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03/05/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 14, 16-14

6 Jesus disse-lhe: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim. 7 Se Me conhecesseis, também certamente conheceríeis Meu Pai; mas desde agora O conheceis e já O vistes». 8 Filipe disse-Lhe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta». 9 Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não Me conheces, Filipe? Quem Me viu, viu também o Pai. Como dizes, pois: Mostra-nos o Pai? 10 Não acreditais que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que vos digo, não as digo por Mim mesmo. O Pai, que está em Mim, Esse é que faz as obras. 11 Crede em Mim: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim. 12 Crede-o ao menos por causa das mesmas obras. «Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que crê em Mim fará também as obras que Eu faço. Fará outras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai. 13 Tudo o que pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. 14 Se Me pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu a farei.

Comentário:

Uma vez mais Jesus Cristo assegura que atenderá aos pedidos feitos em Seu Nome.

Não tenhamos, pois, receio de não ser atendidos.

Se o que pedimos não for conveniente ou mal endereçado Ele fará com que seja satisfeito da forma mais justa para nós.

(ama, comentário sobre Jo 14, 6-14, 2014.05.03)



Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES


LIVRO DÉCIMO-TERCEIRO

CAPÍTULO XIX

Ainda a terra seca

Mas antes, lavai-vos, purificai-vos, arrancai a iniquidade dos vossos corações e dos meus olhos, para que apareça a terra seca. Aprendei a fazer o bem, sede justos para com o órfão e defendei a viúva, para que a terra produza a erva tenra e árvores cheias de frutos. Vinde e dialoguemos, diz o Senhor, e assim no firmamento do céu se acenderão luminares que brilharão por sobre a terra.

Aquele rico perguntava ao bom Mestre o que deveria fazer para ganhar a vida eterna. E o bom Mestre, que é bom porque é Deus, e não um homem como o rico o considerava, declarou-lhe: “O que deseja conseguir a vida deve observar os mandamentos, afastar de si a amargura da malícia e da iniquidade, não matar, não cometer adultério, não roubar, não prestar falso testemunho, a fim de que se mostre a terra seca, geradora do respeito do pai e da mãe e do amor ao próximo.

– Tudo isto já fiz – diz o rico. – De onde vêm pois tantos espinhos, se a terra é fértil? – Vai, arranca os espessos emaranhados da avareza, vende os teus bens, enriquece-te dando tudo aos pobres, e possuirás um tesouro no céu; segue o Senhor se queres ser perfeito, junta-te aos que ele instrui nas palavras de sabedoria, ele que sabe o que se deve dar ao dia e à noite. Também tu o saberás, e eles se tornarão para ti luminares no firmamento do céu. Mas isso não se realizará se ali não estiver o teu coração, e o teu coração, não estará onde não estiver o teu tesouro – Assim falou o teu bom Mestre. Mas a terra estéril entristeceu, e os espinhos sufocaram a Palavra divina.

Mas vós, geração escolhida, fracos aos olhos do mundo, que tudo deixaste-te para seguir o Senhor, caminhais após ele, confundi os fortes; segui-o com os vossos pés resplandecentes, e brilhai no firmamento para que os céus cantem as suas glórias, distinguindo a luz dos perfeitos, que ainda não são semelhantes aos anjos, e as trevas dos pequenos, que ainda não perderam a esperança. Brilhai sobre toda a terra! Que o dia resplandecente de sol transmita ao dia seguinte a palavra de Sabedoria, e que a noite, iluminada pela lua, transmita à noite a palavra de Ciência. A lua e as estrelas brilham na noite, mas a noite não as obscurece, porque são elas que iluminam a noite, de acordo com a sua capacidade.

Como se Deus tivesse dito: Façam-se luminares no firmamento, e logo se fez ouvir um ruído vindo do céu, semelhante ao de um vento violento, e foram vistas línguas de fogo, que se dividiram e se colocaram sobre cada um deles. E apareceram luminares no céu, que possuíam a palavra de vida. Correi por toda parte, chamas sagradas, fogos admiráveis. Vós sois a luz do mundo, e não estais debaixo do alqueire. Aquele a quem vos unistes foi exaltado e ele vos exaltou. Correi e dai-vos a conhecer a todas as nações.

CAPÍTULO XX

Os répteis e as aves

Que o mar também conceba e dê à luz às tuas obras; que as águas produzam répteis dotados de almas vivas. De facto, separando o precioso do vil, tornastes-vos a boca de Deus, pela qual ele diz: “Produzam as águas...” não a alma viva, filha da terra, mas répteis dotados de almas vivas, e pássaros que voam sobre a terra. Assim como esses répteis, os teus sacramentos, ó meu Deus, deslizaram, graças às obras dos teus santos, por entre as ondas das tentações do século para regenerarem os povos com o teu nome, no teu baptismo.

Então operaram-se grandes maravilhas, semelhantes a enormes cetáceos, e as palavras dos teus mensageiros percorreram a terra, sob o firmamento do teu Livro, que com a tua autoridade deveria proteger o seu voo para onde quer que fossem. Não há língua nem palavras em que não se ouçam as suas vozes; o seu som espalhou-se por toda a terra, e as suas palavras até os confins do mundo, porque tu, Senhor, abençoando-os, os multiplicaste.

Estaria eu mentindo? Ou confundindo a questão, não distinguindo as claras noções das coisas do firmamento das obras corpóreas que se realizam no mar agitado e sob o firmamento?

Por certo que não. Há coisas cuja ideia é completa, acabada, que não se multiplicam no curso das gerações, tais como as luzes da sabedoria e da ciência. Mas esses seres são o objecto de operações materiais múltiplas e variadas e, crescendo umas de outras, multiplicam-se sob a tua bênção, meu Deus. É assim que refreias a impertinência dos nossos sentidos, dando a uma verdade única o meio de se exprimir de varias maneiras, por movimentos do corpo. Eis o que produziram as tuas águas, pela omnipotência do teu Verbo. Tudo isto se originou das necessidades de povos afastados da tua verdade eterna, por meio do teu Evangelho. De facto foram essas águas que fizeram brotar essas coisas, e a sua amargura estagnante foi a causa de que o teu Verbo as criasse.

Todas as tuas obras são belas, mas és indizivelmente mais belo tu, que criaste tudo o que existe. Se Adão não se tivesse separado de ti, na sua queda, do seu seio não teria saído o oceano amargo do género humano, com a sua profunda curiosidade, o seu orgulho cheio de tempestades, as suas ondas instáveis. E os dispensadores das tuas palavras não teriam a necessidade de representar, no meio de tantas águas, por meio de sinais físicos e sensíveis, os teus actos e palavras místicas. Foi nesse sentido que entendi esses répteis e essas aves. Mas até os homens iniciados nesses sinais e deles imbuídos, não avançariam no conhecimento desses mistérios, aos quais estão sujeitos, se a sua alma não se elevasse à vida do espírito, e, após a palavra inicial, não aspirasse à perfeição.

CAPÍTULO XXI

A alma viva

E assim não foi a profundeza do mar, mas a terra livre do amargor das águas que, impelida pelo teu Verbo gerou não mais os répteis dotados de almas vivas e os pássaros, mas a alma viva.

E esta não tem mais necessidade de baptismo (necessário para os gentios), como tinha necessidade enquanto as cobriam. Pois não se entra de outro modo no reino dos céus, desde que assim o determinaste. Para ter fé, ela já não exige grandes maravilhas. Ela crê sem ter visto sinais e prodígios, porque é terra fiel, já distinta das águas do mar que a incredulidade torna amargas: e as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis.

A terra que estendeste acima das águas não tem necessidade dessa espécie de aves que as águas produziram por ordem do teu Verbo. Envia-lhe, pois, o teu Verbo, por meio dos teus mensageiros. Nós falamos das suas obras, mas quem age por seu intermédio, para que produzam uma alma viva, és tu. A terra a germina porque é a causa dos fenómenos que ocorrem na superfície, assim como o mar foi causa da produção dos répteis dotados de almas vivas, e das aves sob o firmamento do céu. A terra já não necessita destas criaturas, embora ela se alimente de peixes pescados nas profundezas do mar, nessa mesa que preparaste na presença dos crentes; porque eles foram pescados nas profundezas do mar para alimentar a terra árida.

Também as aves, ainda que nascidas no mar, se multiplicam sobre a terra. As primeiras gerações evangélicas foram motivadas pela incredulidade dos homens, mas os também fiéis nela encontram diariamente copiosas exortações e bênçãos. Todavia, a alma viva, extrai da terra a sua origem, porque somente aos fiéis é meritório abster-se de amar este mundo, para que a sua alma viva por ti, essa alma que estava morta quando vivia em delícias mortíferas. Ó Senhor, só tu fazes as delicias de um coração puro.

Que os teus ministros trabalhem na terra, não como nas águas da incredulidade, quando pregavam e falavam utilizando-se de milagres, de sinais misteriosos, de termos místicos, para capturar atenção da ignorância, mãe da admiração, pelo medo desses sinais secretos. Por esta porta, de facto, os filhos de Adão têm acesso à fé, esquecidos de ti enquanto se escondem da tua face e se tornam abismos. Que os teus ministros trabalhem como em terra seca, separada das fauces do abismo; e que sejam modelo para os fiéis, vivendo sob os teus olhares e incitando-os à imitação. E assim ouve não só para ouvir, mas também para praticar. “Procurai a Deus, e a vossa alma viverá, e a terra dará nascimento a uma alma viva. Não vos conformeis com este mundo em que vivemos, abstendo-vos dele. A alma vive evitando as coisas cujo desejo lhe causa a morte.

Abstende-vos das violências selvagens da soberba, das ociosas voluptuosidades da luxúria, da falsidade que engana em nome da ciência, para que os animais ferozes sejam domesticados, os brutos domados e para que as serpentes sejam inofensivas: todos representam alegoricamente os movimentos da alma humana. O fastio do orgulho, as delícias da luxúria, o veneno da curiosidade, são movimentos da alma morta, mas não morta a ponto de carecer de todo movimento; é afastando-se da fonte da vida que ela morre, o mundo a arrebata ao passar, e a este se amolda.

Mas a tua palavra, meu Deus, é a fonte da vida eterna, e não passa. Ela mesma nos proíbe que nos afastemos de ti por essas palavras: “Não vos conformeis com o mundo em que vivemos, para que a terra, fertilizada pela fonte da vida, produza uma alma viva, uma alma que busque na tua palavra, transmitida pelos teus evangelistas, se fortificar, imitando os imitadores do teu Cristo”.

Eis o sentido da expressão “segundo a sua espécie”, porque o homem imita a quem ama. “Sede como eu” – diz o Apostolo, - porque sou como vós. – Assim haverá na alma viva apenas feras sem maldade, agindo com doçura. Pois nos deste este mandamento: “Fazei as vossas obras com mansidão, e sereis amados por todos” – Também os animais domésticos serão bons: se comerem, não sofrerão fastio e, se não comerem, não terão fome. As serpentes, tornando-se boas, serão incapazes de causar danos, mas continuarão astutas e cautelosas; não investigarão a natureza temporal, senão na medida necessária para compreender e contemplar a eternidade através das coisas criadas. Esses animais, as paixões, obedecem à razão, quando refreados nos seus caminhos mortais, vivem e tornam-se bons.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


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