Ele aquela hora.36 Dizia: «Abba, Pai, todas as coisas Te são possíveis; afasta de Mim este cálice; porém, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres». 37 Depois, voltou e encontrou-os a dormir, e disse a Pedro: «Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora? 38 Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, na verdade, está pronto mas a carne é fraca». 39 Tendo-Se retirado novamente, pôs-Se a orar, repetindo as mesmas palavras. 40 Voltando, encontrou-os outra vez a dormir, porque tinham os olhos pesados pelo sono. Não sabiam que responder-Lhe. 41 Voltou terceira vez, e disse-lhes: «Dormi agora e descansai. Basta!, é chegada a hora; eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. 42 Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que Me há-de entregar». 43 Ainda falava, quando chega Judas Iscariotes, um dos doze, e com ele muita gente armada de espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes, pelos escribas e pelos anciãos. 44 O traidor tinha-lhes dado um sinal dizendo: «Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-O e levai-O com cuidado». 45 Logo que chegou, aproximando-se imediatamente de Jesus, disse-Lhe: «Mestre!», e beijou-O. 46 Então eles lançaram-Lhe as mãos e prenderam-n'O. 47 Um dos presentes, tirando a espada, feriu um servo do sumo sacerdote e cortou-lhe uma orelha. 48 Jesus tomando a palavra, disse-lhes: «Como se Eu fosse um ladrão viestes prender-Me com espadas e varapaus? 49 Todos os dias estava entre vós ensinando no templo e não Me prendestes. Mas isto acontece para que se cumpram as Escrituras». 50 Então, os discípulos, abandonando-O, fugiram todos. 51 Um jovem seguia Jesus coberto somente com um lençol e prenderam-no. 52 Mas ele, largando o lençol, escapou-se-lhes nu. 53 Levaram Jesus ao sumo sacerdote e juntaram-se todos os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas. 54 Pedro foi-O seguindo de longe, até dentro do pátio do sumo sacerdote. Estava sentado ao fogo com os criados, e aquecia-se. 55 Os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho buscavam algum testemunho contra Jesus, para O fazerem morrer, e não o encontravam. 56 Muitos depunham falsamente contra Ele, mas não concordavam os seus depoimentos. 57 Levantaram-se uns que depunham falsamente contra Ele, dizendo: 58 «Nós ouvimo-l'O dizer: “Destruirei este templo, feito pela mão do homem, e em três dias edificarei outro, que não será feito pela mão do homem”». 59 Porém, nem estes testemunhos eram concordes. 60 Então, levantando-se do meio da assembleia o sumo sacerdote, interrogou Jesus, dizendo: «Não respondes nada ao que estes depõem contra Ti?». 61 Ele, porém, estava em silêncio e nada respondeu. Interrogou-O de novo o sumo sacerdote e disse-Lhe: «És Tu o Cristo, o Filho de Deus bendito?». 62 Jesus respondeu: «Eu sou, e vereis o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus, e vir sobre as nuvens do céu». 63 Então, o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: «Que necessidade temos de mais testemunhas? 64 Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?». E todos O condenaram como réu de morte. 65 Então começaram alguns a cuspir-Lhe, a cobrir-Lhe o rosto e a dar-Lhe murros, dizendo-Lhe: «Profetiza!». Os criados receberam-n'O a bofetadas. 66 Entretanto, estando Pedro em baixo no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote. 67 Vendo Pedro, que se aquecia, encarando-o disse: «Tu também estavas com Jesus Nazareno». 68 Mas ele negou: «Não sei, nem compreendo o que dizes». E saiu para fora, para a entrada do pátio, e o galo cantou. 69 Tendo-o visto a criada, começou novamente a dizer aos que estavam presentes: «Este é daqueles». 70 Mas ele o negou de novo. Pouco depois, os que ali estavam presentes diziam de novo a Pedro: «Verdadeiramente tu és um deles, porque também és galileu». 71 Ele começou a fazer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem de quem falais». 72 Imediatamente cantou o galo segunda vez. Pedro lembrou-se da palavra que Jesus tinha dito: «Antes que o galo cante duas vezes, Me negarás três». E começou a chorar.

Comentários:

Está absolutamente definido: para Deus, o mais importante é o AMOR. Foi e é, o Amor, que moveu e continua movendo, Deus, como Criador, como Pai, como Dono e Senhor de quanto existe. Ama o homem por aquilo que ele é: uma criatura fruto do Seu amor. Não se pode amar o que não se conhece e, Deus, conhece-nos intima­mente com todos os nossos defeitos e fraquezas e, também, as nossas virtudes e boas acções. Mesmo quando nos afastamos dele continua a amar-nos porque o Seu amor por nós não é condicionado pelo nosso amor por Ele.
Levanta-se uma questão a respeito deste trecho do Evangelho: “Quem não ama Deus não ama o próximo, ou, se se ama o próximo tem de se amar a Deus?” Parece óbvio que o amor é um só: o amor de Deus pelos homens! De facto Deus não só criou o homem por amor mas criou-o para amar. Sendo verdade que Deus ama todos os homens e que estes são o reflexo, a própria imagem de Deus, não será possível haver como que uma “divisão” do amor entre o amor a Deus e o amor ao próximo. Assim, aquele que ama o próximo, ama de facto a Deus embora, por qualquer razão, possa não O conhecer. Por isso é tão importante o apostolado, que mais não é que um serviço para que todos conheçam Deus.
         São Marcos descreve o que ouviu de São Pedro com a riqueza de detalhes que nos garante um relato fidedigno do que se passou. Jesus Cristo é um "adivinho"? Não!
Jesus Cristo sendo Deus conhece o passado o actual e o futuro, aliás, para Ele, tudo é presente.
                A prudência é uma virtude importantíssima na vida cristã. sobretudo nas tarefas de apostolado deve ter-se muito em conta que agir imprudentemente pode não só deitar a perder o esforço já feito como até fazer ou dizer algo que não seja de todo conveniente. O homem prudente é avisado, não age nem por impulso nem por entusiasmo. Prepara convenientemente a sua acção tomando conselho apropriado de quem melhor o poderá guiar. Nosso Senhor dá-nos, neste trecho de São Marcos, uma autêntica lição de prudência ficando claríssimo que não se trata nem de medo ou receio mas, de agir em conformidade com o que é aconselhável.
         Jesus Cristo quer que tudo se cumpra como está determinado nos planos da Redenção, por isso mesmo, usa a precaução que se impõe para que não se saiba onde vai celebrar a Páscoa com os Doze. Convém até que, um dos Doze, não saiba de antemão, onde será. Todos os factos, episódios e acontecimentos que antecedem a Paixão são importantes mas, neles, avulta a Última Ceia porque, justamente será durante a mesma, que Cristo, depois da saída de Judas, instituirá o Sacerdócio ao dar aos Seus Apóstolos a faculdade de repetirem para todo o sempre o milagre da Consagração Eucarística. De facto, é onde O Senhor decide, com uma generosidade e humildade que nos espanta, ficar para sempre connosco para ser o nosso alimento, o Viático para a Vida Eterna.
         Uma vez mais, Jesus, mostra-nos como é necessária prudência nas coisas que a Ele respeitam. Prudência que não tem que ver nem com medo ou cobardia mas, tão só, não desprezar as medidas e atitudes que as circunstâncias aconselhem. Ao enviar dois discípulos com instruções algo “misteriosas” para escolherem a sala onde iriam comer a Páscoa, Jesus quer pôr a recato a possibilidade de Judas, que sabia, o iria trair, se poder adiantar no seu torpe desígnio. Assim, ninguém saberia, de antemão, onde Se encontraria Jesus e os Seus discípulos antes da hora que, desde sempre, estava destinada a ser a hora da prisão, no Getzemani.
         O poder da Fé! Assim se poderia titular este trecho de São Marcos. Os exemplos dados são propositadamente exagerados e até estranhos - ninguém mandará um monte plantar-se no mar - para que fique bem claro que Deus pode tudo e a oração pode obter tudo. O que pedirmos não deixará de ser atendido se o pedido for conveniente segundo os critérios divinos.
         A honestidade intelectual é algo que muitos desdenham e, no entanto, ela é fundamental para agir com verdade e são critério. Procurar razões onde não existem, perguntas capciosas e mal intencionadas, isto é o que fazem muitos que se propõem a eles próprios como mestres e guias. Mas, o pior é que haverá sempre quem os ouça e siga, iludidos e enganados na sua busca da verdade. É a verdade é só uma: Jesus Cristo: Ele É a Verdade!

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