Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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29/10/2020
Oração pelos sacerdotes
Reflexão
Amor a Deus
Que sou eu para Ti, oh Senhor, para que
mandes que Te ame, e se não o faço te enojes de mim e me ameaces com grandes
misérias?
Acaso é pequena a miséria de não Te
amar?
(Santo Agostinho, Confissões, 1, 5, 5)
Leitura espiritual Outubro 29
Cartas de São Paulo
Carta
aos Hebreus 5
1
Todo o Sumo Sacerdote tomado de entre os homens é constituído em favor dos
homens, nas coisas respeitantes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos
pecados. 2 Pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele
está cercado de fraqueza; 3 por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos
seus pecados, como pelos do povo. 4 E ninguém tome esta honra para si mesmo,
mas somente quem é chamado por Deus, tal como Aarão. 5 Assim também Cristo não
se atribuiu a glória de se tornar Sumo Sacerdote, mas concedeu-lha aquele que
lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei. 6 E, como diz noutro passo: Tu és
sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. 7 Nos dias da sua vida
terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com
grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. 8 Apesar de
ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu 9 e, tornado perfeito,
tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, 10 tendo
sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec.
III.
SACERDÓCIO DE JESUS CRISTO
Normas de vida cristã –
11
Temos muitas coisas a dizer sobre isto e coisas difíceis de explicar por
palavras, porque vos tornastes lentos para compreender. 12 Pois, vós, que há
muito tempo devíeis ser mestres, precisais ainda de alguém que vos ensine os
primeiros rudimentos das palavras de Deus e tornastes-vos necessitados de
leite, em vez de comida sólida. 13 Ora, o que se alimenta de leite é incapaz de
entender a doutrina da justiça, pois é uma criança. 14 A comida sólida, porém,
é para os adultos, para os que têm já exercitadas, pela prática, as faculdades
de distinguir o bem do mal.
Cristo
que Passa
97
A consideração da morte de
Cristo traduz-se num convite a situarmo-nos, com absoluta sinceridade, perante
o nosso trabalho ordinário, a tomarmos a sério a Fé que professamos.
A Semana Santa, portanto,
não pode ser um parêntesis sagrado no contexto de um viver movido só por
interesses humanos: tem de ser uma ocasião para penetrarmos na profundidade do
Amor de Deus, para podermos assim, com a palavra e com as obras, mostrá-lo aos
outros homens.
Mas o Senhor impõe
condições.
Há uma declaração Sua, que São
Lucas nos conserva, da qual não se pode prescindir: «Se alguém quer vir a
Mim e não aborrece o pai e a mãe, a mulher e os filhos, os irmãos e as irmãs e
até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo». São palavras duras.
Decerto nem o odiar nem o
aborrecer exprimem bem o pensamento original de Jesus.
De qualquer maneira, as
palavras do Senhor foram fortes, pois não se reduzem a um amor menor, como por
vezes se interpreta temperadamente, para suavizar a frase.
É tremenda essa expressão
tão taxativa, não porque implique uma atitude negativa ou impiedosa, pois o
Jesus que fala agora é O mesmo que manda amar os outros como a própria alma e
entrega a Sua vida pelos homens: aquela locução indica simplesmente que perante
Deus não cabem meias-tintas.
Poderiam traduzir-se as
palavras de Cristo por amar mais, amar melhor, ou então por não amar com um
amor egoísta, nem tão-pouco com um amor de vistas curtas: devemos amar com o
Amor de Deus. Disto é que se trata!
Reparemos na última das
exigências de Jesus: et animam suam, a vida, a própria alma é o que o
Senhor pede.
Se somos fátuos, se nos
preocupamos apenas com a nossa comodidade pessoal, se centramos a existência
dos outros e até o próprio mundo em nós mesmos, não temos o direito de nos
chamarmos cristãos, de nos considerarmos discípulos de Cristo.
A entrega tem de se fazer
com obras e com verdade, não apenas com a boca.
O amor a Deus convida-nos a
levarmos a cruz a pulso, a sentir também sobre nós o peso da Humanidade inteira
e a cumprirmos, nas circunstâncias próprias do estado e do trabalho de cada um,
os desígnios, claros e amorosos ao mesmo tempo, da vontade do Pai. Na passagem
que comentamos, Jesus prossegue: «Aquele que não carrega com a sua cruz para
Me seguir também não pode ser meu discípulo».
Aceitemos sem medo a vontade
de Deus, formulemos sem vacilações o propósito de edificar toda a nossa vida de
acordo com aquilo que nos ensina e nos exige a nossa fé.
Estejamos seguros de que
encontraremos luta, sofrimento e dor; mas, se possuirmos de verdade a Fé, nunca
nos sentiremos infelizes: também com sofrimentos, e até mesmo com calúnias,
seremos felizes, com uma felicidade que nos impelirá a amar os outros para os
fazer participar da nossa alegria sobrenatural.
98
O cristão perante a história
humana
Ser cristão não é título de
mera satisfação pessoal: tem nome - substância - de missão.
Já antes recordávamos que o
Senhor convida todos os cristãos a serem sal e luz do mundo; fazendo-se eco
desse mandato e com textos tomados do Antigo Testamento, São Pedro escreve umas
palavras que definem muito claramente essa missão: “Sois linhagem escolhida,
sacerdócio real, nação santa, povo de conquista, para publicar as grandezas
d'Aquele que nos arrancou das trevas para a luz admirável”.
Ser cristão não é algo de
acidental; é uma realidade divina, que se insere nas entranhas da nossa vida,
dando-nos uma visão clara e uma vontade decidida de actuarmos como Deus quer.
Aprende-se assim que a
peregrinação do cristão no mundo tem de se converter num serviço contínuo,
prestado de modos muito diversos segundo as circunstâncias pessoais, mas sempre
por amor a Deus e ao próximo.
Ser cristão é actuar sem
pensar nas pequenas metas do prestígio ou da ambição, nem em finalidades que
podem parecer mais nobres, como a filantropia ou a compaixão perante as
desgraças alheias; é correr para o termo último e radical do amor que Jesus
Cristo manifestou morrendo por nós.
Verificam-se por vezes
algumas atitudes que nascem de não se saber penetrar neste mistério de Jesus.
Por exemplo, a mentalidade
daqueles que vêem o cristianismo como um conjunto de práticas ou actos de
piedade, sem perceberem a sua relação com as situações da vida corrente, com a
urgência de atender as necessidades dos outros e de se esforçar por remediar as
injustiças.
Por mim, diria que quem tem
essa mentalidade não compreendeu ainda o que significa o facto de o Filho de
Deus ter encarnado, tomando corpo, alma e voz de homem, participando no nosso
destino até ao ponto de experimentar a aniquilação suprema da morte.
Talvez por isso, algumas
pessoas, sem querer, consideram Cristo como um estranho no ambiente dos homens.
Outros, pelo contrário, têm
tendência para imaginar que, para poderem ser humanos, precisam de pôr em
surdina alguns aspectos centrais do dogma cristão e actuam como se a vida de
oração, a intimidade habitual com Deus, constituísse uma fuga das suas
responsabilidades e um abandono do mundo.
Esquecem-se de que Jesus,
precisamente, nos deu a conhecer até que extremos se deve ir no caminho do amor
e do serviço.
Só se procurarmos
compreender o arcano do amor de Deus, deste amor que chega até à morte, seremos
capazes de nos entregar totalmente aos outros, sem nos deixarmos vencer pelas
dificuldades ou pela indiferença.
99
É a fé em Cristo, que morreu
e ressuscitou, presente em todos e cada a um dos momentos da vida, que ilumina
as nossas consciências, incitando-nos a participar com todas as forças nas
vicissitudes e nos problemas da história humana.
Nessa história, que teve
início com a criação do mundo e terminará com a consumação dos séculos, o cristão
não é um apátrida: é um cidadão da cidade dos homens, com a alma cheia de
desejo de Deus, cujo amor começa já a entrever nesta etapa temporal e no qual
reconhece o fim a que estamos chamados todos os que vivemos na Terra.
Se o meu testemunho pessoal
tem interesse, posso dizer que sempre entendi o meu trabalho de sacerdote e
pastor de almas como uma tarefa dirigida a situar cada pessoa perante as
exigências totais da sua vida, ajudando-a a descobrir aquilo que Deus em
concreto lhe pede, sem pôr qualquer limitação à santa independência e à bendita
responsabilidade individual que são características de uma consciência cristã.
Esse modo de agir e esse
espírito baseiam-se no respeito pela transcendência da verdade revelada e no
amor à liberdade da criatura humana.
Poderia acrescentar que se
baseiam também na certeza da indeterminação da História, aberta a múltiplas
possibilidades que Deus não quis limitar.
Seguir Cristo não significa
refugiar-se no templo, encolhendo os ombros perante o desenvolvimento da sociedade,
perante os acertos ou as aberrações dos homens e dos povos.
A fé cristã leva-nos, pelo
contrário, a ver o mundo como criação do Senhor, a apreciar, portanto, tudo o
que é nobre e belo, a reconhecer a dignidade de cada pessoa, feita à imagem de
Deus, e a admirar esse dom especialíssimo da liberdade, que nos faz senhores
dos nossos próprios actos e capazes, com a graça do Céu, de construir o nosso
destino eterno.
Seria minimizar a Fé
reduzi-la a uma ideologia terrena, arvorando um estandarte político-religioso
para condenar, não se sabe em nome de que investidura divina, aqueles que não
pensam do mesmo modo em problemas que são, pela sua própria natureza,
susceptíveis de receber numerosas e diversas soluções.
101
Convém
que meditemos naquilo que nos revela a morte de Cristo, sem ficarmos nas formas
exteriores ou em fases estereotipadas.
É
necessário que nos metamos de verdade nas cenas que vivemos durante estes dias
da Semana Santa: a dor de Jesus, as lágrimas de sua Mãe, a debandada dos discípulos,
a fortaleza das santas mulheres, a audácia de José e Nicodemos, que pedem a
Pilatos o corpo do Senhor.
Aproximemo-nos,
em suma, de Jesus morto, dessa Cruz que se recorta sobre o cume do Gólgota.
Mas
aproximemo-nos com sinceridade, sabendo encontrar o recolhimento interior que é
sinal de maturidade cristã.
Os
acontecimentos, divinos e humanos, da Paixão penetrarão desta forma na alma
como palavra que Deus nos dirige para desvelar os segredos do nosso coração e
revelar-nos aquilo que espera das nossas vidas.
Há
já muitos anos, vi um quadro que se gravou profundamente no meu íntimo.
Representava
a Cruz de Cristo e, junto ao madeiro, três anjos: um chorava desconsoladamente;
outro tinha um cravo na mão, como para se convencer de que aquilo era verdade;
o terceiro estava recolhido em oração.
Eis
um programa sempre actual para cada um de nós: chorar, crer e orar.
Perante
a Cruz, dor dos nossos pecados, dos pecados da Humanidade, que levaram Jesus à
morte; fé, para penetrarmos nessa verdade sublime que ultrapassa todo o
entendimento e para nos maravilharmos com o amor de Deus; oração, para que a
vida e a morte de Cristo sejam o modelo e o estímulo da nossa vida e da nossa
entrega. Só assim nos chamaremos vencedores!
Porque
Cristo ressuscitado vencerá em nós, e a morte transformar-se-á em vida.
Temos de meditar na vida de Jesus
Esses minutos diários de leitura do Novo Testamento que te aconselhei (metendo-te e participando no conteúdo de cada cena, como um protagonista mais) são para que encarnes, para que "cumpras" o Evangelho na tua vida... e para "fazê-lo cumprir". (Sulco, 672)
Para
ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma ideia
geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores e
atitudes. É preciso contemplar a Sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz,
serenidade, paz.
Quando
se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu carácter, para nos
identificarmos com essa pessoa. Por isso temos de meditar na vida de Jesus,
desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua Ressurreição. Nos
primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do
Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a
conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em
qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos
contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa
vida, acudam à memória as palavras e os actos do Senhor. (Cristo que passa, 107)
Pequena agenda do cristão