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13/03/2021

Leitura Espiritual Mar 13

 


Novo Testamento

 

Evangelho


Lc VIII, 1-21

 

Jesus é servido por piedosas mulheres

1 Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze 2 e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; 3 Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens.

 

Parábola do semeador

4 Como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: 5 Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. 6 Outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. 7 Outra caiu no meio de espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. 8 Uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu fruto centuplicado. Dizendo isto, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, oiça! 9 Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. 10 Disse-lhes: A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam. 11 O significado da parábola é este: a semente é a Palavra de Deus. 12 Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. 13 Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. 14 A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. 15 E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.

 

Parábola da lâmpada

16 Ninguém acende uma candeia para a cobrir com um vaso ou para a esconder debaixo da cama; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. 17 Porque não há coisa oculta que não venha a manifestar-se, nem escondida que não se saiba e venha à luz. 18 Vede, pois, como ouvis, porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser-lhe-á tirado mesmo o que julga possuir.

 

A mãe e os parentes de Jesus

19 Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa da multidão. 20 Anunciaram-lhe: ‘Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.’ 21 Mas Ele respondeu-lhes: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.

 

Texto

 


CARTA APOSTÓLICA

SANCTORUM ALTRIX

DO SUMO PONTÍFICE

JOÃO PAULO II

NO XV CENTENÁRIO

DO NASCIMENTO DE SÃO BENTO

PATRONO DA EUROPA, MENSAGEIRO DA PAZ

 

  III

  No tempo de S. Bento a comunidade eclesial e a sociedade humana mostravam muitas semelhanças com as condições da vida humana que existem hoje. As perturbações do Estado e a incerteza do futuro, estando iminente a guerra ou tendo já rebentado, originavam males que aterravam os ânimos. Por isto aconteceu que a vida foi julgada desprovida de todo o significado certo e definido.

  Dentro da Igreja acalmara-se finalmente a prolongada luta, com que se investigavam apaixonadamente os mistérios de Deus, sobretudo a imperscrutável verdade da divindade do Filho e da Sua autêntica humanidade. Todas estas matérias ressoavam como eco nas palavras, dignas de eterna memória, de Leão Magno, sucessor de S. Pedro e bispo de Roma.

  S. Bento, reconhecendo este estado de coisas, pediu a Deus e à tradição viva da Igreja a luz e o caminho que devia seguir. A determinação por ele tomada pode considerar-se como paradigma do dever cristão nas várias alternativas desta peregrinação terrena, embora não existisse um método de vida certo e definido.

  Jesus Cristo é o centro vital, absolutamente necessário, a que todas as coisas devem referir-se, para que a estas possa ser dado sentido e elas possam harmonizar-se solidamente. Apelando para a afirmação de S. Cipriano, Bispo de Cartago, Bento afirma com energia e gravidade que absolutamente "nada pode ser anteposto ao amor de Cristo" [19].

  Nos homens, porém, e nas coisas, há força e importância na medida em que tudo está ligado com Cristo; portanto a esta luz tudo deve ser considerado e estimado. Todos os que estão no mosteiro — do superior (que é o pai, o abade) até ao hóspede desconhecido e pobre, do doente ao último dos irmãos — significam a presença viva de Cristo. Também as coisas são sinais do amor de Deus para com as criaturas, ou do amor com que o homem é levado para Deus, e até mesmo um instrumento e uma ferramenta para se fazer um trabalho "sejam considerados como vasos sagrados do altar" [20].

  S. Bento não propõe alguma vazia consideração teológica, mas partindo da verdade das coisas, segundo o uso, inculca nas almas um modo de pensar e de agir, segundo o qual a teologia é transferida para a prática da vida. Não tem tanto a peito falar das verdades sobre Cristo quanto, partindo do mistério de Cristo e do "Cristocentrismo" dele derivado, viver uma vida bem autêntica.

  É necessário que o primeiro lugar, que é atribuído ao modo sobrenatural de sentir as vicissitudes quotidianas, concorde com a verdade da Encarnação: porque, ao homem fiel a Deus, não é lícito esquecer-se do que é humano, deve ser fiel também ao homem. Por isso, o dever para cumprir, de modo vertical como dizem, que se manifesta sobretudo na vida de oração, está devidamente equilibrado se se harmoniza devidamente com o que requer o modo "horizontal", de que a parte mais importante é o trabalho.

  Na convivência monástica, portanto, sob a guia daquele que "se crê fazer as vezes de Cristo" [21], S. Bento mostra o caminho que há-de percorrer-se, o qual se distingue por grande uniformidade. Este caminho, que está entre a solidão e a convivência, entre a oração e o trabalho, é necessário que também o leigo do nosso tempo o percorra — ainda que sejam diversos os pesos para atribuir a estas coisas — a fim de poder realizar perfeitamente a sua vocação.

 

  IV

  O amor verdadeiro e absoluto a Cristo manifesta-se de modo significativo na oração; que é por assim dizer o eixo à volta do qual rodam a convivência quotidiana e toda a vida beneditina.

  Mas o fundamento da oração, em conformidade com uma sentença de S. Bento, está em que alguém ouça a palavra; porque o Verbo encarnado — aqui, hoje, a cada homem na condição presente que não se repete — fala através das Escrituras e do ministério eclesial; coisa que no mosteiro se realiza também por meio das palavras do pai e dos irmãos da comunidade.

  Em tal obediência de fé, a palavra de Deus é recebida com humildade e alegria, derivando esta de se reconhecer uma perene novidade, que o tempo não diminui, pelo contrário torna mais viva e de dia para dia mais atraente. E esta palavra torna-se fonte inexausta de oração, porque "o próprio Deus fala à alma, sugerindo-lhe as respostas, que o Seu coração espera. Esta oração é dividida pelos vários períodos do dia e, como veia de água subterrânea, alimenta o trabalho quotidiano" [22].

  E pela meditação tranquila e saborosa — que é verdadeira ruminação espiritual — a palavra de Deus excita nas almas dadas à oração aqueles agudos raios de luz, que iluminam o decurso do dia inteiro. Na verdade, esta é a "oração do coração", aquela "breve e pura oração" [23], por meio da qual aos divinos impulsos respondemos, e ao mesmo tempo pedimos ao Senhor que nos conceda o inexaurível dom da sua misericórdia.

  Portanto a palavra de Deus, que encerra o profundo mistério da salvação, todos os dias é ouvida amorosamente pela alma e é meditada com solicitude; isto faz-se por certo empenho vital, que se explicita não por ciência humana mas pela sabedoria, que traz em si alguma coisa de divino; isto é, não para que saibamos mais, mas para que, se é lícito assim falar, para que sejamos mais: para falarmos com Deus, para a Ele dirigirmos a Sua mesma palavra, para pensarmos o que Ele pensa, numa palavra, para vivermos a Sua mesma vida.

  O fiel, ouvindo a palavra de Deus, é levado a entender o curso das coisas múltiplas e várias como também dos tempos, que o Senhor providente decidiu acontecessem na família humana, de maneira que à alma crente fosse apresentado mais amplo espectáculo da munificência salvífica. Por isso do mesmo modo acontece que as maravilhas de Deus sejam captadas pela fé de olhos abertos e com os ouvidos atentos [24]. A luz deífica da contemplação acende a centelha e quer o silêncio, junto à admiração; e o cântico de exultação e a pronta acção de graças dão àquela oração índole particular, mediante a qual os monges celebram cantando os louvores do Senhor cada dia. Então a oração torna-se quase a voz da criação inteira e toma o lugar do excelso canto da Jerusalém celeste. A palavra de Deus nesta peregrinação terrena faz que toda a vida seja sentida como aberta a Deus que olha, e na oração ao Pai vem a ser dada voz àqueles que agora já não a têm: as alegrias e as ansiedades, os êxitos favoráveis e as esperanças desiludidas, e as expectativas de acontecimento propício ressoam nela de algum modo.

  S. Bento é principalmente levado por esta palavra de Deus na sagrada liturgia, não procurando contudo que se torne a comunidade somente uma reunião para celebrar os mistérios divinos com ardor, mas que declare harmoniosamente a comum experiência recebida no Espírito com o canto coral; de facto, tem muito a peito que as disposições íntimas correspondam à palavra de Deus pronunciada e cantada: "a mente esteja de acordo com a palavra" [25]. A Sagrada Escritura, conhecida e apreciada deste modo vital, é lida com gosto, quando ao mesmo tempo há aplicação intensa à oração. Por impulso de amor, a alma recolhe-se muitas vezes diante de Deus; nada é preferido à Obra de Deus [26]; a oração, feita na liturgia, transfere-se para a vida, e a vida mesma torna-se oração. A oração, logo que termina a liturgia, levada como de círculos pequenos a outros maiores, amplifica-se e propaga-se no estado de alma recolhido e silencioso, e por isso acontece que alguém de modo especial ore consigo mesmo e que o hábito da oração penetre as acções e os momentos do dia.

  S. Bento, amante da palavra de Deus, lê-a não só na Bíblia sagrada mas também no grande livro que é a natureza. O homem, contemplando a beleza da criatura, comove-se nos recessos mais íntimos do espírito, e é levado a recordar Aquele que é sua fonte e origem; ao mesmo tempo é levado a comportar-se com reverência para com a natureza, a pôr-lhe em evidência a beleza, respeitando-lhe a verdade.

  "Onde sopra o silêncio, fala a oração" [27]: na solidão, de facto, a oração aumenta por certa riqueza pessoal; o que deve referir-se não só ao vale inculto do Aniene, onde S. Bento na solidão falava a sós com Deus, mas também à cidade repleta de progressos técnicos mas distractiva para os espíritos, onde o homem da nossa época se vê muitas vezes segregado e entregue a si mesmo. Mas é necessário que a alma se exercite nalgum deserto, a fim de poder levar vida autenticamente espiritual; porque ele previne contra as palavras vazias e torna mais fácil o trato que é necessário ter com Deus, com os homens e com as coisas. No silêncio do deserto, os motivos que se interpõem entre uns e outros, ficam reduzidos àquilo que é principal e primário, acrescentando-se-lhe certa austeridade, enquanto se purifica o coração, enquanto se descobre de novo o hábito da oração quotidiana, que do íntimo do coração se eleva a Deus. Oração que verdadeiramente não é feita com Ele na abundância das palavras mas na pureza do coração inflamado e na compunção das lágrimas [28].

 

IOANNES PAULUS II

 

Notas:

[19] Cf. Regra de S. Bento, 4, 21; 72, 11.

[20] Cf. Regra de S. Bento, 31, 10.

[21] Regra de S. Bento, 63, 13; cf. ibid. 2, 2.

[22] Cf. Aloc. de Paulo VI às Superioras Beneditinas, 29.9.1976: Insegnamenti di Paolo VI, XIV 1976, p. 771.

[23] Cf. Regra de S. Bento, 20, 4.

[24] Cf. Regra de S. Bento, Prólog.. 9.

[25] Regra de S. Bento, 19, 7.

[26] Cf. Regra de S. Bento, 4, 55; 4, 56; 43, 3.

[27] Cf. Aloc. de Paulo VI aos monges beneditinos, 8.9.1971: AAS 63 (1971), p. 746.

[28] Cf. Regra de S. Bento, 20, 3; 52, 4.

 

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