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31/03/2021

Leitura Espiritual Mar 31

 


Novo Testamento

 

Evangelho

 

Lc XVI, 1-31



 

Advertência aos discípulos

XII 1 Entretanto, a multidão tinha-se reunido; eram milhares, a ponto de se pisarem uns aos outros. Jesus começou a dizer primeiramente aos seus discípulos: «Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2 Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se. 3 Porque tudo quanto tiverdes dito nas trevas há-de ouvir-se em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado sobre os terraços. 4 Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. 5 Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, Eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer. 6 Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus. 7 Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais: valeis mais do que muitos pássaros. 8 Digo-vos ainda: Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também o Filho do Homem se declarará por ele diante dos anjos de Deus. 9 Aquele, porém, que me tiver negado diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus.

 

Pecado contra o Espírito Santo

10 E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, há-de perdoar-se; mas, a quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo, jamais se perdoará. 11 Quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de dizer em vossa defesa, 12 pois o Espírito Santo vos ensinará, no momento próprio, o que deveis dizer.» 

 

Cuidado com a avareza

13 Dentre a multidão, alguém lhe disse: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo.» 14 Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?» 15 E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.» 16 Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. 17 E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: ‘Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?’ 18 Depois continuou: ‘Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. 19 Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.’ 20 Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?’ 21 Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.»

 

Confiança em Jesus

 

22 Em seguida, disse aos discípulos: «É por isso que vos digo: Não vos preocupeis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir; 23 pois a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que o vestuário. 24 Reparai nos corvos: não semeiam nem colhem, não têm despensa nem celeiro, e Deus alimenta-os. Quanto mais não valeis vós do que as aves! 25 E quem de vós, pelo facto de se inquietar, pode acrescentar um côvado à extensão da sua vida? 26 Se nem as mínimas coisas podeis fazer, porque vos preocupais com as restantes? 27 Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam; pois Eu digo-vos: Nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. 28 Se Deus veste assim a erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada no fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé! 29 Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, nem andeis ansiosos, 30 pois as pessoas do mundo é que andam à procura de todas estas coisas; mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. 31 Procurai, antes, o seu Reino, e o resto vos será dado por acréscimo.

 

Texto

 


MENSAGEM DE SUA SANTIDADE

PAPA JOÃO PAULO II

PARA A QUARESMA DE 1996

 

 

Amados Irmãos e Irmãs!

 

1. O Senhor chama-nos, uma vez mais, a segui-Lo pelo itinerário quaresmal, caminho anualmente proposto a todos os fiéis, para que renovem a sua resposta pessoal e comunitária à vocação baptismal e produzam frutos de conversão. A Quaresma é um caminho de reflexão dinâmica e criativa que impele à penitência, para robustecer todo o propósito de compromisso evangélico; um caminho de amor, que abre o ânimo dos crentes aos irmãos, elevando-os para Deus. Jesus pede aos seus discípulos que vivam e difundam a caridade, o mandamento novo que representa um magistral resumo do Decálogo divino, confiado a Moisés no Monte Sinai. Na vida de todos os dias, sucede encontrarmos famintos, sedentos, doentes, marginalizados, migrantes. Durante o tempo quaresmal, somos convidados a olhar, com mais atenção, os seus rostos carregados de sofrimento; rostos que testemunham o desafio das pobrezas do nosso tempo.

 

2. O Evangelho destaca como o Redentor experimenta singular compaixão por aqueles que vivem em dificuldade; fala-lhes do Reino de Deus e cura os enfermos no corpo e no espírito. Depois diz aos discípulos: «Dai-lhes vós mesmos de comer». Mas eles reparam que só têm cinco pães e dois peixes. Também nós hoje, como então os Apóstolos em Betsaída, dispomos de meios, sem dúvida, insuficientes para valer eficazmente a cerca de oitocentos milhões de pessoas famintas ou mal nutridas, que, às portas do ano 2000, lutam ainda pela sua sobrevivência.

 

Que fazer então? Deixar as coisas como estão, rendendo-nos à impotência? É esta a pergunta para a qual, ao início da Quaresma, desejo chamar a atenção de cada fiel e de toda a comunidade eclesial. A multidão de famintos, composta de crianças, mulheres, anciãos, migrantes, deslocados, desempregados, dirige-nos o seu grito de dor. Imploram-nos, esperando ser ouvidos. Como não tornar atentos os nossos ouvidos e vigilantes os nossos corações, começando por pôr à disposição aqueles cinco pães e os dois peixes que Deus colocou em nossas mãos? Todos podemos fazer qualquer coisa por eles, dando cada um o seu próprio contributo. Isto requer certamente renúncias, que supõem uma conversão interior e profunda. É preciso, sem dúvida, rever os comportamentos consumistas, combater o hedonismo, opor-se à indiferença e à delegação das responsabilidades.

 

3. A fome é um drama enorme que aflige a humanidade : urge tomar ainda maior consciência do mesmo e oferecer um apoio convicto e generoso às várias Organizações e Movimentos, nascidos para aliviar os sofrimentos de quem corre o risco de morrer por carência de alimento, privilegiando aqueles que não são atingidos por programas governamentais e internacionais. Impõe-se apoiar a luta contra a fome, tanto nos países menos avançados como nas nações altamente industrializadas, onde, infelizmente, vai sempre aumentando a distância que separa os ricos dos pobres.

 

A terra está dotada dos recursos necessários para saciar a humanidade inteira. É preciso sabê-los usar com inteligência, respeitando o ambiente e os ritmos da natureza, garantindo a equidade e a justiça nas trocas comerciais, e uma distribuição das riquezas que tenha em conta o dever da solidariedade. Alguém poderia objectar que se trata de uma enorme e quimérica utopia. O ensinamento e a acção social da Igreja, porém, demonstram o contrário: sempre que os homens se convertem ao Evangelho, esse projecto de partilha e solidariedade torna-se uma estupenda realidade.

 

4. Na verdade, enquanto vemos, por um lado, ser destruídas grandes quantidades de produtos necessários à vida do homem, por outro, descobrimos com amargura longas filas de pessoas que aguardam a sua vez junto das mesas dos pobres ou à volta dos comboios das Organizações humanitárias, ocupadas a distribuir ajudas de toda a espécie. Mas, também nas modernas metrópoles, à hora de encerramento dos mercados locais, não é raro vislumbrar gente desconhecida que se inclina a rebuscar o rebotalho das mercadorias ali abandonado.

 

Diante de tais cenas, sintomas de profundas contradições, como não experimentar no espírito um sentimento de revolta interior? Como não sentir-se tocado por um impulso espontâneo de caridade cristã? A autêntica solidariedade, todavia, não se improvisa; só através de um paciente e responsável trabalho de formação, realizado desde a infância, é que aquela se tornará um hábito mental da pessoa, englobando os diversos campos de actividade e responsabilidade. Requer-se um processo geral de sensibilização, capaz de envolver toda a sociedade. A Igreja Católica, em colaboração cordial com as outras Confissões religiosas, deseja oferecer o seu próprio e qualificado contributo para um tal processo. Trata-se de um fundamental esforço de promoção do homem e de partilha fraterna, que não pode deixar de ver ai empenhados também os próprios pobres, segundo as suas possibilidades.

 

5. Amados Irmãos e Irmãs! Ao mesmo tempo que vos confio estas reflexões quaresmais, para que as desenvolvais individual e comunitariamente sob a guia dos vossos Pastores, exorto-vos a cumprir gestos significativos e concretos, capazes de multiplicar aqueles poucos pães e peixes, de que dispomos. Contribuir-se-á assim validamente para fazer frente aos vários géneros de fome, sendo este um modo autêntico de viver o providencial período da Quaresma, tempo de conversão e reconciliação.

 

Nestes empenhativos propósitos, sirva-vos de apoio e conforto a Bênção Apostólica, que de bom grado concedo a cada um de vós, pedindo ao Senhor a graça de nos encaminhar generosamente, mediante a oração e a penitência, para as celebrações da Páscoa.

 

Castel Gandolfo, 8 de Setembro, Natividade da Virgem Santa Maria, do ano 1995, décimo sétimo de Pontificado.

 

IOANNES PAULUS PP II

 

 

© Copyright - Libreria Editrice Vaticana

 

 

 

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