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09/07/2013

Leitura espiritual para 09 Jul

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 22, 23-40

23 Naquele mesmo dia foram ter com Ele os saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-n'O, 24 dizendo: «Mestre, Moisés disse: “Se morrer algum homem sem ter filhos, case-se o seu irmão com a mulher dele, e dê descendência a seu irmão”. 25 Ora havia entre nós sete irmãos. O primeiro, depois de casado, morreu, e, não tendo descendência, deixou a mulher ao irmão. 26 O mesmo sucedeu ao segundo e ao terceiro, até ao sétimo. 27 Depois de todos, morreu também a mulher. 28 Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, porque todos foram casados com ela?». 29 Jesus, respondeu-lhes: «Errais, e não compreendeis as Escrituras, nem o poder de Deus. 30 Porque na ressurreição, nem os homens terão mulheres, nem as mulheres maridos, mas serão como os anjos de Deus no céu. 31 Acerca da ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse: 32 “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e o Deus de Jacob”? Ora Ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos». 33 As multidões, ouvindo isto, admiravam-se com a Sua doutrina. 34 Os fariseus, tendo sabido que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se. 35 E um deles, doutor da Lei, querendo pô-l'O à prova, perguntou-Lhe: 36 «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». 37 Jesus disse-lhe: «”Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento”. 38 Este é o maior e o primeiro mandamento. 39 O segundo é semelhante a este: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. 40 Destes dois mandamentos depende toda a Lei e os Profetas».



CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO

LIVRO DÉCIMO- PRIMEIRO

CAPÍTULO XXVI

O tempo, distensão da alma

Acaso minha alma não foi sincera confessando-te que posso medir o tempo?

De facto, meu Deus, eu meço-o, e não sei o que meço.
Meço o movimento dos corpos com o auxílio do tempo, e não poderei medir o tempo do mesmo modo?
E poderia eu medir o movimento de um corpo, a sua duração, o tempo que gasta para ir de um lugar a outro, sem medir o tempo em que se move?
Mas o tempo em si, com que o poderei medir?
É com um tempo mais curto que medimos um mais longo, como medimos uma viga com o côvado?

Do mesmo modo medimos a duração de uma sílaba longa com a duração de uma sílaba breve, dizendo que uma é o dobro da outra. Do mesmo modo medimos a extensão de um poema pelo número de versos, a extensão dos versos pelo número de pés, a extensão dos pés pelo número de sílabas, a duração das sílabas longas pela duração das breves. Não é pelas páginas dos livros que fazemos esse cálculo, o que seria medir o espaço e não o tempo. Conforme as palavras passam e as pronunciamos, dizemos: “Eis um poema longo, porque se compõe de tantos versos, esses versos são longos, porque são formados por tantos pés, esses pés são longos, porque se estendem por tantas sílabas, esta sílaba é longa, porque é o dobro de uma breve”.
Todavia, não conseguimos uma medida exacta do tempo, pode acontecer que um verso mais curto, se pronunciado mais lentamente, se estenda por mais tempo que um verso mais longo, recitado depressa. O mesmo acontece com um poema, um pé, uma sílaba.
Por esse motivo é que o tempo me pareceu não ser nada mais que uma extensão.

Mas extensão de quê?
Não saberia dizê-lo ao certo, seria de admirar que não fosse extensão da própria alma. portanto, diz-me , meu Deus, que é o que meço quando digo um tanto vagamente:
“Este tempo é mais longo do que aquele” – ou mais exactamente: “Este tempo é o dobro daquele?
– Meço o tempo, eu sei, mas não o futuro, que ainda não existe, nem o presente, porque não tem duração, nem o passado, porque não existe mais.
Que meço eu então?
Acaso o tempo que passa, e não o tempo passado, como disse acima?

CAPÍTULO XXVII

A medida do passado

Insiste, ó minha alma, e presta grande atenção: Deus é nosso apoio. Ele é que nos criou, e não nós. Olha para lá, par o lado onde desponta a aurora da verdade.

Eis, por exemplo, que uma voz corpórea começa a ressoar, e soa, e continua vibrando e deixar de soar, faz-se silencio, a voz calou-se, passou e deixa de existir.
Antes de soar, era futura, e não podia ser medida, pois ainda não existia, e agora também não o pode, porque já não existe mais. Só poderíamos medi-la quando ressoava, porque então havia o que medir. Mas mesmo então não era estável, porque vinha e passava.
E não seria isso que a tornava mensurável?
Porque enquanto passava, estendia-se por um espaço de tempo que a tornava capaz de ser medida, porque o presente não tem duração alguma.
Admitamos que foi possível medi-la, eis, suponhamos agora, uma outra voz que começa a fazer-se ouvir, ela vibra de modo contínuo, sem nenhuma interrupção. Meçamo-la enquanto vibra, porque no momento em que deixar de vibrar será passada, e já não poderá ser medida. Meçamo-la, então, e avaliemos sua duração. Mas ela vibra ainda, e só pode ser medida depois do início do fenómeno, quando começa a vibrar, até ao seu fim, quando deixa de vibrar. Porque é precisamente o intervalo que separa um começo de um fim que nós medimos. Por isso, uma voz, que ainda não terminou de ressoar, escapa à medida: é impossível dizer se ela será longa ou breve, se é igual a outra, simples ou dupla, ou qual a relação que tem com essa outra. Mas quando terminar de soar, deixará de existir.

Como, então, poderemos medi-la?

De facto, medimos o tempo, mas não o tempo que ainda não existe, nem o que já não existe, nem o que não tem duração alguma, nem o que está passando. Não é, portanto, nem o futuro, nem o passado, nem o presente, nem o que não tem limites que medimos: e, contudo, medimos o tempo.
Deus creator omnium (Deus, criador de tudo quanto existe): este verso é formado de oito sílabas, alternativamente breves e longas.
As quatro breves, a primeira, a terceira, a quinta e a sétima – são simples em relação às quatro longas: a segunda, a quarta, a sexta e a oitava.
Cada sílaba longa tem uma duração duas vezes maior que a breve. Eu pronuncio e percebo que é assim pelo testemunho claro dos meus sentidos. E por esta, testemunho que é fidedigno, meço uma longa por uma breve, e noto que ela a contém duas vezes.
Mas como uma sílaba só se faz ouvir depois da outra, se a breve vem primeiro, e a longa a seguir, como poderei reter a breve, como aplicá-la à longa, para compará-las e ver que esta contém aquela duas vezes, uma vez que a longa só começa a soar quando a breve deixou de se ouvir?
E a própria sílaba longa, não me é possível medi-la enquanto está soando, porque eu só poderia medi-la quando se calasse. Mas ela, ao terminar, passou.
Que é pois o que eu meço?
Onde está a breve, que seria minha medida?
Onde está a longa, que meço?
Apenas vibraram, foram-se, passaram, e não existem mais. Não obstante, eu meço-as e respondo com a segurança que me pode dar um sentido bem educado, que evidentemente uma é de duração simples e a outra dupla. Mas só poderei fazê-lo depois que ambas passaram e terminaram.
Logo, eu não meço as sílabas, que não existem mais, mas algo que permanece gravado na minha memória.
É em ti, meu espírito, que meço o tempo. Não me objectes nada, pois é assim. Não te perturbes com as ondas desordenadas de tuas emoções. É em ti, digo, que meço o tempo. A impressão que em ti gravam as coisas em sua passagem, perduram ainda depois que os factos passam.
O que eu meço é esta impressão presente, e não as vibrações que a produziram e se foram. É ela que meço quando meço o tempo. Portanto, ou essa impressão é o tempo, ou eu não meço o tempo.
Mas quando medimos silêncios, e dizemos que o silêncio teve a mesma duração que certa palavra, não estamos dirigindo nossa a atenção para a medida dessa palavra, como se ainda pudéssemos ouvi-la, para podermos avaliar no espaço de tempo, o intervalo do silêncio?

Com efeito, por vezes, sem abrir a boca ou dizer palavra, fazemos mentalmente poemas, versos, discursos, avaliamos a extensão do seu movimento, a sua duração, uns em relação aos outros, exatamente como se usássemos a voz.
Se alguém quisesse pronunciar um som prolongado, e regular antecipadamente, em pensamento, a sua duração, estima em silêncio a medida dessa duração e, confiando à memória, começa a emitir o som, que vibra até atingir o limite fixado. Ou melhor: esse som vibrou e vibrará, porque a parte que passou soou, a que ainda resta, soará e chegará a seu fim. A atenção presente vai lançando o futuro para o passado, e o passado cresce com a diminuição do futuro, até que, esgotado o futuro, não haja mais que passado.

CAPÍTULO XXVIII

A medida do futuro

Mas o futuro, que ainda não existe, como pode diminuir ou consumir-se?
E o passado, que já não existe, como pode aumentar, a não ser por existirem no espírito, autor dessas três transformações: a espera, a atenção e a lembrança?

O objecto da sua espera passa pela atenção e se transforma em lembrança.
De facto, quem ousará negar que o futuro ainda não existe?
Todavia, a espera do futuro já está no espírito.
E quem poderá negar que o passado não mais existe?
Contudo, a lembrança do passado ainda está no espírito.
Enfim, haverá alguém que negue que o presente carece de duração, porque é um instante que passa?
No entanto, perdura a atenção, diante da qual o seu objecto presente continuamente se retira. O futuro, portanto, não é longo, porque não existe.
Um futuro longo seria apenas uma longa espera do futuro. Nem pode ser longo o passado, que também não existe. Um passado longo é uma longa lembrança do passado.
Digamos que eu queira cantar uma canção que conheço: antes de iniciar, a minha expectativa estende-se pela melodia como um todo. Quando começo, tudo o que vira passado é armazenada na memória. A actividade do meu espírito divide-se em memória, onde guardo o que já disse, e em expectativa em relação ao que vou dizer. Contudo, a atenção está presente, e por seu intermédio o futuro torna-se passado. Quanto mais se aproxima o fim da canção, tanto menos se torna a expectativa e tanto maior a memória, até que aquela se esgota e a acção cumprida passa inteiramente para a memória.

E o que acontece com a canção tomada em seu conjunto, também ocorre com cada uma de suas partes, com cada sílaba, e também acontece com uma acção mais longa, da qual essa melodia talvez faça parte.
O mesmo acontece com toda a vida do homem, da qual seus actos são partes.
Sucede, enfim, com toda a história dos filhos do homem, da qual cada existência é apenas uma parte.

(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)


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