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05/11/2014

Evangelho diário, coment. Leit esp. (História de uma alma)

Tempo comum XXXI Semana

Evangelho: Lc 14 25-33

25 Ia com Ele grande multidão de povo. Jesus, voltando-Se, disse-lhes: 26 «Se alguém vem a Mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs, e até a sua vida, não pode ser Meu discípulo. 27 Quem não leva a sua cruz e não Me segue não pode ser Meu discípulo. 28 Porque qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a acabar? 29 Para que, se depois de ter feito as fundações não a puder terminar, não comecem todos os que a virem a troçar dele, dizendo: 30 Este homem começou a edificar e não pôde terminar. 31 Ou qual é o rei que, estando para entrar em guerra contra outro rei, não se assenta primeiro a considerar se com dez mil homens pode ir enfrentar-se com aquele que traz contra ele vinte mil? 32 Doutra maneira, quando o outro ainda está longe, enviando embaixadores, pede-lhe paz. 33 «Assim pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser Meu discípulo.

Comentário

Há uma condição essencial para seguir Jesus Cristo: segui-lo com entrega total!
Ou seja, não há meio-termo nem tergiversações: ou se O segue ou não!
Daqui que, para o fazer é necessário um desprendimento absoluto de quanto pode ser um entrave a esse ‘seguimento’.
É preciso ser pragmático e coerente avaliar bem como proceder. No fim e ao cabo, o exame de consciência diário, que levará às necessárias correcções de rumo.

(ama, comentário sobre Lc 14, 25-33, 2013.09.08)

Leitura espiritual



HISTÓRIA DE UMA ALMA

Santa Teresinha do Menino Jesus

Manuscrito "A" - Parte IV

…/2

Pensando agradar a papai, Sua Excelência tentou fazer-me ficar ainda alguns anos junto dele. Ficou um pouco surpreso e edificado vendo-o tomar meu partido, intercedendo para eu obter a permissão de levantar voo aos 15 anos. Porém, tudo foi inútil. Disse que antes de decidir era indispensável uma conversa com o Superior do Carmelo. Nada podia ouvir que me causasse maior aflição, pois conhecia a oposição formal do nosso padre. Sem levar em conta a recomendação do padre Révérony, fiz mais do que mostrar diamantes a Sua Excelência, dei alguns a ele!... Vi que ficou emocionado; pegando-me pelo pescoço, apoiava minha cabeça no ombro dele e fazia-me carícias como nunca, ao que parece, alguém recebera dele. Disse-me que nem tudo estava perdido, que ficava muito contente em eu fazer a viagem a Roma para firmar minha vocação e que em vez de chorar devia alegrar-me. Acrescentou que, na semana seguinte, devendo ir a Lisieux, falaria de mim com o pároco de São Tiago e que, certamente, eu receberia resposta dele na Itália. Compreendi ser inútil insistir mais, aliás nada mais tinha a dizer, tinha esgotado todos os recursos da minha eloquência.
Sua Excelência acompanhou-nos até o jardim. Papai divertiu-o muito quando lhe disse que, para parecer mais velha, eu tinha levantado o meu cabelo. Isso não foi esquecido, pois Sua Excelência não fala da sua "filhinha" sem contar a história dos cabelos... O padre Révérony quis acompanhar-nos até a extremidade do jardim do bispado; disse a papai que nunca vira coisa igual: "Um pai tão disposto a dar sua filha a Deus quanto esta em se oferecer!"
Papai fez-lhe diversas perguntas a respeito da peregrinação, inclusive sobre a maneira de se vestir para o encontro com o Santo Padre. Vejo-o ainda virando-se diante do padre Révérony, perguntando-lhe: "Estou bem assim?..." Dissera também a Sua Excelência que se não me permitisse ingressar no Carmelo eu pediria essa graça ao Soberano Pontífice. Meu Rei querido era muito simples nas suas palavras e nas suas maneiras, mas era tão bonito... tinha uma distinção natural que deve ter agradado muito a Sua Excelência, acostumado a ver-se cercado de pessoas que conhecem todas as regras da etiqueta dos salões, mas não o Rei da França e de Navarra com sua rainhazinha...
Uma vez na rua, as minhas lágrimas brotaram de novo, não tanto por causa da minha dor, mas por ver meu paizinho querido que acabava de fazer uma viagem inútil... Planejara enviar uma resposta festiva ao Carmelo para anunciar a resposta de Sua Excelência, via-se de volta sem resposta... Ah! quanto sofri!... parecia-me que o meu futuro estava abalado para sempre. Mais o tempo passava, mais as coisas ficavam confusas. A minha alma estava mergulhada na amargura, mas na paz, também, pois só procurava a vontade de Deus.
Logo de volta a Lisieux, fui buscar consolo no Carmelo e o encontrei em vós, querida Madre. Oh, não! Nunca esquecerei tudo o que sofrestes por minha causa. Se não receasse profaná-las, servindo-me delas, repetiria as palavras que Jesus dirigia a seus apóstolos, na tarde da sua Paixão: "Vós sois aqueles que permanecestes ao meu lado nas minhas provações"... Minhas bem-amadas irmãs ofereceram-me também doces consolos...
Três dias após a viagem a Bayeux, fazia outra muito maior, à cidade eterna... Ah! que viagem aquela!... Ela sozinha fez-me conhecer mais coisas que longos anos de estudo, mostrou-me a vaidade de tudo o que passa e que tudo é aflição de espírito sob o sol... Mas vi muitas coisas bonitas, contemplei todas as maravilhas da arte e da religião, sobretudo pisei a mesma terra que os santos apóstolos, a terra regada com o sangue dos mártires, e minha alma cresceu em contacto com coisas santas...
Estou muito feliz por ter ido a Roma, mas compreendo as pessoas de fora que pensaram que papai me levara a fazer essa grande viagem a fim de mudar minhas ideias sobre a vida religiosa; de facto, havia com que abalar uma vocação pouco firme.

Não tendo vivido na alta sociedade, Celina e eu encontramo-nos no meio da nobreza que compunha quase exclusivamente a romaria. Ah! longe de nos deslumbrar, todos esses títulos e esses "de" pareceram-nos mera fumaça... De longe, algumas vezes, aquilo impressionara-me, mas de perto vi que "nem tudo que reluz é ouro" e compreendi essa palavra da Imitação: "Não ides atrás dessa sombra que chamam de grande nome, não desejai numerosas relações, nem a amizade particular de homem algum".
Compreendi que a verdadeira grandeza se encontra na alma e não no nome pois, como o disse Isaías: "O Senhor dará outro nome a seus eleitos", e são João diz também: "Ao vencedor darei maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, sobre a qual estará escrito um nome novo, que ninguém conhece, excepto aquele que o recebe". Portanto, é no Céu que conheceremos os nossos títulos de nobreza. Então, cada um receberá de Deus o louvor que merece e quem na terra desejou ser o mais pobre, o mais esquecido por amor a Jesus, será o primeiro, o mais nobre e o mais rico!...
A segunda experiência que fiz diz respeito aos sacerdotes. Não tendo vivido nunca na intimidade deles, não podia compreender a principal finalidade da reforma do Carmelo. Rezar pelos pecadores empolgava-me, mas rezar pelas almas dos padres, que eu acreditava mais puras que o cristal, parecia-me estranho!...
Ah! compreendi a minha vocação na Itália, não era ir buscar longe demais um conhecimento tão útil...
Durante um mês, vivi com muitos padres santos e vi que, se a sua sublime dignidade os eleva acima dos anjos, nem por isso deixam de ser homens frágeis e fracos... Se padres santos, que Jesus denomina no seu Evangelho "sal da terra", mostram em sua conduta que precisam extremamente de orações, o que dizer daqueles que são tíbios? Jesus não disse também: "Se o sal se tornar insípido, com que há de se lhe restituir o sabor"?
Oh Madre! como é bonita a vocação que tem por finalidade conservar o sal destinado às almas! Essa vocação é a do Carmelo, pois a única finalidade das nossas orações e dos nossos sacrifícios é ser apóstolo dos apóstolos, rezando para eles enquanto evangelizam as almas pelas suas palavras e, sobretudo, pelos seus exemplos... Preciso parar, se continuasse a falar sobre este assunto, não acabaria nunca!...
Vou, querida Madre, relatar a minha viagem com alguns pormenores. Perdoai-me se me excedo em minúcias. Não penso antes de escrever e, por causa do pouco tempo que tenho livre, recomeço tantas vezes que meu relato poderá parecer-lhe um pouco enfadonho... O que me consola é pensar que, no Céu, vos falarei das graças que recebi e poderei fazê-lo em termos agradáveis e encantadores... Nada mais haverá para interromper as nossas efusões íntimas e, num único olhar, tereis entendido tudo... Sendo que ainda preciso usar a linguagem da triste terra, vou tentar fazê-lo com a simplicidade de uma criança que conhece o amor da sua mãe!...
A romaria saiu de Paris em 7 de Novembro, mas papai levou-nos a essa cidade alguns dias antes para que pudéssemos visitá-la.
Às três horas de certa manhã, atravessei a cidade de Lisieux ainda adormecida; muitas impressões atravessaram a minha alma naquele momento. Sentia estar dirigindo-me para o desconhecido e que grandes coisas me esperavam lá... Papai estava alegre; quando o trem se pôs a andar, cantou este velho refrão: "Corre, corre, diligência minha; eis-nos na estrada real". Chegamos a Paris antes do meio-dia e começamos a visitar logo. Nosso pobre paizinho cansou-se muito a fim de nos agradar; mas logo tínhamos visto todas as maravilhas da capital. A mim, só uma encantou, foi "Nossa Senhora das Vitórias". Ah! o que senti a seus pés é indescritível... As graças que me concedeu emocionaram-me tão profundamente que as minhas lágrimas expressaram sozinhas a minha felicidade, como no dia da minha primeira comunhão... Fez-me sentir que foi verdadeiramente ela quem me sorrira e curara. Compreendi que velava por mim, que eu era sua filha, portanto só podia atribuir-lhe o nome de "Mamãe", pois parecia-me ainda mais terno que o de mãe... Com que fervor lhe pedi para me proteger sempre e realizar em breve o sonho de esconder-me à sombra do seu manto virginal!... Ah! era um dos meus primeiros desejos de criança... Ao crescer, compreendi que era no Carmelo que me seria possível encontrar, de verdade, o manto de Nossa Senhora, e era para essa montanha fértil que meus desejos todos tendiam...
Invoquei Nossa Senhora das Vitórias para que afastasse de mim tudo o que poderia ter embaçado a minha pureza. Não ignorava que, numa viagem como essa à Itália, se encontrariam muitas coisas capazes de me perturbar, sobretudo porque, desconhecendo o mal, temia descobri-lo; não tendo experimentado que tudo é puro para os puros e que a alma simples e recta não enxerga o mal em lugar nenhum, pois, de facto, o mal só existe nos corações impuros e não nos objectos sensíveis... Pedi também a são José para velar por mim; desde a minha infância, tinha por ele uma devoção que se confundia com meu amor pela Santíssima Virgem. Todo dia rezava a oração: "Ó são José, pai e protector das virgens"; por isso, empreendi sem receio a minha longa viagem, estava tão bem protegida que me parecia impossível ter medo.
Depois de nos consagrarmos ao Sagrado Coração, na basílica de Montmartre saímos de Paris na segunda-feira, dia 7, pela manhã; logo travamos conhecimento com as pessoas da romaria. Eu, costumeiramente tão tímida que nem ousava falar, vi-me completamente livre desse defeito incómodo; surpreendi-me a conversar livremente com todas as grandes damas, os padres e até o bispo de Coutances. Parecia-me ter sempre vivido no meio dessa gente. Creio que éramos queridos de todos, e papai parecia orgulhoso das suas duas filhas. Mas, se ele estava satisfeito connosco, também estávamos com ele, pois no grupo todo não havia senhor mais bonito e mais distinto que meu Rei querido; gostava de ficar cercado por Celina e por mim. Muitas vezes, quando não estávamos num carro e eu me afastava dele, chamava-me para lhe dar o braço como em Lisieux... O padre de Révérony prestava atenção a todas as nossas ações e, muitas vezes, via-o observando-nos de longe. Na mesa, quando eu não estava na frente dele, ele encontrava um meio de se inclinar para me ver e ouvir o que eu dizia. Sem dúvida queria conhecer-me a fim de saber se, de facto, eu era capaz de ser carmelita. Creio que ficou satisfeito com o exame pois, no final da viagem, pareceu bem-disposto a meu favor. Em Roma, porém, estava longe de me ser favorável, segundo vos contarei adiante. Antes de chegar a essa cidade eterna, meta da nossa viagem, foi-nos dado contemplar muitas maravilhas. Primeiro, foi a Suíça, com montanhas cujos cumes se perdem nas nuvens, as cascatas caindo de mil diferentes e graciosas maneiras, os vales profundos cheios de samambaias gigantes e de urzes cor-de-rosa. Ah! Madre querida, como as belezas da natureza distribuídas em profusão fizeram bem à minha alma, como a elevaram para Aquele que se agradou em lançar tamanhas obras-primas numa terra de exílio que deve durar apenas um dia... Não tinha olhos suficientes para contemplar. Em pé na portinhola, quase não respirava. Queria estar, ao mesmo tempo, dos dois lados do vagão, pois ao virar-me via paisagens encantadoras e diferentes das que estavam na minha frente.
Às vezes, estávamos no cume de uma montanha, a nossos pés, precipícios de profundidade inalcançável pelo olhar pareciam querer nos engolir... ou ainda um charmoso e pequeno lugarejo com seus graciosos chalés e seu campanário, por cima do qual balançavam indolentes algumas nuvens resplandecentes de brancura... mais longe, um vasto lago, dourado pelos últimos raios do sol, com ondas calmas e puras a mesclar o tom azulado do Céu aos fogos do crepúsculo, apresentava a nossos olhares maravilhados o mais poético espectáculo que se pode ver... Ao fundo do vasto horizonte, montanhas de formas indecisas, que teriam escapado ao nosso olhar não fossem seus cumes nevados que o sol tornava ofuscantes, acrescentavam um encanto suplementar ao belo lago que nos encantava...
Vendo todas essas belezas, surgiam pensamentos muito profundos em minha alma. Tinha a impressão de já estar compreendendo a grandeza de Deus e as maravilhas do Céu... A vida religiosa apresentava-se a mim tal como é, com as suas submissões, os seus pequenos sacrifícios feitos às ocultas. Compreendia como é fácil ensimesmar-se, esquecer a sublime finalidade da vocação e dizia-me: mais tarde, no momento da provação, quando, prisioneira no Carmelo, só puder contemplar um pequeno canto do Céu estrelado, recordarei o que vejo hoje, esse pensamento me dará coragem, esquecerei facilmente meus pobres e pequenos interesses ao ver a grandeza e o poder de Deus a quem quero amar unicamente. Não terei a infelicidade de apegar-me a palhas, agora que "meu coração pressentiu o que Jesus reserva a quem o ama!..."
Após ter admirado o poder de Deus, pude ainda admirar o poder que deu às suas criaturas. A primeira cidade da Itália que visitamos foi Milão. A sua catedral, inteiramente de mármore branco, com estátuas numerosas para formar um povo incontável, foi examinada por nós em seus mínimos detalhes. Celina e eu éramos intrépidas, sempre as primeiras e seguindo imediatamente Sua Excelência, a fim de ver tudo o que se referia às relíquias dos santos e ouvir as explicações. Assim é que, enquanto celebrava o santo sacrifício sobre o túmulo de são Carlos, estávamos com papai atrás do altar, com a cabeça encostada na urna que contém o corpo do santo revestido dos seus trajes pontificais. Era assim em todo lugar... Excepto quando se tratava de subir onde a dignidade de um bispo não permitia, pois naquelas ocasiões sabíamos afastar-nos de Sua Grandeza... Deixando as senhoras tímidas esconder o rosto nas mãos logo após ter alcançado as primeiras campainhas que coroam a catedral, seguíamos os mais destemidos romeiros e chegávamos até o alto da última campainha de mármore, e tínhamos o prazer de ver a nossos pés a cidade de Milão, cujos numerosos habitantes pareciam formar um pequeno formigueiro... Uma vez tendo descido do nosso pedestal, começamos nossos passeios de carro, que deviam durar um mês e saciar-me para sempre do meu desejo de rodar sem cansaço! O campo santo encantou-nos ainda mais que a catedral. Todas essas estátuas de mármore branco, que um cinzel genial parece ter animado, estão colocadas sobre o vasto campo dos mortos numa espécie de displicência que, para mim, aumenta o encanto... Dá vontade, quase, de consolar os personagens ideais que nos cercam. A sua expressão é tão realista, a sua dor, tão calma e resignada que não há como deixar de reconhecer os pensamentos de imortalidade que devem encher o coração dos artistas quando executam essas obras-primas. Aqui, uma criança joga flores sobre o túmulo de seus pais, parece que o mármore perdeu o seu peso, que as pétalas delicadas deslizam entre os dedos da criança, que o vento já começa a dispersá-las, a fazer flutuar o véu leve das viúvas e as fitas que adornam os cabelos das moças. Papai estava tão encantado quanto nós; na Suíça, sentiu cansaço, mas agora sua alegria havia voltado, gozava do belo espectáculo que contemplávamos, a sua alma de artista manifestava-se nas expressões de fé e admiração que se estampavam no seu belo rosto. Um velho senhor (francês), que, sem dúvida, não tinha alma tão poética, olhava-nos de soslaio e dizia mal-humorado, embora parecendo lastimar não ser capaz de partilhar da nossa admiração: "Ah! como os franceses são entusiastas!" Creio que esse pobre senhor teria feito melhor ficando em casa, pois não pareceu gostar da viagem. Encontrava-se frequentemente perto de nós e sempre ficava resmungando. Reclamava dos carros, dos hotéis, das pessoas, das cidades, enfim, de tudo... Com sua habitual grandeza de alma, papai procurava animá-lo, oferecia o seu lugar etc... enfim, achava-se bem em qualquer lugar, sendo de um carácter totalmente oposto ao do seu desagradável vizinho... Ah! quantas pessoas diferentes vimos, como o estudo do mundo se faz interessante quando estamos prestes a deixá-lo!...

(cont.)


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