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24/07/2013

Resumos da Fé cristã 53

TEMA 38. O nono e o décimo mandamentos do Decálogo

Estes dois mandamentos ajudam a viver a santa pureza (o nono) e o desprendimento dos bens materiais (o décimo) nos pensamentos e nos desejos.
«Não cobiçarás a mulher do teu próximo e não desejarás a sua casa, nem o seu campo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem nada que lhe pertença» (Dt 5, 21).

«Aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 28).

1. Os pecados internos 
Estes dois mandamentos referem-se aos actos internos correspondentes aos pecados contra o sexto e o sétimo mandamentos, que a tradição moral classifica como pecados internos. De forma positiva, regulam a forma de viver a pureza (o nono) e o desprendimento (o décimo) nos pensamentos e nos desejos, segundo as palavras do Senhor: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 3.8).

A primeira questão a que se terá de dar resposta é se faz sentido falar de pecados internos; ou, dito de outro modo, porque se qualifica negativamente um exercício da inteligência e da vontade se não se concretiza numa acção externa reprovável?

Pela pergunta não parece evidente, pois nas listas de pecados que o Novo Testamento nos apresenta aparecem sobretudo actos externos (adultério, fornicação, homicídio, idolatria, feitiçaria, pleito, ira, etc.). No entanto, nesses mesmos elencos também vemos citados, como pecados, certos actos internos (invejas, má concupiscência, avareza) 1.

O próprio Jesus explica que é do coração do homem que «procedem as más intenções, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias» (Mt 15, 19). No âmbito específico da castidade, ensina «que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 28). Destes textos, provém um importante contributo para a moral, porque dão a entender como a fonte das acções humanas - por conseguinte da bondade ou maldade da pessoa - se encontra nos desejos do coração, no que a pessoa “quer” e escolhe. A maldade do homicídio, do adultério ou do roubo não está principalmente na materialidade da acção ou nas suas consequências, mas antes na vontade (no coração) do homicida, do adúltero, do ladrão, que ao escolher determinada acção, está a desejá-la: está-se decidido a seguir numa direcção contrária ao amor do próximo e, portanto, também do amor de Deus.

A vontade tende sempre para um bem, mas, em certas ocasiões, trata-se de um bem aparente, alguma coisa que aqui e agora não é ordenável racionalmente em função do bem da pessoa no seu conjunto. O ladrão deseja alguma coisa que considera um bem, mas o facto de que esse objecto pertença a outra pessoa torna impossível que a escolha feita se ordene ao bem da sua pessoa ou, o que é o mesmo, à plenitude da sua vida. Neste sentido, não é necessário o acto exterior para determinar a vontade num sentido positivo ou negativo. Quem decide roubar um objecto, mesmo que o não possa concretizar devido a algum imprevisto, actuou mal. Realizou um acto interno contra a virtude da justiça.

A bondade e a maldade da pessoa dão-se na vontade, assim, rigorosamente falando teria de se utilizar essas categorias para se referir aos desejos (queridos, aceites) e não aos pensamentos. Ao falar da inteligência utilizamos outras categorias, como verdadeiro e falso. Quando o nono mandamento proíbe os “pensamentos impuros” não se está a referir às imagens, ou ao pensamento em si, mas ao movimento da vontade que aceita o deleite desordenado que certa imagem (interna ou externa) provoca 2.

Os pecados internos podem dividir-se em:

- “Maus pensamentos” (complacência morosa): são a representação imaginária de um acto pecaminoso sem ânimo para o realizar. É pecado mortal se se trata de matéria grave e caso se procure ou se consinta em deleitar-se nela.

- Mau desejo (desiderium): desejo interior e genérico de uma acção pecaminosa da qual a pessoa sente gozo. Não coincide com a intenção de a realizar (que implica sempre um querer eficaz), embora em não poucos casos se fizesse, se não existissem alguns motivos que inibem a pessoa (tais como as consequências da acção, a dificuldade para a realizar, etc.).

- Gozo pecaminoso: é a complacência deliberada numa má acção já realizada por si ou por outros. Renova o pecado na alma.

Os pecados internos, em si mesmos, costumam ter menor gravidade que os correspondentes pecados externos, porque o acto externo manifesta voluntariedade mais intensa. No entanto, são de facto muito perigosos, sobretudo para as pessoas que procuram viver na amizade e intimidade com Deus, já que:

- cometem-se com mais facilidade, pois basta o consentimento da vontade; e as tentações podem ser mais frequentes;

- presta-se-lhes menos atenção, pois às vezes, por ignorância e, outras vezes, por certa cumplicidade com as paixões, não se querem reconhecer como pecados, pelo menos, veniais, se o consentimento foi imperfeito.

Os pecados internos podem deformar a consciência, por exemplo, quando se admite o pecado venial interno habitualmente ou com certa frequência, mesmo que se queira evitar o pecado mortal. Esta deformação pode dar lugar a manifestações de irritabilidade, a faltas de caridade, ao espírito crítico, a resignar-se com ter frequentes tentações sem lutar tenazmente contra elas, etc. 3; nalguns casos pode conduzir mesmo a não querer reconhecer os pecados internos, envolvendo-os em explicações sem qualquer razão, que acabam por confundir cada vez mais a consciência; como consequência, cresce facilmente o amor próprio, nascem inquietações, torna-se mais custosa a humildade e a contrição sincera, e pode-se acabar num estado de tibieza. Na luta contra os pecados internos, é muito importante não dar lugar aos escrúpulos 4.

Para lutar contra os pecados internos, ajudam-nos:

- a frequência dos sacramentos que nos dão ou aumentam a graça e nos curam as nossas misérias quotidianas;

- a oração, a mortificação e o trabalho, procurando sinceramente Deus;

- a humildade – que nos permite reconhecer as nossas misérias sem desesperar face aos nossos erros – e a confiança em Deus, sabendo que quer sempre perdoar os nossos pecados;

- exercitarmo-nos na sinceridade com Deus, connosco próprios e na direcção espiritual, cuidando com esmero o exame de consciência.

pablo requena

(Resumos da Fé cristã: © 2013, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 2514-2557. 

Leituras recomendadas:
S. Josemaria, homilia «Porque verão a Deus», em Amigos de Deus, 175-189; homilia «Desprendimento», em Amigos de Deus, 110-126.
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Notas:
*1 Cf. Gl, 5, 19-21; Rm 1, 29-31; Cl 3, 5. S. Paulo, depois de apelar a abster-se da fornicação, escreve: «que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra, sem se deixar levar pelo desejo da paixão como os pagãos que não conhecem Deus. (…) Deus não nos chamou à impureza mas à santidade (1 Ts 4, 3-7). Sublinha a importância dos afectos, que estão na origem das acções, e faz ver a necessidade da sua purificação para a santidade.
2 Deste modo, entender-se-á facilmente a diferença entre “sentir” e “consentir”, referido a determinada paixão ou movimento da sensibilidade. Só quando se consente com a vontade se pode falar de pecado (se a matéria for pecaminosa).
3 «Chapinhas nas tentações, pões-te em perigo, brincas com a vista e com a imaginação, falas de... disparates. E depois assustas-te por te assaltarem dúvidas, escrúpulos, confusões, tristeza e desalento. Hás-de conceder-me que és pouco coerente» (S. Josemaria, Sulco, 132).
4 «Não te preocupes, aconteça o que acontecer, desde que não consintas. - Porque só a vontade pode abrir a porta do coração e introduzir nele essas coisas execrandas» (S. Josemaria, Caminho, 140); cf. Ibidem, 258.


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