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22/02/2021

São José

 


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA

REDEMPTORIS CUSTOS

DO SUMO PONTÍFICE

JOÃO PAULO II

SOBRE A FIGURA E A MISSÃO

DE SÃO JOSÉ

NA VIDA DE CRISTO E DA IGREJA

 

O CONTEXTO EVANGÉLICO

 

III

 

O HOMEM JUSTO - O ESPOSO

 

20. Na Liturgia, Maria é celebrada como tendo estado «unida a José, homem justo, por um vínculo de amor esponsal e virginal». (Collectio Missarum de Beata Maria Virgine, I, « Sancta Maria de Nazareth », Praefatio.) Trata-se, de facto , de dois amores que , conjuntamente, representam o mistério da Igreja, virgem e esposa, a qual tem no matrimónio de Maria e José o seu símbolo. «A virgindade e o celibato por amor do Reino de Deus não só não se contrapõem à dignidade do matrimónio, mas pressupõem-na e confirmam-na. O matrimónio e a virgindade são os dois modos de exprimir e de viver o único Mistério da Aliança de Deus com o seu povo», (Exort. Apost. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), n. 16: AAS 74 (1982), p. 98.) que é comunhão de amor entre Deus e os homens.

 

Mediante o sacrifício total de si próprio, José exprime o seu amor generoso para com a Mãe de Deus, fazendo-lhe «dom esponsal de si». Muito embora decidido a afastar-se, para não ser obstáculo ao plano de Deus que nela estava a realizar-se, por ordem expressa do anjo ele manteve-a consigo e respeitou a sua condição de pertencer exclusivamente a Deus.

 

Por outro lado, foi do matrimónio com Maria que advieram para José a sua dignidade singular e os seus direitos em relação a Jesus. «é certo que a dignidade da Mãe de Deus assenta tão alto, que nada pode haver de mais sublime; mas, por isso mesmo que entre a Santíssima Virgem a José foi estreitado o vínculo conjugal, não há dúvida de que ele se aproximou como ninguém dessa altíssima dignidade, em virtude da qual a Mãe de Deus ocupa lugar eminente, a grande distância de todas as criaturas. Uma vez que o casamento é a comunidade e a amizade máxima a que, por sua natureza, anda ligada a comunhão de bens, segue-se que, se Deus quis dar José como esposo à Virgem, deu-lo não apenas como companheiro na vida, testemunha da sua virgindade e garante da sua honestidade, mas também para que ele participasse, mediante o pacto conjugal, na sua excelsa grandeza. (Leão XIII, Carta Enc. Quamquam pluries (15 de Agosto de 1889): l.c., pp. 177-178.)

 

 

21. Um tal vínculo de caridade constituiu a vida da Sagrada Família; primeiro, na pobreza de Belém, depois, durante o exílio no Egipto e, em seguida, quando ela morava em Nazaré. A Igreja rodeia de profunda veneração esta Família, apresentando-a como modelo para todas as famílias. A Família de Nazaré, directamente inserida no mistério da Incarnação, constitui ela própria um mistério particular. E ao mesmo tempo — como na Incarnação — é a este mistério que pertence a verdadeira paternidade: a forma humana da família do Filho de Deus, verdadeira família humana, formada pelo mistério divino. Nela, José é o pai: a sua paternidade, porém, não é só «aparente», ou apenas «substitutiva»; mas está dotada plenamente da autenticidade da paternidade humana, da autenticidade da missão paterna na família. Nisto está contida uma consequência da união hipostática: humanidade assumida na unidade da Pessoa divina do Verbo-Filho, Jesus Cristo. Juntamente com a assunção da humanidade, em Cristo foi também «assumido» tudo aquilo que é humano e, em particular, a família, primeira dimensão da sua existência na terra. Neste contexto foi «assumida» também a paternidade humana de José.

 

Com base neste princípio, adquirem o seu significado profundo as palavras dirigidas por Maria a Jesus, no templo, quando ele tinha doze anos: «Teu pai e eu ... andávamos à tua procura». Não se trata de uma frase convencional: as palavras da Mãe de Jesus indicam toda a realidade da Incarnação, que pertence ao mistério da Família de Nazaré. José, que desde o princípio aceitou, mediante «a obediência da fé», a sua paternidade humana em relação a Jesus, seguindo a luz do Espírito Santo que por meio da fé se doa ao homem, por certo ia descobrindo cada vez mais amplamente o dom inefável desta sua paternidade.

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