Páginas

21/04/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 13, 16-20

16 Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. 17 Já que compreendeis estas coisas, bem-aventurados sereis se as praticardes. 18 «Não falo de todos vós; sei os que escolhi; porém, é necessário que se cumpra o que diz a Escritura: “O que come o pão comigo levantará o seu calcanhar contra mim”. 19 Desde agora vo-lo digo, antes que suceda, para que, quando suceder, acrediteis que “Eu sou”. 20 Em verdade, em verdade vos digo que, quem recebe aquele que Eu enviar, a Mim recebe, e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou».

Comentário:

O cristão tem de ter bem presente "o seu lugar" e os "limites" em que pode e deve actuar nas tarefas de apostolado.


Não lhe convém agir por seu próprio alvedrio por muito "capaz" que possa ser e, até, a experiência que tenha acumulado.


Procurar conselho e guia na Direcção Espiritual esse é o caminho certo, a decisão conveniente.


(ama, comentário sobre Jo 13 16-20, 2015.04.30)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

CAPÍTULO XVI

A medida do presente

E, contudo, Senhor, percebemos os intervalos de tempos, os comparamos entre si, e dizemos que uns são mais longos e outros mais breves. Medimos também o quanto uma duração é maior ou menor que outra, e respondemos que esta é o dobro ou o triplo de outra; que aquela é simples, ou que ambas são iguais. Mas é o tempo que passa que medimos quando o percebemos passar. Quanto ao passado, que não existe mais, e o futuro que não existe ainda, quem poderá medi-los, a menos que ouse afirmar que o nada pode ser medido? Assim, quando o tempo passa, pode ser percebido e medido. Porém quando já decorreu, ninguém o pode mentir ou sentir, porque já não existe.

CAPÍTULO XVII

O passado e o presente

Pai, apenas pergunto, não estou afirmando; meu Deus, ajuda-me, dirige-me. Quem ousaria afirmar que não existem três tempos, como aprendemos na infância e como ensinamos às crianças, o passado, o presente e o futuro? Será que só o presente existe, porque os demais, o passado e o futuro, não existem? Ou será que eles também existem, e então o presente provém de algum lugar oculto, quando de futuro se torna presente, e também se retira para outro esconderijo, quando de presente se torna passado? E os que predisseram o futuro, onde o viram, se ele ainda não existe? É impossível ver-se o que não existe. E os que narram o passado diriam mentiras se não vissem os acontecimentos com o espírito. Ora, se esse passado não tivesse existência alguma, seria absolutamente impossível vê-lo. Por conseguinte, o futuro e o passado também existem.

CAPÍTULO XVIII

As previsões

Permite-me, Senhor, que eu leve adiante minhas investigações, tu que és a minha esperança; faz que a minha tentativa não seja perturbada. Se o futuro e o passado existem, quero saber onde estão. Se ainda não posso compreender, sei todavia que, onde quer que estejam, não existem nem como futuro, nem como passado, mas apenas como presente. Se também ali estiver enquanto futuro, então ainda não existirá; se o passado aí estiver como passado, já não estará lá.

Portanto, no lugar e no modo que estiverem, só podem existir como presentes. Quando relatamos acontecimentos verídicos do passado, o que vêm à nossa memória não são os factos em si, que já deixaram de existir, mas as palavras que exprimem as imagens dos factos, que, através dos nossos sentidos, gravaram no nosso espírito as suas pegadas. A minha infância, por exemplo, que não existe mais, pertence a um passado que também desapareceu; mas quando eu a evoco e passo a relatá-la, vejo as suas imagens no presente, imagens que ainda estão na minha memória. E a predição do futuro, meu Deus, seguiria um processo análogo? Os factos que ainda não existem, serão representados antecipadamente no nosso espírito como imagens já existentes? Eu ignoro-o. O que sei é que habitualmente premeditamos as nossas acções futuras, e que essa premeditação pertence ao presente, enquanto esta começará a existir, pois então não será mais futura, mas presente.

Seja qual for a natureza desse misterioso pressentimento do futuro, o certo é que apenas se pode ver aquilo que existe. Ora, o que já existe não é futuro, mas presente. Quando se diz que se vê o futuro, o que se vê não são os factos futuros em si, que ainda não existem porque são futuros, mas as suas causas ou talvez sinais prognósticos, causas e sinais que já existem. Estes não são pois futuros, mas presentes para os que as vêem, e é graças aos vaticínios que o futuro é concebido pelo espírito e profetizado. Esses conceitos já existem, e os que predizem o futuro vêem-nos presentes em si mesmos.

Gostaria de apelar para um exemplo tomado entre os muitos possíveis. Vejo a aurora, e prognostico o nascimento do sol. O que vejo é presente, o que anuncio é futuro. Não o sol, que já existe, mas o seu surgimento, que ainda não ocorreu. Contudo, se eu não tivesse uma imagem mental desse surgimento, como agora quando falo dele, ser-me-ia impossível a previsão. Mas essa aurora que vejo não é o nascimento do sol, embora o preceda; nem o é tampouco a imagem que trago no meu espírito. As duas coisas estão presentes, eu vejo-as, e assim posso predizer o que vai acontecer. O futuro, portanto, ainda não existe; se ainda não existe, não existe no agora; e se não existe não pode ser visto de modo algum, mas pode ser prognosticado pelos sinais presentes, que já existem e podem ser vistos.

CAPÍTULO XIX

Oração

Mas tu, que és soberano sobre as tuas criaturas, de que modo ensinas às almas os factos por vir, como revelas aos teus profetas? De que modo ensinas o futuro, tu, para quem o futuro não existe? Ou antes, como ensinas os sinais presentes dos factos futuros? Pois, o que ainda não existe não pode ser ensinado. O teu modo misterioso de agir está muito acima da minha inteligência, sobrepuja as minhas forças. Por mim mesmo eu não o poderia alcançar, mas podê-lo-ei por ti, quando me concederes, ó doce Luz dos olhos da minha alma!

CAPÍTULO XX

Conclusão

O que agora parece claro e evidente para mim é que nem o futuro, nem o passado existem, e é impróprio dizer que há três tempos: passado, presente e futuro. Talvez fosse mais correcto dizer: há três tempos: o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. E essas três espécies de tempos existem na nossa mente, e não as vejo noutra parte. O presente do passado é a memória; o presente do presente é a percepção directa; o presente do futuro é a esperança.

Se me é lícito falar assim, vejo e confesso que há três tempos. Diga-se também que são três os tempos: presente, passado e futuro, como abusivamente afirma o costume. Não me importo, nem me oponho, nem critico o modo de falar, desde que fique bem entendido o que se diz, e que não se acredite que o futuro já existe e que o passado ainda existe. Uma linguagem que expresse com termos exactos é incomum: com muita frequência falamos com impropriedade, mas entende-se o que queremos dizer.

CAPÍTULO XXI

A medida do tempo

Disse há pouco que medimos o tempo que passa; de modo que podemos afirmar que um lapso de tempo é o dobro de outro, ou igual, e apontar entre os intervalos de tempo outras relações, mediante esse processo comparativo. Portanto, como eu dizia, medimos o tempo no momento em que passa. E se me perguntarem: Como o sabes? – eu responderia: Sei porque o medimos, e porque é impossível medir o que não existe; ora, o passado e o futuro não existem.

Quanto ao presente, como podemos medi-lo, se não tem duração? Portanto, só podemos medi-lo enquanto passa; e quando passou, não o medimos mais, porque não há mais nada a medir.

Mas de onde se origina, por onde passa, para onde vai o tempo quando o medimos? De onde vem senão do futuro? Por onde passa, senão pelo presente? Para onde vai senão para o passado? Nasce pois do que ainda não existe, atravessa o que não tem duração, e corre para o que não existe mais. No entanto, o que é que medimos, senão o tempo relacionado ao espaço?

Quando dizemos de um tempo que é simples, duplo, ou triplo, ou igual, ou quando formulamos qualquer outra relação dessa espécie, nada mais fazemos do que medir espaços de tempo. Em que espaço medimos então o tempo no momento em que passa? No futuro, talvez, donde procede? Mas o que ainda não existe não pode ser medido. Será no presente, por onde ele passa? Mas, como medir o que não tem extensão? Será no passado, para onde caminha? Mas o que não existe mais escapa a qualquer medida.

CAPÍTULO XXII

O enigma

A minha alma inflama-se no desejo de deslindar este enigma tão complicado! Senhor, meu Deus, meu bom Pai, eu to suplico por Cristo; não queiras tolher o meu desejo a solução de tais problemas, tão familiares mas tão obscuros; permite que eu os penetre, e faz com que a luz da tua misericórdia os ilumine, Senhor! A quem poderia eu consultar sobre isso? A quem confessaria a minha ignorância com mais proveito do que a ti, que não se despraz com o forte zelo que me inflama pelas tuas Escrituras? Concede-me o que amo, pois este amor é um dom teu. Dá-me, ó Pai, esta graça, tu que sabes presentear com boas dádivas os teus filhos. Concede-me essa luz, porque determinei conhecê-las, e o meu esforço será rude até que me reveles esses mistérios. Eu to suplico, por Cristo, em nome do Santo dos Santos, que ninguém perturbe a minha investigação.

Acreditei, e por isso falo. A minha esperança, a esperança pela qual vivo, é contemplar as delícias do Senhor. Eis que tornaste velhos os meus dias, e eles passam, não sei como.

Nós só falamos de tempo, e de tempo, e de tempos e de tempos. Esse homem falou quanto tempo? Quanto tempo demorou para fazê-lo? Há quanto tempo não vejo isto! A duração desta sílaba é o dobro daquela, que é breve. Assim nos expressamos e assim ouvimos, e todos nos compreendem, e nós compreendemos. São palavras claras e de uso corrente, mas encerram mistérios, e compreendê-las requer melhor análise.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.