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08/11/2010

LITURGIA DAS HORAS

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III. LITURGIA DAS HORAS



Consagração do tempo

10. Cristo disse: «É preciso orar sempre, sem desfalecimento” (Lc 18,1). E a Igreja, seguindo fielmente esta recomendação, não cessa nunca de orar, ao mesmo tempo que nos exorta com estas palavras: «Por Ele (Jesus), ofereçamos continuamente a Deus o sacrifício de louvor» (Hebr 13,15).
Este preceito é cumprido, não apenas com a celebração da Eucaristia, mas também por outras formas, de modo particular com a Liturgia das Horas. Entre as demais acções litúrgicas, esta, segundo a antiga tradição cristã, tem como característica peculiar a de consagrar todo o ciclo do dia e da noite.56

11. Ora, uma vez que o fim da Liturgia das Horas é a santificação do dia e de toda a actividade humana, a sua estrutura teve que ser reformada, no sentido de repor cada uma das Horas, tanto quanto possível, no seu tempo verdadeiro, tendo em conta o condicionalismo da vida moderna.57
Por isso, «já para santificar realmente o dia, já para rezar as próprias Horas com fruto espiritual, importa recitá-las no momento próprio, quer dizer, naquele que mais se aproxime do tempo verdadeiro correspondente a cada Hora canónica”.58

Relação entre a Liturgia das Horas e a Eucaristia

12. A Liturgia das Horas alarga aos diferentes momentos do dia 59 o louvor e acção de graças, a memória dos mistérios da salvação, as súplicas, o antegozo da glória celeste, contidos no mistério eucarístico, «centro e vértice de toda a vida da comunidade cristã».60
A própria celebração eucarística tem na Liturgia das Horas a sua melhor preparação, porque esta suscita e nutre da melhor maneira as disposições necessárias para uma frutuosa celebração da Eucaristia, quais são a fé, a esperança, a caridade, a devoção, o espírito de sacrifício.

Exercício da função sacerdotal de Cristo na Liturgia das Horas

13. «A obra da redenção e da perfeita glorificação de Deus» 61 realiza-a Cristo no Espírito Santo por meio da Igreja. E isto, não somente na celebração da Eucaristia e na administração dos Sacramentos, mas também, e dum modo primacial, na Liturgia das Horas.62 Nela está Cristo presente, quando a assembleia está reunida, quando é proclamada a palavra de Deus, quando «ora e salmodia a Igreja».63

Santificação do homem

14. Na Liturgia das Horas, opera-se a santificação do homem 64 e presta-se culto a Deus, por forma a estabelecer uma espécie de intercâmbio, um diálogo entre Deus e o homem: «Deus fala ao seu povo, ... e o povo responde a Deus no canto e na oração».65
Aqueles que tomam parte na Liturgia das Horas podem colher dela abundantíssimos frutos de santificação, em virtude da palavra de Deus que nela ocupa lugar importantíssimo. Efectivamente, é da Escritura Sagrada que são tiradas as leituras; aos salmos se vão buscar as palavras de Deus cantadas na sua presença; duma forte inspiração bíblica estão repassadas todas as preces, orações e cânticos.66
Não só quando se lê «aquilo que foi escrito para nossa edificação» (Rom 15,4), mas também quando a Igreja ora e canta, é alimentada a fé dos participantes e os seus corações elevam-se para Deus, a fim de Lhe oferecerem a homenagem Espiritual e d’Ele receberem a graça em maior abundância.67

Louvor prestado a Deus, em união com a Igreja celeste

15. Na Liturgia das Horas, a Igreja exerce a função sacerdotal da sua Cabeça, «oferecendo ininterruptamente 68 a Deus o sacrifício de louvor, ou seja, o fruto dos lábios que glorificam o seu nome».69 Esta oração é «a voz da Esposa a falar ao Esposo, e também, a oração que o próprio Cristo, unido ao seu Corpo, eleva ao Pai”.70 Consequentemente, «todos os que assim rezam desempenham, por um lado, o ofício da própria Igreja, e, por outro, participam da excelsa honra da Esposa de Cristo, enquanto estão, em nome da Igreja, diante do trono de Deus, a cantar os divinos louvores».71

16. Cantando os louvores de Deus nas Horas canónicas, a Igreja associa-se àquele hino de louvor que por toda a eternidade é cantado na celeste morada.72 Ao mesmo tempo antegoza as delícias daquele celestial louvor que João nos descreve no Apocalipse e que ressoa ininterruptamente diante do trono de Deus e do Cordeiro. Realiza-se a nossa estreita união com a Igreja celeste, quando «concelebramos em comum exultação os louvores da Divina Majestade, quando todos os que fomos resgatados no sangue de Cristo, de todas as tribos, línguas, povos e nações (cf. Ap 5, 9), congregados numa só Igreja, engrandecemos a Deus, uno e trino, no mesmo cântico de louvor».73
Esta liturgia celeste, já os profetas a anteviram na vitória do dia sem noite, da luz sem trevas: «Já não será o sol a tua luz durante o dia, nem a claridade da lua será a tua luz durante a noite, porque o Senhor será a tua luz eterna» (Is 60,19; cf. Ap 21,23.25). «Será um dia contínuo, conhecido somente do Senhor, sem alternância do dia e da noite; ao entardecer, brilhará a luz» (Zac 14,7). Ora, «a última fase dos tempos chegou já para nós (cf. 1 Cor 10,11); a restauração do mundo encontra-se irrevogavelmente realizada e, em certo sentido, antecipada já no tempo presente».74 Pela fé somos instruídos acerca do sentido da própria vida temporal, de tal modo que vivemos, com a criação inteira, na expectativa da manifestação dos filhos de Deus.75 Na Liturgia das Horas, proclamamos a nossa fé, exprimimos e fortalecemos a nossa esperança, e tomamos parte já, de certo modo, na alegria do louvor perene, do dia que não conhece ocaso.

Súplica e intercessão

17. Mas, na Liturgia das Horas, a par do louvor divino, a Igreja expressa igualmente os votos e anseios de todos os cristãos; mais ainda: roga a Cristo e, por Ele, ao Pai pela
salvação do mundo inteiro.76 E esta voz não é somente a voz da Igreja; é também a voz de Cristo, uma vez que todas as orações são proferidas em nome de Cristo – «por Nosso Senhor Jesus Cristo». Deste modo, a Igreja prolonga aquelas preces e súplicas que o mesmo Cristo fazia nos dias da sua vida mortal;77 daí, a sua particular eficácia. Não é, portanto, somente pela caridade, pelo exemplo, pelas obras de penitência, mas
também pela oração, que a comunidade eclesial exerce uma verdadeira maternidade para com as almas, no sentido de as conduzir a Cristo.78
Isto diz respeito principalmente a todos aqueles que receberam mandato especial de celebrar a Liturgia das Horas, isto é: os bispos e presbíteros, que têm por dever de ofício orar pela grei que lhes está confiada e por todo o povo de Deus,79 os outros ministros sagrados e os religiosos.80

Vértice e fonte da actividade pastoral

18. Aqueles que tomam parte na Liturgia das Horas contribuem, mercê duma misteriosa fecundidade apostólica, para o incremento do povo de Deus.81 Efectivamente, o objectivo do trabalho apostólico é conseguir que «todos aqueles que pela fé e pelo baptismo se tornaram filhos de Deus se reúnam em assembleia, louvem a Deus na Igreja, participem no sacrifício, comam a Ceia do Senhor».82
Por esta forma, os fiéis exprimem na sua vida e manifestam aos outros «o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja, que tem como característica peculiar o ser ... visível e dotada de riquezas invisíveis, ardorosa na acção e dedicada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina».83
Por outro lado, as leituras e as preces da Liturgia das Horas são fonte de vida cristã. Esta vida alimenta-se na mesa da Escritura Sagrada e nas palavras dos Santos e robustece-se na oração. O Senhor, sem o qual nada podemos fazer,84 quando O invocamos, dá eficácia e incremento às nossas obras;85 e assim, dia após dia, vamos sendo edificados como templo de Deus no Espírito,86 até atingirmos a medida da idade perfeita de Cristo;87 ao mesmo tempo, vamos robustecendo as nossas energias para podermos anunciar Cristo àqueles que estão fora.88

O espírito concorde com a voz

19. Para que esta oração seja própria de cada um daqueles que nela tomam parte, seja fonte de piedade e da multiforme graça divina e sirva também de alimento à oração pessoal e à actividade apostólica, importa celebrá-la com dignidade, atenção e devoção, e fazer com que o espírito concorde com a voz.89 É necessário que todos cooperem com a graça divina, para que não a recebam em vão. Buscando a Cristo e
esforçando-se por aprofundar o seu mistério na oração,90 louvem a Deus e elevem as suas súplicas com o mesmo espírito com que orava o Divino Salvador.



56 Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, nn. 83-84.
57 Cf. Ibid., n. 88.
58 Cf. Ibid., n. 94.
59 Cf. Conc. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, n. 5.
60 Conc. Vat. II, Decr. Christus Dominus, n. 30.
61 Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 5.
62 Cf. Ibid., nn. 83 e 98.
63 Ibid., n. 7.
64 Ibid., n. 10.
65 Ibid., n. 33.
66 Ibid., n. 24.
67 Cf. Ibid., n. 33.
68 1 Tess. 5, 17.
69 Cf. Hebr 13, 15.
70 Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 84.
71 Ibid., n. 85.
72 Cf. Ibid., n. 83.
73 Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, n. 50; cf. Const. Sacrosanctum
Concilium, nn. 8 e 104.
74 Cf. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, n. 48.
75 Cf. Rom. 8, 19.
76 Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 83.
77 Cf. Hebr 5, 7.
78 Cf. Conc. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, n. 6.
79 Cf. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, n. 41.
80 Cf. infra, n. 24.
81 Cf. Conc. Vat. II, Decr. Perfectae Caritatis, n. 7.
82 Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctam Concilium, n. 10.
83 Ibid., n. 2.
84 Cf. Jo 15, 5.
85 Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 86.
86 Cf. Ef 2, 21-22.
87 Cf. Ef 4, 13.
88 Cf. Conc. Vat. II, Sacrosanctum Concilium, n. 2.
89 Ibid., n. 90; cf. S. Bento, Regula Monasteriorum, c. 19.
90 Cf. Conc. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, n. 14; Decr.
Optatam totius, n. 8.


Retirado do site do Secretariado Nacional de Liturgia
(continua)
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