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24/03/2014

Tratado dos vícios e pecados 38

Questão 77: Da causa do pecado por parte do apetite sensitivo: se a paixão da alma é causa do pecado.

Art. 6 ― Se o pecado fica atenuado pela paixão.

(Supra, q. 24, a. 3 ; q. 73, ad 6 ; De Verit., q. 26, a. 7, ad I ; De Malo, q. 3, a 2 ; V Ethic., lect. XIII).

O sexto discute-se assim. ― Parece que o pecado não fica atenuado pela paixão.

1. ― Pois, o aumento da causa aumenta o efeito, assim, o cálido dissolve, o mais cálido mais dissolve. Ora, a paixão é causa do pecado, como já se estabeleceu (a. 5). Logo, quanto mais intensa a paixão, tanto maior o pecado. Portanto, ela não o diminui, mas, aumenta-o.

2. Demais. ― A paixão boa está para o mérito, assim como a má está para o pecado. Ora, aquela aumenta o mérito, pois, tanto mais merecemos quanto maior for a misericórdia com que socorremos os pobres. Logo, também a má paixão antes agrava que atenua o pecado.

3. Demais. ― Quanto mais intensa for a vontade de cometermos o pecado, tanto mais grave será este considerado. Ora, a paixão, impulsora da vontade, fá-la cometer mais veementemente o acto pecaminoso. Logo, a paixão agrava o pecado.

Mas, em contrário. ― A própria paixão da concupiscência é a chamada tentação da carne. Ora, quanto maior for a paixão que nos subjuga, tanto menos pecaremos, como claramente o diz Agostinho 1. Logo, a paixão diminui o pecado.

O pecado consiste essencialmente num acto do livre arbítrio, a faculdade da vontade e da razão. Ora, a paixão é um movimento do apetite sensitivo, e pode ser antecedente e consequente ao livre arbítrio. Antecedente, quando a paixão do apetite sensitivo arrasta ou inclina a razão ou a vontade, como já dissemos (a. 1, 2; q. 9, a. 2; q. 10, a. 3). Consequente, quando o movimento das faculdades superiores, pela sua veemência, redundam nas inferiores. Pois, a vontade não pode mover-se intensamente para nada, sem provocar alguma paixão no apetite sensitivo.

Se portanto considerarmos a paixão precedente ao acto do pecado, por força ela o diminuirá. Pois, um acto é pecaminoso na medida em que é voluntário e dependente de nós. Ora, diz-se que alguma coisa depende de nós, pela razão e pela vontade. Donde, quanto mais a razão e a vontade agem livremente, e não pelo impulso da paixão, tanto mais a obra é voluntária e nossa. E deste modo a paixão, diminuindo o voluntário, diminui o pecado. ― Por seu lado, a paixão consequente não o diminui, mas ao contrário, aumenta-o, ou antes, é sinal da gravidade do mesmo, por demonstrar a intensidade da vontade em querer o acto pecaminoso. E assim e verdadeiramente quanto maior for a libidinosidade ou a concupiscência com que pecarmos, tanto mais gravemente pecaremos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A paixão é causa do pecado no atinente à conversão. Pois, a gravidade do mesmo depende sobretudo da aversão, que, por sua vez, resulta acidentalmente da conversão, i. é, contra a intenção do pecador. Ora, não são as causas acidentais correlativamente aumentadas que aumentam os efeitos, mas só as essenciais.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― A paixão boa, consequente ao juízo da razão, aumenta o mérito. Se porém o proceder, de modo a sermos levados a obrar bem, mais pela paixão que por um juízo racional, então a paixão diminui a bondade do acto e o louvor que lhe é devido.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Embora o movimento da vontade seja mais intenso quando provocado pela paixão, não é contudo tão próprio da vontade como quando, dirigido só pela razão, conduz ao pecado.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. XIV De civit. Dei, cap. XII.





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