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15/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

ESPELHO DE JUSTIÇA



De todas a mais bela criatura
em que ab aeterno Deus e comprazia
– bendita estrela que no Céu fulgura –
é o espelho de Deus, Santa Maria.

- Espelho sem labéu que em noite escura
do Sol dos sóis reflecte a luz e guia
e acende em todos flamas de candura,
ânsias de justiça, estos de alegria.

- Imagem da beleza e da bondade
que resplandecem em Jesus seu Filho
e que Ela só com perfeição traduz…

Quem é que, em doce enleio, amar não há-de,
reproduzindo-a com esmero e brilho,
na de Maria a imagem de Jesus!...

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Hoy el reto del Amor es preparar un detalle sorpresa para alguien que te venga al corazón

MENSAJERÍA EN ACCIÓN

Ayer recibimos un paquete devuelto. Lo habíamos enviado hace ya bastantes días, pero debió de suceder que el destinatario no estaba en casa y, como no consiguieron contactar con él, finalmente la mensajería lo reenvió de vuelta al lugar de donde había partido.

Recuerdo perfectamente haber preparado ese paquete con ilusión, esperando que lo que nos habían pedido llegase bien y pronto pudieran disfrutar de ello. Creo que por ello, cuando recibimos la devolución, me invadió una sensación de frustración... pues mi interior ya consideraba que lo tendrían es sus manos, y, sin embargo, ahí estaba, de vuelta.

Seguí haciendo mis cosas, hasta que, al rato, me puse a dar vueltas sobre ello. Me asombré al pensar cómo el Señor me envía "gracia tras gracia", esperando que acoja cada uno de esos "paquetes", que los disfrute y sea feliz con ellos.

Sin embargo, ¡cuántas de estas gracias se me pasan desapercibidas! Y no es porque el Señor no las mande (que Él siempre lo hace), sino porque quizá sea yo la que no está en casa, en mi ser, en mi corazón, que es donde se escucha el timbre, la llamada del Señor.

Sin embargo, Él nunca tiene esa sensación de frustración que me invadió a mí, ya que su Amor por nosotros es incondicional. Ahí me di cuenta de la pequeñez de mi entrega y de mi amor tan limitado, que normalmente espera una respuesta, un "gracias"...

Pero Él nos ama gratuitamente, y nunca busca satisfacerse a sí mismo, sino que sólo piensa en nosotros, sólo ve nuestras necesidades, y nunca se cansará de enviarnos, uno tras otro, estos "paquetes" tan especiales. Es más, Él nunca se cansará de buscar al destinatario por muy lejos que esté de casa.

Hoy el reto del Amor es preparar un detalle sorpresa para alguien que te venga al corazón. Experimenta en tu propio ser la ilusión de la que se llena el Señor al regalarnos su Gracia. Deja que Cristo guíe tu corazón, reza primero y prepara algo que forme parte de ti y que veas que a la otra persona le va a ayudar, le va a acercar más al Señor.

VIVE DE CRISTO

Jesus Cristo e a Igreja – 154

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

V. FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS DA DISCIPLINA DO CELIBATO

…/111


Fundamento histórico doutrinal

…/7

A proibição apostólica de que nenhum casado duas vezes devia ser admitido às Sagradas Ordens tem sido observada, com todo rigor, através dos séculos e se encontrava entre as irregularidades no Código de 1917 (cân. 984, 4).
Na canonística clássica ensinava-se que a dispensa desta proibição não era possível nem pelo Sumo-Pontífice, pois nem sequer ele poderia dispensar contra apostolum, isto é, contra a Sagrada Escritura.


(cont)


(revisão da versão portuguesa por ama)

Doutrina – 270

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

49. Como operam as três Pessoas divinas?

Inseparáveis na sua única substância, as Pessoas divinas são inseparáveis também no seu operar: a Trindade tem uma só e mesma operação. Mas no único agir divino, cada Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na Trindade.

«Ó meu Deus, Trindade que eu adoro... pacificai a minha alma; fazei dela o vosso céu, vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que eu não vos deixe nunca só, mas que esteja lá, com todo o meu ser, toda vigilante na minha fé, toda em adoração, toda oferecida à vossa acção criadora». [1]








[1] Beata Isabel da Trindade

Epístolas de São Paulo – 46

2ª Epístola de São Paulo aos Coríntios

III. DEFESA DE PAULO (10,1-13,13)

Capítulo 11

Auto-elogio do Apóstolo

1Oxalá pudésseis suportar um pouco de insensatez da minha parte! Mas, de certo, ma suportareis. 2Sinto por vós um ciúme semelhante ao ciúme de Deus, pois vos desposei com um único esposo, Cristo, a quem devo apresentar-vos como virgem pura. 3Mas receio que, como a serpente seduziu Eva com a sua astúcia, os vossos pensamentos se deixem corromper, desviando-se da simplicidade que é devida a Cristo. 4Pois de boamente aceitais alguém que surge a pregar-vos outro Jesus diferente daquele que nós pregámos, ou acolheis um espírito diferente daquele que recebestes, ou um Evangelho diverso daquele que abraçastes. 5Ora, eu penso que em nada sou inferior a esses super-apóstolos. 6E embora seja menos perito na palavra, não o sou, certamente, na ciência. Em tudo e de todas as maneiras vo-lo temos demonstrado. 7Porventura cometi alguma falta, ao humilhar-me para vos exaltar, quando vos anunciei gratuitamente o Evangelho de Deus? 8Despojei outras igrejas, recebendo delas o sustento para vos servir, 9e encontrando-me necessitado no meio de vós, não fui pesado a ninguém, pois os irmãos vindos da Macedónia é que proveram às minhas necessidades. Em tudo me guardei de vos ser molesto e continuarei a fazê-lo. 10Pela verdade de Cristo que está em mim, não me será tirado este motivo de glória nas regiões da Acaia. 11E porquê? Porque não vos amo? Deus o sabe! 12O que faço, continuarei a fazê-lo, para não dar qualquer pretexto àqueles que o buscam, a fim de aparecerem como nós naquilo de que se gloriam. 13Esses tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçados de apóstolos de Cristo. 14E não é de estranhar! Também Satanás se disfarça em anjo de luz! 15Não é por isso grande coisa se os seus ministros se disfarçarem de servidores da justiça. O fim deles será conforme às suas obras.

Trabalhos apostólicos de Paulo (Act 15-28)

16Volto a dizê-lo. Ninguém me tenha por insensato. Ou então, aceitai-me como insensato, para que também eu possa gloriar-me um pouco. 17O que vou dizer, não o digo segundo o Senhor, mas como num assomo de insensatez, certo de que tenho motivos para me gloriar. 18Já que muitos se gloriam por motivos humanos, também eu o vou fazer. 19Na verdade, tão sensatos como sois, suportais de bom grado os insensatos. 20Suportais quem vos escraviza, vos devora, vos explora, vos trata com arrogância, vos esbofeteia. 21Para nossa vergonha o digo: como fracos nos mostramos. Mas daquilo de que alguém se faz forte - eu falo como insensato - também eu me posso fazer. 22São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São descendentes de Abraão? Também eu. 23São ministros de Cristo? - Falo a delirar - eu ainda mais: muito mais pelos trabalhos, muito mais pelas prisões, imensamente mais pelos açoites, muitas vezes em perigo de morte. 24Cinco vezes recebi dos Judeus os quarenta açoites menos um. 25Três vezes fui flagelado com vergastadas, uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar. 26Viagens a pé sem conta, perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus irmãos de raça, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos da parte dos falsos irmãos! 27Trabalhos e duras fadigas, muitas noites sem dormir, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! 28Além de outras coisas, a minha preocupação quotidiana, a solicitude por todas as igrejas! 29Quem é fraco, sem que eu o seja também? Quem tropeça, sem que eu me sinta queimar de dor? 30Se é mesmo preciso gloriar-se, é da minha fraqueza que me gloriarei. 31O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não minto. 32Em Damasco, o etnarca do rei Aretas mandou guardar a cidade dos damascenos para me prender. 33Mas fui descido num cesto, por uma janela, ao longo da muralha, e assim escapei das suas mãos.


Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS 


Vol. 2

LIVRO X

CAPÍTULO XXI

Acerca da ciência e da vontade eternas e imutáveis de Deus, em conformidade com as quais sempre lhe agradaram as obras que fez, tanto antes com o depois de as fazer.

Que se deve, na verdade, entender por esta frase repetida a propósito de tudo

Deus viu que isso era bom,[i]

senão a aprovação da obra realizada em conformidade com a arte que é a Sabedoria de Deus? Certamente que Deus não esperou acabar a sua obra para saber que ela era boa. Pelo contrário — nada teria feito se lhe fosse desconhecido. Para Ele, portanto, ver que a sua obra é boa — e se a não tivesse visto antes de a criar não a teria feito — não é aprender, mas ensinar-nos que é boa. E certo que Platão se atreveu a dizer que Deus exultou de alegria depois de ter acabado o Universo. Não era, todavia, tão louco que acreditasse que Deus com a novidade da sua obra se tornara mais feliz. Quis assim mostrar que esta obra, um a vez realizada, agradou ao seu artífice, tal qual como lhe tinha agradado no seu projecto antes de ser realizada. Não é que mude a ciência de Deus e opere nela de forma diferente o que ainda não é, o que já é e o que foi. Em Deus não há, como em nós, a previsão do futuro, a visão do presente e a recordação do passado, é totalmente diferente a sua m aneira de conhecer, ultrapassando, muito acima e de muito longe, os nossos hábitos mentais. Ele vê com um olhar absolutamente imutável, sem levar o seu pensamento de um objecto para outro. Por conseguinte, o que se passa no tempo compreende, certam ente, não só acontecimentos futuros que ainda não são, mas também presentes que já são e passados que já não são. Mas Ele abarca-os a todos na sua estável e sempiterna presença. Não os vê de forma diferente com os olhos do espírito pois não é com posto de corpo e alma. Nem agora de forma diferente de antes ou depois. Diferentemente do nosso, na verdade, o conhecimento que Ele tem dos três tempos — presente, passado e futuro — não está sujeito a mudança porque

nele não há vicissitude nem sombra de mudança2.[ii]

A sua atenção não passa de um pensamento para outro pensamento, mas ao seu olhar incorpóreo tudo o que sabe está simultaneamente presente. É que ele conhece os tempos sem qualquer representação temporal, assim como move o que está sujeito ao tempo sem sofrer qualquer movimento temporal.

Ele viu, pois, que a sua obra era boa precisamente quando viu que era bom realizá-la. E o facto de a ver, uma vez realizada, não dobrou nem aumentou a sua ciência com o se fosse menos sábio antes de criar o que veria; porque as suas obras não alcançariam toda a sua perfeição se não tivesse actuado por uma ciência de tal forma perfeita que a nenhuma delas nada poderia acrescer.

É por isso que, para nos ensinar que é o autor da luz, bastava dizer Deus fez a luz. E para nos ensinar, não apenas que a fez, mas também por que meio, bastaria anunciá-lo assim:

E disse Deus: Faça-se a luz e a luz fez-se.[iii]

Porque assim saberíamos que Deus fez a luz e que a fez pelo seu Verbo. Mas com o há três coisas a respeito das criaturas, dignas de serem conhecidas, que tinha de nos ensinar — quem a fez, por que meio a fez e porque a fez acrescenta:

E disse Deus: Faça-se a luz e a luz fez-se. E viu Deusque a luz era boa.[iv]

Se, portanto, perguntamos — quem a fez? Foi Deus; se perguntamos — por que meio a fez? Disse: Faça-se, e ela fez-se; se perguntam os — porque a fez? Porque é boa. Ora, não há autor mais perfeito do que Deus, nem arte mais eficaz do que o Verbo de Deus, nem causa melhor do que esta: o bem foi criado por um Deus bom! E o próprio Platão — quer porque o leu, quer, talvez, porque o aprendeu dos que o leram, quer porque o seu génio tão penetrante o levou a perceber pela sua inteligência as perfeições invisíveis de Deus através das realidades visíveis, quer porque o aprendeu dos que assim as tinham visto — considera justíssima esta razão da criação do mundo: que as obras sejam feitas por um Deus bom.


CAPÍTULO XXII

Dos que desprezam alguns dos seres do Universo, bem feitos pelo criador bom, e julgam que algumas naturezas são más.

Todavia, certos hereges não admitem esta causa, isto é, a bondade de Deus, que explica a criação dos seres bons, esta causa, repito, tão justa e tão conveniente que, considerada com cuidado e religiosamente m editada, põe termo a toda a controvérsia acerca da origem do mundo. E não a admitem porque há muitas coisas, tais como o fogo, o frio, os animais ferozes e outras deste teor que, quando se lhes faz oposição, ferem a pobre e frágil mortalidade desta carne, aliás, fruto de um justo castigo. Não reparam — quão cheias de vigor estão essas coisas na sua natureza e nos seus lugares próprios,

— em que bela ordem estão dispostas,

— que beleza conferem por suas proporções a todo o Universo como à sua com uma república,

— ou ainda que vantagens a nós próprios proporcionam se delas soubermos fazer um uso inteligente e apropriado: os próprios venenos, nocivos se tomados inconsideradamente, transformam-se em medicamentos salutares se aplicados com critério. Pelo contrário, mesmo as coisas com que nos deleitamos, como o alimento, a bebida e esta luz, tornam-se nocivas se usadas imoderada e inoportunamente. Por isso, nos adverte a Divina Providência para que não inculpemos à toa as coisas, mas indaguemos diligentemente a utilidade delas; e, quando falhar o nosso engenho ou a nossa debilidade, pensemos antes que essa utilidade está oculta como os segredos que dificilmente podemos descobrir. Porque o próprio segredo desta utilidade é uma provação para a nossa humildade ou uma mortificação para o nosso orgulho, pois uma natureza jamais é um mal e esta palavra mais não designa que uma privação de bem. Mas da Terra até ao Céu, do visível até ao invisível, há bens — uns superiores aos outros: tinham de ser desiguais para todos existirem. Mas Deus, que é um tão grande artífice nas coisas grandes, não o é menos nas pequenas, as quais se não devem medir pela sua grandeza (que é nula), mas segundo a sabedoria do seu autor. Assim, se se raspa um a só sobrancelha da face do homem, ao seu corpo bem pouco se tira mas quanto se tira à sua beleza! — porque esta não consiste no tamanho mas na semelhança e proporção dos membros.

Não é muito de admirar, com certeza, que aqueles que crêem na existência de um a natureza má, proveniente de e propagada por algum princípio contrário, se recusem a ver na bondade de Deus, autor dos seres bons, a causa da criação — preferindo crer que Deus foi levado a criar esta grande mole do Mundo pela extrema necessidade de repelir o mal que contra ele se levantava. E para o reprimir e superar, misturou ao mal a sua natureza boa, e esta, assim poluída da mais vergonhosa forma e oprimida pela mais cruel servidão, apenas pelo preço de pesados esforços consegue Deus purificá-la e libertá-la, não inteiramente, porém: mas a parte que não pôde ser purificada desta contaminação tornar-se-á envoltório e liame do inimigo vencido e aprisionado. Não teriam assim perdido o juízo os maniqueus, ou melhor, não teriam assim caído em delírio, se considerassem a natureza de Deus como ela é na realidade: imutável e absolutamente incorruptível, nada lhe podendo ser nocivo; e se a respeito da alma (que por sua vontade pode decair, pode corromper-se pelo pecado e ser assim privada da luz da verdade imutável), a considerassem com sentido cristão, não como uma parte de Deus nem da natureza de Deus, mas sim com o criada por ele, imensamente inferior ao seu Criador.



(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Gen., I, 4-10-12-18-21-25-30.
[ii] Tiago, I, 17.
[iii] Gen., I, 3.
[iv] Ibd.

Tens de conviver, tens de compreender

Tens de conviver, tens de compreender, tens de ser irmão dos homens teus irmãos, tens de pôr amor – como diz o místico castelhano – onde não há amor, para colher amor. (Forja, 457)

Jesus Cristo, que veio salvar todos os povos e deseja associar os cristãos à sua obra redentora, quis ensinar aos seus discípulos – a ti e a mim – uma caridade grande, sincera, mais nobre e valiosa: devemos amar-nos mutuamente como Cristo nos ama a cada um de nós. Só desta maneira, isto é, imitando o exemplo divino – dentro da nossa rudeza pessoal – conseguiremos abrir o nosso coração a todos os homens, amar de um modo mais elevado, inteiramente novo.

Que bem puseram os primeiros cristãos em prática esta caridade ardente, caridade que sobressaía e transbordava dos limites da simples solidariedade humana ou da benignidade de carácter. Amavam-se uns aos outros de modo afectuoso e forte, através do Coração de Cristo. Um escritor do século II, Tertuliano, transmitiu-nos o comentário dos pagãos, comovidos ao presenciarem o comportamento dos fiéis de então, tão cheio de atractivo sobrenatural e humano: Vede como se amam, repetiam.

Se notas que não mereces esse louvor agora ou em tantas ocasiões do dia-a-dia; que o teu coração não reage como devia às exigências divinas, pensa também que chegou o momento de rectificares.


O principal apostolado que nós, os cristãos, temos de realizar no mundo, o melhor testemunho de fé é contribuir para que dentro da Igreja se respire o clima de autêntica caridade. Quando não nos amamos verdadeiramente, quando há ataques, calúnias e inimizades, quem se sentirá atraído pelos que afirmam que pregam a Boa Nova do Evangelho? (Amigos de Deus, nn. 225–226)

Pequena agenda do cristão

SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?