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Evangelho do dia, comentário e Leitura espiritual

Tempo de Quaresma 
Semana IV
Evangelho: Jo 5, 17-30

17 Mas Jesus respondeu-lhes: «Meu Pai não cessa de trabalhar, e Eu trabalho também». 18 Por isso, os judeus procuravam com maior ardor matá-l'O, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu Pai, fazendo-Se igual a Deus. Jesus respondeu e disse-lhes: 19 «Em verdade, em verdade vos digo: O Filho não pode por Si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer ao Pai; porque tudo o que fizer o Pai o faz igualmente o Filho. 20 Porque o Pai ama o Filho e mostra-Lhe tudo o que faz; e Lhe mostrará maiores obras do que estas, até ao ponto de vós ficardes admirados. 21 Porque assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida àqueles que quer. 22 O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho o poder de julgar 23 a fim de que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que O enviou. 24 Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra e crê n'Aquele que Me enviou tem a vida eterna e não incorre na sentença de condenação, mas passou da morte para a vida. 25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. 26 Com efeito, assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim deu ao Filho ter vida em Si mesmo; 27 e deu-Lhe o poder de julgar, porque é o Filho do Homem. 28 Não vos admireis disso, porque virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros ouvirão a Sua voz, 29 e os que tiverem feito obras boas sairão para a ressurreição da vida, mas os que tiverem feito obras más sairão ressuscitados para a condenação. 30 Não posso por Mim mesmo fazer coisa alguma. Julgo segundo o que ouço, e o Meu juízo é justo, porque não busco a Minha vontade, mas a d'Aquele que Me enviou.

Comentário:

O Evangelista São João regista de forma magistral as próprias palavras de Jesus. Revela-se bem a forma de falar oriental da época mas que, sem grande esforço, se actualiza em qualquer tempo.

A perguntas complexas vindas de gente cuja mentalidade era, em si mesma, complexa e cheia de preconceitos, Cristo responde no mesmo tom. Diz o que tem a dizer sem acrescentar nem explicar nada mais e, na verdade, é suficiente e bastante porque os seus interlocutores entendem muito bem o que Lhes diz como se prova pela ausência de pedidos de esclarecimentos e, sobretudo, pela revolta que as palavras de Cristo suscitavam nos fariseus e chefes do povo.

Mas, nós, que queremos entender bem o que o Senhor nos quer dizer, se tivermos dúvidas devemos, temos a obrigação estrita, de as esclarecer junto de quem, pela sua autoridade moral e conhecimentos, o pode fazer: o nosso Director Espiritual.

Este não “serve apenas” para nos orientar na vida cristã de todos os dias mas, também, para nos esclarecer respondendo às nossas questões e explicar o que não entendemos bem.

(ama, comentário sobre Jo 5, 17-30, 2013.03.13)




Leitura espiritual


Documentos do Concílio Vaticano II

DECLARAÇÃO
NOSTRA AETATE
SOBRE A IGREJA E AS RELIGIÕES NÃO-CRISTÃS

(1 a 5)

Laços comuns da humanidade e inquietação religiosa do homem; a resposta das diversas religiões não-cristãs e sua relação com a Igreja

1. Hoje, que o género humano se torna cada vez mais unido, e aumentam as relações entre os vários povos, a Igreja considera mais atentamente qual a sua relação com as religiões não-cristãs. E, na sua função de fomentar a união e a caridade entre os homens e até entre os povos, considera primeiramente tudo aquilo que os homens têm de comum e os leva à convivência.

Com efeito, os homens constituem todos uma só comunidade; todos têm a mesma origem, pois foi Deus quem fez habitar em toda a terra o inteiro género humano 1; têm também todos um só fim último, Deus, que a todos estende a sua providência, seus testemunhos de bondade e seus desígnios de salvação 2 até que os eleitos se reunam na cidade santa, iluminada pela glória de Deus e onde todos os povos caminharão na sua luz 3. Os homens esperam das diversas religiões resposta para os enigmas da condição humana, os quais, hoje como ontem, profundamente preocupam seus corações: que é o homem? qual o sentido e a finalidade da vida? que é o pecado? donde provém o sofrimento, e para que serve? qual o caminho para alcançar a felicidade verdadeira? que é a morte, o juízo e a retribuição depois da morte? Finalmente, que mistério último e inefável envolve a nossa existência, do qual vimos e para onde vamos?

Hinduísmo e Budismo

2. Desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, encontra-se nos diversos povos certa percepção daquela força oculta presente no curso das coisas e acontecimentos humanos; encontra-se por vezes até o conhecimento da divindade suprema ou mesmo de Deus Pai. Percepção e conhecimento esses que penetram as suas vidas de profundo sentido religioso. Por sua vez, as religiões ligadas ao progresso da cultura, procuram responder às mesmas questões com noções mais apuradas e uma linguagem mais elaborada. Assim, no hinduísmo, os homens perscrutam o mistério divino e exprimem-no com a fecundidade inexaurível dos mitos e os esforços da penetração filosófica, buscando a libertação das angústias da nossa condição quer por meio de certas formas de ascetismo, quer por uma profunda meditação, quer, finalmente, pelo refúgio amoroso e confiante em Deus. No budismo, segundo as suas várias formas, reconhece-se a radical insuficiência deste mundo mutável, e propõe-se o caminho pelo qual os homens, com espírito devoto e confiante, possam alcançar o estado de libertação perfeita ou atingir, pelos próprios esforços ou ajudados do alto a suprema iluminação. De igual modo, as outras religiões que existem no mundo procuram de vários modos ir ao encontro das inquietações do coração humano, propondo caminhos, isto é, doutrinas e normas de vida e também ritos sagrados.

A Igreja católica não rejeita nada do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia, reflectem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens. No entanto, ela anuncia, e tem mesmo obrigação de anunciar incessantemente Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo14,6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo todas as coisas 4.

Exorta, por isso, os seus filhos a que, com prudência e caridade, pelo diálogo e colaboração com os sequazes doutras religiões, dando testemunho da vida e fé cristãs, reconheçam, conservem e promovam os bens espirituais e morais e os valores sócio culturais que entre eles se encontram.

A religião do Islão

3. A Igreja olha também com estima para os muçulmanos. Adoram eles o Deus Único, vivo e subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do céu e da terra 5, que falou aos homens e a cujos decretos, mesmo ocultos, procuram submeter-se de todo o coração, como a Deus se submeteu Abraão, que a fé islâmica de bom grado evoca. Embora sem o reconhecerem como Deus, veneram Jesus como profeta, e honram Maria, sua mãe virginal, à qual por vezes invocam devotamente. Esperam pelo dia do juízo, no qual Deus remunerará todos os homens, uma vez ressuscitados. Têm, por isso, em apreço a vida moral e prestam culto a Deus, sobretudo com a oração, a esmola e o jejum.

E se é verdade que, no decurso dos séculos, surgiram entre cristãos e muçulmanos não poucas discórdias e ódios, este sagrado Concílio exorta todos a que, esquecendo o passado, sinceramente se exercitem na compreensão mútua e juntos defendam e promovam a justiça social, os bens morais e a paz e liberdade para todos os homens.

A religião judaica

4. Sondando o mistério da Igreja, este sagrado Concílio recorda o vínculo com que o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão.

Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas. Professa que todos os cristãos, filhos de Abraão segundo a fé 6, estão incluídos na vocação deste patriarca e que a salvação da Igreja foi misticamente prefigurada no êxodo do povo escolhido da terra da escravidão. A Igreja não pode, por isso, esquecer que foi por meio desse povo, com o qual Deus se dignou, na sua inefável misericórdia, estabelecer a antiga Aliança, que ela recebeu a revelação do Antigo Testamento e se alimenta da raiz da oliveira mansa, na qual foram enxertados os ramos da oliveira brava, os gentios 7. Com efeito, a Igreja acredita que Cristo, nossa paz, reconciliou pela cruz os judeus e os gentios, de ambos fazendo um só, em Si mesmo 8.

Também tem sempre diante dos olhos as palavras do Apóstolo Paulo a respeito dos seus compatriotas: «deles é a adopção filial e a glória, a aliança e a legislação, o culto e as promessas; deles os patriarcas, e deles nasceu, segundo a carne, Cristo» (Rom. 9, 4-5), filho da Virgem Maria. Recorda ainda a Igreja que os Apóstolos, fundamentos e colunas da Igreja, nasceram do povo judaico, bem como muitos daqueles primeiros discípulos, que anunciaram ao mundo o Evangelho de Cristo.

Segundo o testemunho da Sagrada Escritura, Jerusalém não conheceu o tempo em que foi visitada 9; e os judeus, em grande parte, não receberam o Evangelho; antes, não poucos se opuseram à sua difusão 10. No entanto, segundo o Apóstolo, os judeus continuam ainda, por causa dos patriarcas, a ser muito amados de Deus, cujos dons e vocação não conhecem arrependimento 11. Com os profetas e o mesmo Apóstolo, a Igreja espera por aquele dia. só de Deus conhecido, em que todos os povos invocarão a Deus com uma só voz e «o servirão debaixo dum mesmo jugo» (Sof. 3,9) 12.

Sendo assim tão grande o património espiritual comum aos cristãos e aos judeus, este sagrado Concílio quer fomentar e recomendar entre eles o mútuo conhecimento e estima, os quais se alcançarão sobretudo por meio dos estudos bíblicos e teológicos e com os diálogos fraternos.

Ainda que as autoridades dos judeus e os seus sequazes urgiram a condenação de Cristo à morte 13 não se pode, todavia, imputar indistintamente a todos os judeus que então viviam, nem aos judeus do nosso tempo, o que na Sua paixão se perpetrou. E embora a Igreja seja o novo Povo de Deus, nem por isso os judeus devem ser apresentados como reprovados por Deus e malditos, como se tal coisa se concluísse da Sagrada Escritura. Procurem todos, por isso, evitar que, tanto na catequese como na pregação da palavra de Deus, se ensine seja o que for que não esteja conforme com a verdade evangélica e com o espírito de Cristo.

Além disso, a Igreja, que reprova quaisquer perseguições contra quaisquer homens, lembrada do seu comum património com os judeus, e levada não por razões políticas mas pela religiosa. Caridade evangélica. deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de anti-semitismo, seja qual for o tempo em que isso sucedeu e seja quem for a pessoa que isso promoveu contra os judeus.

De resto, como a Igreja sempre ensinou e ensina, Cristo sofreu, voluntariamente e com imenso amor, a Sua paixão e morte, pelos pecados de todos os homens, para que todos alcancem a salvação. O dever da Igreja, ao pregar, é portanto, anunciar a cruz de Cristo como sinal do amor universal de Deus e como fonte de toda a graça.

A fraternidade universal e a reprovação de toda a discriminação racial ou religiosa

5. Não podemos, porém, invocar Deus como Pai comum de todos, se nos recusamos a tratar como irmãos alguns homens, criados à Sua imagem. De tal maneira estão ligadas a relação do homem a Deus Pai e a sua relação aos outros homens seus irmãos, que a Escritura afirma: «quem não ama, não conhece a Deus» (1 Jo. 4,8).

Carece, portanto, de fundamento toda a teoria ou modo de proceder que introduza entre homem e homem ou entre povo e povo qualquer discriminação quanto à dignidade humana e aos direitos que dela derivam.

A Igreja reprova, por isso, como contrária ao espírito de Cristo, toda e qualquer discriminação ou violência praticada por motivos de raça ou cor, condição ou religião. Consequentemente, o sagrado Concílio, seguindo os exemplos dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, pede ardentemente aos cristãos que, «observando uma boa conduta no meio dos homens. (1 Ped. 2,12), se ‚ possível, tenham paz com todos os homens 14, quanto deles depende, de modo que sejam na verdade filhos do Pai que está nos céus 15.


Roma, 28 de Outubro de 1965.

PAPA PAULO VI

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.

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Notas:

1. Cfr. Act. 17,26.
2. Cfr. Sab. 8,1; Act. 14,17; Rom. 2, 6-7;1 Tim. 2,4.
3. Cfr. Apoc. 21, 23-24
4. Cfr. 2 Cor. 5, 18-19.
5. Cfr. S. Gregório VII, Carta III, 21 a Anazir (Al-Názir), Rei da Mauritânia: ed. E. Gaspar, em MGH, Ep. sel. II, 1820, I; p. 288, 11-15; PL 148, 451 A.
6. Cfr. Gál. 3,7.
7. Cfr. Rom. 11, 17-24.
8. Cfr. Ef. 2, 14-16.
9. Cfr. Lc. 19,44.
10. Cfr. Rom. 11,28.
11. Cfr. Rom. 11, 28-29; Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia., Lumen gentium: AAS 57, (1965), p. 20.
12. Cfr. Is. 66,23; Salm. 65,4; Rom. 11, 11-32.
13. Cfr. Jo. 19,6.
14. Cfr. Rom. 12,18.
15. Cfr. Mt. 5,45



Pequena agenda do cristão

Quarta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Simplicidade e modéstia.

Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.

Lembrar-me: Do meu Anjo da Guarda.

Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu in-
teresse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser
tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?

Vidas de Santos

São FRANCISCO DE PAULA, eremita

Nota Histórica
         
Nasceu em Paula (Calábria) no ano 1416. A Congregação eremítica que fundou, mais tarde transformada na Ordem dos Mínimos, foi confirmada pela Sé Apostólica em 1506. Morreu em Tours (França) no ano 1507.

Convertei-vos de coração sincero

Nosso Senhor Jesus Cristo, que sabe retribuir com generosidade, vos dê a recompensa dos vossos trabalhos.
Fugi de todo o mal, apartai-vos dos perigos. Nós e todos os nossos irmãos, se bem que indignos, pedimos constantemente a Deus Pai, a seu Filho Jesus Cristo e à Virgem Maria, sua Mãe, que vos ajudem sempre e vos guiem para a salvação da alma e do corpo, e vos façam progredir sempre no caminho do bem até ao fim.
Exorto-vos, irmãos, e peço-vos insistentemente: trabalhai com a maior prudência e diligência pela salvação das vossas almas. A morte é certa, e a vida é breve e desfaz-se como fumo.
Lembrai-vos da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, abrasado de amor por nós, desceu do Céu para nos salvar, sofreu tantos tormentos na alma e no corpo e não quis evitar sofrimento algum por nosso amor. Recordemo-nos do seu exemplo de perfeita paciência e de perfeito amor, e sejamos nós também pacientes nas adversidades.
Afastai de vós toda a espécie de ódio e inimizade, evitai cuidadosamente as palavras ásperas e impertinentes e, se alguma vez saíram da vossa boca, não hesiteis em levar o remédio com os mesmos lábios que provocaram a ferida. Perdoai-vos uns aos outros e esquecei totalmente qualquer ofensa recebida. Conservar o ressentimento do mal é uma ofensa, é complemento da ira, retenção do pecado, ódio da justiça, flecha do rancor, veneno da alma, destruição das virtudes, verme da consciência, obstáculo da oração, impedimento das graças que pedimos a Deus, alienação da caridade, espinho cravado na alma, maldade sempre desperta, pecado que nunca se apaga, morte quotidiana.
Amai a paz, que é o mais precioso de todos os tesouros. Sabeis certamente que os nossos pecados provocam a ira de Deus: corrigi-vos, portanto, e arrependei-vos, para que Deus vos perdoe na sua misericórdia. O que ocultamos aos homens é manifesto a Deus: convertei-vos, portanto, de coração sincero. Vivei de tal modo que mereçais receber a bênção do Senhor; e a paz de Deus nosso Pai esteja sempre convosco.

Das Cartas de São Francisco de Paula, eremita, Carta de 1486: ed. A. Galuzzi, Origini dell’Ordine dei Minimi, Roma 1967, pp. 121-122,Sec. XV)

(SNL)


Temas para meditar 61


Filiação divina


A filiação divina engendra devoções simples, pequenas obras de obséquio a Deus Nosso Pai, porque uma alma cheia de amor não pode permanecer inactiva.



(santa teresinha do menino jesus, História de uma alma, X, 41)

É tempo de esperança, e eu vivo desse tesouro

‘É tempo de esperança, e eu vivo desse tesouro. Não é uma frase, Padre; é uma realidade’, dizes-me. Então... o mundo inteiro, todos os valores humanos que te atraem com uma força enorme (amizade, arte, ciência, filosofia, teologia, desporto, natureza, cultura, almas...), tudo isso, deposita-o na esperança – na esperança de Cristo. (Sulco, 293)

Onde quer que nos encontremos, esta é a exortação do Senhor: vigiai! Em face deste apelo de Deus, alimentemos nas nossas consciências os desejos esperançosos de santidade, com obras. Dá-me, meu filho, o teu coração, sugere-nos o senhor ao ouvido. Deixa-te de construir castelos com a fantasia, decide-te a abrir a tua alma a Deus, pois exclusivamente no Senhor acharás o fundamento real para a tua esperança e para fazer o bem aos outros. Quando não lutamos connosco mesmos, quando não rechaçamos terminantemente os inimigos que estão dentro da cidadela interior – o orgulho, a inveja, a concupiscência da carne e dos olhos, a auto-suficiência, a tresloucada avidez da libertinagem – quando não existe essa peleja interior, os mais nobres ideais definham como a flor do feno; ao romper o sol ardente, a erva seca, a flor cai e acaba a sua vistosa formosura. Depois, pela menor fenda brotarão o desalento e a tristeza, como plantas daninhas e invasoras.

Jesus não se conforma com um assentimento titubeante. Pretende, tem direito a que caminhemos com inteireza, sem concessões às dificuldades. Exige passos firmes concretos; pois, de ordinário, os propósitos gerais servem para pouco. Os propósitos pouco delineados parecem-me entusiasmos falazes que intentam calar as chamadas divinas percebidas pelo coração; fogos-fátuos, que não queimam nem dão calor e que desaparecem com a mesma fugacidade com que surgiram.


Por isso, convencer-me-ei de que as tuas intenções de alcançar a meta são sinceras, se te vir caminhar com determinação. Faz o bem, revendo as tuas atitudes habituais quanto à ocupação de cada instante; pratica a justiça, precisamente nos ambientes que frequentas, ainda que a fadiga te vença; fomenta a felicidade dos que te rodeiam, servindo os outros com alegria no lugar do teu trabalho, com esforço para o acabar com a maior perfeição possível, com a tua compreensão, com o teu sorriso, com a tua atitude cristã. E tudo por Deus, com o pensamento na sua glória, com o olhar no alto, anelando a Pátria definitiva, pois só esse fim vale a pena. (Amigos de Deus, 211)

Tratado dos vícios e pecados 47

Questão 79: Das causas exteriores do pecado, e primeiro por parte de Deus.

Art. 3 — Se Deus é causa da obcecação e do endurecimento.

(I Sent., dist. XL, q. 4, a. 2; III Cont. Gent., cap. CLXII; De Verit., q. 24, a. 10; In Matth., cap., XIII; In Ioan., cap. XII, lect. VII; Ad Rom., cap. IX, lect. III; II Cor., cap. IV, lect. II).

O terceiro discute-se assim. — Parece não ser de Deus a causa da obcecação e do endurecimento.

1. — Pois, como diz Agostinho, Deus não é a causa de o homem ser pior. Ora, a obcecação e o endurecimento o tornam tal. Logo, Deus não é causa nem daquela nem deste.

2. Demais. — Fulgêncio diz, que Deus não se vinga daquilo de que é o autor. Ora, Deus vinga-se do coração endurecido, conforme a Escritura (Ecle 3): O coração duro será oprimido de males no fim da vida. Logo, Deus não é a causa do endurecimento.

3. Demais. — Um mesmo efeito não pode ser atribuído a causas contrárias. Ora, tem-se como causa da obcecação a malícia do homem, conforme Escritura (Sb 2): porque à sua malícia os cegou; e também o diabo, segundo outro lugar (2 Cor 4): o Deus deste século cegou os entendimentos dos infiéis. Ora, todas essas são causas contrárias a Deus. Logo, Deus não é causa da obcecação nem do endurecimento.

Mas, em contrário, diz a Escritura (Is 6): Obceca o coração deste povo e ensurdece-lhe os ouvidos; e ainda (Rm 9): Logo ele tem misericórdia de quem quer, e endurece quem quer.

A obcecação e o endurecimento implicam dois elementos. — Um é o movimento da alma humana, aderente ao mal e apartada da luz divina. E por aí Deus não é a causa da obcecação nem do endurecimento, assim como não é a causa do pecado. — Outro é a subtracção da graça, donde resulta que a mente não é divinamente iluminada para apreciar com rectidão, e o coração do homem não se abranda para viver bem. E por aí Deus é causa da obcecação e do endurecimento. Devemos porém considerar, que Deus é a causa universal da iluminação das almas, conforme a Escritura (Jo 1): Era a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem a este mundo. Assim como o sol é a causa universal da iluminação dos corpos, mas diferentemente. Pois, ao passo que o sol actua iluminando por necessidade de natureza, Deus age voluntariamente, segundo a ordem da sua sabedoria. Mas embora o sol ilumine por natureza todos os corpos, encontrando obstáculo no corpo, deixá-lo-á obscuro, como o vemos numa casa cujas janelas estejam fechadas. Contudo, o sol não é de nenhum modo causa dessa obscuridade, pois não age a seu bel-prazer, de modo a não projectar a luz no interior; mas, só quem fechou as janelas é causa dela. Deus porém por juízo próprio, não envia o lume da graça àqueles em quem encontra obstáculo. Por onde, causa da subtracção dela é, não só quem lhe opõe obstáculo, mas também Deus que, a seu juízo, não lha concede. E deste modo Deus é causa da obcecação, do embotamento dos ouvidos e do endurecimento do coração. Pois, essas coisas distinguem-se pelos efeitos da graça que, com o dom da sabedoria aperfeiçoa o intelecto e abranda o afecto com o fogo da caridade. Ora, como para o conhecimento do intelecto contribuem principalmente os dois sentidos, da vista e do ouvido, dos quais aquele serve à invenção e este à instrução, por isso à vista se opõe a obcecação; e à audição, o embotamento dos ouvidos; ao afeto, o endurecimento.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Sendo a obcecação e o endurecimento, no concernente à subtracção da graça, determinadas penas não tornam pior o homem, que nelas incorre, bem como em outras, por ter se tornado pior pela culpa.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A objecção colhe quanto à obcecação, enquanto culpa.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A malícia é causa merecedora da obcecação, como a culpa é causa da pena. E deste modo também se diz que o diabo obceca por induzir à culpa.

Revisão da tradução portuguesa por ama