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29/10/2020

Leitura espiritual Outubro 29

 


Cartas de São Paulo

 

Carta aos Hebreus 5

 

1 Todo o Sumo Sacerdote tomado de entre os homens é constituído em favor dos homens, nas coisas respeitantes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2 Pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza; 3 por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos seus pecados, como pelos do povo. 4 E ninguém tome esta honra para si mesmo, mas somente quem é chamado por Deus, tal como Aarão. 5 Assim também Cristo não se atribuiu a glória de se tornar Sumo Sacerdote, mas concedeu-lha aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei. 6 E, como diz noutro passo: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. 7 Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. 8 Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu 9 e, tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, 10 tendo sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec.

 

III. SACERDÓCIO DE JESUS CRISTO

 

Normas de vida cristã –

11 Temos muitas coisas a dizer sobre isto e coisas difíceis de explicar por palavras, porque vos tornastes lentos para compreender. 12 Pois, vós, que há muito tempo devíeis ser mestres, precisais ainda de alguém que vos ensine os primeiros rudimentos das palavras de Deus e tornastes-vos necessitados de leite, em vez de comida sólida. 13 Ora, o que se alimenta de leite é incapaz de entender a doutrina da justiça, pois é uma criança. 14 A comida sólida, porém, é para os adultos, para os que têm já exercitadas, pela prática, as faculdades de distinguir o bem do mal.

 


Cristo que Passa

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A consideração da morte de Cristo traduz-se num convite a situarmo-nos, com absoluta sinceridade, perante o nosso trabalho ordinário, a tomarmos a sério a Fé que professamos.

A Semana Santa, portanto, não pode ser um parêntesis sagrado no contexto de um viver movido só por interesses humanos: tem de ser uma ocasião para penetrarmos na profundidade do Amor de Deus, para podermos assim, com a palavra e com as obras, mostrá-lo aos outros homens.

 

Mas o Senhor impõe condições.

Há uma declaração Sua, que São Lucas nos conserva, da qual não se pode prescindir: «Se alguém quer vir a Mim e não aborrece o pai e a mãe, a mulher e os filhos, os irmãos e as irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo». São palavras duras.

Decerto nem o odiar nem o aborrecer exprimem bem o pensamento original de Jesus.

De qualquer maneira, as palavras do Senhor foram fortes, pois não se reduzem a um amor menor, como por vezes se interpreta temperadamente, para suavizar a frase.

É tremenda essa expressão tão taxativa, não porque implique uma atitude negativa ou impiedosa, pois o Jesus que fala agora é O mesmo que manda amar os outros como a própria alma e entrega a Sua vida pelos homens: aquela locução indica simplesmente que perante Deus não cabem meias-tintas.

Poderiam traduzir-se as palavras de Cristo por amar mais, amar melhor, ou então por não amar com um amor egoísta, nem tão-pouco com um amor de vistas curtas: devemos amar com o Amor de Deus. Disto é que se trata!

 

Reparemos na última das exigências de Jesus: et animam suam, a vida, a própria alma é o que o Senhor pede.

 

Se somos fátuos, se nos preocupamos apenas com a nossa comodidade pessoal, se centramos a existência dos outros e até o próprio mundo em nós mesmos, não temos o direito de nos chamarmos cristãos, de nos considerarmos discípulos de Cristo.

A entrega tem de se fazer com obras e com verdade, não apenas com a boca.

O amor a Deus convida-nos a levarmos a cruz a pulso, a sentir também sobre nós o peso da Humanidade inteira e a cumprirmos, nas circunstâncias próprias do estado e do trabalho de cada um, os desígnios, claros e amorosos ao mesmo tempo, da vontade do Pai. Na passagem que comentamos, Jesus prossegue: «Aquele que não carrega com a sua cruz para Me seguir também não pode ser meu discípulo».

 

Aceitemos sem medo a vontade de Deus, formulemos sem vacilações o propósito de edificar toda a nossa vida de acordo com aquilo que nos ensina e nos exige a nossa fé.

Estejamos seguros de que encontraremos luta, sofrimento e dor; mas, se possuirmos de verdade a Fé, nunca nos sentiremos infelizes: também com sofrimentos, e até mesmo com calúnias, seremos felizes, com uma felicidade que nos impelirá a amar os outros para os fazer participar da nossa alegria sobrenatural.

 

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O cristão perante a história humana

 

Ser cristão não é título de mera satisfação pessoal: tem nome - substância - de missão.

Já antes recordávamos que o Senhor convida todos os cristãos a serem sal e luz do mundo; fazendo-se eco desse mandato e com textos tomados do Antigo Testamento, São Pedro escreve umas palavras que definem muito claramente essa missão: “Sois linhagem escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo de conquista, para publicar as grandezas d'Aquele que nos arrancou das trevas para a luz admirável”.

 

Ser cristão não é algo de acidental; é uma realidade divina, que se insere nas entranhas da nossa vida, dando-nos uma visão clara e uma vontade decidida de actuarmos como Deus quer.

Aprende-se assim que a peregrinação do cristão no mundo tem de se converter num serviço contínuo, prestado de modos muito diversos segundo as circunstâncias pessoais, mas sempre por amor a Deus e ao próximo.

Ser cristão é actuar sem pensar nas pequenas metas do prestígio ou da ambição, nem em finalidades que podem parecer mais nobres, como a filantropia ou a compaixão perante as desgraças alheias; é correr para o termo último e radical do amor que Jesus Cristo manifestou morrendo por nós.

 

Verificam-se por vezes algumas atitudes que nascem de não se saber penetrar neste mistério de Jesus.

Por exemplo, a mentalidade daqueles que vêem o cristianismo como um conjunto de práticas ou actos de piedade, sem perceberem a sua relação com as situações da vida corrente, com a urgência de atender as necessidades dos outros e de se esforçar por remediar as injustiças.

 

Por mim, diria que quem tem essa mentalidade não compreendeu ainda o que significa o facto de o Filho de Deus ter encarnado, tomando corpo, alma e voz de homem, participando no nosso destino até ao ponto de experimentar a aniquilação suprema da morte.

Talvez por isso, algumas pessoas, sem querer, consideram Cristo como um estranho no ambiente dos homens.

 

Outros, pelo contrário, têm tendência para imaginar que, para poderem ser humanos, precisam de pôr em surdina alguns aspectos centrais do dogma cristão e actuam como se a vida de oração, a intimidade habitual com Deus, constituísse uma fuga das suas responsabilidades e um abandono do mundo.

Esquecem-se de que Jesus, precisamente, nos deu a conhecer até que extremos se deve ir no caminho do amor e do serviço.

Só se procurarmos compreender o arcano do amor de Deus, deste amor que chega até à morte, seremos capazes de nos entregar totalmente aos outros, sem nos deixarmos vencer pelas dificuldades ou pela indiferença.

 

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É a fé em Cristo, que morreu e ressuscitou, presente em todos e cada a um dos momentos da vida, que ilumina as nossas consciências, incitando-nos a participar com todas as forças nas vicissitudes e nos problemas da história humana.

Nessa história, que teve início com a criação do mundo e terminará com a consumação dos séculos, o cristão não é um apátrida: é um cidadão da cidade dos homens, com a alma cheia de desejo de Deus, cujo amor começa já a entrever nesta etapa temporal e no qual reconhece o fim a que estamos chamados todos os que vivemos na Terra.

 

Se o meu testemunho pessoal tem interesse, posso dizer que sempre entendi o meu trabalho de sacerdote e pastor de almas como uma tarefa dirigida a situar cada pessoa perante as exigências totais da sua vida, ajudando-a a descobrir aquilo que Deus em concreto lhe pede, sem pôr qualquer limitação à santa independência e à bendita responsabilidade individual que são características de uma consciência cristã.

Esse modo de agir e esse espírito baseiam-se no respeito pela transcendência da verdade revelada e no amor à liberdade da criatura humana.

Poderia acrescentar que se baseiam também na certeza da indeterminação da História, aberta a múltiplas possibilidades que Deus não quis limitar.

 

Seguir Cristo não significa refugiar-se no templo, encolhendo os ombros perante o desenvolvimento da sociedade, perante os acertos ou as aberrações dos homens e dos povos.

A fé cristã leva-nos, pelo contrário, a ver o mundo como criação do Senhor, a apreciar, portanto, tudo o que é nobre e belo, a reconhecer a dignidade de cada pessoa, feita à imagem de Deus, e a admirar esse dom especialíssimo da liberdade, que nos faz senhores dos nossos próprios actos e capazes, com a graça do Céu, de construir o nosso destino eterno.

 

Seria minimizar a Fé reduzi-la a uma ideologia terrena, arvorando um estandarte político-religioso para condenar, não se sabe em nome de que investidura divina, aqueles que não pensam do mesmo modo em problemas que são, pela sua própria natureza, susceptíveis de receber numerosas e diversas soluções.

 

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Convém que meditemos naquilo que nos revela a morte de Cristo, sem ficarmos nas formas exteriores ou em fases estereotipadas.

É necessário que nos metamos de verdade nas cenas que vivemos durante estes dias da Semana Santa: a dor de Jesus, as lágrimas de sua Mãe, a debandada dos discípulos, a fortaleza das santas mulheres, a audácia de José e Nicodemos, que pedem a Pilatos o corpo do Senhor.

 

Aproximemo-nos, em suma, de Jesus morto, dessa Cruz que se recorta sobre o cume do Gólgota.

Mas aproximemo-nos com sinceridade, sabendo encontrar o recolhimento interior que é sinal de maturidade cristã.

Os acontecimentos, divinos e humanos, da Paixão penetrarão desta forma na alma como palavra que Deus nos dirige para desvelar os segredos do nosso coração e revelar-nos aquilo que espera das nossas vidas.

 

Há já muitos anos, vi um quadro que se gravou profundamente no meu íntimo.

Representava a Cruz de Cristo e, junto ao madeiro, três anjos: um chorava desconsoladamente; outro tinha um cravo na mão, como para se convencer de que aquilo era verdade; o terceiro estava recolhido em oração.

Eis um programa sempre actual para cada um de nós: chorar, crer e orar.

 

Perante a Cruz, dor dos nossos pecados, dos pecados da Humanidade, que levaram Jesus à morte; fé, para penetrarmos nessa verdade sublime que ultrapassa todo o entendimento e para nos maravilharmos com o amor de Deus; oração, para que a vida e a morte de Cristo sejam o modelo e o estímulo da nossa vida e da nossa entrega. Só assim nos chamaremos vencedores!

Porque Cristo ressuscitado vencerá em nós, e a morte transformar-se-á em vida.

 

 

 

 

 

 

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