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24/01/2021

LEITURA ESPIRITUAL Janeiro 24

Evangelho

 

Mc I 23 – 45

 

Milagre na Sinagoga

23 Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar: 24 «Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» 25 Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» 26 Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. 27 Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» 28 E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

 

Cura da sogra de Pedro

29 Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. 30 A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. 31Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los.

 

Outros milagres

32 À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, 33 e a cidade inteira estava reunida junto à porta. 34 Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era. 35 De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. 36 Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. 37 E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» 38 Mas Ele respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» 39 E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios.

 

Cura de um leproso

40 Um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» 41 Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» 42 Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. 43 E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: 44 «Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» 45 Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.

 


A filiação divina e vida interior (cont)

  A construção da Vida Interior passa, assim, a ser um trabalho constante com a finalidade de, pode dizer-se, tornar-se uma pessoa completa, carne e espírito, com domínio da vontade, agindo sob determinação do que considera conveniente e bom em detrimento da cedência fácil ao instinto ou apelo mais ou menos mirífico de felicidade.

A couraça, por chamar-lhe assim, que se vai construindo, alicerçada nos valores que se têm - e sabem – como sérios, válidos, importantes e fundamentais, vai-se fortalecendo constantemente não só com o esforço de interiorização, mas com a prática continuada de actos bons e meritórios que tornam verdadeiros e credíveis os desejos de melhoria interior.

  Por aqui se vê que a Vida Interior não é uma atitude estática, não se estabelece um qualquer patamar a partir do qual se considera completa e satisfeita a ânsia de melhoria, é, antes, um esforço contínuo de aperfeiçoamento que nunca se dá por satisfeito nem completo.

  À medida que os obstáculos vão sendo removidos, surgem novas arestas a limar, contornos a definir, emoções a estabilizar.

Evidentemente que tem a ver com a estreita ligação com Deus porque a consciência leva a orientar-se a vida de forma a agradar-lhe em tudo e num desejo de satisfazer a Sua vontade nas coisas pequenas como nas grandes.

  O pensador, a pessoa que por feitio ou profissão está em permanente evolução de pensamento, se não orienta esta acção para Deus fica-se sempre muito aquém de uma satisfação completa.

Trata-se de insistir nos pequenos vencimentos diários, ultrapassagens de obstáculos pouco importantes, metas intermédias que se vão alcançando sem desprezar qualquer oportunidade ou ensejo, não cedendo à tentação de deixar para depois, para uma ocasião que, por uma razão qualquer, se ache mais propícia.

  Esta ocasião ideal, de facto, nunca surge porque o ideal, o que convém realmente, é fazer o que tem de ser feito quando deve ser feito.

  Uma tarefa adiada è uma tarefa meio perdida ou, talvez, nunca concluída porque entretanto, outras surgiram que mereceram atenção e requereram acção da nossa parte.

  A Vida Interior não é uma postura mas um estado de alma, quer dizer, não é algo que se tenha de vez em quando mas sempre, seja qual for o ambiente ou circunstância.

  Por isso ligámos tão estreitamente a Vida Interior à Filiação Divina porque a constatação da segunda como sendo uma realidade, leva a considerar a primeira como uma necessidade.

  Com uma Vida Interior sólida, a pessoa é naturalmente alegre, com aquela alegria sã e serena que advém da certeza de que os actos que se praticam são convenientes e agradam a Deus, ao mesmo tempo que as preocupações ou adversidades que a vida corrente sempre traz consigo, nunca tomam dimensões desproporcionadas nem condicionam desmesuradamente a vida pessoal.

Antes são encaradas com naturalidade e a predisposição para as resolver e ultrapassar é muito maior porque não se encaram esses incidentes como fardos insuportáveis ou insolúveis mas, antes, vem ao de cima a confiança, a esperança e a certeza que nada é superior às próprias forças porque se sabe, com segurança, que Deus, se permite a carga também proporciona os meios para a suportar.

  Porque é que São Josemaria, como já se disse, é de facto um santo dos nossos dias com algo de revolucionário?

Porque, realmente, veio ensinar uma nova forma de focar a vida comum e corrente: ‘Os cristãos são para o mundo o que a alma é para o corpo. Vivem no mundo, mas não são mundanos, como a alma está no corpo, mas não é corpórea. Habitam em todos os povos, assim como a alma está em todas as partes do corpo. Actuam pela sua vida interior sem se fazerem notar, como a alma pela sua essência. Vivem como peregrinos entre coisas perecíveis, na esperança da incorruptibilidade dos céus, assim como a alma imortal vive agora numa tenda mortal. Multiplicam-se de dia para dia no meio das perseguições, assim como a alma se embeleza mortificando-se... E não é lícito aos cristãos abandonarem a sua missão no mundo, como não é permitido à alma separar-se voluntariamente do corpo.» ([1]); ou ainda:

  ‘A filiação divina é uma verdade feliz, um mistério consolador. A filiação divina empapa toda a nossa vida espiritual, porque nos ensina a procurar, conhecer e amar o nosso Pai do Céu, e assim cumula de esperança a nossa luta interior e nos dá a simplicidade confiante dos filhos pequenos. Mais ainda: precisamente porque somos filhos de Deus, esta realidade leva-nos também a contemplar com amor e com admiração todas as coisas que saíram das mãos de Deus Pai Criador. E deste modo somos contemplativos no meio do mundo, amando o mundo.» [2] 

  A constatação da nossa Filiação Divina leva-nos à necessidade da contemplação de tão magnífico dom.

Ser filho de Deus, com todos os direitos e prerrogativas que tal implica, é algo que não se apreende na totalidade.

Deus ama-nos como seres criados por Ele próprio mas, como se tal não bastasse, outorga-nos, com o Baptismo, essa filiação autêntica, real, efectiva!

Fazemos parte da Sua família íntima, somos amados verdadeira e incondicionalmente, sem mérito algum da nossa parte. E, este amor preenche por completo as nossas necessidades porque é um amor imenso, divino, sem comparação alguma com o mais excelente amor humano.

  Como todo o amor, pede retorno, - já vimos que amar é dar e receber - e o interessante e de espantar é que Deus, nosso Senhor e Criador, que não precisa do nosso amor para nada, espera verdadeiramente que Lhe retribuamos - tentemos sériamente retribuir - o Seu amor divino com o nosso amor humano, para o divinizar e devolver expurgado de qualquer impureza que possa conter.

  Quantas vezes, ao longo do dia, nas situações mais correntes, nos detemos nem que sejam uns escassos segundos a interiorizar estas realidades?

E não é nada de mais se considerarmos que Ele nos vê e nos ouve sempre, sempre!

 E, a Vida Interior é, finalmente, isso mesmo:

Essa disposição da alma para considerar a presença de Deus na nossa vida e, tomando consciência disto, fazer tudo para Lhe agradar como forma de retribuir tão grande bem.

  Educar a consciência, formar o carácter, esclarecer a mente, ter claras e bem definidas as balizas dentro das quais decorre a nossa vida com essa tendência e desejo de a concretizar:

Tudo, absolutamente, para Ti, meu Senhor e meu Deus: que tudo, absolutamente em Ti comece e acabe sempre!

 

 



[1] são josemaria escrivá,  Amigos de Deus, 63

           [2] s. josemaria escrivá, Cristo que Passa, 65

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