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05/11/2014

Tratado do verbo encarnado 20

Questão 3: Da união relativamente à pessoa que assumiu

Art. 3 — Se, abstraída a personalidade pelo intelecto, a natureza pode assumir.

O terceiro discute-se assim. — Parece que, abstraída a personalidade pelo intelecto, a natureza não pode assumir.

1. — Pois, como se disse, à natureza convém assumir em razão da pessoa. Ora, o que convém a um ser em razão de outro, separado deste último já não lhe pode convir. Assim, o corpo, visível em razão da cor, não pode ser visto sem esta. Logo, abstraída a personalidade pelo intelecto, a natureza não pode assumir.

2. Demais. — A assunção importa o termo da união, como se disse. Ora, não pode a união fazer-se na natureza, mas só na pessoa. Logo, abstraída da personalidade, a natureza divina não pode assumir.

3. Demais. — Na primeira parte disse-se que, abstraída a personalidade, nada resta. Ora, o que assume é uma realidade. Logo, abstraída a personalidade, a natureza divina não pode assumir.

Mas, em contrário, em Deus, a personalidade é considerada uma propriedade natural, e é tríplice, a saber: a paternidade, a filiação e a processão, como se disse na Primeira Parte. Ora, afastadas essas propriedades naturais pelo intelecto, ainda resta a onipotência de Deus, pela qual se fez a Encarnação, como o disse o Anjo: Porque a Deus nada é impossível. Logo, parece que, mesmo removida a personalidade, a natureza divina pode assumir.

O intelecto mantém com Deus uma dupla relação. — Primeiro, conhecendo a Deus como ele é. E assim, é impossível circunscrever algo em Deus, de modo que reste além disso outra coisa, pois, tudo o que há em Deus é uma unidade, salva a distinção das Pessoas. Das quais, uma desapareceria com a eliminação de outra, pois, elas distinguem-se só pelas relações, que são necessariamente simultâneas. — De outro modo o intelecto relaciona-se com Deus, não pelo conhecer como ele é, mas conhecendo-o a seu modo, isto é, multiplicada e divididamente o que em Deus é uno. E deste modo, o nosso intelecto pode inteligir a bondade e a sabedoria divina e outros atributos semelhantes, chamados atributos essenciais, sem aí se compreender a paternidade ou a filiação, que se chamam personalidades. E sendo assim, abstraída a personalidade pelo intelecto, podemos ainda inteligir a natureza que assume.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como o ser de Deus se identifica com o princípio mesmo dele, todo o atribuído a Deus, considerado abstractamente e em si mesmo e separado do mais, será algo de subsistente, e por consequência o será a pessoa, que existe em a natureza intelectual. Assim como, pois, postas as propriedades pessoais em Deus, dissemos serem três as Pessoas, assim, excluídas pelo intelecto as propriedades pessoais, restará na nossa consideração a natureza divina como subsistente e como pessoa. E deste modo, podemos inteligir que assuma a natureza humana, em razão da sua subsistência ou personalidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Mesmo circunscritas pelo intelecto as personalidades das três Pessoas, restará no intelecto a personalidade una de Deus, como o entendem os Judeus, e essa pode ser o termo da assunção, assim como dizemos ter ela o seu termo na Pessoa do Verbo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Abstraída a personalidade pelo intelecto, diz-se que nada resta a modo de resolução. Quase sendo uma coisa o que está sujeito à relação e outra, a própria relação, pois, tudo o considerado em Deus o é como suposto subsistente. Contudo, pode uma predicação feita, de Deus, ser entendida sem outra, não a modo de resolução, mas do modo já dito.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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