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28/08/2014

Não te esqueças da figueira amaldiçoada

Aproveita o tempo. Não te esqueças da figueira amaldiçoada. Já fazia alguma coisa: dar folhas. Como tu... – Não me digas que tens desculpas. De nada valeu à figueira – narra o Evangelista – não ser tempo de figos, quando o Senhor lá os foi buscar. – E estéril ficou para sempre. (Caminho, 354)

Voltemos ao Santo Evangelho e detenhamo-nos no que refere S. Mateus, no capítulo vigésimo primeiro. Conta-nos que Jesus, quando voltava para a cidade, teve fome. Vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-se dela. Que alegria, Senhor, ver-te com fome, ver-te também sedento, junto do poço de Sicar!. (...)

Como te fazes compreender bem, Senhor! Como te fazes amar! Mostras-te igual a nós em tudo, excepto no pecado, para que sintamos que contigo poderemos vencer as nossas más inclinações e as nossas culpas. Efectivamente, não têm importância o cansaço, a fome, a sede, as lágrimas... Cristo cansou-se, passou fome, teve sede, chorou. O que importa é a luta – uma luta amável, porque o Senhor permanece sempre a nosso lado – para cumprir a vontade do Pai que está nos céus. (...)


Abeirou-se da figueira, mas não encontrou senão folhas. É lamentável. Não acontecerá assim também na nossa vida? Não haverá nela, infelizmente, falta de fé e de vibração de humildade, ausência de sacrifícios e de obras? Não será que apresentamos um cristianismo só de fachada e sem frutos? É terrível, porque Jesus ordena: Nunca mais nasça fruto de ti. E, imediatamente, secou a figueira. Entristece-nos esta passagem da Sagrada Escritura, ao mesmo tempo que, por outro lado, nos anima a avivar a fé, a viver conformes à fé, para que Cristo receba sempre algum lucro da nossa parte. (Amigos de Deus 201–202).

Reflectindo 35


Paralisia ou Confiança?


No Evangelho da Missa de hoje, S. Marcos diz-nos que Jesus chegou a Cafarnaum e logo se soube que estava em casa, e juntaram-se tantos que nem sequer havia lugar à porta. [i]
Quatro amigos dirigiram-se também à casa levando um paralítico; mas não puderam chegar ao pé de Jesus por causa da multidão. Então, valendo-se talvez de uma escada exterior, chegaram até ao telhado com o paralítico, levantaram o tecto sobre o local onde se encontrava o Senhor e, depois de fazer um buraco, desceram a enxerga em que jazia o paralítico. Deixaram a enxerga no meio, diante de Jesus. [ii]
O apostolado é algo parecido: Pôr as pessoas diante de Jesus, apesar das dificuldades que isto possa trazer consigo. Deixaram o amigo diante de Jesus. Depois o Senhor fez o resto: Ele é quem realmente faz o que é importante.
Fico-me a pensar:
E eu? Tenho confiança, fé autêntica e indómita, arrosto com as dificuldades ou, deixo-me vencer pelos respeitos humanos, "o que vão dizer", talvez mais logo, depois... vê-se, já lhe falei... mas o sujeito não quer...
Se calhar...nem como paralítico presto!
Era o que faltava...descerem-me por uma corda!
Dar espectáculo!
Não... não, deixem-me cá com a minha paralisia que, eu, depois...quando puder... hei-de ir lá...

(ama, reflexão, 2006)





[i] (cfr. Mc 2, 1-13)
[ii] (cfr. Lc 5, 19)

Temas para meditar 219



Alegria na entrega



A verdadeira alegria encontra-se nos corações que se dão inteiramente a Cristo.



(thomas de saint laurent A Virgem Maria ISBN: 972-26-1287-5 nr. 71)



Tratado da Graça 08

Questão 109

Art. 8 — Se o homem pode, sem a graça, não pecar.

(Supra, q. 63, a. 2, ad 2, q. 74, a. 3, ad 2, II Sent., dist. XX, q. 2, a. 3, ad 5, dist. XXIV, q. 1, a. 4, dist. XXVIII, a. 2, III Cont. Gent., cap. CLX, De Verit., q. 22, a. 5, ad 7, q. 24, a. 1, ad 10, 12, a. 12, 13, De Malo, q. 3, a. 1, ad 9, I Cor., cap. XII, lect. I, Ad Hebr., cap. X, lect. III).

O oitavo discute-se assim. — Parece que o homem pode, sem a graça, não pecar.

1. — Pois, ninguém peca, fazendo o inevitável, como diz Agostinho. Se portanto, o homem, em estado de pecado mortal, não pode evitá-lo resulta que, pecando, não peca. O que é inadmissível.

2. Demais. — O homem é punido afim de não pecar. Se pois, o estado de pecado mortal não pode deixar de pecar, resulta que é punido em vão. O que é inadmissível.

3. Demais. — A Escritura diz (Sr 15, 18): Diante do homem estão à vida e a morte, o bem e o mal, o que lhe agradar, isso lhe será dado. Ora, quem peca não deixa de ser homem. Logo, pode escolher entre o bem e o mal, e portanto, sem a graça evitar o pecado.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Não duvido que por ninguém deve ser ouvido e deve ser por todos anatematizado quem nega que devemos orar, para não cairmos em tentação, pois, quem o faz nega seja necessário ao homem, para não pecar, o auxílio da graça de Deus, bastando só a vontade humana, com a aceitação da lei.

Podemos encarar o homem a dupla luz: no estado da natureza íntegra e no da natureza corrupta. — No primeiro, podia, mesmo sem a graça habitual, não pecar, nem mortal nem venialmente. Pois, pecar não é senão afastar-se do que é natural, o que o homem, no estado de natureza íntegra, podia evitar. Não o podia, porém, sem o auxílio de Deus que conserva no bem, pois, subtraído esse auxílio, a própria natureza voltaria ao nada.

No estado, porém, da natureza corrupta, o homem precisa da graça habitual, que restaura a natureza, para abster-se completamente do pecado. E essa restauração faz-se, primeiro, pelo espírito, no estado da vida presente, em que o apetite carnal ainda não está completamente purificado. Por isso, o Apóstolo, personificando o homem redimido diz (Rm 7, 25): Eu mesmo sirvo a lei de Deus segundo o espírito, e sirvo a lei do pecado, segundo a carne. E nesse estado, o homem pode abster-se de todo pecado mortal, que se funda no espírito, como já estabelecemos (q. 74, a. 5). Não pode, porém, livrar-se de todo pecado venial, por causa da corrupção do apetite inferior da sensualidade. Pois, a razão pode certamente reprimir-lhe cada um dos movimentos, em particular, sendo, por isso, que estes constituem essencialmente pecados e actos voluntários. Mas não reprimi-los a todos, porque, enquanto se esforça por resistir a um, pode surgir outro. E também porque a razão nem sempre pode estar vigilante para evitar tais movimentos, como já dissemos (q. 74, a. 3 ad 2).

Semelhantemente, antes de a razão humana, onde se radica o pecado mortal, ter sido reparada pela graça santificante, podia o homem evitar todo pecado mortal, num determinado tempo, pois, não havia, por força, de pecar, actual e continuamente. Não podia, porém, durante muito tempo permanecer sem pecado mortal. Por isso, Gregório diz: o pecado que não é logo detido pela penitência, arrasta, com o seu peso, para outro. E a razão disto é que, assim como o apetite inferior deve estar sujeito à razão, assim também a razão deve estar sujeita a Deus e colocar nele o fim da sua vontade. Ora, é necessariamente, pelo fim, que se hão-de reger todos os movimentos humanos, assim como, pelo juízo da razão, todos os movimentos do apetite inferior. Donde, não estando o apetite inferior totalmente sujeito à razão, hão-de surgir movimentos desordenados nesse apetite sensitivo, e assim também, não estando a razão humana totalmente sujeita a Deus, consequentemente, muitas desordens hão-de viciar-lhe os actos. Ora, o homem não tem o coração firmado em Deus, a ponto de não querer separar-se dele, por conseguir qualquer bem ou evitar qualquer mal, desprezando-lhe os preceitos. Por isso, peca mortalmente, e sobretudo porque, nos seus actos súbitos, obra de acordo com um fim preconcebido e um hábito preexistente, no dizer do Filósofo. Embora, com premeditação da razão, possa agir contrariamente à ordem do fim preconcebido e à inclinação do hábito. Mas como não pode viver em estado de contínua premeditação, não lhe é possível permanecer muito tempo sem agir de acordo com a vontade desordenadamente afastada de Deus, senão for, logo, reconduzido, pela graça, à ordem devida.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O homem pode evitar cada um dos actos do pecado, singularmente, não, porém, todos, senão com o auxílio da graça, conforme já dissemos. E contudo, como é por falta sua, que não se prepara a receber a graça, não pode escusar-se do pecado, pois, sem a graça, é incapaz de evitá-lo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A punição é útil para, com a dor que provoca, fazer nascer na vontade a regeneração. Contanto, que o punido seja filho da promessa, de modo que, simultâneo com o estrépito da mesma, que repercute exteriormente, e flagela, Deus mova a vontade, interiormente, com inspiração oculta, como diz Agostinho. Logo, a correcção é necessária, pois a vontade humana a exige, para poder abster-se do pecado, porém, não é suficiente, sem o auxílio de Deus. Por isso, a Escritura diz (Ecle 7, 14): Considera as obras de Deus, porque ninguém pode corrigir, a quem ele desprezou.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz Agostinho, o lugar citado da Escritura entende-se do homem, no estado da natureza íntegra, quando ainda não era escravo do pecado e podia portanto pecar e não pecar. No estado actual, porém, é-lhe dado tudo quanto quer, mas só com o auxílio da graça pode querer o bem.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evang.; Coment.; Leit. Esp. (Cong. Dout da Fé - Libertais conscientia)

Tempo comum XXI Semana

Evangelho: Mt 24, 42-51

42 «Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora virá o vosso Senhor. 43 Sabei que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, sem dúvida, e não deixaria arrombar a sua casa. 44 Por isso estai vós também preparados, porque virá o Filho do Homem na hora em que menos pensais. 45 «Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o seu senhor colocou à frente da sua família para lhe distribuir de comer a seu tempo? 46 Bem-aventurado aquele servo, a quem o seu senhor, quando vier, achar a proceder assim. 47 Na verdade vos digo que lhe confiará o governo de todos os seus bens. 48 Mas, se aquele servo mau disser no seu coração: “O meu senhor tarda em vir”, 49 e começar a bater nos seus companheiros, a comer e beber com os ébrios, 50 virá o senhor daquele servo no dia em que não o espera, e na hora que não sabe, 51 e mandará açoitá-lo e dar-lhe-á a sorte dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Comentário:

As pequenas incidências da vida humana – como as grandes – marcam sobretudo pelo nosso comportamento em relação a elas.
Temos de ter uma unidade de critério e reacção sejam quais forem as circunstâncias ou o que sucede.

O cristão não anda “ao sabor da corrente” sabe muito bem o que quer e, sobretudo, para onde vai e, assim, não deixa que interfira com o seu objectivo seja o que for que o distrai dele.


(ama, comentário sobre Mt 24, 42-51, 2014.05.26)

Leitura espiritual



Documentos do Magistério

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

INSTRUÇÃO
LIBERTATIS CONSCIENTIA
SOBRE A LIBERDADE CRISTÃ E A LIBERTAÇÃO
CAPÍTULO I

A SITUAÇÃO DA LIBERDADE NO MUNDO DE HOJE

I. Conquistas e ameaças do processo moderno de libertação

A herança do cristianismo

Liberdade de pensar e de querer

9. Enfim e sobretudo, o movimento moderno de libertação deveria trazer ao homem a liberdade interior, sob a forma de liberdade de pensar e liberdade de querer. Ele pretendia libertar o homem da superstição e dos medos ancestrais, percebidos como outros tantos obstáculos ao seu desenvolvimento. Era seu propósito dar ao homem a coragem e a audácia de se servir da sua razão, sem que o temor o detivesse diante das fronteiras do desconhecido. Dessa forma, especialmente nas ciências históricas e nas ciências humanas, desenvolveu-se um novo conhecimento do homem, destinado à ajudá-lo a se compreender melhor, no que diz respeito ao seu desenvolvimento pessoal ou às condições fundamentais da formação da comunidade.

Ambiguidades do processo moderno de libertação

10. Quer se trate da conquista da natureza, da vida social e política ou do domínio do homem sobre ele mesmo, em plano individual e colectivo, todos podem constatar que não somente os progressos realizados estão longe de corresponder às ambições iniciais, mas também que novas ameaças, novas servidões e novos terrores surgiram, à medida que se ampliava o movimento moderno de libertação. É um sinal de que graves ambiguidades acerca do próprio sentido da liberdade, já desde a sua origem, corroíam por dentro esse movimento.

O homem ameaçado pelo seu domínio da natureza

11. Foi assim que, na medida em que se libertava das ameaças da natureza, o homem passou a sentir um medo crescente diante de si mesmo. A técnica, subjugando sempre mais a natureza, corre o risco de destruir os fundamentos de nosso próprio futuro, de modo que a humanidade de hoje torna-se a inimiga das gerações futuras. Ao reduzir à servidão, com um poder cego, as forças da natureza, não se está destruindo a liberdade dos homens de amanhã? Que forças podem proteger o homem da escravidão do seu próprio domínio? Torna-se necessária uma capacidade de liberdade e de libertação totalmente nova e que exige um processo de libertação inteiramente renovado.

Riscos da potência tecnológica

12. A força libertadora do conhecimento científico concretiza-se nas grandes realizações tecnológicas. Quem dispõe das tecnologias, possui o poder sobre a terra e sobre os homens. Daí nascem formas de desigualdade, até então desconhecidas, entre os detentores do saber e aqueles que simplesmente utilizam a técnica. A nova potência tecnológica está ligada ao poder económico e leva à sua concentração. Dessa forma, no interior dos povos e entre os povos, formaram-se relações de dependência que, nos últimos vinte anos, deram ocasião a uma nova reivindicação de libertação. Como impedir que a potência tecnológica não se torne um poder de opressão de grupos humanos ou de povos inteiros?

Individualismo e colectivismo

13. Na área das conquistas sociais e políticas, uma das ambiguidades fundamentais da afirmação da liberdade, no século das Luzes, está ligada à concepção do sujeito dessa liberdade como indivíduo que se basta a si mesmo e tendo com fim a satisfação de seu interesse próprio no gozo dos bens terrestres. A ideologia individualista inspirada por tal concepção do homem favoreceu, nos inícios da era industrial, a desigual repartição das riquezas, a um ponto tal que os trabalhadores se viram excluídos do acesso aos bens essenciais, para cuja produção tinham contribuído e aos quais tinham direito. Daí nasceram pujantes movimentos de libertação da miséria mantida pela sociedade industrial.

Cristãos – leigos e pastores – não deixaram de lutar por um reconhecimento equitativo dos legítimos direitos dos trabalhadores. Em favor dessa causa, o Magistério da Igreja elevou a sua voz, em diversas ocasiões.

Muito frequentemente, porém, a justa reivindicação do movimento operário conduziu a novas servidões, por se inspirar em concepções que, ignorando a vocação transcendente da pessoa humana, atribuíam ao homem um fim meramente terrestre. Algumas vezes, voltou-se para projectos colectivistas, que gerariam injustiças tão graves quanto as que pretendiam pôr um fim.

Novas formas de opressão

14. Dessa forma, a nossa época viu nascer os sistemas totalitários e formas de tirania, que não teriam sido possíveis em épocas anteriores à expansão tecnológica. Por um lado, a perfeição tecnológica foi aplicada em genocídios. Por outro lado, praticando o terrorismo, que causa a morte de inúmeros inocentes, minorias pretendem derrotar nações inteiras.

O controlo, hoje, pode insinuar-se até no interior dos indivíduos; e mesmo as dependências criadas pelos sistemas de prevenção podem representar potenciais ameaças de opressão. Uma falsa libertação das coacções da sociedade é procurada no recurso à droga, que, no mundo todo, leva muitos jovens à auto-destruição, lançando famílias inteiras na angústia e na dor.

Riscos de destruição total

15. Torna-se cada vez mais débil o reconhecimento de uma ordem jurídica como garantia do relacionamento dentro da grande família dos povos. Quando a confiança no direito não parece mais oferecer uma protecção suficiente, busca-se a segurança e a paz numa ameaça recíproca, que se torna um risco para toda a humanidade. As forças que deveriam servir ao desenvolvimento da liberdade servem para aumentar as ameaças. Os instrumentos de morte que se opõem, hoje, são capazes de destruir toda a vida humana sobre a terra.

Novas relações de desigualdade

16. Entre as nações dotadas de poderio e as que dele são privadas instalaram-se novas relações de desigualdade e de opressão. A busca do interesse próprio parece ser a regra das relações internacionais, sem que se leve em consideração o bem comum da humanidade.

O equilíbrio interno das nações pobres é rompido pela importação das armas, introduzindo nelas um factor de divisão que conduz ao domínio de um grupo sobre outro. Que forças poderiam eliminar o recurso sistemático às armas, restituindo ao direito a sua autoridade?

Emancipação das nações jovens

17. É no contexto da desigualdade das relações de força que apareceram os movimentos de emancipação das nações jovens, geralmente nações pobres, ainda recentemente submetidas ao domínio colonial. Muito frequentemente, porém, o povo é privado de uma independência duramente conquistada, por regimes ou tiranias sem escrúpulos, que tripudiam impunemente sobre os direitos do homem. Dessa forma, o povo, reduzido à impotência, apenas mudou de dono.

Permanece, no entanto, como um dos maiores fenómenos do nosso tempo, em escala de continentes inteiros, o despertar da consciência do povo que, esmagado pelo peso da secular miséria, aspira a uma vida na dignidade e na justiça e está pronto a bater-se pela sua liberdade.

A moral e Deus obstáculos para a libertação?

18. Com relação ao movimento moderno de libertação interior do homem, deve constatar-se que o esforço para libertar dos seus limites o pensamento e a vontade chegou ao ponto de considerar que a moralidade como tal constituía um limite irracional que o homem, decidido a se tornar senhor de si mesmo, devia ultrapassar.

Mais ainda: para muitos, é o próprio Deus que seria a alienação específica do homem. Entre a afirmação de Deus e a liberdade humana haveria uma radical incompatibilidade. Rejeitando a fé em Deus, o homem, enfim, tornar-se-ia livre.

Questões angustiantes
19. Aqui se encontra a raiz das tragédias que acompanham a história moderna da liberdade. Porque essa história, apesar de grandes conquistas que, aliás, permanecem sempre frágeis, experimenta frequentes recaídas na alienação e vê surgir novas servidões? Porque movimentos de libertação, que suscitaram imensas esperanças, vão desaguar em regimes para os quais a liberdade dos cidadãos, 8 a começar pela primeira delas, que é a liberdade religiosa, 9 é o primeiro inimigo?

Quando o homem pretende libertar-se da lei moral e tornar-se independente de Deus, longe de conquistar a sua liberdade, ele destrói-a. Fugindo da medida da verdade, torna-se presa do arbitrário; entre os homens, as relações fraternas são abolidas, para dar lugar ao terror, ao ódio e ao medo.

O profundo movimento moderno de libertação permanece ambíguo, porque foi contaminado por erros mortais acerca da condição do homem e da sua liberdade. Ele carrega, simultaneamente, promessas de verdadeira liberdade e ameaças de mortais servidões.

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)

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Notas:
8 Cfr. Instr. Libertatis Nuntius, XI, 10: AAS 76 (1984), 905-906.
9 Cfr. João Paulo II, Enc. Redemptor Hominis, n. 17: AAS 71 (1979), 296-297; Decl. de 10 de março de 1984 ao 5o Colóquio dos Juristas: L’Osservatore Romano, 11 de março de 1984, 8.