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02/11/2010

LITURGIA DAS HORAS

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INSTRUÇÃO GERAL SOBRE A LITURGIA DAS HORAS

II. ORAÇÃO DA IGREJA

Preceito da oração

5. Aquilo que Jesus fez, isso mesmo ordenou fizéssemos nós. «Orai» — diz repetidas vezes — «rogai», «pedi»,30 «em meu nome».31 E até nos deixou, na oração dominical, um modelo de oração.32 Inculca a necessidade da oração,33 oração humilde,34 vigilante,35 perseverante e cheia de confiança na bondade do Pai,36 feita com pureza de intenção,consentânea com a natureza de Deus.37
Os Apóstolos, por sua vez, apresentam-nos com frequência, em suas Epístolas, fórmulas de oração, mormentede louvor e acção de graças, e exortam-nos a orar no Espírito Santo,38 pela mediação de Cristo,39 ao Pai,40 com perseverança e assiduidade;41 sublinham a eficácia da oração para alcançar a santidade;42 exortam à oração de louvor,43 de acção de graças,44 de súplica,45 de intercessão por todos os homens.46

A Igreja continuadora da oração de Cristo

6. Vindo o homem inteiramente de Deus, é seu dever reconhecer e confessar a soberania do seu Criador. Assim o fizeram, através da oração, os homens piedosos de todos os tempos.
Mas a oração dirigida a Deus tem de estar ligada a Cristo, Senhor de todos os homens, único Mediador,47 o único por quem temos acesso a Deus.48 Ele une a Si toda a comunidade dos homens,49 e de tal forma que entre a oração de Cristo e a de toda a humanidade existe uma estreita relação. Em Cristo, e só n’Ele, é que a religião humana adquire valor salvífico e atinge o seu fim.

7. É totalmente peculiar e profunda a união que existe entre Cristo e aqueles que, pelo sacramento da regeneração, Ele assume como membros do seu Corpo que é a Igreja.
Deste modo, partindo da Cabeça, por todo o Corpo se difundem todas as riquezas pertencentes ao Filho: a comunicação do Espírito, a verdade, a vida, a participação na sua filiação divina, que se manifestava em toda a sua oração enquanto viveu no meio de nós.
O sacerdócio de Cristo é também participado por todo o Corpo da Igreja. Os baptizados, mediante a regeneração e a unção do Espírito Santo, são consagrados como casa espiritual e sacerdócio santo;50 e por esta forma, ficam habilitados a exercer o culto da Nova Aliança, culto este proveniente, não das nossas forças, mas dos méritos e dom de Cristo.
«Nenhum dom poderia Deus ter feito aos homens mais valioso do que este: ter-lhes dado por Cabeça o seu Verbo pelo qual criou todas as coisas, e tê-los unido a Ele como membros seus; ter feito com que Ele seja ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho do homem, um só Deus com o Pai e um só homem com os homens. Deste modo, quando falamos a Deus na oração, não podemos separar d’Ele o Filho; e, quando ora o Corpo do Filho, não pode separar de Si mesmo a Cabeça. E assim, é Ele próprio, o Salvador único do seu Corpo, Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, quem ora por nós, ora em nós e a Ele nós adoramos. Ora por nós, como nosso Sacerdote; ora em nós, como nossa Cabeça; a Ele oramos, como nosso Deus. Reconheçamos, pois, n’Ele a nossa voz, e a voz d’Ele em nós».51
E é nisto que assenta a dignidade da oração cristã: em participar da piedade mesma do Filho Unigénito para com o Pai e daquela oração que Ele, durante a sua vida cá na terra expressou por palavras e continua agora, sem interrupção, em toda a Igreja e em cada um dos seus membros, em nome e para salvação de todo o género humano.

Acção do Espírito Santo

8. A unidade da Igreja orante é realizada pelo Espírito Santo, o mesmo que está em Cristo,52 em toda a Igreja e em cada um dos baptizados. «É o próprio Espírito que vem em auxílio da nossa fraqueza”; é Ele que «ora por nós com gemidos inefáveis» (Rom 8,26); é Ele mesmo, como Espírito do Filho, que infunde em nós «o espírito da adopção filial, no qual clamamos: Abba, Pai» (Rom 8,15; cf. Gal 4,6; 1 Cor 12,3; Ef 5,18; Jud 20). Nenhuma oração, portanto, se pode fazer sem a acção do Espírito Santo, o qual, realizando a unidade de toda a Igreja, conduz pelo Filho ao Pai.

Carácter comunitário da oração

9. O exemplo e o preceito do Senhor e dos Apóstolos, de orar incessantemente, hão-de considerar-se, não como regra puramente legal, mas como um elemento que faz parte da mais íntima essência da própria Igreja, enquanto esta é uma comunidade e deve expressar, inclusive pela oração, a sua natureza comunitária. Daí que, quando nos Actos dos Apóstolos se fala, pela primeira vez, da comunidade dos fiéis, esta nos aparece reunida precisamente em oração, «com as mulheres, com Maria, Mãe de Jesus, e seus irmãos” (Act 1,14). «A multidão dos crentes era um só coração e uma só
alma» (Act 4,31); e esta unanimidade assentava na palavra de Deus, na comunhão fraterna, na oração e na Eucaristia.53
É certo que a oração feita a sós no quarto, portas fechadas,54 é necessária e recomendável,55 e não deixa nunca de ser oração de um membro da Igreja, por Cristo, no Espírito Santo. Todavia, a oração comunitária possui uma dignidade especial, baseada nestas palavras de Cristo: «Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18,20).


30 Mt 5, 44; 7, 7; 26, 41; Mc 13, 33; 14, 38; Lc 6, 28; 10, 2; 11, 9; 22, 40. 46
31 Jo 14, 13 s.; 15, 16; 16, 23 s. 26.
32 Mt 6, 9-13; Lc 11, 2-4.
33 Lc 18, 1.
34 Lc 18, 9-14.
35 Lc 21, 36; Mc 13, 33.
36 Lc 11, 5-13; 18, 1-8; Jo 14, 13; 16, 23.
37 Mt 6, 5-8; 23, 14; Lc 20, 47; Jo 4, 23.
38 Rom 8, 15. 26; 1 Cor. 12, 3; Gal 4, 6; Jud 20.
39 2 Cor 1, 20; Col. 3, 17.
40 Hebr 13, 15.
41 Rom 12, 12; 1 Cor 7, 5; Ef 6, 18; Col 4, 2; 1 Tess 5, 17; 1 Tim 5, 5;
1 Pedro 4, 7.
42 1 Tim 4, 5; Tiago 5, 15 s.; 1 Jo 3, 22; 5, 14 s.
43 Ef 5, 19 s.; Hebr 13, 15; Ap 19, 5.
44 Col 3, 17; Fil 4, 6; 1 Tes 5, 17; Tim 2, 1.
45 Rom 8, 26; Fil 4, 6.
46 Rom 15, 30; 1 Tim 2, 1 s.; Ef 6, 18; 1 Tess 5, 25; Tiago 5, 14. 16.
47 1 Tim 2, 5; Hebr 8, 6; 9, 15; 12, 24.
48 Rom 5, 2; Ef 2, 18; 3, 12.
49 Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n.° 83.
50 Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, n.° 10.
51 S. Agostinho, Enarrat. in Psalm. 85, 1: CCL 39, 1176.
52 Cf. Lc 10, 21, quando Jesus «exultou no Espírito Santo e disse: Eu
te bendigo, ó Pai...».
53 Cf. Act 2, 42 gr.
54 Cf. Mt 6, 6.
55 Cf. Conc. Vat II, Const. Sacrosanctum Concilium, n.° 12.


Retirado do site do Secretariado Nacional de Liturgia
(continua)
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