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27/11/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 66




Questão 117: Do que respeita à acção do homem


Art. 2 — Se os homens podem ensinar os anjos.



II Sent., dist. XI, part. II, a. 4, Opusc. I, Contra ERR. Graec., cap. XXVI, Ad Ephes., cap. III, lect. III).

O segundo discute-se assim. — Parece que os homens podem ensinar os anjos.



1. — Pois, diz o Apóstolo: Para que a multiforme sabedoria de Deus seja manifestada por meio da Igreja aos principados e potestades nos céus. Ora, a Igreja é a reunião dos fiéis. Logo, os anjos aprendem alguma coisa, dos homens.

2. Demais. — Os anjos superiores, imedia­tamente iluminados por Deus, sobre as coisas divinas, podem instruir os inferiores, como já se disse. Ora, certos homens, e sobretudo os Apóstolos, são imediatamente instruídos pelo Verbo de Deus, sobre as coisas divinas, con­forme a Escritura: Ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho. Logo, certos homens puderam ensinar certos anjos.

3. Demais. — Os anjos inferiores são instruídos pelos superiores. Ora, certos homens são superiores a certos anjos, pois, como diz Gregório, num lugar, aqueles serão elevados às ordens supremas destes. Logo, certos anjos inferiores podem ser instruídos, sobre as coisas divinas, por certos homens.

Mas, em contrário, diz Dionísio, que todas as iluminações divinas são trazidas aos homens, pelos anjos. Logo, estes não são instruídos por aqueles, sobre as causas divinas.

Como já se estabeleceu, os anjos inferiores podem falar com os superiores, manifestando-lhes os seus pensamentos, mas, sobre as coisas divinas, os superiores não são nunca iluminados pelos inferiores. Ora, é manifesto, que os mais elevados dos homens estão sujeitos, mesmo aos ínfimos dos anjos, do mesmo modo porque os anjos inferiores estão sujeitos aos superiores. O que é claro pelo dito do Senhor, no Evangelho: Entre os nascidos de mulheres não se levantou outro maior que João Baptista, mas o que é menor no reino dos céus, é maior do que ele. Assim, pois, os anjos não são nunca iluminados pelos homens, sobre as causas divinas. Contudo, podem manifestar a estes, falando, as cogitações do coração, porque os segredos dos corações só Deus conhece.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Agostinho expõe do modo seguinte o passo aduzido, do Apóstolo. Este já havia dito antes: A mim, o mínimo dentre todos os santos, foi-me dada esta graça de iluminar a todos, sobre a economia do sacramento oculto, desde a origem dos séculos, em Deus, e digo de tal modo oculto, para que os Principados e as Potestades, nos céus, conheçam, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus. Que é como se dissesse: Este sacramento era oculto aos homens, de modo tal porém que fosse conhecido da Igreja celeste, representada pelos Principados e Potestades, desde os séculos, e não antes, porque primitivamente, a Igreja estava onde, depois da ressurreição, também será congregada a Igreja dos homens. — Mas, também se pode dizer, de outro modo, como acrescenta o mesmo Agostinho, que o que está oculto os anjos não o conhecem tanto em Deus, mas, antes, é-lhes manifesto quando se realiza e propala, neste mundo. E assim, quando foram completados, pelos Apóstolos, os mistérios de Cristo e da Igreja, algo de tais mistérios, que antes lhes estava oculto, foi manifestado. E deste modo, pode-se entender o dito de Jerónimo, que os anjos conheceram certos mistérios pela pregação dos Apóstolos, porque, com essa predicação apostólica, tais mistérios se completaram, relativamente aos objectos mesmos deles, assim, com a pregação de Paulo os gentios se converteram, assunto de que trata o Apóstolo no passo aduzido.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os Apóstolos foram instruídos imediatamente pelo Verbo de Deus, porque lhes falou, não a divindade do Verbo, mas a humanidade. Por onde, a objecção não colhe.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Certos homens, mesmo em vida, são maiores que alguns anjos, não em acto, mas por virtude, i. é, enquanto têm caridade tão intensa, que podem merecer maior grau de beatitude, que o de certos anjos. Assim, como se disséssemos que a semente de lima grande árvore tem maior virtude que a de lima pequena árvore, embora seja tal se­mente muito menor, actualmente.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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