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22/10/2020

Festa Litúrgica

 


Como eu admirei - admiro - este homem! Tenho tantas saudades dele! Parecia-me que o mundo tinha ali, em Roma, um interlocutor privilegiado e, como um Pai autêntico, olhava por todos nós indicando-nos o caminho seguro para ir para Ti.

Desde o Céu continua, estou certo a pedir por todos os homens, já que todos são Teus filhos.

Eu dirijo-me a ele com confiança da sua intimidade - eterna -conTigo que o tiveste como Vigário insigne e que não deixarás de escutar e atender os seus pedidos.

Sabes bem, Senhor, que pedindo tanto e tão amiúde me esqueço, muitas vezes do dever de agradecer. Não é Senhor, por falta de gratidão, mas porque sou um pobre desgraçado que quer sempre mais e mais.

Não quero ser ingrato, por isso, hoje, peço a São João Paulo II que leve até Ti o meu agradecimento e gratidão mais profundos por tantas graças que me tens concedido e os inúmeros benefícios com que me tens cumulado. Ámen. Enxomil, 2008.01.27

 

São João Paulo II: Foste o exemplo vivo da dignidade do sofrimento humano, uma lição de amor para todo o mundo! Ensina-nos a considerar o sofrimento como um caminho de santificação, nosso e dos outros. Ensina-nos a aceitar o sofrimento como uma dádiva de Deus àqueles que mais quer e de quem mais espera retribuição.

Ajuda-nos a levar a cruz do sofrimento com a alegria, a determinação e o amor com que tu mesmo o fizeste até ao último dos teus dias na terra. Ámen.  2007.03.07


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                                     São João Paulo II, Magno (1978 - 2005)

 


Leitura espiritual Outubro 22

 



Cartas de São Paulo

 

2.ª Timóteo 2

 

Dedicação e sofrimento no ministério –

1 Tu, pois, meu filho, sê forte na graça de Cristo Jesus. 2 Quanto de mim ouviste, na presença de muitas testemunhas, transmite-o a pessoas de confiança, que sejam capazes de o ensinar também a outros. 3 Compartilha as dificuldades, como bom soldado de Cristo Jesus. 4 Nenhum soldado em campanha se deixa enredar pelos afazeres da vida, se quer agradar àquele que o alistou. 5 E também aquele que participa numa competição não recebe o prémio, se não competir segundo as regras. 6 O lavrador que se afadiga é o primeiro a receber os frutos. 7 Reflecte sobre o que te digo, pois o Senhor te dará a compreensão de tudo. 8 Tem sempre bem presente Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos e nascido da linhagem de David, segundo o meu evangelho, 9 pelo qual sofro mesmo estas cadeias, como se fosse um malfeitor. Mas a palavra de Deus não pode ser acorrentada. 10 Por isso, tudo suporto pelos eleitos, para que também eles alcancem a salvação em Cristo Jesus e a glória eterna. 11 É digna de fé esta palavra: Se com Ele morrermos, também com Ele viveremos. 12 Se nos mantivermos firmes, reinaremos com Ele. Se o negarmos, também Ele nos negará. 13 Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.

 

Verdadeiro e falso ensinamento 

14 Lembra-lhes estas coisas, advertindo seriamente em nome de Deus que não se envolvam em litígios de palavras. Isso não serve para nada e leva à ruína dos ouvintes. 15 Esforça-te por te apresentares diante de Deus como trabalhador digno e irrepreensível, interpretando rectamente a palavra da verdade. 16 Evita as vãs conversas profanas, pois só fazem prosperar a impiedade; 17 e as palavras dessa gente proliferam como gangrena. Entre esses encontram-se Himeneu e Fileto, 18 os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já se deu e perverteram a fé de alguns. 19 Apesar de tudo, o sólido fundamento posto por Deus permanece firme e tem esta marca: O Senhor conhece os que são seus; e afaste-se da maldade todo o que invoca o nome do Senhor. 20 Numa casa grande não existem somente vasos de ouro e prata, mas também há os que são de madeira e de barro. Uns servem para usos nobres e outros para uso ordinário. 21 Se alguém, pois, se purifica destas coisas, será um vaso de nobre préstimo, consagrado, útil ao seu dono e apropriado para toda a obra boa. 22 Foge das paixões juvenis. Procura a justiça, a fé, o amor e a paz com todos os que invocam o Senhor de coração puro. 23 Abstém-te de discussões estúpidas e néscias, pois sabes que só levam a conflitos 24 e aquele que está ao serviço do Senhor não deve ser conflituoso, mas tem de ser amável para com todos, ter uma boa pedagogia, ser tolerante, 25 saber corrigir os adversários com suavidade, na esperança que Deus lhes conceda o arrependimento em ordem ao reconhecimento da verdade 26 e escapem ao laço do diabo, que os mantém cativos e sujeitos à sua vontade.

 

 


Cristo que passa

 

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É difícil fazer compreender a essas pessoas, em quem a deformação se torna quase uma segunda natureza, que é mais humano e mais verídico pensar bem dos outros.

Santo Agostinho dá o seguinte conselho: “procurai viver as virtudes que, segundo julgais, faltam aos vossos irmãos e já não vereis os seus defeitos, porque não os tereis vós”. Para alguns, este modo de proceder é uma ingenuidade. Eles são mais realistas, mais razoáveis.

 

Erigindo como norma de critério o preconceito, ofenderão qualquer pessoa sem ouvir razões.

Depois, objectivamente, bondosamente, talvez concedam ao injuriado a possibilidade de se defender.

Ora isto vai contra todo o direito e toda a moral, porque em lugar de serem eles a produzir a prova da pretensa falta, concedem ao inocente o privilégio de demonstrar a sua inocência.

 

Não seria sincero se não vos confessasse que as anteriores considerações são algo mais do que um simples respigar de tratados de direito e de moral.

Fundamentam-se numa experiência que têm sentido muitos na sua própria carne, por terem sido, com frequência e durante longos anos, o alvo de exercícios de tiro da murmuração, da difamação, da calúnia.

A graça de Deus e um feitio nada rancoroso fizeram com que nada disso tenha deixado neles o menor rasto de amargura.

Mihi pro minimo est, ut a vobis iudicer”, pouco me importa ser julgado por vós, poderiam dizer com São Paulo.

Às vezes, empregando palavras mais correntes, terão acrescentado que tudo lhes saiu sempre por uma frioleira.

Essa é a verdade.

 

Por outro lado, contudo, não posso negar que a mim me causa tristeza a alma daquele que ataca injustamente a honra alheia, porque o agressor injusto arruina-se a si mesmo.

E sofro também por tantos que, diante das acusações arbitrárias e desaforadas, não sabem onde pôr os olhos, ficando aterrados, não as crendo possíveis e pensando se não será tudo um pesadelo.

 

Há alguns dias líamos na Epístola da Santa Missa o relato de Susana, aquela mulher casta, falsamente incriminada de desonestidade por dois velhos corruptos.

Susana gemeu e disse: “De todas as partes me vejo cercada de angústias; porque, se eu fizer o que vós desejais, incorro na morte, e, se não o fizer, não escaparei das vossas, mãos.”

Quantas e quantas vezes a insídia dos invejosos ou dos intriguistas não coloca muitas pessoas honestas na mesma situação!

Oferece-se-lhes esta alternativa: ofender o Senhor ou ver denegrida a sua honra.

A única solução nobre e digna é, ao mesmo tempo, extremamente dolorosa e têm de resolver: melhor é para mim cair entre as vossas mãos sem cometer o mal, do que pecar na presença do Senhor.

 

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Direito à intimidade

 

Voltemos à cena da cura do cego.

Jesus Cristo replicou aos seus discípulos que aquela desgraça não era consequência do pecado, mas uma ocasião para que se manifestasse o poder de Deus.

E, com maravilhosa simplicidade, decide que o cego veja.

 

Começa então, a par da felicidade, o tormento daquele homem. Não o deixarão em paz.

Primeiro são os vizinhos e os que antes o tinham visto a pedir esmola.

O Evangelho não nos diz que se tivessem alegrado, mas que não acreditavam nele, apesar de o cego insistir que esse, que dantes não via e depois já via, era ele mesmo.

Em vez de o deixarem gozar serenamente aquela graça, levam-no aos fariseus, que lhe perguntam de novo como foi.

E ele responde, pela segunda vez: «pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me e vejo».

 

A partir de então, os fariseus querem demonstrar que aquilo que aconteceu, uma boa coisa e um grande milagre, não aconteceu. Alguns deles recorrem a raciocínios mesquinhos, hipócritas, muito pouco equânimes: curou num sábado e, como trabalhar ao sábado está proibido, negam o prodígio.

Outros começam o que hoje se chamaria um inquérito.

Vão ter com os pais do cego: «este o vosso filho, que vós dizeis que nasceu cego? Como vê, pois, agora?»

O medo aos poderosos leva a que os pais respondam com uma frase que reúne todas as garantias do método científico: «sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como ele agora vê e também não sabemos quem lhe abriu os olhos; perguntai-o a ele mesmo; tem idade, ele mesmo fale de si».

 

Os que fazem o inquérito não podem crer, porque não querem crer. Tornaram, pois, a chamar o homem que tinha sido cego e disseram-lhe: ... «nós sabemos que esse homem» - Jesus Cristo - «é um pecador».

 

Com poucas palavras, o relato de São João exemplifica aqui um modelo de atentado tremendo contra o direito básico, que por natureza a todos corresponde, de ser tratado com respeito.

 

O tema continua a ser actual.

Não daria muito trabalho a assinalar, nesta época, casos dessa curiosidade agressiva que conduz a indagar morbidamente a vida privada dos outros.

Um mínimo sentido de justiça exige que, mesmo na investigação de um suposto delito, se proceda com cautela e moderação, sem tomar por certo o que apenas é uma possibilidade.

Compreende-se perfeitamente que a curiosidade malsã por desventrar aquilo que não só não é um delito, como até é possível tratar-se de uma acção honrosa, deva qualificar-se como uma perversão.

 

Perante os negociadores da suspeita, que dão a impressão de organizar um tráfico de intimidade, é preciso defender a dignidade de cada pessoa, o seu direito ao silêncio.

Nesta defesa costumam coincidir todos os homens honrados, sejam ou não cristãos, porque se ventila um valor comum: a legítima decisão de uma pessoa ser ela mesma, de não se exibir, de conservar em justa e íntima reserva as suas alegrias, as suas penas e dores de família e, sobretudo, de fazer o bem sem espectáculo, de ajudar os necessitados por puro amor, sem obrigação de publicar essas tarefas ao serviço dos outros e, muito menos, de pôr a descoberto a intimidade da sua alma diante dos olhares indiscretos e pouco rectos de pessoas que nada sabem nem desejam saber da vida interior, a não ser para troçar impiamente.

 

Mas como é difícil ver-se livre dessa agressividade intrometida!

Os métodos para não deixar um homem tranquilo têm-se multiplicado.

 Refiro-me aos meios técnicos e também a sistemas de argumentação geralmente aceites, contra os quais é difícil lutar, se se deseja conservar a reputação.

Parte-se, assim, muitas vezes da ideia de que toda a gente procede mal. Por isso, com esta forma de pensar errada, torna-se inevitável o meaculpismo, a autocrítica.

Se uma pessoa não lança sobre si uma tonelada de lama, deduzem que, além de incurável, é hipócrita e arrogante.

 

Noutras ocasiões age-se de modo diferente.

Quem fala ou escreve, caluniando, está disposto a admitir que eu sou um indivíduo integro, mas que outros talvez não tenham a mesma opinião, pelo que podem publicar que sou um ladrão.

Ou melhor: O Senhor afirmou sempre que a sua conduta é limpa, nobre, recta.

Aborrecer-Se-ia de considerá-la de novo, para comprovar se - pelo contrário - essa sua conduta não será porventura suja, desleal e retorcida?

 

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Não são exemplos imaginários.

Estou persuadido de que qualquer pessoa, ou qualquer instituição com um pouco de renome poderia aumentar a casuística.

Criou-se em alguns sectores a falsa mentalidade de que o público, o povo, ou como queiram chamá-lo, tem o direito de conhecer e interpretar os pormenores mais íntimos da existência dos outros.

 

Permiti-me algumas palavras sobre algo que está bem unido à minha alma.

Desde há mais de trinta anos que digo e escrevo de muitas maneiras que o Opus Dei não tem qualquer finalidade temporal ou política. Pretende única e exclusivamente difundir, entre pessoas de todas as raças, de todas as condições sociais, de todos os países, o conhecimento e a prática da doutrina salvadora de Cristo e contribuir para que haja mais amor de Deus na terra e, portanto, mais paz, mais justiça entre os homens, filhos de um único Pai.

 

Muitos milhares de pessoas - milhões -, em todo o mundo, entenderam.

Outros, ou melhor, um número muito reduzido, pelos motivos que se quiser, parece que não.

Se o meu coração está mais perto dos primeiros, honro e amo também os outros, porque em todos é estimável e respeitável a sua dignidade e todos estão chamados à glória de filhos de Deus.

 

Mas nunca falta uma minoria sectária que, não compreendendo o que eu e tantos outros amamos, gostaria que lho explicássemos de acordo com a sua mentalidade, exclusivamente política, de interesses e de pressões de grupo.

Se não recebem uma explicação assim, errada e amanhada ao seu gosto, continuam a pensar que há mentira, verdades ocultas, planos sinistros.

 

Deixai que vos diga que, nesses casos, nem me entristeço nem me preocupo.

Acrescentaria até que me divirto se se pudesse passar por alto que cometem uma ofensa ao próximo e um pecado que clama a Deus. Sou aragonês e, mesmo pelo que há de humano no meu carácter, amo a sinceridade.

Sinto uma repulsa instintiva por tudo o que signifique dissimulação. Sempre procurei responder com a verdade, sem prepotência, sem orgulho, ainda que os que caluniavam fossem mal-educados, arrogantes, hostis, sem o menor sinal de humanidade.

 

Veio-me com frequência à cabeça a resposta do cego de nascimento aos fariseus que perguntavam pela centésima vez como tinha sucedido o milagre: «Eu já vo-lo e vós já o ouvistes; porque o quereis ouvir novamente? Quereis, porventura, fazer-vos também seus discípulos?»

 

 

 

Reflexão

 


Filho Pródigo

 

No nosso comentário podemos procurar fazer valer certos elementos não expostos directamente na parábola. Podemos, por exemplo, supor que o pai tenha tomado conhecimento do que se passava com o filho mais novo pelos seus servidores, sabendo assim que ele quase morria à fome, que estava sem abrigo e que andava completamente perdido. Suponhamos que, querendo poupar o filho de tal sorte e de tal humilhação, o pai tenha deci­dido enviar um seu servidor, às claras ou em segredo, com uma bolsa de dinheiro, o que lhe permitiria levar uma vida normal, ou ainda o regresso à vida desregrada.

Seria este tipo de ajuda que o pai poderia proporcionar repetidas vezes, capaz de provocar o regresso do filho?

Tudo parece indicar que não.

Quer isto dizer que, ao amar o filho, o pai não deveria protegê-lo das consequências do mal que o próprio filho desencadeara. Pelo contrário, o seu coração paternal devia arcar com o sofrimento infli­gido pelo filho.

 

(Tadeus Dajczer, Meditações sobre a Fé, Paulus, 4ª Ed., pg. 86)

 

No Evangelho, como um personagem mais

                                           

Oxalá fossem tais as tuas atitudes e as tuas palavras, que todos pudessem dizer quando te vissem ou ouvissem falar: "Este lê a vida de Jesus Cristo". (Caminho, 2).

 

Ao abrires o Santo Evangelho pensa que não só tens de saber o que ali se narra – obras e ditos de Cristo mas também tens de vivê-lo. Tudo, cada ponto relatado, se recolheu, pormenor a pormenor, para que o encarnes nas circunstâncias concretas da tua existência. Nosso Senhor chamou os católicos para O seguirem de perto e, nesse Texto Santo, encontras a Vida de Jesus; mas, além disso, deves encontrar a tua própria vida. Aprenderás a perguntar tu também, como o Apóstolo, cheio de amor: "Senhor, que queres que eu faça?"... A Vontade de Deus! ouvirás na tua alma de modo terminante. Então, pega no Evangelho diariamente, e lê-o e vive-o como norma concreta. Assim procederam os santos. (Forja, 754)

 

Para vos aproximardes do Senhor através das páginas do Santo Evangelho, recomendo sempre que vos esforceis por participar em cada cena como um personagem mais. Assim conheço tantas almas normais e correntes que o fazem! recolher-vos-eis como Maria, suspensa das palavras de Jesus, ou, como Marta, atrever-vos-eis a manifestar-Lhe sinceramente as vossas inquietações, mesmo as mais pequenas. (Amigos de Deus, 222)


Pequena agenda do cristão

 


Quinta-Feira

Pequena agenda do cristão

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Oração pelos sacerdotes

                                      



Meu Senhor Jesus Cristo:

Dai à Vossa Igreja Sacerdotes Santos que se entreguem ao serviço exclusivo da Igreja e das almas, ao anúncio fiel da palavra de Deus, à administração dos Sacramentos, em especial da Eucaristia e da Penitência, obedientes ao Magistério da Igreja e observando amorosamente a Sagrada Liturgia, para exemplo e guia seguro do Povo de Deus.

(AMA, 2009)




Com autorização eclesiástica

Outubro - Mês do Rosário




MISTÉRIOS DO EVANGELHO [i]


Primeiro Mistério 


Seguir Jesus

Mas… sigo Jesus como?
Parece que a resposta está latente no meu coração.
Sigo-O cada vez que me lembro dEle, o que acontece amiúde durante o dia.

Exagero?
Não!
Mas penso - e desejo ardentemente - que seja permanente, visceral, com todo o empenho e entrega de o meu coração todo inteiro. Sei muito bem que tal só é possível com amor. Mas Tu, meu Deus, não sabes que Te amo? Então... aumenta o meu AMOR POR TI que eu, não consigo, mas Tu podes TUDO! (AMA, reflexões, 2019)
Segue-me!
Estava ali, sentado naquela cadeira de café. Não é meu hábito mas, naquela tarde, estava um pouco cansado de uma caminhada pelas ruas da cidade e apeteceu-me descansar um pouco. Ouvi distintamente alguém que dizia: - Tu segue-me! Que estranho! Uma frase que eu conheço perfeitamente e sobre a qual medito bastante: Refiro-me ao “chamamento típico” de Jesus Cristo que os Evangelistas referem por várias vezes. Fez-me confusão, confesso. Estarei a ouvir “coisas”? Estou tontinho? Olhei em volta e as sete ou oito pessoas que estavam por ali sentadas continuavam a conversar normalmente. Enfim… gente comum, uns três ou quatro homens, duas senhoras e três jovens “agarrados” aos telemóveis. Pois… não podia ser… Mas, de facto, tornei a ouvir talvez com um acento de insistência: - Tu segue-me! Bom… desta vez a coisa pareceu-me séria e tive de fazer um esforço para não me levantar imediatamente persignando-me. Mas, sou teimoso, muito teimoso, e nada dado nem a “visões” nem a “audições” estranhas como vindas “do Além”. Por isso resolvi “entrar no jogo” e perguntei em silêncio: - Senhor… estás a falar comigo? E ouvi: - Claro que estou a falar contigo. Vem e segue-me! Fiquei estarrecido! O Senhor estava a falar comigo, sentado a uma mesa de café, numa rua qualquer da cidade onde vivo. O esforço agora, para me comportar sem dar nas vistas, era tentar reter a torrente lágrimas que sentia impetuosa a vir-me aos olhos. Deixei de ouvir os ruídos das conversas à minha volta, do bulício normal de uma rua de cidade, dos automóveis, nada. Como se uma espécie de “bolha” invisível me tivesse encerrado isolando-me do mundo exterior. Pensei: ‘O que faço agora?’ Ali perto há uma Igreja aberta ao público. Quase como um “zombie” levantei-me e fui até lá. O Templo estava deserto pelo que me senti muito à vontade e comecei num monólogo íntimo, mas aceso e confiante: ‘Pronto, Senhor, não sabia onde ir, ou antes, onde querias que fosse para seguir-Te, por isso, vim aqui. Desculpa a minha ousadia e a minha pouca fé mas, se há mais alguma coisa…’ E não acabei porque Ele, - tive então a certeza absoluta que era Ele – disse-me: ‘Fizeste exactamente o que Eu queria.  Sabes: estou aqui neste Sacrário e há mais de quatro horas e não aparece ninguém para Me fazer um pouco de companhia, ou, sequer, para Me cumprimentar! Que bom! Agora estás aqui e podemos passar uns bons momentos juntos’, Para mim já não havia quaisquer “barreiras” ou impedimentos de falsa vergonha e por isso comecei a falar como se de repente tivesse aberto as portas do meu coração, da minha alma, e deixasse vir cá para fora quanto guardava cioso da minha Fé e do meu Amor. Sentia-me tão contente e feliz por ter merecido – sem merecimento – o convite do Senhor que nem sei quanto tempo ali estive, nem o que Lhe disse ou contei. Nunca me interrompeu e eu fui falando, falando ininterruptamente até que uma senhora com alguma idade entrou na Igreja. Nessa altura disse-me: ‘Pronto! Gostei do nosso convívio, podes ir-te embora. Ah! E obrigado por Me teres seguido!’.

O convite de Jesus Cristo a segui-Lo é muito simples e pragmático.
«Segue-Me!»
Posso imaginar o tom, a inflexão das Suas palavras: Não são “imperiosas” nem “formais”. São simples e concretas e não admitem interpretações. O tom é normal e corrente. É, de facto um convite mas, parece uma ordem. Dirige-se sempre a alguém especialmente e não é nem multitudinário nem abrangente. Realmente as pessoas - multidões, lê-se nos Evangelhos - acompanham Jesus mas tal não quer dizer que O sigam. Seguir alguém é acompanhar – permanentemente – essa pessoa, escutando o que diz, vendo o que faz e como faz, no fim e ao cabo ter essa pessoa como guia e mestre. Não consta nos Evangelhos que alguém não tenha aceitado o convite a não ser, mas, neste caso, o jovem que desejava ser perfeito e, Jesus, ofereceu-lhe a solução e foi esta que o jovem não quis aceitar. (Cfr. Mc 10, 17-22) O Senhor escolhe quem muito bem entende e fá-lo – sempre – com a esperança que a pessoa que convida aceite e, com segui-Lo, deseje imitá-Lo e alcance a Salvação Eterna. Talvez que o caso mais paradigmático que consta nos Evangelhos (A escolha é minha) seja o convite endereçado a Mateus. (Cfr. Mt 9, 9) Jesus passa pelo seu lugar de trabalho: sentado no telónio de cobrador de impostos. Olha-o nos olhos e diz as “famosas palavras”: «Segue-me».
A resposta foi pronta e imediata: Mateus levantou-se e seguiu Jesus. A decisão de Mateus de seguir Jesus sugere-me algumas “lições”.
Uma primeira “lição”: Não pode adiar-se para um momento qualquer num futuro sempre incerto, ou é – como disse – pronta e imediata ou corre-se o risco de nunca acontecer.

Uma segunda “lição”: Não põe condições ou levanta obstáculos, impedimentos. (Mateus, por exemplo, poderia demorar um pouco para terminar o que estava a fazer.)

Uma terceira “lição”: A exigência do desprendimento pessoal seja o que for: importante ou de escasso valor, necessário ou não, com a confiada certeza que o Senhor providenciará o que se mostrar útil.
(Foi este desprendimento que faltou ao “Jovem Rico”) (Cfr. Mc 10, 17-22)

Uma quarta “lição”: As “consequências” de seguir Jesus são inimagináveis!
Por exemplo, Mateus tornou-se um dos Doze Apóstolos e foi autor de um dos Evangelhos.

(AMA, 2019)


Nota:
Desde o séc. II, o Evangelho de Mateus foi considerado como o “Evangelho da Igreja”, em virtude das tradições que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo, que o tornavam privilegiado na catequese e na liturgia. O Reino proclamado por Jesus como juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já actuante no mundo. Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro Israel” onde o discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão ética e penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação. Não identificando a Igreja com o Reino do Céu, Mateus continua hoje a recordar-lhe o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória, na perspectiva do Reino de Deus.



[i] Escolhi este título para uma série de reflexões sobre os mistérios contidos no Evangelho. Se por “mistério” consideramos algo que não entendemos inteiramente ou não compreendemos com meridiana clareza, então julgo que o Evangelho contém muitas atitudes, palavras, gestos de Jesus Cristo cujo verdadeiro significado e “alcance” nos escapa.