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26/03/2021

Leitura Espiritual Mar 26

 


Novo Testamento

 

Evangelho

 

Lc XII, 42-59; Lc XIII, 1-5

 

Exortação à vigilância

42 O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? 43 Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. 44 Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. 45 Mas, se aquele administrador disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’ e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46 o senhor daquele servo chegará no dia em que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte, fazendo-o partilhar da sorte dos infiéis. 47 O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. 48 Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.»

 

Por Jesus ou contra Jesus

49 «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado! 50 Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize! 51 Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. 52 Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; 53 vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.» 54 Dizia também às multidões: «Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: ‘Vem lá a chuva’; e assim sucede. 55 E quando sopra o vento sul, dizeis: ‘Vai haver muito calor’; e assim acontece. 56 Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?» 57 «Porque não julgais por vós mesmos, o que é justo? 58 Por isso, quando fores com o teu adversário ao magistrado, procura resolver o assunto no caminho, não vá ele entregar-te ao juiz, o juiz entregar-te ao oficial de justiça e o oficial de justiça meter-te na prisão. 59 Digo-te que não sairás de lá, antes de pagares até ao último centavo.»

 

Necessidade da penitência

XIII 1 Nessa ocasião, apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. 2 Respondeu-lhes: «Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? 3 Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente. 4 E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? 5 Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.»

 

Texto

 


MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II

PARA A QUARESMA DE 1991

 

 Amados irmãos e irmãs em Cristo:

 

A grande Encíclica de Leão XIII, a Rerum Novarum, da qual se comemora o centenário, iniciou um novo capítulo da doutrina social da Igreja. Pois bem, uma constante deste ensinamento é também o convite infatigável ao empenho solidário, tendente a debelar a pobreza e o subdesenvolvimento em que vivem milhões de seres humanos.

 

Não obstante a criação, com os seus bens, seja destinada a todos, hoje grande parte da humanidade continua a sofrer sob o peso intolerável da miséria. Numa tal situação há necessidade de caridade e solidariedade vividas, como afirmei na Encíclica Sollicitudo rei socialis, para significar quanto seja urgente actuar para o bem dos outros, e estarmos prontos a esquecer-nos de nós mesmos – no sentido evangélico – para servirmos os outros, em vez de os oprimir para nosso proveito.

 

1. Neste tempo de Quaresma dirigimo-nos de novo a Deus, rico de misericórdia, fonte de todo o bem, para lhe pedir que nos liberte do nosso egoísmo, e nos dê um coração novo e um novo espírito.

 

A Quaresma, e o período pascal que vem a seguir, põem diante de nós a identificação total de Nosso Senhor Jesus Cristo com os pobres. O filho de Deus, que se fez pobre por nosso amor, identifica-se com aqueles que sofrem. Esta identificação plena encontra a sua expressão mais evidente nas palavras do Senhor: «Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequenos, foi a mim mesmo que o fizestes» (Mt 25, 40).

 

2. No ápice da Quaresma, a Quinta-feira Santa, a Liturgia recorda-nos a instituição da Eucaristia, memorial da paixão, morte e ressurreição de Cristo. É aqui, neste sacramento no qual a Igreja celebra a profundidade da sua fé, que devemos ir buscar a consciência viva de Cristo pobre, sofredor, perseguido. Aquele Cristo, Jesus, que tanto nos amou ao ponto de dar a sua vida por nós e que se dá a nós na Eucaristia como alimento de vida eterna, é o mesmo Cristo que nos convida a vê-lo no corpo e na vida daqueles pobres, com os quais manifestou a sua plena solidariedade.

 

São João Crisóstomo colheu magistralmente esta identificação, afirmando: «Se quiserdes honrar o Corpo de Cristo, não o desprezeis quando está nu; não honreis Cristo eucarístico com paramentos de seda, ignorando aquele outro Cristo que, fora dos muros da Igreja, sofre o frio e a nudez» (cf. Om. in Mattaheum, n. 50, 3-4, PG 58).

 

3. Neste tempo de Quaresma é bom reflectir sobre a parábola do rico opulento e de Lázaro. Todos os homens são chamados a participar no banquete dos bens da vida, e todavia tantos encontram-se ainda fora da porta, como Lázaro, enquanto «os cães iam lamber-lhe as feridas» (Lc 16, 11).

 

Se ignorássemos a multidão imensa de pessoas humanas que não só estão privadas do estricto necessário para viver (alimento, casa, assistência médica) mas que não têm sequer a esperança num futuro melhor, tornar-nos-íamos como o rico opulento que finge não ver o pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31).

 

Devemos, por isso, ter bem impressa nos olhos a imagem da miséria assustadora, que aflige tantas partes do mundo; e por isso, com esta intenção, repito o apelo que – em nome de Jesus Cristo e em nome de toda a humanidade – dirigi a todos os homens durante a minha última visita ao Sahel: «Como julgará a história uma geração que, tendo todos os meios para nutrir (aquelas populações) do planeta, com indiferença fratricida se recusa a fazê-lo?... Como pode deixar de ser um deserto, um mundo no qual a pobreza não encontra um amor capaz de dar a vida?» (cf. L'Osservatore Romano, 31 de Janeiro de 1990, p. 6).

 

Volvendo o nosso olhar para Jesus Cristo, o bom Samaritano, não podemos esquecer que – desde a pobreza da manjedoura à espoliação total da Cruz – Ele se fez um com os últimos. Ensinou-nos o desapego das riquezas, a confiança em Deus, a disponibilidade à partilha. Exorta-nos a volver o olhar para os nossos irmãos e irmãs, que vivem na miséria e no sofrimento, com o espírito de quem - pobre - sabe que depende totalmente de Deus e Dele tem necessidade absoluta. O modo como nos comportamos será a verdadeira, autêntica medida do nosso amor a Ele, fonte de vida e de amor, e sinal de nossa fidelidade ao seu Evangelho. Que a Quaresma aumente em todos esta consciência e este empenho de caridade, para que não passe em vão mas nos conduza, verdadeiramente renovados, para a alegria da Páscoa.

 

 

IOANNES PAULUS PP. II

 

 

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