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29/04/2013

Tratado das paixões da alma 11



Art. 4 ― Se as principais paixões são as quatro seguintes: a alegria e a tristeza, a esperança e o temor.


(Infra, q. 84, a. 4, ad 2, IIª. IIªº, q. 141, ª 7, ad 3, III Sent., dist. XXVI, q. 1, a. 4, De Verit., q. 26, a. 5).


O quarto discute-se assim. ― Parece que as quatro principais paixões não são as quatro seguintes: a alegria e a tristeza, a esperança e o temor.


1. ― Pois, Agostinho em vez da esperança, coloca a cobiça 1.

2. Demais. ― Há ordem dupla nas paixões da alma: a da intenção e a da execução ou geração. Ora, as paixões consideram-se principais ou quanto à ordem da intenção, e nesse caso só a alegria e a tristeza, que são finais, são as principais, ou quanto à ordem da consecução ou geração, e então será o amor a principal. Logo, de nenhum modo se podem considerar como principais as quatro paixões seguintes: a alegria e a tristeza, a esperança e o temor.

3. Demais. ― Como a coragem é causada pela esperança, assim o temor, pelo desespero. Logo, devem considerar-se a esperança e o desespero como paixões principais, na qualidade de causas, ou a esperança e a coragem por terem afinidades com as duas primeiras.

Mas, em contrário, diz Boécio, enumerando as quatro principais paixões: repele as alegrias, repele o temor, foge da esperança e nem a dor esteja presente 2.

Estas quatro paixões são comumente consideradas como principais, as duas primeiras ― a alegria e a tristeza ― por serem absolutamente completivas e finais, relativamente a toda as outras, e a elas consequentes, como diz Aristóteles 3, o temor e a esperança, de outro lado, por serem completivas, não absolutamente, mas no género do movimento apetitivo de alguma coisa. Pois, relativamente ao bem, o movimento começa pelo amor, continua pelo desejo e termina pela esperança, e em relação ao mal, começa pelo ódio, continua pela aversão e termina pelo temor.

Donde, o número dessas quatro paixões funda-se de ordinário na diferença entre o presente e o futuro, pois o movimento refere-se ao futuro e o repouso, ao presente. Ora, o bem presente é objecto da alegria, o mal presente, da tristeza, o bem futuro, da esperança e o mal futuro, do temor. E as demais paixões referentes ao bem ou ao mal presente ou futuro reduzem-se a estas como complemento delas.

Por isso alguns também consideram principais as paixões em questão, por serem gerais. O que é verdade, se a esperança e o temor designarem o movimento do apetite tendente comumente para algo de desejável ou que deve ser evitado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Agostinho coloca o desejo ou cobiça em lugar da esperança, por visarem o mesmo objecto, i. é, o bem futuro.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― As paixões em questão chamam-se principais, na ordem da intenção e como complementares. E embora o temor e a esperança não sejam as últimas, absolutamente, são-no contudo no género das que tendem para algo quase futuro. Nem pode haver dificuldade, a não ser sobre a ira, mas esta não pode ser considerada principal, porque é um certo efeito da audácia, que não pode ser paixão principal, como a seguir se dirá 4.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O desespero implica afastamento mas quase por acidente, do bem, e a audácia importa o aproximar-se, também acidental, do mal. Logo, estas paixões não podem ser principais, pois, o acidental não o pode ser. E assim também a ira, consequente à coragem, não pode ser considerada principal.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. XIV De civ. Dei, cap. VII.
2. Lib. I De consolact., metr. VII.
3. II Ethic., lect. V.
4. ad 3, et q. 45, a. 2, ad 3.

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