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03/05/2013

Tratado das paixões da alma 15


Art. 4 ― Se alguma paixão da alma é na sua espécie moralmente boa ou má.



(IIª. IIªº, q. 158, a. 1, IV Sent.,dist. XV, q. 2, a. 1, qª 1, ad 4, dist. L, q. 2, a. 4, qª 3, ad3, De Malo, q. 10, a. 1).

O quarto discute-se assim. ― Parece que nenhuma paixão da alma é a na sua espécie moralmente boa ou má.


1. ― Pois, o bem e o mal moral dependem da razão. Ora, as paixões, pertencendo ao apetite sensitivo, têm relações acidentais com a razão. Ora, como nada do que é acidental pertence a qualquer espécie de ser, resulta que nenhuma paixão é especificamente boa ou má.

2. Demais. ― Os actos e as paixões especificam-se pelos seus objectos. Se pois uma paixão fosse especificamente boa ou má, necessariamente seriam, na sua espécie, boas as paixões que têm um bom objecto, como o amor, o desejo e a alegria, e más, especificamente, as que, como o ódio, o temor e a tristeza têm um mau objecto. Ora, isto é falso, evidentemente. Logo, nenhuma paixão da alma é especificamente boa ou má.

3. Demais. ― Não há espécie de paixão que não se encontre nos animais. Ora, só o homem é susceptível de bem moral. Logo, nenhuma paixão da alma é especificamente boa ou má.

Mas, em contrário, diz Agostinho: a misericórdia está entre as virtudes 1. E o Filósofo, por sua vez, a vergonha é uma paixão louvável 2. Logo, há paixões especificamente boas ou más.

O que já dissemos em relação aos actos 3 também o devemos dizer das paixões, a saber, que podemos encarar a espécie do acto ou da paixão de dois modos. Ou quanto ao género da natureza, e então o bem ou o mal moral não pertencem à espécie, ou quanto ao género da moralidade, na medida em que participam do voluntário e do juízo da razão. E deste último modo o bem e o mal moral podem pertencer à espécie de paixão, entendendo-se por este objecto algo de conveniente à razão ou dela dissonante, como se dá com a vergonha, temor da torpeza e, com a inveja, tristeza causada pelo bem de outrem. Pertencem então à espécie do acto exterior.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Essa objecção colheria, relativamente às paixões, enquanto pertencentes à espécie da natureza, isto é, considerando-se o apetite sensitivo em si mesmo. Enquanto porém ele obedece à razão, já o bem e o mal da razão não residem acidental, mas essencialmente, nas paixões desse apetite.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― As paixões que tendem para o bem serão boas se esse bem for verdadeiro, e o mesmo se dá com as que se afastam do verdadeiro mal. Ao contrário, porém, as paixões que se afastam do bem ou tendem para o mal, são más.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O apetite dos brutos não obedece à razão. E contudo, na medida em que é dirigido por uma certa estimativa natural, sujeita a uma razão superior, que é a divina, há neles uma quase semelhança do bem moral, quanto às paixões da alma.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. IX De civ. Dei, cap. V.
2. II Ethic., lect. IX.
3. Q. 18, a. 5, 6.

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