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23/01/2021

Maria Mãe da Igreja

Agrada-me voltar, em pensamento, àqueles anos em que Jesus permaneceu junto de sua Mãe e que abarcam quase toda a vida de Nosso Senhor neste mundo. Vê-lo pequeno quando Maria cuida d'Ele e o beija e o entretém... Vê-lo crescer diante dos olhos enamorados de sua Mãe e de José, seu pai na terra... Com quanta ternura e com quanta delicadeza Maria e o Santo Patriarca se preocupariam com Jesus durante a sua infância! E, em silêncio, aprenderiam muito e constantemente d'Ele. As suas almas ir-se-iam afazendo à alma daquele Filho, Homem e Deus. Por isso, a Mãe - e, depois dela, José - conhece como ninguém os sentimentos do coração de Cristo e os dois são o caminho melhor, diria até que o único, para chegar ao Salvador.

 

J. A. Loarte

São José

 



EXORTAÇÃO APOSTÓLICA

REDEMPTORIS CUSTOS

DO SUMO PONTÍFICE

JOÃO PAULO II

SOBRE A FIGURA E A MISSÃO

DE SÃO JOSÉ

NA VIDA DE CRISTO E DA IGREJA


 

O CONTEXTO EVANGÉLICO

 

O matrimónio com Maria

 

II

 

O DEPOSITÁRIO DO MISTÉRIO DE DEUS

 

4. Quando Maria, pouco tempo depois da Anunciação, se dirigiu a casa de Zacarias para visitar Isabel sua parente, ouviu, precisamente quando a saudava, as palavras pronunciadas pela mesma Isabel, «cheia do Espírito Santo» (cf. Lc 1, 41). Para além das palavras que se relacionavam com a saudação do anjo na Anunciação, Isabel disse: «Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que Ihe foram ditas da parte do Senhor» (Lc 1, 45). Estas palavras constituíram o pensamento-guia da Encíclica Redemptoris Mater, com a qual tive a intenção de aprofundar o ensinamento do Concílio Vaticano II, quando afirma: «A Bem-aventurada Virgem Maria avançou no caminho da fé e conservou fielmente a união com seu Filho até à Cruz», (5) «indo adiante» (6) de todos aqueles que, pela via da fé, seguem Cristo.

Ora ao iniciar-se esta peregrinação, a fé de Maria encontra-se com a fé de José. Se Isabel disse da Mãe do Redentor: «Feliz daquela que acreditou», esta bem-aventurança pode, em certo sentido, ser referida também a José, porque, de modo análogo, ele respondeu afirmativamente à Palavra de Deus, quando esta lhe foi transmitida naquele momento decisivo. A bem da verdade, José não respondeu ao «anúncio» do anjo como Maria; mas «fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu a sua esposa». Isto que ele fez é puríssima «obediência da fé» (cf. Rom 1, 5; 16, 26; 2 Cor 10, 5-6).

Pode dizer-se que aquilo que José fez o uniu, de uma maneira absolutamente especial, à fé de Maria: ele aceitou como verdade proveniente de Deus o que ela já tinha aceitado na Anunciação. O Concílio ensina: «A Deus que revela é devida a "obediência da fé" (...); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus, prestando-lhe "o obséquio pleno da inteligência e da vontade" e dando voluntário assentimento à sua revelação». (7) A frase acabada de citar, que diz respeito à própria essência da fé, aplica-se perfeitamente a José de Nazaré.

5. Ele tornou-se, portanto, um depositário singular do mistério «escondido desde todos os séculos em Deus» (cf. Ef 3, 9), como se tornara Maria, naquele momento decisivo que é chamado pelo Apóstolo «plenitude dos tempos», quando «Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher... para resgatar os que se encontravam sob o jugo da lei e para que recebêssemos a adopção de filhos» (Gál 4, 4-5). «Aprouve a Deus — ensina o Concílio — na sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1, 9), pelo qual os homens, através de Cristo, Verbo Incarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2, 18; 2 Pdr 1, 4)». (8)

Deste mistério divino, juntamente com Maria, José é o primeiro depositário. Simultaneamente com Maria - e também em relação com Maria - ele participa nesta fase culminante da auto-revelação de Deus em Cristo; e nela participa desde o primeiro momento. Tendo diante dos olhos os textos de ambos os Evangelistas, São Mateus e São Lucas, pode também dizer-se que José foi o primeiro a participar na mesma fé da Mãe de Deus e que, procedendo deste modo, ele dá apoio à sua esposa na fé na Anunciação divina. Ele é igualmente quem primeiro foi posto por Deus no caminho daquela «peregrinação da fé», na qual Maria, sobretudo na altura do Calvário e do Pentecostes, irá adiante, de maneira perfeita. (9)

6. A caminhada própria de José, a sua peregrinação da fé terminaria antes; ou seja, antes que Maria esteja de pé junto à Cruz no Gólgota e antes que Ela - tendo Cristo voltado para o seio do Pai se encontre no Cenáculo do Pentecostes, no dia da manifestação ao mundo da Igreja, nascida pelo poder do Espírito da verdade. E contudo, a caminhada da fé de José seguiu a mesma direcção, permaneceu totalmente determinada pelo mesmo mistério, de que ele, juntamente com Maria, se tinha tornado o primeiro depositário. A Incarnação e a Redenção constituem uma unidade orgânica e indissolúvel, na qual a «economia da Revelação se realiza por meio de acções e palavras, intimamente relacionadas entre si». (10) Precisamente por causa desta unidade, o Papa João XXIII, que tinha uma grande devoção para com São José, estabeleceu que no Cânone romano da Missa, memorial perpétuo da Redenção, fosse inserido o nome dele, ao lado do nome de Maria e antes do dos Apóstolos, dos Sumos Pontífices e dos Mártires. (11)

O serviço da paternidade

7. Como se deduz dos textos evangélicos, o matrimónio com Maria é o fundamento jurídico da paternidade de José. Foi para garantir a protecção paterna a Jesus que Deus escolheu José como esposo de Maria. Por conseguinte, a paternidade de José — uma relação que o coloca o mais perto possível de Cristo, termo de toda e qualquer eleição e predestinação (cf. Rom 8, 28-29) — passa através do matrimónio com Maria, ou seja, através da família.

Os Evangelistas, embora afirmem claramente que Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo e que naquele matrimónio a virgindade foi preservada (cf. Mt 1, 18-25; Lc 1, 26-38), chamam a José esposo de Maria e a Maria esposa de José (cf. Mt 1, 16. 18-20; Lc 1, 27; 2, 5).

E também para a Igreja, se por um lado é importante professar a concepção virginal de Jesus, por outro, não é menos importante defender o matrimónio de Maria com José, porque é deste matrimónio que depende, juridicamente, a paternidade de José. Daqui se compreende a razão por que as gerações são enumeradas segundo a genealogia de José: «E porque não o deviam ser - pergunta-se Santo Agostinho - através de José? Não era porventura José o marido de Maria? (...). A Escritura afirma, por meio da autoridade angélica, que ele era o marido. Não temas, diz, receber contigo Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo. E é-lhe mandado que imponha o nome ao menino, se bem que não seja nascido do seu sémen. Aí se diz, ainda: Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. A Escritura sabe que Jesus não nasceu do sémen de José; e porque ele mostra preocupação quanto à origem da gravidez dela (Maria), é dito: provém do Espírito Santo. E todavia não lhe é tirada a autoridade paterna, uma vez que lhe é ordenado que seja ele a dar o nome ao menino. Por fim, também a própria Virgem Maria, bem consciente de não ter concebido Cristo da união conjugal com ele, chama-o apesar disso pai de Cristo». (12)

O filho de Maria é também filho de José, em virtude do vínculo matrimonial que os une: «Por motivo daquele matrimónio fiel, ambos mereceram ser chamados pais de Cristo, não apenas a Mãe, mas também aquele que era seu pai, do mesmo modo que era cônjuge da Mãe, uma e outra coisa por meio da mente e não da carne». (13) Neste matrimónio não faltou nenhum dos requisitos que o constituem: «Naqueles pais de Cristo realizaram-se todos os bens das núpcias: a prole, a fidelidade e o sacramento. Conhecemos a prole, que é o próprio Senhor Jesus; a fidelidade, porque não houve nenhum adultério; e o sacramento, porque não se deu nenhum divórcio». (14)

Analisando a natureza do matrimónio, quer Santo Agostinho, quer Santo Tomás de Aquino situam-na constantemente na «união indivisível dos ânimos», na «união dos corações» e no «consenso»; (15) elementos estes, que, naquele matrimónio, se verificaram de maneira exemplar. No momento culminante da história da salvação, quando Deus manifestou o seu amor pela humanidade, mediante o dom do Verbo, deu-se exactamente o matrimónio de Maria e José, em que se realizou com plena «liberdade» o «dom esponsal de si» acolhendo e exprimindo um tal amor. (16) «Nesta grandiosa empresa da renovação de todas as coisas em Cristo , o matrimónio, também ele renovado e purificado, torna-se uma realidade nova, um sacramento da Nova Aliança. E eis que no limiar do Novo Testamento, como já sucedera no princípio do Antigo, há um casal. Mas, enquanto o casal formado por Adão e Eva tinha sido a fonte do mal que inundou o mundo, o casal formado por José e Maria constitui o vértice, do qual se expande por toda a terra a santidade. O Salvador deu início à obra da salvação com esta união virginal e santa, na qual se manifesta a sua vontade omnipotente de purificar e santificar a família, que é santuário do amor humano e berço da vida». (17)

Quantos ensinamentos promanam disto, ainda hoje, para a família! Uma vez que «a essência e as funções da família se definem, em última análise, pelo amor» e que à família «é confiada a missão de guardar, revelar e comunicar o amor, qual reflexo vivo e participação do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo pela Igreja sua Esposa», (18) é na Sagrada Família, nesta originária «Igreja doméstica», (19) que todas as famílias devem espelhar-se. Nela, efectivamente, «por um misterioso desígnio divino, viveu escondido durante longos anos o Filho de Deus: ela constitui, portanto, o protótipo e o exemplo de todas as famílias cristãs». (20)

 

Notas:

(5) Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, n. 58.

(6) Cf. ibid., n. 63.

(7) Const. dogm. sobre a Divina Revelação Dei Verbum, n. 5.

(8) Ibid., n. 2.

(9) Cf. Conc. Ecum. Vaticano II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, n. 63.

(10) Conc. Ecum. Vaticano II, Const. dogm. sobre a Divina Revelação Dei Verbum, n. 2.

(11) S. Congr. dos Ritos, Decr. Novis hisce temporibus (13 de Novembro de 1962): AAS 54 (1962), p. 873.

(12) S. Agostinho, Sermo 51, 10, 16: PL 38, 342.

(13) S. Agostinho, De nuptiis et concupiscentia, I, 11, 12: PL 44, 421; cf. De consensu evangelistarum, II, 1, 2: PL 34, 1071; Contra Faustum, III, 2: PL 42, 214.

(14) S. Agostinho, De nuptiis et concupiscentia, I, 11, 13: PL 44, 421; cf. Contra Julianum, V, 12, 46: PL 44, 810.

(15) Cf. S. Agostinho, Contra Faustum, XXIII, 8: PL 42, 470-471; De consensu evangelistarum, II, 1, 3: PL 34, 1072; Sermo 51, 13, 21: PL 38, 344-345; S. Tomás de Aquino, Summa Theol., III, q. 29, a. 2 in conclus.

(16) Cf. as Alocuções de 9 e 16 de Janeiro e de 20 de Fevereiro de 1980: Insegnamenti, III/1 (1980), pp. 88-92; 148-152; e 428-431.

(17) Paulo VI, Alocução ao Movimento « Equipes Notre-Dame » (4 de Maio de 1970), n. 7: AAS 62 (1970), p. 431; uma exaltação análoga da Família de Nazaré, como exemplar absoluto da comunidade doméstica, encontra-se, por exemplo, em Leão XIII, Carta Apost. Neminem fugit (14 de Junho de 1892): Leonis XIII Acta, XII (1892), pp. 149-150; Bento XV, Motu Proprio Bonum sane (25 de Julho de 1920): AAS 12 (1920), pp. 313-317.

(18) Exort. Apost. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), n. 17: AAS 74 (1982), p. 100.

(19) Ibid., n. 49: l.c., p. 140; cf. Conc. Ecum. Vaticano II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, n. 11; Decr. sobre o Apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, n. 11.

(20) Exort. Apost. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), n. 85: AAS 74 (1982), pp. 189-190.

 

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Dois mil anos de espera do Senhor

Jesus ficou na Hóstia Santa por nós! Para permanecer ao nosso lado, para nos sustentar, para nos guiar. – E amor só se paga com amor. Como poderemos deixar de ir ao Sacrário, todos os dias, ainda que por uns minutos apenas, para Lhe levar a nossa saudação e o nosso amor de filhos e de irmãos? (Sulco, 686)

O nosso Deus decidiu ficar no Sacrário para nos alimentar, para nos fortalecer, para nos divinizar, para dar eficácia ao nosso trabalho e ao nosso esforço. Jesus é simultaneamente o semeador, a semente e o fruto da sementeira: o Pão da vida eterna. (...) Assim espera o nosso amor, desde há quase dois mil anos. É muito tempo e não é muito tempo; porque, quando há amor, os dias voam. Vem-me à memória uma encantadora poesia galega, uma das cantigas de Afonso X, o Sábio. É a lenda de um monge que, na sua simplicidade, suplicou a Santa Maria que o deixasse contemplar o céu, ainda que fosse só por um instante. A Virgem acolheu o seu desejo, e o bom monge foi levado ao Paraíso. Quando regressou, não reconhecia nenhum dos moradores do mosteiro: a sua oração, que lhe tinha parecido brevíssima, tinha durado três séculos. Três séculos não são nada, para um coração que ama. Assim compreendo eu esses dois mil anos de espera do Senhor na Eucaristia. É a espera de Deus, que ama os homens, que nos procura, que nos quer tal como somos – limitados, egoístas, inconstantes – mas com capacidade para descobrirmos o seu carinho infinito e para nos entregarmos inteiramente a Ele. (Cristo que passa, 151)

 

LEITURA ESPIRITUAL Janeiro 23

Evangelho

 

Mc I 1 - 22

 

Pregação de João Baptista

1 Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. 2 Conforme está escrito no profeta Isaías: Eis que envio à tua frente o meu mensageiro, a fim de preparar o teu caminho. 3 Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.’ 4 João Baptista apareceu no deserto, a pregar um baptismo de arrependimento para a remissão dos pecados. 5 Saíam ao seu encontro todos os da província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. 6 João vestia-se de pêlos de camelo e trazia uma correia de couro à cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. 7 E pregava assim: «Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias. 8 Eu baptizei-vos em água, mas Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo.»

 

Baptismo e tentações de Jesus

9 Por aqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no Jordão. 10 Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. 11 E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado.» 12 Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto. 13 E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no.

 

Jesus na Galileia

14 Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, 15 dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.»

 

Chamamento dos primeiros discípulos

16 Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 17 E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.» 18 Deixando logo as redes, seguiram-no. 19 Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco a consertar as redes, e logo os chamou. 20 E eles deixaram no barco seu pai Zebedeu com os assalariados e partiram com Ele. 21 Entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, veio à sinagoga e começou a ensinar. 22  E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei.

 


A filiação divina e vida interior

 

  Talvez a grande constatação de um Santo dos nossos dias, a percepção pessoal da Filiação Divina, tragam à pessoa mais comum uma nova visão da sua vida como pessoa completa.

  Somos, todos, filhos de Deus o que dá ao ser humano uns direitos e prerrogativas talvez, até então, insuspeitadas.

  Considerando que o filho é o herdeiro natural do seu pai, temos uma panorâmica extraordinária do que nos espera:

  Herdeiros de Deus!

  Esta constatação traz consigo uma completa e total revisão de vida quer na conduta quer, sobretudo, no seu objectivo.

O direito de herança pode, evidentemente, perder-se pelo comportamento ou do desinteresse do herdeiro.

Em princípio, qualquer um pode não estar interessado na herança.

Por variadas razões – ou melhor – sem-razões, a pessoa pode preferir o imediato em detrimento do futuro.

Vemos esta atitude maravilhosamente descrita por São Lucas na parábola do Filho Pródigo.

  É uma escolha pela qual, livremente, cada um pode optar porque o Pai não coage nenhum herdeiro a esperar o tempo justo para receber a herança final que sempre será muito superior em bem e valor que a recebida antes de tempo.

  Ser herdeiro envolve uma responsabilidade que, em suma, pode resumir-se dizendo que tem de comportar-se com a dignidade que lhe é própria de acordo com a grandeza da herança que lhe caberá.

  Aqui também se vê que este comportamento não contempla a passividade porque, como na parábola se descreve, o filho mais velho, não obstante ter essa atitude, acaba por se revelar, também, como não digno daquilo que o Pai lhe reserva.

Talvez tenha ficado com o Pai por conveniência, por não querer correr nenhum risco em nenhuma aventura serôdia mas, também, parece nada ter feito para merecer a herança.

Parece julgar ter uns direitos que não lhe foram satisfeitos, ou uma insatisfação que não sabe explicar bem.

O pai diz-lhe que, estando ele sempre na sua companhia, o que é dele é como se fosse seu, mas ele não entende esta realidade extraordinária porque está preso a coisas mínimas de importância muito reduzida: um cabrito, de vez em quando, para festejar com os amigos, benefício que, aliás nunca pediu, passando para o pai o ónus de adivinhar os desejos que quer ver satisfeitos.

  Novamente, o arrependimento parece fulcral neste episódio não, talvez, pelo arrependimento em si, mas pela decisão de tomar uma posição activa, de empreender decididamente uma acção cujas repercussões nem sequer calcula ou adivinha.

  Ou seja, o filho mais novo faz alguma coisa, assume uma posição, toma uma atitude. Não fica, cómoda e passivamente à espera que tudo lhe seja posto no regaço sem nenhum esforço da sua parte.

  A compenetração desta realidade – sou Filho de Deus – traz ao ser humano um horizonte ilimitado e de uma grandiosidade insuperável.

A vida ganha um sentido, os objectivos têm grandeza, volume, profundidade, as suas atitudes e comportamento geral passam a contemplar esses objectivos como os mais importantes e a incessante descoberta dos caminhos para os conseguir tem uma predominância sobre tudo o resto.

  Daqui nasce a Vida Interior que é o âmago, o cerne do ser humano consciente dessa realidade e, a sua actuação, por mais simples ou comezinha que seja, tem em conta esse seu destino elevado e sublime.

Os esforços por melhoria pessoal orientam-se no sentido de procurar progredir no que tem de bom e agradável, rejeitando o acessório, inútil ou detestável.

Numa palavra, a luta por eliminar os defeitos e deficiências, substituindo-as pelas virtudes e actos bons.

  O progresso na vida interior é muito exigente porque, para ser eficiente, tem de ser constante, começando e recomeçando sem descanso nem cedências de nenhuma espécie ou sob nenhum pretexto.

  Mas porquê?

Então, o ser humano não é, naturalmente bom?

A sua tendência não é para a prática de actos meritórios?

  Sim, é assim que Deus dá a cada novo ser a chama da vida e todas as possibilidades para a aproveitar, mas, o maior inimigo do homem, o demónio, não está senão interessado em contrariar esta tendência e vai apresentando toda a sorte de artifícios, sugerindo caminhos de prazer e felicidade, às vezes com um aspecto tão real e atractivo que é muito difícil resistir-lhes, aliás, impossível, não fora a graça que Deus concede a quem lha pede, para superar esses obstáculos.

  No fim e ao cabo, a velha luta entre o bem e o mal.

  A atitude, possível, ‘sou filho de Deus e, o resto não me interessa para nada’, não é razoável porque, de facto, não possuímos nada nem temos direito a coisa nenhuma.

O facto de ser filhos dá-nos um estatuto, efectivamente, mas o conservarmos ou não esse estatuto está nas nossas mãos.

  «Já não sou digno de chamar-me Teu filho» [1] é a constatação da sua perda, voluntária, por opção própria livremente assumida.

 

 

 



           [1] Cfr. Lc 15, 19  

Revelación a la Biblia.

 

Somos una «religión del Libro»? La lógica católica para no reducir la Revelación a la Biblia.


RL

Reflexão

 

Faço como as crianças que não sabem ler: digo com toda a simplicidade a Nosso Senhor o que Lhe quero dizer e Nosso Senhor sempre me entende.

 

(Santa Teresinha do Menino Jesus, História de uma alma, LAI, 11ª Ed., pg. 229)

Filosofia, Religião, Vida humana,

 


Teologia e fé



Cristãos e humanismo político aspiram à liberdade e buscam a libertação. A sua linguagem, porém, é distinta. Embora considerem o homem como criador da história e inventor do seu caminho, a fé e o humanismo que dela promana estimam que a humanização integral é ínvia a partir das simples forças do homem; a graça e a criatividade cooperam mutuamente.

Com inspiração na mensagem bíblica, os crentes são impelidos à promoção do homem, ao amor da vida e do corpo, já que a libertação, ao implicar a aceitação radical de Deus, inclui ainda a irradiação da plena humanidade informada pelo sentido da Cruz e da Ressureição de Cristo.

 

(A Mourão, BROTÉRIA, Outubro 1973, pg. 304)

Pequena agenda do cristão

 


SÁBADO

Pequena agenda do cristão

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Orações sugeridas: