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19/04/2013

Tratado dos actos humanos 95


Questão 21: Das consequências dos actos humanos em razão da bondade ou da malícia deles.

Art. 4 ― Se o acto do homem, bom ou mau, é meritório ou demeritório perante Deus.




(Infra, q. 114, a . 1).

O quarto discute-se assim. ― Parece que o acto do homem, bom ou mau, não é meritório nem demeritório perante Deus.



1. ― Pois, como já se disse 1, o mérito e o demérito implicam relação com a recompensa de um benefício ou de um dano feito a outrem. Ora, o bom ou mau acto do homem não pode ser proveitoso nem nocivo a Deus, conforme aquilo da Escritura (Jo 25, 6-7): Se pecares, em que danarás tu a Deus? De mais disso, se obrares com justiça, que lhe darás? Logo, o acto do homem, bom ou mau, não é meritório nem demeritório perante Deus.

2. Demais. ― O instrumento em nada merece nem desmerece nas mãos de quem o usa, porque toda a sua acção é devida a este último. Ora, o homem, quando age, é instrumento da virtude divina, que principalmente o move, conforme a Escritura comparando, manifestamente, o homem agente com um instrumento (Is 10, 15): Acaso gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele? Ou levantar-se-á a serra contra aquele por quem é posta em movimento? Logo, agindo bem ou mal, o homem não merece nem desmerece perante Deus.

3. Demais. ― O acto humano é meritório ou demeritório por ter relação com outrem. Ora, nem todos os actos humanos se ordenam a Deus. Logo, nem todos, bons ou maus, são meritórios ou demeritórios perante Deus.

Mas, em contrário, diz a Escritura (Ecle. 12, 14): E de tudo quanto se comete fará Deus dar conta no seu juízo, seja boa ou má essa coisa. Ora, juízo implica retribuição relativa ao mérito ou demérito de alguém. Logo, todo acto do homem, bom ou mau, é meritório ou demeritório perante Deus.

Como já dissemos 2 o acto do homem é meritório ou demeritório enquanto se ordena a outrem, em si mesmo ou como parte de uma comunidade. Ora, os nossos actos são de ambos os modos meritórios ou demeritórios perante Deus. Primeiro, quanto a Deus em si mesmo, fim último do homem, pois, devemos referir todos os nossos actos a esse fim, como antes já demonstramos 3. Logo, quem faz um acto mau, não referenciável a Deus, não lhe conserva a honra, que é devida ao último fim. Por outro lado, em relação a toda a comunidade do universo, pois governador de toda comunidade deve precipuamente tratar do bem comum, e por isso compete-lhe retribuir ao que nessa comunidade é bem ou mal feito. Ora, Deus governa e dirige todo o universo, como estabelecemos na primeira parte 4, e especialmente as criaturas racionais. Donde é manifesto, que os actos humanos são perante ele meritórios ou demeritórios, do contrário, resultaria que não cura de tais actos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Deus, em si mesmo, não ganha nem perde nada por via de um acto humano, o homem porém na medida das suas forças, subtrai ou concede alguma coisa a Deus, conservando ou não a ordem que ele instituiu.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Ser o homem movido como instrumento de Deus não exclui que se mova a si mesmo pelo livre arbítrio, como do sobredito resulta 5. Logo, pelo seu acto merece ou desmerece perante Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O homem não se ordena, em si mesmo, totalmente e com tudo o que lhe pertence, à comunidade política, e por isso não há-de qualquer acto seu ser meritório e ou demeritório, em relação a essa comunidade. Mas o todo que é o homem, com tudo o que pode e tem, deve ordenar-se para Deus, donde, todo o acto humano, bom ou mau, é por essência meritório ou demeritório perante ele.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 21, a. 3.
2. Q. 21, a. 3.
3. Q. 19, a. 10.
4. Q. 103, a. 5.
5. Q. 9, a. 6 ad 3.

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