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02/08/2011

No dia 2 de Agosto a Igreja celebra a festa de Santa Maria dos Anjos da Porciúncula, a “festa do perdão” de Assis.

Porciúncula
A Porciúncula (em italiano, la Porziuncola) é uma pequena igreja fora de Assis, na fracção comunal de Santa Maria degli Angeli, actualmente contida dentro de uma igreja muito maior, a basílica de Santa Maria dos Anjos, construída para proteger e venerar a tradição da pequena igreja.
É o lugar mais sagrado da Ordem Franciscana. Ali morreu Francisco de Assis.
Segundo a tradição, a Porciúncula foi construída no século IV, por eremitas provenientes da Palestina. Em 576, foi assumida por São Bento e seus monges.
A Porciúncula foi a terceira igreja restaurada por São Francisco, depois de ter tido um sonho no qual ouviu o chamado de Deus para "recuperar a sua igreja".
Entrar na Porciúncula, com Francisco de Assis, é nascer de novo, pelo Espírito do Senhor.

– Foi nesta igrejinha que o jovem Francisco, procurando descobrir a vontade do Senhor a seu respeito, escutou o Evangelho, pediu ao sacerdote que lho explicasse e, exultando de alegria, exclamou: “Isto mesmo eu quero, isto peço, isto anseio poder realizar com todo o coração”. E, passando da vida eremítica, dedicou-se ao anúncio itinerante da Palavra de Deus entre o povo.

«Na procura de um sentido para a tua vida, escuta a Palavra do Senhor. Nela encontrarás a missão que te há-de fazer feliz!»

Entrar na Porciúncula, com Francisco de Assis, é descobrir uma “geografia da salvação”, marcada por espaços e lugares que constituem especiais manifestações do Senhor.

– Foi nesta igrejinha que Francisco, embora sabendo que o Reino de Deus se encontra por todos os lugares da terra, e que a graça do Senhor pode ser dada em todos os lugares, foi saboreando aqui uma especial presença e graça do Deus da sua aventura evangélica e missionária. Por isso, repetia: “Meus filhos, tende cuidado em nunca abandonar este lugar. Se dele vos expulsarem por uma porta, entrai logo por outra, porque este lugar é verdadeiramente santo; é a casa de Cristo e da Virgem sua Mãe”.

«Na tua peregrinação sobre a terra, vai marcando alguns lugares como especiais no teu encontro com o Deus da História, a começar pelo santuário do teu coração».

Entrar na Porciúncula, com Francisco de Assis, é encontrar-se com Maria, rodeada de Anjos, mas tendo na fidelidade ao Evangelho a bússola das grandes opções.

– Foi nesta igrejinha que Francisco, zeloso pelo seu privilégio de ser pobre, responde a um irmão: “Se não vês outra maneira de prover ás necessidades dos irmãos, vai ao altar da Virgem e despoja-o dos seus ornamentos. Acredita, a Senhora há-de comprazer-se mais em ver despojado o seu altar para podermos observar o Evangelho do seu Filho, do que ver adornado o altar e desprezado a Ele”.

«Em caso de conflito entre devoções e fidelidade ao Senhor, não hesites: só o Evangelho te levará a construir a vida sobre a rocha firme da Palavra de Deus!».

Entrar na Porciúncula, com Francisco de Assis, é saber-se abraçado pela ternura misericordiosa do Pai.

– Foi nesta igrejinha que Francisco, pensando com amargura nos anos e pecados do passado, sentiu a alegria do Espírito Santo e a certeza de que estava totalmente perdoado. Por isso, pediu ao senhor Papa que todos os que entrassem nesta igrejinha, como devotos peregrinos e penitentes, participassem desta “graça do Perdão”.

«Quando sentires o peso do pecado e do conflito interior, acredita que a misericórdia do Pai, o abraço de Cristo e a ternura do Espírito são mais fortes e mais belos que todos os pecados do mundo».

Entrar na Porciúncula, com Francisco de Assis, é abrir os braços e acolher cada pessoa como irmão.

 – Foi nesta igrejinha que o Papa João Paulo II, seguindo os passos do Poverello de Assis, reuniu há 20 anos e pela primeira vez na história da Humanidade, os líderes das grandes religiões do Mundo para orar e jejuar pela Paz.

«No teu meio ambiente, sê um instrumento da Paz, do Diálogo e do Espírito de Assis».

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Comentário sobre a Porciúncula, no livro DEUS E O MUNDO, entrevista de J. Ratzinguer com Peter Seewalda.

Este relato de Mosebach (conta no parágrafo anterior do livro) é, evidentemente, muito poético, embora no seu conjunto, a situação em Capri não é tão desesperada como dele se poderia deduzir. Mas não nos afastemos do facto de que a preparação interna e externa vão juntas. A missão de S. Francisco também começa assim. Ele escuta as famosas palavras procedentes da cruz: «Tens que reconstruir a minha Igreja», e refere-as ao princípio a um espaço em ruínas, a igreja da Porciúncula que, efectivamente reconstrói e decora, embora depois se tenha dado conta que tem que ir mais longe, que o que deve fazer é reconstruir a Igreja viva. Todos conhecemos o sonho do Papa que vê como a basílica lateranense se abate sobre ele e que, de repente, um homem a segura. Inocêncio III relacionou esse sonho com Francisco e mandou-o chamar. Ele, o grande político, tinha-se dado conta de que esse homem completamente apolítico, que vivia a radicalidade do evangelho, era precisamente a força capaz de dar à Igreja o que toda a sua eficácia política não podia proporcionar-lhe. A Igreja necessitava de uma renovação carismática a partir de dentro, reavivar a chama da fé, e não só da capacidade e da estratégia da administração e da ordem política.

Mas este trabalho inicial forma parte desse projecto. É muito importante a preocupação por preparar o espaço sempre de novo, por fazer perceptível e reconhecível a Igreja, o sagrado, tanto no interior como no exterior. Graças a Deus, temos no mundo recintos eclesiásticos muito formosos cuja santidade deveríamos aprender a amar de novo. A chama do Santíssimo faz-nos perceber que ali há sempre uma presença calada. Hoje, as igrejas são com frequência como uma sala de concertos, onde a beleza do passado se considera um mero cenário, o que implica de facto uma perda interna do sentido do sagrado. Estes actos de recuperação e preparação dos espaços internos e externos constituem o requisito para iniciar a celebração de forma a que nela encontremos de verdade o Santíssimo.

j. ratzinger, Deus e o Mundo, uma conversa com Peter Seewald, Ed. Tenacitas, 2006.

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