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22/12/2012

Carta do Prelado do Opus Dei por ocasião do Ano da Fé. 2



2. Estas considerações não são novas. Por mais paradoxal que possa parecer, já desde a conclusão do Concílio Vaticano II se entrevia o perigo de que, em amplos setores da Igreja, o entusiasmo gerado por aquela Assembleia pudesse ficar em meras palavras, sem afetar profundamente a vida dos fiéis; ou que, por causa das interpretações e aplicações erradas dos ensinamentos do Concílio, o genuíno espírito cristão acabasse, erroneamente, por se tornar semelhante ao espírito do mundo, em vez de elevar o mundo à ordem sobrenatural.

Todos os que vivemos aqueles tempos, recordamos a dor com que Paulo VI, uma vez finalizado o Concílio, se lamentava com frequência ante a grande crise de fé, de disciplina, de liturgia, de obediência, que se abatia sobre esses setores da Igreja. S. Josemaria fazia eco dessa preocupação do Santo Padre e, numa carta dirigida aos seus filhos, escrita pouco antes da clausura do Concílio, manifestava-nos: «conheceis o amor com que segui durante estes anos o trabalho do Concílio, cooperando com a minha oração e, em mais de uma ocasião, com o meu trabalho pessoal. Sabeis também o meu desejo de ser e de que sejais fiéis às decisões da hierarquia da Igreja até nos menores detalhes, atuando não como súbditos de uma autoridade, mas com piedade de filhos, com o carinho de quem se sente e é membro do Corpo de Cristo.

Não vos ocultei tão pouco a minha dor ante a conduta dos que não viveram o Concílio como um acto solene da vida da Igreja e uma manifestação do atuar sobrenatural do Espírito Santo, mas como uma oportunidade de afirmação pessoal, para dar rédea solta às suas opiniões ou, pior ainda, para causar dano à Igreja.

O Concílio está a terminar: anunciou-se repetidas vezes que esta será a última sessão. Quando a carta que agora vos escrevo chegar às vossas mãos, ter-se-á iniciado já o período pós-conciliar, e o meu coração treme ao pensar que possa ser ocasião para novas feridas no corpo da Igreja.

Os anos que se seguem a um Concílio são sempre anos importantes, que exigem docilidade para aplicar as decisões adotadas, que exigem também firmeza na fé, espírito sobrenatural, amor a Deus e à Igreja de Deus, fidelidade ao Romano Pontífice» [2].

Não havia o menor sinal de pessimismo em S. Josemaria, ao falar assim; queria salientar que, então e em todas as circunstâncias, fazem falta mulheres e homens de fé.

Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
Nota: Publicação devidamente autorizada

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Notas:

[2] S. Josemaria, Carta 24-X-1965, n. 4.

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