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LEITURA ESPIRITUAL


ACTOS DOS APÓSTOLOS 

II. EXPANSÃO DA IGREJA FORA DE JERUSALÉM

7 Discurso de Estêvão –
1 Depois, o Sumo Sacerdote perguntou-lhe: «Isso é verdade?» 2 Ele respondeu: «Irmãos e pais, escutai! O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, quando ele estava na Mesopotâmia, antes de se ter estabelecido em Haran, 3 e disse-lhe: 'Deixa a tua terra e a tua parentela e vai para a terra que te hei-de mostrar.' 4 Abandonou, então, o país dos caldeus, e foi estabelecer-se em Haran. Daí, após a morte do pai, Deus fê-lo emigrar para esta terra que habitais agora. 5 Não lhe deu aí propriedade alguma, nem mesmo um palmo de terra, mas prometeu-lhe a posse dela, a ele e, depois, à sua descendência, embora não tivesse sequer um filho. 6 E Deus afirmou-lhe que a sua descendência habitaria em terra estranha, que a reduziriam à escravidão e que seria maltratada, durante quatrocentos anos. 7 'Mas o povo de quem forem escravos, hei-de Eu julgá-lo, disse Deus. Depois disso, hão-de sair e prestar-me culto neste lugar.' 8 Em seguida, deu-lhe a aliança da circuncisão. Foi assim que Abraão gerou Isaac e o circuncidou, ao oitavo dia. E Isaac fez o mesmo a Jacob, e Jacob aos doze patriarcas. 9 Os patriarcas, invejosos de José, venderam-no, a fim de ser levado para o Egipto. Mas Deus estava com ele: 10 livrou-o de todas as provas e deu-lhe graça e sabedoria diante do faraó, rei do Egipto, que o nomeou governador desse país e de toda a sua casa. 11 Veio depois a fome sobre todo o Egipto e sobre Canaã. A angústia era grande e os nossos pais não encontravam nada para comer. 12 Ouvindo dizer que no Egipto havia trigo, Jacob mandou lá os nossos pais, uma primeira vez. 13 À segunda vez, José deu-se a conhecer a seus irmãos e sua origem foi revelada ao Faraó. 14 José mandou então buscar seu pai Jacob e toda a sua parentela, composta de setenta e cinco pessoas. 15 Jacob desceu ao Egipto e lá morreu, assim como os nossos pais. 16 Os seus corpos foram trasladados para Siquém e depositados no sepulcro que Abraão adquirira, por uma importância em prata, aos filhos de Emor, em Siquém. 17 Enquanto se aproximava o tempo em que deveria realizar-se a promessa feita por Deus a Abraão, o povo cresceu e multiplicou-se no Egipto, 18 até que subiu ao trono do Egipto um novo rei, que não tinha conhecimento de José. 19 Usando de astúcia para com a nossa raça, esse rei perseguiu os nossos pais, até ao ponto de os fazer expor os recém-nascidos, para os privar da vida. 20 Nessa altura nasceu Moisés, que era agradável aos olhos de Deus. Foi criado durante três meses em casa de seu pai. 21Depois, tendo sido exposto, a filha do Faraó recolheu-o e criou-o como seu próprio filho. 22 Moisés foi iniciado em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras. 23Quando completou os quarenta anos, veio-lhe ao espírito a ideia de visitar seus irmãos, os filhos de Israel. 24 Ao ver um deles maltratado, tomou a sua defesa e vingou o oprimido, matando o egípcio. 25 Pensava que os seus irmãos compreenderiam ser Deus quem, por sua mão, lhes trazia a liberdade, mas não o compreenderam. 26 No dia seguinte, apareceu a dois deles que lutavam, e pretendeu reconciliá-los, dizendo: 'Sendo irmãos, porque vos agredis um ao outro?' 27 Então, aquele que agredia o companheiro repeliu-o, dizendo: 'Quem te nomeou nosso chefe e nosso juiz. 28 Queres matar-me como ontem mataste o egípcio?' 29 A essas palavras, Moisés fugiu e foi residir, como estrangeiro, para a terra de Madian, onde teve dois filhos. 30 Ao fim de quarenta anos, apareceu-lhe um Anjo no deserto do monte Sinai, na chama de uma sarça ardente. 31 Perante essa aparição, Moisés ficou estupefacto e, aproximando-se para observar melhor, fez-se ouvir a voz do Senhor: 32 'Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob.' A tremer, Moisés não ousava erguer os olhos. 33 Então, o Senhor disse-lhe: 'Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa. 34 Eu vi a angústia do meu povo no Egipto, ouvi os seus gemidos e desci para o libertar. E, agora, vem cá, pois vou mandar-te ao Egipto.' 35 Este Moisés, que eles renegaram, dizendo: 'Quem te nomeou chefe e juiz', é este que foi enviado por Deus como chefe e libertador pela mão do anjo que lhe apareceu na sarça. 36 Foi ele que os fez sair do Egipto, realizando prodígios e milagres na terra do Egipto, no Mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos. 37 Foi ele, Moisés, quem disse aos filhos de Israel: 'Deus fará surgir um profeta como eu, entre os vossos irmãos.' 38 Foi ele que, durante a assembleia no deserto, esteve entre o Anjo, que lhe falava no monte Sinai, e os nossos pais; foi ele que recebeu as palavras de vida, para no-las transmitir. 39 Foi a ele que os nossos pais se recusaram a obedecer, antes o repeliram, voltando em seus corações ao Egipto 40 e dizendo a Aarão: 'Faz-nos deuses que marchem à nossa frente, pois desse Moisés que nos fez sair do Egipto, não sabemos o que foi feito dele.' 41 E, nesses dias, construíram um bezerro, ofereceram um sacrifício ao ídolo e festejaram alegremente a obra das suas próprias mãos. 42 Deus, então, afastou-se deles e entregou-os ao culto do exército celeste, como está escrito no Livro dos Profetas: 'Oferecestes-me, porventura, vítimas e sacrifícios durante quarenta anos, no deserto, ó Casa de Israel? 43 Vós transportastes a tenda de Moloc e a estrela do deus Refan, imagens que fizestes para as adorar! Por isso, exilar-vos-ei para além da Babilónia.' 44 Os nossos pais tinham no deserto a tenda do testemunho, como ordenara aquele que disse a Moisés que a construísse de harmonia com o modelo por ele visto. 45 Foi precisamente essa tenda que os nossos pais receberam e introduziram, sob o comando de Josué, no território conquistado aos povos que Deus expulsou na sua frente, e assim se manteve até aos dias de David. 46 Este achou graça diante de Deus e pediu para edificar uma habitação ao Deus de Jacob. 47 Foi, porém, Salomão quem lhe construiu uma casa. 48 Mas o Altíssimo não habita em casas erguidas pela mão do homem, como diz o profeta: 49 'O Céu é o meu trono e a Terra, estrado dos meus pés. Que casa me haveis de construir, diz o Senhor, e qual será o lugar do meu repouso? 50 Não foi a minha mão que fez todas as coisas?' 51 Homens de cerviz dura, incircuncisos de coração e de ouvidos, sempre vos opondes ao Espírito Santo; como foram os vossos pais, assim sois vós também. 52 Qual foi o profeta que os vossos pais não tenham perseguido? Mataram os que predisseram a vinda do Justo, a quem traístes e assassinastes, 53 vós, que recebestes a Lei pelo ministério dos anjos, mas não a guardastes!»

Martírio de Estêvão –
54 Ao ouvirem tais palavras, encheram-se intimamente de raiva e rangeram os dentes contra Estêvão. 55 Mas este, cheio do Espírito Santo e de olhos fixos no Céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé, à direita de Deus. 56 «Olhai, disse ele, eu vejo o Céu aberto e o Filho do Homem de pé, à direita de Deus.» 57 Eles, então, soltaram um grande grito e taparam os ouvidos; depois, à uma, atiraram-se a ele 58 e, arrastando-o para fora da cidade, começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram as capas aos pés de um jovem chamado Saulo. 59 E, enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito.» 60 Depois, posto de joelhos, bradou com voz forte: «Senhor, não lhes atribuas este pecado.» Dito isto, adormeceu.


"Christus vivit": Exortação Apostólica aos Jovens

Capítulo I

O QUE A PALAVRA DE DEUS DIZ SOBRE OS JOVENS?
No Novo Testamento
12. Conta uma parábola de Jesus (cf. Lc 15, 11-33) que o filho «mais jovem» quis partir da casa paterna para um país distante (cf. 15, 12-13).
Mas, os seus sonhos de autonomia transformaram-se em libertinagem e devassidão (cf. 15, 13), e provou a dureza da solidão e da pobreza (cf. 15, 14-16). Todavia, foi capaz de reconsiderar e começar de novo (cf. 15, 17-19): decidiu levantar-se (cf. 15, 20).
É típico do coração jovem estar disposto a mudar, ser capaz de levantar-se e deixar-se instruir pela vida.
Como não acompanhar o filho nesta nova tentativa?
Mas o irmão mais velho já tinha o coração envelhecido e deixou-se possuir pela ganância, o egoísmo e a inveja (cf. 15, 28-30).
Jesus louva mais o jovem pecador que retoma o bom caminho do que aquele que se julga fiel, mas não vive o espírito do amor e da misericórdia.
13. Jesus, o eternamente jovem, quer dar-nos um coração sempre jovem. Assim no-lo pede a Palavra de Deus: «Purificai-vos do velho fermento, para serdes uma nova massa» (1 Cor 5, 7).
Ao mesmo tempo convida-nos a despojar-nos do «homem velho» para nos revestirmos do «homem novo» (Col 3, 9.10), do homem jovem[1].
E, quando quer explicar o que é revestir-se desta juventude que «não cessa de se renovar» (3, 10), diz que significa ter «sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro» (3, 12-13).
Isto significa que a verdadeira juventude é ter um coração capaz de amar. Pelo contrário, aquilo que envelhece a alma é tudo o que nos separa dos outros. Por isso mesmo conclui: «Acima de tudo isto, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição» (3, 14).
14. Notemos que Jesus não gostava que os adultos olhassem com desprezo para os mais jovens ou os mantivessem, despoticamente, ao seu serviço. Pelo contrário, pedia: «O que for maior entre vós seja como o menor» (Lc 22, 26).
Para Ele, a idade não estabelecia privilégios; e o facto de alguém ter menos anos não significava que valesse menos ou tivesse menor dignidade.
15. A Palavra de Deus diz que os jovens devem ser tratados «como irmãos» (1 Tm 5, 1), e recomenda aos pais: «Não irriteis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo» (Col 3, 21).
Um jovem não pode estar desanimado; é próprio dele sonhar coisas grandes, buscar horizontes amplos, ousar mais, ter vontade de conquistar o mundo, ser capaz de aceitar propostas desafiadoras e desejar contribuir com o melhor de si mesmo para construir algo superior. Por isso, insisto com os jovens para não deixarem que lhes roubem a esperança, repetindo a cada um: «Ninguém escarneça da tua juventude» (1 Tm 4, 12).
16. Ao mesmo tempo, porém, recomenda-se aos jovens: «Sede submissos aos anciãos» (1 Ped 5, 5).
A Bíblia convida sempre a um respeito profundo pelos idosos, porque abrigam um tesouro de experiência, experimentaram os êxitos e os fracassos, as alegrias e as grandes tribulações da vida, as esperanças e as desilusões, e, no silêncio do seu coração, guardam tantas histórias que nos podem ajudar a não errar nem enganar-nos com falsas miragens. A palavra dum idoso sábio convida a respeitar certos limites e a saber-se dominar a tempo: «Exorta igualmente os jovens a serem moderados» (Tit 2, 6).
Não é bom cair no culto da juventude, nem numa postura juvenil que despreze os outros pelos seus anos ou porque são de outro tempo. Jesus dizia que a pessoa sábia é capaz de tirar do seu tesouro coisas novas e velhas (cf. Mt 13, 52).
Um jovem sábio abre-se ao futuro, mas permanece capaz de valorizar algo da experiência dos outros.
17. No Evangelho de Marcos, aparece uma pessoa que, ao ouvir Jesus recordar-lhe os mandamentos, exclama: «Tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude» (10, 20). Já o dizia o Salmo: «Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus, e a minha confiança desde a juventude. (...) Instruíste-me, ó Deus, desde a minha juventude e até hoje anunciei sempre as tuas maravilhas» (71/70, 5.17).
Nunca nos arrependeremos de gastar a própria juventude a fazer o bem, abrindo o coração ao Senhor e vivendo contracorrente. De tudo isto, nada nos tira a juventude, antes fortalece-a e renova-a: «É [o Senhor] quem (…) te rejuvenesce como a águia» (Sal 103/102, 5).
Por isso, Santo Agostinho lamentava-se: «Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde Vos amei!»[2]
Mas aquele homem rico, que fora fiel a Deus na sua juventude, deixou que os anos lhe roubassem os sonhos, preferindo ficar agarrado aos seus bens (cf. Mc 10, 22).
18. Entretanto, na passagem paralela do Evangelho de Mateus, aparece um jovem (cf. Mt 19, 20.22) que se aproxima de Jesus desejoso de mais (cf. 19, 20), com aquele espírito aberto típico dos jovens, que busca novos horizontes e grandes desafios. Na realidade, o seu espírito já não era assim tão jovem, porque se apegara às riquezas e comodidades. Com a boca, dizia querer algo mais, mas, quando Jesus lhe pede para ser generoso e distribuir os seus bens, deu-se conta de que não era capaz de desprender-se do que possuía. «Ao ouvir isto, o jovem retirou-se contristado» (19, 22). Renunciara à sua juventude.
19. O Evangelho fala-nos também de algumas jovens prudentes que estavam prontas e vigilantes, enquanto outras viviam distraídas e adormentadas (cf. Mt 25, 1-13). Com efeito, é possível transcorrer a própria juventude distraído, planando à superfície da vida, dormindo, incapaz de cultivar relações profundas e entrar no coração da vida; deste modo, porém, prepara-se um futuro pobre, sem substância. Ou, pelo contrário, pode gastar-se a juventude cultivando coisas nobres e grandes e, assim, preparar um futuro cheio de vida e riqueza interior.
20. Se perdeste o vigor interior, os sonhos, o entusiasmo, a esperança e a generosidade, diante de ti está Jesus, como parou diante do filho morto da viúva, e o Senhor, com todo o seu poder de Ressuscitado, exorta-te: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» (Lc 7, 14).
21. Há, sem dúvida, muitos outros textos da Palavra de Deus que nos podem iluminar acerca desta fase da vida. Analisaremos alguns deles nos próximos capítulos.

Capítulo II
JESUS CRISTO SEMPRE JOVEM
22. Jesus é «jovem entre os jovens, para ser o exemplo dos jovens e consagrá-los ao Senhor»[3].
Por isso, o Sínodo disse que «a juventude é um período original e estimulante da vida, que o próprio Jesus viveu, santificando-a»[4].
Que nos refere o Evangelho sobre a juventude de Jesus?
A juventude de Jesus
23. O Senhor «entregou o seu espírito» (Mt 27, 50) numa cruz, quando tinha pouco mais de 30 anos de idade (cf. Lc 3, 23). É importante tomar consciência de que Jesus foi um jovem. Deu a sua vida numa fase que hoje se define como a dum jovem adulto. Em plena juventude, começou a sua missão pública e, assim, brilhou «uma grande luz» (Mt 4, 16), sobretudo quando levou até ao extremo o dom da sua vida. Este final não foi improvisado, mas teve uma preciosa preparação em toda a sua juventude, em cada um dos seus momentos, porque «tudo, na vida de Jesus, é sinal do seu mistério»[5] e «toda a vida de Cristo é mistério de redenção»[6].
24. O Evangelho não fala da meninice de Jesus, mas conta-nos alguns factos da sua adolescência e juventude. Mateus coloca este período da juventude do Senhor entre dois episódios: o regresso da sua família a Nazaré, depois do tempo de exílio, e o seu baptismo no Jordão, onde começou a sua missão pública. As últimas imagens de Jesus menino são a dum pequeno refugiado no Egipto (cf. Mt 2, 14-15) e, depois, a dum repatriado em Nazaré (cf. Mt 2, 19-23). As primeiras imagens de Jesus, jovem adulto, são as que no-Lo apresentam na multidão ao pé do rio Jordão, para ser baptizado pelo primo João Baptista, como qualquer um do seu povo (cf. Mt 3, 13-17).
25. Aquele baptismo não era como o nosso, que nos introduz na vida da graça, mas foi uma consagração antes de começar a grande missão da sua vida. O Evangelho diz que o seu baptismo foi motivo de júbilo e comprazimento do Pai: «Tu és o meu Filho muito amado» (Lc 3, 22). Imediatamente Jesus apareceu cheio do Espírito Santo e foi levado pelo Espírito ao deserto. Assim, estava pronto para ir pregar e fazer prodígios, libertar e curar (cf. Lc 4, 1-14). Cada jovem, quando se sente chamado a cumprir uma missão nesta terra, é convidado a reconhecer dentro de si as mesmas palavras que Deus Pai dissera a Jesus: «Tu és o meu filho muito amado».
26. No intervalo entre estes dois episódios, aparece um que mostra Jesus em plena adolescência: quando regressou para Nazaré com seus pais, depois que estes O perderam e reencontraram no Templo (cf. Lc 2, 41-51). Em Nazaré, diz o texto que Jesus «era-lhes submisso» (Lc 2, 51), pois não tinha rejeitado a sua família. Então Lucas acrescenta que «Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens» (2, 52). Por outras palavras, estava-Se preparando e, naquele período, ia aprofundando a sua relação com o Pai e com os outros. São João Paulo II explicou que não crescia apenas fisicamente, mas «houve em Jesus também um crescimento espiritual», porque «a plenitude de graça em Jesus era relativa à idade: havia sempre plenitude, mas uma plenitude crescente com o crescer da idade»[7].
27. Com base nestes dados evangélicos, podemos afirmar que Jesus, na sua fase juvenil, foi-Se «formando», foi-Se preparando para realizar o projecto que o Pai tinha. A sua adolescência e juventude orientaram-n'O para esta missão suprema.
28. Na adolescência e juventude, a sua relação com o Pai era a do Filho muito amado; atraído pelo Pai, crescia ocupando-Se das coisas d’Ele: «Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» (Lc 2, 49).
Mas não devemos pensar que Jesus fosse um adolescente solitário ou um jovem fechado em si mesmo. A sua relação com as pessoas era a dum jovem que compartilhava a vida inteira duma família bem integrada na aldeia. Aprendera o ofício do pai e, depois, substituiu-o como carpinteiro. Por isso no Evangelho, uma vez, é chamado «o filho do carpinteiro» (Mt 13, 55) e, outra, simplesmente «o carpinteiro» (Mc 6, 3).
Este detalhe mostra que era um rapaz da aldeia como os outros, relacionando-Se com toda a normalidade. Ninguém O considerava um jovem estranho ou separado dos outros. Por isso mesmo, quando Jesus começou a pregar, as pessoas não sabiam explicar donde Lhe vinha aquela sabedoria: «Não é este o filho de José?» (Lc 4, 22).
29. A verdade é que «Jesus também não cresceu numa relação fechada e exclusiva com Maria e José, mas de bom grado movia-Se na família alargada, onde encontrava os parentes e os amigos»[8].
Assim se compreende que, ao regressar da peregrinação a Jerusalém, os pais estivessem tranquilos pensando que aquele adolescente de doze anos (cf. Lc 2, 42) Se movia livremente entre as pessoas a ponto de não O verem durante um dia inteiro: «pensando que Ele Se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem» (Lc 2, 44).
Com certeza - supunham eles -, Jesus estaria lá indo e vindo entre os demais, brincando com os da sua idade, ouvindo as histórias dos adultos e compartilhando as alegrias e tristezas da caravana. Para expressar a «caravana» de peregrinos, Lucas usou o termo grego synodía, que indica precisamente esta «comunidade em caminho», na qual se integrou a sagrada Família. Graças à confiança que n’Ele depositam seus pais, Jesus move-Se livremente e aprende a caminhar com todos os outros.

Franciscus

(Revisão da versão portuguesa por AMA)
[1] O mesmo termo grego que significa «novo», é usado para dizer «jovem».
[2] Confissões, X, 27: PL 32, 795.
[3] Documento Final da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (27/X/2018), 60. A partir de agora, este documento será citado com a sigla DF. É possível consultá-lo no site Vaticano do Sínodo dos Bispos: http://www.vatican.va/
[4] Santo Ireneu, Contra as heresias, II, 22, 4: PG 7, 784.
[5] Catecismo da Igreja Católica, 515
[6] Ibid., 517.
[7] Catequese (Audiência Geral de 27 de Junho de 1990), 2.3: Insegnamenti13,1 (1990), 1680-1681.
[8] Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Amoris laetitia (19 de Março de 2016), 182: AAS 108 (2016), 384.


Filosofia e religião

Teologia do Sacrosanctum Concilium

Prólogo

A liturgia é uma realidade tão rica que deve ser contemplada de vários e diferentes pontos de vista, de fora e de dentro.
Uma abordagem só de fora não é suficiente, embora a liturgia seja essencialmente uma realidade acessível aos nossos sentidos.
Mas este é apenas um lado da medalha.
As palavras e os ritos, os gestos e os símbolos, tudo que fala aos nossos sentidos, expressa aquilo que é acessível aos olhos da fé: a acção divino-humana que se realiza quando celebramos o mistério de Cristo.
A teologia litúrgica é o estudo da liturgia em sua totalidade.
Através dela conhecemos sobretudo a natureza da liturgia que, por sua vez, tem também diversos aspectos e dimensões.

A nossa tarefa é estudar a teologia da liturgia da constituição do Concílio Vaticano II sobre a liturgia, a “Sacrosanctum Concilium”.
Também este documento conciliar contempla a liturgia na sua integridade e nas suas diferentes dimensões.
Basicamente faz isso logo no primeiro item da primeira parte do seu primeiro capítulo, nos artigos 5 a 8, aos quais o Compêndio do Vaticano II organizado por Boaventura Kloppenburg deu o titulo: “A natureza da liturgia”.
Podemos sem problema considerar estes artigos como a teologia litúrgica do Concílio Vaticano II.
Iremos deter-nos quase exclusivamente nestes artigos da SC, já por causa do limite de tempo que nos é dado, mas sobretudo porque aqui encontramos todo o essencial da compreensão teológica da liturgia da “Sacrosanctum Concilium”.

Realizaremos este estudo em duas grandes partes, seguindo a própria “Sacrosanctum Concilium”: “A liturgia como momento da história da salvação” e “a liturgia como exercício do sacerdócio de Jesus Cristo”.

Estarão integrados e serão acrescentados itens menores que também têm grande importância num estudo da teologia da liturgia, tanto para o documento conciliar quanto para nós.



(P. Gregório Lutz, CSSp)

Perguntas e respostas


O FIM DO MUNDO 3

Pergunto:

3. Como se sabe que acontecerão estas coisas?

Respondo:

Só Deus conhece quando e como acontecerá o fim do mundo. Nós sabemos o que o Senhor manifestou aos seus Apóstolos e figura na Bíblia.

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira

PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Orações sugeridas:

salmo ii

Regnum eius regnum sempiternum est et omnes reges servient et obedient. 
Quare fremerunt gentes et populi meditati sunt inania?
Astiterum reges terrae et principes convenerunt in unum adversus Dominum et adversus christum eius.
Dirumpamus vincula eorum et proiciamos a nobis iugum ipsorum.
Qui habitabit in caelis, irridebit eos, Dominus subsanabit eos.
Ego autem constitui regem meum super sion montem sanctum meum.
Praedicabo decretum eius Dominus dixit ad me: filius meus es tu; ego hodie genui te.
Postula a me, et dabo tibi gentes hereditatem tuam et possessionem tuam terminos terrae.
Reges eos in virga ferrea et tamquam vas figuli confringes eos.
Et nunc, reges, intelegite, erudimini, qui indicatis terram.
Servite Domino in timore et exultate ei cum tremore.
Apprehendite disciplinam ne quando irascatur et pereatis via, cum exarcerit in brevi ira eius.
Beati omnes qui confident in eo.
Gloria Patri...
Regnum eius regnum sempiternum est et omnes reges servient et obedient.
Oremus:
Omnipotens et sempiterne Deus qui in dilecto Filio Tuo universorum rege omnia instaurare voluisti concede propitius ut cunctae familiae gentium pecati vulnere disgregatae eius suavissimo subdantur imperio: Qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum.

Exame Pessoal

Sabes Senhor, qual é, talvez a minha maior fraqueza? É pensar em demasiado mim, nos meus problemas, nas minhas tristezas, naquilo que me acontece e no que gostaria me acontecesse. Nas voltas e reviravoltas que dou sobre mim mesmo, sobre a minha vida.
E os outros? Sim, os outros que rezam por mim, que se interessam por mim, que têm paciência para comigo, que me desculpam as minhas faltas e as minhas fraquezas, que estão sempre prontos a ouvir-me a atender-me, que não se importam de esperar que eu os compense pelo bem que me fazem, que não me pressionam para que pague o que me emprestam, que não me criticam nem julgam com a severidade que mereço.
Ajuda-me Senhor, a ser, pelo menos reconhecido e a devolver o bem que recebo e, além disso a não julgar, a não emitir opinião, critica ou conceito, vendo nos outros, a maior parte das vezes, os defeitos e fraquezas que eu próprio possuo.[i]

Senhor, ajuda-me a pensar nos outros em vez de estar aqui, mergulhado nos meus problemas, girando à volta de mim mesmo, concentrado apenas no que me diz respeito. Os outros! Todos os outros. Os que conheço, de quem sou amigo ou familiar e aqueles que me são desconhecidos. São Teus filhos como eu, logo, todos são meus irmãos. Se somos irmãos somos também herdeiros, convém, portanto que me preocupe com aqueles que vão partilhar a herança comigo.[ii]

Noverim me

Oh Deus que me conheces perfeitamente tal como sou, ajuda-me a conhecer-me a mim mesmo, para que possa combater com eficácia os enormes defeitos do meu carácter, em particular...
Chamaste-me, Senhor, pelo meu nome e eu aqui estou: com as minhas misérias, as minhas debilidades, com palavras maiores que os actos, intenções mais vastas que as obras e desejos que ultrapassam a vontade.
Porque não sou nada, não valho nada, não sei nada e não posso nada, entrego-me totalmente nas Tuas mãos para que, por intercessão de minha Mãe, Maria Santíssima, de São José, meu Pai e Senhor, do Anjo da Minha Guarda e de São Josemaria, possa adquirir um espírito de luta perseverante.[iii]
   
Meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo o que me afaste de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me aproxime de Ti
Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim mesmo, para que eu me dê todo a ti.
Eu sei que podeis tudo e que, para Vós, nenhum projecto é impossível.[iv]

Faz-me santo, meu Deus, ainda que seja à força.[v]

Nada te perturbe / nada te atemorize Tudo passa / Deus não muda A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem Nada falta / só Deus basta.[vi]



[i] AMA orações pessoais
[ii] AMA orações pessoais
[iii] AMA orações pessoais
[iv] AMA orações pessoais
[v] AMA orações pessoais
[vi] Santa Teresa de Jesus

O perigo é a rotina


"Nonne cor nostrum ardens erat in nobis, dum loqueretur in via?". – Não é verdade que sentíamos abrasar-se-nos o coração, quando nos falava caminho? Se és apóstolo, estas palavras dos discípulos de Emaús deviam sair espontaneamente dos lábios dos teus companheiros de profissão, depois de te encontrarem a ti no caminho da vida. (Caminho, 917)

Agrada-me falar de caminho, porque somos caminhantes, dirigimo-nos para a casa do Céu, para a nossa Pátria. Mas reparemos que um caminho, mesmo que um ou outro trecho apresente dificuldades especiais, mesmo que alguma vez nos obrigue a passar a vau um rio ou a atravessar um pequeno bosque quase impenetrável, habitualmente é simples, sem surpresas. O perigo é a rotina: supor que nisto, no que temos de fazer em cada instante, não está Deus, porque é tão simples, tão vulgar!
Iam os dois discípulos para Emaús. O seu caminhar era normal, como o de tantas outras pessoas que transitavam por aquelas paragens. E aí, com naturalidade, aparece-lhes Jesus e vai com eles, com uma conversa que diminui a fadiga. Imagino a cena: já bem adiantada a tarde. Sopra uma brisa suave. De um lado e de outro, campos semeados de trigo já crescido e as velhas oliveiras com os ramos prateados pela luz indecisa...
Jesus, no caminho! Senhor, que grande és Tu sempre! Mas comoves-me quando te rebaixas para nos acompanhares, para nos procurares na nossa lida diária. Senhor, concede-nos a ingenuidade de espírito, o olhar limpo, a mente clara, que permitem entender-Te, quando vens sem nenhum sinal externo da Tua glória.
Termina o trajecto ao chegar à aldeia e aqueles dois que – sem o saberem – tinham sido feridos no fundo do coração pela palavra e pelo amor do Deus feito homem, têm pena de que Ele se vá embora. Porque Jesus despede-se como quem vai para mais longe. Nosso Senhor nunca se impõe. Quer que O chamemos livremente, desde que entrevimos a pureza do Amor que nos meteu na alma. (Amigos de Deus, 313–314)

Temas para reflectir e meditar


Formação humana e cristã

Sobre a oração

Temos todos os cristãos esta necessidade de rezar, ou, por outras palavras, conversar com Deus Nosso Senhor.
Temos sempre algo a dizei, a pedir, a agradecer.

Presume-se que se trata de uma conversa pessoal, em confidência como com um amigo muito íntimo.

Na verdade, o que vamos agradecer a um amigo íntimo?

Penso que em primeiro lugar devemos agradecer a sua amizade que, de certo modo, "não o deixa ver" os nossos defeitos e debilidades.
Dá-nos sempre crédito e benefício da dúvida.
Não nos pressiona a fazer o que nos comprometemos.
Não exige a devolução do que nos emprestou.
Perdoa sem demora as nossas faltas de correspondência.
E... muito... muito mais!

A nossa oração mais corrente deve, pois, ser de repetidas - e sentidas - acções de graças.

Na verdade o que será mais fácil?
Dizer obrigado ou pedir o que seja?

O que pedimos deve ser o que verdadeiramente precisamos e, isso, Deus conhece e sabe. No entanto gosta de ser instado e o próprio Jesus recomendou perseverança na petição.
Mas, não nos esqueçamos: é de bom filho ser agradecido".

(AMA, 06.12.2018)