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26/10/2013

Tratado das paixões da alma 121



Questão 47: Da causa eficiente da ira e dos seus remédios


Art. 3 — Se a nossa excelência é a causa de nos irarmos mais facilmente.


O terceiro discute-se assim. — Parece que a nossa excelência não é a causa de nos irarmos mais facilmente.


1. — Pois, como diz o Filósofo, alguns, como os enfermos, os necessitados e os que não obtêm o que desejam ficam mais irados, quando ofendidos 1. Ora, tudo isto parece supor uma certa deficiência. Logo, esta, mais que a excelência, torna-nos inclinados à ira.

2. Demais — No mesmo passo diz o Filósofo, que nós nos iramos, sobretudo, quando os outros nos desprezam suspeitando que não tenhamos uma determinada qualidade, ou apenas diminutamente, mas, isso não nos importa, pois nos julgamos excelentes relativamente aquilo por que nos desprezam 2. Ora, o desprezo em questão funda-se numa deficiência. Logo, esta é, mais que a excelência, causa de nos irarmos.

3. Demais — Tudo o concernente à excelência é o que sobretudo torna os homens alegres e esperançosos. Ora, o Filósofo diz, que os homens não se iram quando se divertem, riem, vão a festas, gozam da prosperidade, realizam os seus planos, deleitam-se com o que não é torpe e vivem esperançosos 3. Logo, a excelência não é causa da ira.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que a excelência é causa de os homens ficarem indignados 4.

Podemos considerar a causa da ira no irado, de dois modos. — Primeiro, relativamente ao motivo dela, e, então a excelência é a causa de nos irarmos facilmente. Pois, o motivo da ira é o desprezo injusto, como já dissemos 5. Ora, é claro que quanto mais excelentes formos, tanto mais injustamente seremos desprezados, naquilo porque excelemos. Donde, os que têm alguma excelência ficam sobretudo irados quando os desprezamos, p. ex., quando desprezamos o rico no seu dinheiro, o orador na sua eloquência e assim por diante. — De outro modo, relativamente à disposição que o desprezo causa em nós. Pois, como é manifesto, o que nos move à ira não é senão a ofensa, que nos punge. Ora, é por algum defeito que sobretudo sofremos, pois nos ofendemos facilmente pelos defeitos que temos. E esta é a causa de os fracos, ou os que têm outras deficiências, se irarem mais facilmente, pois, mais facilmente se ofendem.

Donde se deduz clara a RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Quem é desprezado naquilo precisamente onde é manifestamente excelente, como julga não padecer com isso nenhum detrimento, não sofre, e por isso não se ira. Mas, por outro lado, por ser mais indignamente desprezado tem maior razão de se irar, a menos que não se julgue objecto de zombaria e escárnio, não por desprezo, mas por ignorância ou coisa semelhante.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Tudo o que a objecção enumera trava a ira na medida em que impede o sofrimento. Mas por outro lado, provoca naturalmente a ira, fazendo com que sejamos desprezados mais inconvenientemente.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. II Rhetoric. (cap. II).
2. Ibidem.
3. II Rhetoric. (cap. III).
4. II Rhetoric. (cap. IX).
5. Q. 47, a. 2.


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