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19/11/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 58



Questão 115: Da acção da criatura corpórea.

Art. 4 — Se os corpos celestes são causa dos actos humanos.



(IIª IIae, q. 95, a. 5, II Sent., dist.. XV, q. I, a. 3, XXV, a. 2, ad 5, III Cont. Gent., cap. LXXXIV, LXXXV. LXXXVII, De Verit., q. 5, a. 10, Compend. Theol., cap. CXXVII, CXXVIII, I Pheriherm., Iect. XIV, III De Anima, lect: IV, VI Metaphys., Iect. III, In Matth., capo II).

O terceiro discute-se assim. — Parece que os corpos celestes são causa dos actos humanos.


1. — Pois, esses corpos, sendo movidos: pelas substâncias espirituais, como já se disse, agem como instrumentos, pela virtude delas. Ora, tais substâncias são superiores às nossas almas. Donde resulta, que podem causar impressão nestas e, portanto, serem causa dos actos humanos.

2. Demais. — Tudo o que é multiforme depende de princípio uniforme. Ora, os actos humanos são vários e multiformes. Logo, dependem dos movimentos uniformes dos corpos celestes, como do princípio.

3. Demais. — Os astrólogos frequentemente vaticinam sobre os acontecimentos bélicos e outros actos humanos, cujos princípios são o intelecto e a vontade. Ora, tal não poderiam fazer se os corpos celestes não fossem causa dos actos humanos. Logo, eles são tal causa.

Mas em contrário, diz Damasceno: os corpos celestes não são de nenhum modo causa dos actos humanos.

Os corpos celestes podem directamente e por si impressionar os outros corpos, como já se disse, nas potências da alma humana, porém, que são actos de órgãos corpóreos, causam impressão, Directa, mas acidentalmente, pois, os actos dessas potências são necessariamente obstruídos pelo obstáculo dos órgãos, assim, os olhos turvos não vêm bem.

Por onde, se o intelecto e a vontade fossem virtudes ligadas a órgãos corpóreos, como ensinaram alguns, dizendo que o intelecto não difere do sentido, daí necessariamente resultaria que os corpos celestes são causa das eleições e dos actos humanos. E, por consequência o homem agiria por instinto natural, como os animais, que lhe são inferiores e que, tendo as virtudes da alma ligadas a órgãos corpóreos, sempre agem naturalmente, por impressão dos corpos celestes. E dai a conclusão que o homem não teria livre arbítrio, mas seria determinado nas suas acções, como os outros seres naturais. Conclusões manifestamente falsas e contrárias à linguagem humana.

Deve-se pois saber que, indirectamente e por acidente, as impressões dos corpos celestes podem influir sobre o intelecto e a vontade, enquanto aquele e esta recebem algo das virtudes inferiores, ligadas a órgãos corpóreos. Mas, relativamente a isso, o intelecto se comporta diferentemente da vontade. Pois, recebe os seus dados, necessariamente, das virtudes inferiores, por onde, turbadas as virtudes imagina­tiva, cogitativa ou memorativa, necessariamente há-de turbar-se a acção do intelecto. A vontade porém não segue necessariamente a inclinação do apetite inferior. Pois, embora as paixões do irascível e do concupiscível, exerçam certa influência para inclinar a vontade, contudo esta conserva o poder de as seguir ou combater. Por onde, a impressão dos corpos celestes, na medida em que podem imutar as virtudes inferiores, alcança menos a vontade, causa próxima dos actos humanos, que o intelecto. Admitir, pois, que os corpos celestes são causa dos actos humanos, é opinião própria dos que dizem que o intelecto não difere dos sentidos. Assim, um deles dizia: a vontade dos homens é tal qual o pai dos homens e dos deuses a causa, cada dia. Ora, como é certo que o intelecto e a vontade não são actos de órgãos corpóreos, é impossível que os corpos celestes sejam a causa dos actos humanos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — As substâncias espirituais, que movem os corpos celestes, agem por certo sobre as corpóreas, mediante tais corpos, mas sobre o intelecto humano agem imediatamente, iluminando, embora não possam imutar a vontade, como já se estabeleceu.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Assim como a multiformidade dos movimentos corpóreos se reduz, como à causa, à uniformidade dos movimentos celestes, assim a multiformidade dos actos do intelecto e da vontade se reduz ao princípio uniforme, que são o intelecto e a vontade de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A maior parte dos homens segue as paixões, movimentos sensitivos do apetite, para as quais podem concorrer os corpos celestes, ao passo que são poucos os prudentes, que resistem a tais paixões. E por isso os astrólogos, na maioria dos casos, podem predizer a verdade, e, sobretudo, em comum. Não porém em especial, porque nada impede que um homem, com o livre arbítrio, resista às paixões. Por onde, os próprios astrólogos dizem, que o homem prudente domina os astros, na medida em que domina as paixões próprias.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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