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01/03/2014

Tratado dos vícios e pecados 26

Questão 74: Do sujeito dos pecados.

Em seguida devemos tratar do sujeito dos vícios ou dos pecados. E sobre esta questão discutem-se dez artigos:
Art. 1 ― Se a vontade pode ser sujeito do pecado.
Art. 2 ― Se só a vontade é sujeito do pecado.
Art. 3 ― Se na sensualidade pode haver pecado.
Art. 4 ― Se na sensualidade pode haver pecado mortal.
Art. 5 ― Se o pecado pode existir na razão.
Art. 6 ― Se o pecado da deleitação morosa reside na razão.
Art. 7 ― Se o pecado do consentimento no acto reside na razão superior.
Art. 8 ― Se o consentimento na deleitação é pecado mortal.
Art. 9 ― Se na razão superior, enquanto directiva das potências inferiores, i. é, enquanto consente no acto do pecado, pode haver pecado venial.
Art. 10 – Se na razão superior, como tal, i. é, enquanto contempla as razões eternas, pode haver pecado venial.

Art. 1 ― Se a vontade pode ser sujeito do pecado.

O primeiro discute-se assim. ― Parece que a vontade não pode ser sujeito do pecado.

1. ― Pois, como diz Dionísio, o mal é contrário à vontade e à intenção 1. Ora, o pecado constitui um mal. Logo, não pode existir na vontade.

2. Demais. ― A vontade busca o bem ou a aparência dele. Ora, querendo o bem, não peca, e o querer o bem aparente, que não é verdadeiramente bem, pertence a uma deficiência, antes, da virtude apreensiva, que da vontade. Logo, nesta o pecado de nenhum modo existe.

3. Demais. ― Não se pode identificar o sujeito e a causa eficiente do pecado, porque a causa eficiente e a material não têm a mesma incidência, como diz Aristóteles 2. Ora, a vontade é causa eficiente do pecado, pois, no dizer de Agostinho, a primeira causa do pecado é a vontade 3. Logo, esta não é sujeito do mesmo.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que, pela vontade, pecamos e vivemos retamente 4.

Como já dissemos (q. 21, a. 1, q. 71, a. 1, 6), o pecado é um acto. Ora, há actos transitivos para a matéria exterior, como queimar e cortar. E a matéria e o sujeito desses é aquilo sobre o que recai a acção, assim, o Filósofo diz, que o movimento é o acto do móvel, procedente do motor 5. Outros actos porém não são transeuntes para a matéria exterior, mas permanecem no agente, como desejar e conhecer, e esses são todos actos morais, quer sejam de virtudes, quer de pecados. Donde e necessariamente, o sujeito próprio do acto pecaminoso é a potência, que é princípio do mesmo. Ora, como é próprio dos actos morais o serem voluntários, segundo já estabelecemos (q. 1, a. 1, q. 18, a. 6, 9), resulta que a vontade, princípio dos actos voluntários, bons ou maus, que são os pecados, é princípio destes. Donde se conclui, que o pecado está na vontade como no sujeito.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Diz-se que o mal é contrário à vontade, porque esta não tende para ele, como tal. Mas como há males que são bens aparentes, a vontade deseja às vezes algum mal, e deste modo há mal nela.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Se a deficiência da faculdade apreensiva de nenhum modo dependesse da vontade, seguir-se-ia a não existência do pecado, nem nesta nem naquela, como é o caso dos que laboram em ignorância invencível. Donde se conclui que também a deficiência da faculdade apreensiva, dependente da vontade, contribui para o pecado.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A objecção colhe no atinente às causas eficientes, cujas acções, transitivas para a matéria exterior, não se movem a si mesmas, mas a outros móveis. Ora, o contrário dá-se com a vontade. Logo, a objecção não procede.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. De div. nom. (lect. XXII).
2. II Physic. (lect. XI).
3. De duabus animabus (c. X, XI).
4. Lib. I Retract., cap. IX.
5. III Physic., lect. IV.






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