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04/02/2021

Leitura espiritual Fev 04

 


Novo Testamento [i]


Evangelho


Mc VII, 1-23

 

Jesus e os fariseus

1 Os fariseus e alguns doutores da Lei vindos de Jerusalém reuniram-se à volta de Jesus, 2 e viram que vários dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. 3 É que os fariseus e todos os judeus em geral não comem sem ter lavado e esfregado bem as mãos, conforme a tradição dos antigos; 4 ao voltar da praça pública, não comem sem se lavar; e há muitos outros costumes que seguem, por tradição: lavagem das taças, dos jarros e das vasilhas de cobre. 5 Perguntaram-lhe, pois, os fariseus e doutores da Lei: «Porque é que os teus discípulos não obedecem à tradição dos antigos e tomam alimento com as mãos impuras?» 6 Respondeu: «Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. 7 Vazio é o culto que me prestam e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos. 8 Descurais o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens.» 9 E acrescentou: «Anulais a vosso bel-prazer o mandamento de Deus, para observardes a vossa tradição. 10 Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; e ainda: Quem amaldiçoar o pai ou a mãe seja punido de morte. 11 Vós, porém, dizeis: "Se alguém afirmar ao pai ou à mãe: ‘Declaro Qorban’ - isto é, oferta ao Senhor - aquilo que poderias receber de mim...", 12 nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, 13 anulando a palavra de Deus com a tradição que tendes transmitido. E fazeis muitas outras coisas do mesmo género.» 14 Chamando de novo a multidão, dizia: «Ouvi-me todos e procurai entender. 15 Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. 16 Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça.» 17 Quando, ao deixar a multidão, regressou a casa, os discípulos interrogaram-no acerca da parábola. 18 Ele respondeu: «Também vós não compreendeis? Não percebeis que nada do que, de fora, entra no homem o pode tornar impuro, 19 porque não penetra no coração mas sim no ventre, e depois é expelido em lugar próprio?» Assim, declarava puros todos os alimentos. 20 E disse: «O que sai do homem, isso é que torna o homem impuro. 21 Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios, 22 adultérios, ambições, perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios. 23 Todas estas maldades saem de dentro e tornam o homem impuro.»

 

Texto:



  Trabalho

  De facto, trabalhar é colaborar com Deus de uma forma directa. Por isso mesmo, longe de um castigo, pena ou sujeição, o trabalho, qualquer que seja, é algo grandioso e de enorme valor.

«Ut operaretur» para que trabalhe, este foi o mandato do Criador ao primeiro ser humano. [1]

  E porquê, podemos perguntarmo-nos?

  Bom, não nos cabe questionar as decisões do Criador porque, em primeiro lugar, tem autoridade absoluta sobre a criatura e, portanto, determinar o que esta deve ou não fazer. E depois, acresce uma razão, a nosso ver, determinante: a criatura tem necessariamente uma função que é a razão pela qual foi criada.

  Não faz nenhum sentido - temos de usar termos humanos - criar alguma coisa, neste caso, um ser humano, só porque sim, isto é, sem nenhum objectivo concreto.

O Criador, de facto, não precisa de nada; e se fez uma Obra, um Mundo complexo e belo, povoado de seres animais e vegetais de uma infinidade de espécies, perfeitamente organizadas e interdependentes, num ''jogo'' espantoso de complexidade e harmonia, tudo isto e muitíssimo mais que nem se consegue descrever, foi por um acto da Sua Vontade soberana, tendo, como diz a Bíblia, «achado que tudo era bom» [2]; e, como último acto, criar o ser humano, foi, repete-se uma vez mais, por Amor.

  Sim, Amor com maiúscula porque é Amor Divino.

É que Deus, sendo a plenitude do Amor, não pode deixar de praticar actos de amor e, de facto, fá-lo constantemente quando cria uma nova alma para uma vida humana que se inicia.

  Bom, mas considerando todo o anterior, tendo concluído que o homem foi criado por Amor, porque é que Deus lhe deu esse mandato: ut operaretur, que trabalhasse?

  Só se encontra uma explicação coerente e que se resume no desejo do Criador, que o ser humano fosse como que ''um Seu colaborador'' na obra da Criação.

Tudo estava pronto, por assim dizer, mas havia, e há, algo que falta e que tem a ver não só com a própria evolução de tudo o criado - o ser humano também - mas com os segredos que continuam à espera de serem desvendados.

  Como é evidente, a evolução do conhecimento faz do homem de hoje um ser muito diferente dos primeiros progenitores.

No entanto, tudo quanto foi descoberto e dominado pelo homem ao longo da história da humanidade, já existia tal como no homem existiam, desde o princípio, as capacidades para o descobrir.

  Digamos, pois, que este é o mandato que se referiu, como se Deus dissesse: ‘tens aqui tudo quanto achei conveniente criar, agora, põe as tuas capacidades no domínio de tudo quanto existe, evoluindo tu mesmo nas tuas capacidades e potências, para conseguir esse objectivo. Por isso te dei uma alma que é a Minha Imagem impressa em ti e a fonte da inteligência. Nisto te diferencias de todos os outros seres existentes na Natureza, ou seja, és, de facto, superior a todos eles’.

  Posto desta forma prosaica, percebe-se o mandato e, uma vez mais, se revela o Amor de Deus dando ao homem tais capacidades.

  E o caminho continua e continuará até ao fim dos tempos.

  O homem vai produzindo trabalho, descobrindo coisas novas, aperfeiçoando técnicas, acrescentando saber, aumentando a sua capacidade de controlo e, nisto, realmente, o homem satisfaz-se e goza.

Na verdade, tudo depende do homem porque o Criador não estabeleceu nem regras, nem metas, nem calendários.

Foi, e é, o homem quem foi organizando tudo isso, aproveitando as diferentes capacidades e características de cada um, organizando as sociedades, regulamentando os processos e estabelecendo os caminhos a percorrer.

 

 



[1] Gen, cap. 2

[2] Cfr. Gen 1, 33



[i] Sequencial todos os dias do ano

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