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24/11/2012

CULTIVAR A FÉ 4


PERSEVERAR NO AMOR

O servo mau e preguiçoso [i] desdenhou da predilecção de que tinha sido objecto ao enterrar o talento; deixou passar o tempo sem descobrir as possibilidades que encerrava aquela fortuna. Não quis complicar a vida e, deste modo, nunca chegou a saber o que poderia ter feito, nem descobrir o motivo pelo qual o Senhor tinha tido tanta confiança nele.

É um perigo sempre presente, porque no caminho da chamada «é fácil um primeiro entusiasmo, mas depois vem a constância também nos caminhos monótonos do deserto que se hão-de atravessar ao longo da vida, a paciência de prosseguir sempre igual, mesmo quando diminui o romantismo da primeira hora e só fica o “sim” profundo e puro da fé» [ii].

Certamente, que se poderia enterrar o talento uma vez que se começou a negociar com ele. Mas o Senhor indica-nos qual é o meio para que isso não aconteça: se guardais os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor [iii]. «Se o fruto que devemos produzir é amor, uma condição prévia é precisamente este “permanecer”, que tem que ver profundamente com a fé que não se afasta do Senhor» [iv].

Manter-se no caminho que Deus mostrou implica, em si mesmo, uma demonstração de amor e de fé. E o segredo da fidelidade radica precisamente no amor: Qual é o segredo da perseverança? O Amor. – Enamora-te, e não “O” deixarás [v].

D. Álvaro, sucessor de São Josemaria, comentando este ponto de Caminho, dizia que também se podia afirmar: não “O” deixes, e enamorar-te-ás; sê leal e acabarás louco de amor a Deus [vi]. O Senhor recompensa a fé perseverante, levando a bom termo a Sua obra e atraindo cada um à Sua Pessoa [vii]. Assim, a lealdade é uma fonte de equilíbrio pessoal, pois quem é leal consolida um clima de paz à sua volta; comunica segurança e confiança, afasta o medo e as incertezas.

A parábola dos talentos mostra esta primazia do amor: o amo recompensa os servos fazendo-os participantes da sua alegria, da sua própria pessoa; não dá simplesmente algo que lhe pertence, mas dá-se a ele mesmo. A diligência que mostraram os servos fiéis é também sinal da proximidade que tinham com Ele; e é que a fidelidade cristã não é só a lealdade a uma doutrina, ou a um dogma: o cristão é fiel à pessoa viva de Cristo, com quem tem uma relação de amizade.

Por isso, a perseverança não pode entender-se como algo rígido, frio ou calculado; não produz uma vontade inamovível nem insensível às alterações de ânimo ou de circunstâncias; é, antes, o seu contrário: a fidelidade torna o homem flexível, para enfrentar o sopro de qualquer vento, pois nasce do amor e o amor é inventivo, como o é o Espírito.

Se permanecer fiel ao meu Deus, o Amor vivificar-me-á continuamente. A minha juventude renovar-se-á como a da águia [viii]. A santidade é a vida a que estamos chamados. O caminho é claro e está traçado, esculpido, com traços precisos. É este o caminho em que entrámos por mediação de Maria e que seguimos com a sua protecção  ser Obra de Deus, esforçar-nos por responder fielmente – com o coração! – às moções do Espírito Santo.

m. díez, j. morales, j. verdiá, 2012.02.27

Nota: Revisão gráfica por ama.



[i] Mt 25, 26.
[ii] Bento XVI – J. Ratzinger, Jesus de Nazaré, pp. 309-310.
[iii] Jo 15, 10.
[iv] Bento – J. Ratzinger, Jesus de Nazaré, p. 310.
[v] Caminho, n. 999.
[vi] D. Álvaro, Carta aos fiéis do Opus Dei, 19-III-1992.
[vii] Cfr. Fil 1, 6.
[viii] Amigos de Deus, n. 31

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