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Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus

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Amor humano e castidade

Para manter intimidade com o meu Senhor, já vo-lo contei muita vez, utilizei também - não me importo que se saiba - as canções populares que se referem, quase sempre, ao amor.
Delicio-me a ouvi-las!
O Senhor escolheu-me a mim e a alguns de vós para que fôssemos totalmente seus e transformássemos em divino o amor nobre das cantigas humanas.
É o que o Espírito Santo faz no Cântico dos Cânticos.
É o que fizeram os místicos de todos os tempos.

Escutai estes versos da Santa de Ávila:

Se quereis que esteja descansado
Quero, por amor, descansar;
Se me mandais trabalhar,
Quero morrer trabalhando.
Dizei: onde, como e quando?
Dizei, dizei, doce Amor:
Como quereis de mim dispor?

Ou aquela canção de S. João da Cruz que começa de um modo encantador:

Sofrendo, só, um pequeno pastor,
Alheio ao prazer, sem contentamento,
Na sua pastora tem o pensamento
E o peito sangra-lhe em penas de amor.


Quando é limpo, o amor humano merece-me um imenso respeito, uma enorme veneração.
Não haveríamos nós de estimar o carinho nobre e santo dos nossos pais, ao qual devemos uma grande parte da nossa amizade com Deus?
Eu abençoo esse amor com as duas mãos e sempre que me perguntaram porquê com as duas mãos, respondi imediatamente: porque não tenho quatro!

Bendito seja o amor humano! Mas a mim, o Senhor pediu-me mais. A própria teologia católica o afirma: entregar-se exclusivamente a Jesus, por amor do Reino dos Céus e, por Jesus, a todos os homens, é mais sublime do que o amor matrimonial.
Isto não tira que o matrimónio seja um sacramento e sacramentum magnum.

Seja como for, cada um deve esforçar-se por viver delicadamente a castidade, no seu lugar respectivo e com a vocação que Deus lhe infundiu na alma - solteiro, casado, viúvo, sacerdote.
A razão é que a castidade é virtude para todos e a todos exige luta, delicadeza, esmero, rijeza, essa finura que só se compreende, quando nos colocamos junto do Coração apaixonado de Cristo na Cruz. Não vos preocupeis se a tentação vos espreita: uma coisa é sentir, outra é consentir.
A tentação pode afastar-se facilmente com a ajuda de Deus.
O que não convém, de modo algum, é dialogar com ela.

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Meios para vencer

Vejamos com que recursos é que, nós, cristãos, podemos contar para vencer nesta luta por guardar a castidade, não como anjos, mas como mulheres e homens sãos, fortes, normais!
Venero os anjos com toda a minha alma e une-me uma grande devoção a esse exército de Deus, mas não gosto de os comparar connosco, porque a sua natureza é diferente e qualquer equiparação seria uma desordem.

Generalizou-se em muitos ambientes um clima de sensualidade que, ajudado pela confusão doutrinal, leva muita gente a justificar ou, pelo menos, a mostrar a tolerância mais indiferente para com todo o género de costumes licenciosos.

Devemos ser o mais limpos possível em relação ao corpo, mas sem medo, porque o sexo, é algo santo e nobre - participação no poder criador de Deus-, foi feito para o matrimónio.
Assim, limpos e sem medo, dareis com a vossa conduta o testemunho da viabilidade e da formosura da santa pureza.

Antes de mais, empenhemo-nos em afinar a consciência, aprofundando o que for preciso, até ficarmos com a segurança de termos adquirido uma boa formação, distinguindo bem entre consciência delicada, que é uma graça de Deus, e consciência escrupulosa que é outra coisa.

Cuidai com esmero da castidade e também das virtudes que a acompanham e a salvaguardam: a modéstia e o pudor.
Não olheis com ligeireza as normas, tão eficazes, que nos ajudam a conservarmo-nos dignos do olhar de Deus: a guarda atenta dos sentidos e do coração; a valentia de ser cobarde para fugir das tentações; a frequência dos sacramentos, especialmente da Confissão sacramental; a sinceridade total na direcção espiritual pessoal; a dor, a contrição e a reparação depois das faltas.
E tudo isto ungido com uma terna devoção a Nossa Senhora, de modo que ela nos obtenha de Deus o dom de uma vida limpa e santa.

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Se, por desgraça, se cai, é preciso levantar-se imediatamente. Com a ajuda de Deus, que não nos faltará se usarmos os meios adequados, chegaremos, o mais depressa possível, ao arrependimento, à sinceridade humilde, à reparação, para que a derrota momentânea redunde numa grande vitória de Jesus Cristo.

Habituai-vos também a travar a luta longe das muralhas principais da fortaleza.
Não podemos andar a fazer equilíbrios nas fronteiras do mal; temos de evitar com firmeza o voluntário in causa.
Temos de afastar a mais pequena falta de amor, temos de fomentar as ânsias de apostolado cristão, contínuo e fecundo, que necessita da santa pureza como alicerce, sendo esta, aliás, um dos seus frutos mais característicos.
Devemos, além disso, encher o tempo com trabalho intenso e responsável, procurando a presença de Deus, porque nunca nos podemos esquecer que fomos comprados por alto preço e que somos templos do Espírito Santo.

Que outros conselhos vos hei-de eu sugerir, senão os que sempre foram utilizados pelos cristãos que pretendiam, de verdade, seguir Cristo?
Trata-se, afinal, dos mesmos que empregaram os primeiros a escutarem o apelo de Jesus: o encontro assíduo com o Senhor na Eucaristia, a invocação filial da Santíssima Virgem, a humildade, a temperança, a mortificação dos sentidos - porque não convém olhar o que não é lícito desejar, advertia S. Gregório Magno - e a penitência.

Dir-me-eis que, ao fim e ao cabo, tudo isto é uma síntese da vida cristã.
Na verdade, não seria correcto separar a pureza, que é amor, da essência da nossa fé, que é a caridade, ou seja, um renovado apaixonar-se por Deus que nos criou, nos redimiu e que nos estende continuamente a sua mão, ainda que muitas vezes não nos apercebamos disso.
Deus não nos pode abandonar.
Sião dizia: Yavé abandonou-me e o Senhor esqueceu-se de mim. Pode a mulher esquecer-se do fruto do seu ventre, não se compadecer do fruto das suas entranhas?
Pois, ainda que ela se esquecesse,
Eu não te esqueceria.
Não vos causam estas palavras uma enorme alegria?

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Digo frequentemente que são três as coisas que nos dão alegria na terra e nos alcançam a felicidade eterna do Céu: a fidelidade firme, dedicada, alegre e indiscutida à fé, à vocação que cada um recebeu e à pureza.
Quem ficar agarrado às silvas do caminho - isto é, à sensualidade, à soberba...-, há-de ficar por sua própria vontade; se não rectificar, será um desgraçado, porque virou as costas ao Amor de Cristo.


Volto a afirmar que todos temos misérias.
Isso, porém, não é razão para nos afastarmos do Amor de Deus.
É, sim, estímulo para nos acolhermos a esse Amor, para nos acolhermos à protecção da bondade divina, como os antigos guerreiros se metiam dentro da sua armadura.
Esse ecce ego, quia vocasti me, conta comigo porque me chamaste, é a nossa defesa.
Não devemos fugir de Deus quando descobrimos as nossas fraquezas, mas devemos combatê-las, precisamente porque Deus confia em nós.

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Como é que conseguiremos superar estas coisas mesquinhas? Insisto neste ponto, porque ele se reveste de importância capital: com humildade e sinceridade na direcção espiritual e no sacramento da Penitência.
Ide aos que vos dirigem espiritualmente, com o coração aberto.
Não o fecheis porque, se se mete o demónio mudo pelo meio, depois é difícil lançá-lo fora.

Perdoai-me a insistência, mas julgo imprescindível que fique gravado a fogo nas vossas inteligências que a humildade e a sua consequência imediata a sinceridade, se ligam com os outros meios de luta e fundamentam a eficácia da vitória.
Se a tentação de esconder alguma coisa se infiltra na alma, deita tudo a perder; se, pelo contrário, é vencida imediatamente, tudo corre bem, somos felizes e a vida caminha rectamente.
Sejamos sempre selvaticamente sinceros, embora com modos prudentemente educados.

Quero dizer-vos com toda a clareza que me preocupa muito mais a soberba do que o coração e a carne.
Sede humildes!
Sempre que estiverdes convencidos de que tendes toda a razão, é porque não tendes nenhuma.
Ide à direcção espiritual com a alma aberta.
Não a fecheis, porque então intromete-se o demónio mudo e é muito difícil expulsá-lo.


Lembrai-vos do pobre endemoninhado que os discípulos não conseguiram libertar.
Só o Senhor o pôde fazer com oração e jejum. Naquela altura o Mestre realizou três milagres.
O primeiro foi fazê-lo ouvir, porque quando o demónio mudo nos domina, a alma fica surda; o segundo foi fazê-lo falar; e o terceiro foi expulsar o diabo.

(cont)


Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?

Evangelho e comentário


TEMPO COMUM


Evangelho: Lc 14, 1. 7-14

Naquele tempo, Jesus entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus para tomar uma refeição. Todos O observavam. Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola: «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». Jesus disse ainda a quem O tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem os teus vizinhos ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás retribuído. Mas quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te: ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.

Comentário:

Como sempre, Jesus Cristo aproveita os episódios da vida corrente para doutrinar os que O ouvem.
Trata-se de uma doutrina que é facilmente compreensível porque, na verdade, ela versa sobre o comportamento correcto e adequado a ter nas diferentes ocasiões e circunstâncias.
Pode ver-se que o comportamento humano terá de ser contido e discreto, com uma total ausência desejos de proeminência ou destaque, como que atribuindo-se a si mesmo uma categoria ou um estatuto que ele próprio define.

Claro que, no fim e ao cabo, tudo tem a ver com o orgulho pessoal e a falta de modéstia.
E, é bem verdade, que estes comportamentos sendo desagradáveis para os outros não podem granjear nem simpatia nem amizades.

(AMA, comentário sobre Lc 14, 1. 7-14, 19.06.2019)



Temas para reflectir e meditar


Fidelidade


A primeira de todas as fidelidades é o amor à verdade.
Não se pode ser fiel sem conhecer a verdade, essa verdade que é a concordância do juízo com o ser das coisas determinado em si mesmo, não “o que me parece” ou “o que me interessa”.


(javier abad gómezFidelidade, Quadrante, 1991 pg. 26) 



A família: santificar o lar dia a dia


“Cada lar cristão – disse S. Josemaria numa homilia pronunciada em 1970 – deveria ser um remanso de serenidade, em que se notassem, por cima das pequenas contrariedades diárias, um carinho e uma tranquilidade, profundos e sinceros, fruto de uma fé real e vivida.". (Cristo que passa, 22, 4)

É verdadeiramente infinita a ternura de Nosso Senhor. Olhai com que delicadeza trata os seus filhos. Fez do matrimónio um vínculo santo, imagem da união de Cristo com a sua Igreja, um grande sacramento em que se fundamenta a família cristã, que há-de ser, com a graça de Deus, um ambiente de paz e de concórdia, escola de santidade. Os pais são cooperadores de Deus. Daí nasce o amável dever de veneração, que corresponde aos filhos. Com razão, o quarto mandamento pode chamar-se – escrevi-o há tantos anos – o dulcíssimo preceito do Decálogo. Se se vive o matrimónio como Deus quer, santamente, o lar será um lugar de paz, luminoso e alegre. (Cristo que passa, 78, 6)

Famílias que viveram de Cristo e que deram a conhecer Cristo. Pequenas comunidades cristãs que foram centros de irradiação da mensagem evangélica. Lares iguais aos outros lares daqueles tempos, mas animados de um espírito novo que contagiava aqueles que os conheciam e com eles conviviam. Assim foram os primeiros cristãos e assim havemos de ser os cristãos de hoje: semeadores de paz e de alegria, da paz e da alegria que Cristo nos trouxe. (Cristo que passa, 30, 5)

Comove-me que o Apóstolo qualifique o matrimónio cristão como «sacramentum magnum», sacramento grande. Também daqui deduzo que o trabalho dos pais de família é importantíssimo.

– Participais do poder criador de Deus e, por isso, o amor humano é santo, nobre e bom: uma alegria do coração, à qual Nosso Senhor, na sua providência amorosa, quer que outros livremente renunciemos.

Cada filho que Deus vos concede é uma grande bênção divina: não tenhais medo aos filhos! (Forja, 691)

Ao pensar nos lares cristãos, gosto de imaginá-los luminosos e alegres, como foi o da Sagrada Família. A mensagem de Natal ressoa com toda a força: Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade. Que a Paz de Cristo triunfe nos vossos corações, escreve o Apóstolo. Paz por nos sabermos amados pelo nosso Pai, Deus, incorporados em Cristo, protegidos pela Virgem Santa Maria, amparados por S. José. Esta é a grande luz que ilumina as nossas vidas e que, perante as dificuldades e misérias pessoais, nos impele a seguir animosamente para diante. Cada lar cristão deveria ser um remanso de serenidade, em que se notassem, por cima das pequenas contrariedades diárias, um carinho e uma tranquilidade, profundos e sinceros, fruto de uma fé real e vivida. (Cristo que passa, 22, 4)

Santificar o lar no dia-a-dia, criar, com carinho, um autêntico ambiente de família: é disso precisamente que se trata. Para santificar cada um dos dias, é necessário exercitar muitas virtudes cristãs; em primeiro lugar, as teologais e, depois, todas as outras: a prudência, a lealdade, a sinceridade, a humildade, o trabalho, a alegria... (Cristo que passa, 23, 4)