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07/11/2020

Vida de Maria

 


Os anos de Nazaré

 

Em Nazaré o Senhor passou vários anos de vida tranquila e normal. Foram anos de trabalho, oração e vida em família com Maria e José. Assim o relata o décimo terceiro artigo sobre a Vida de Maria.

 

Depois de ter narrado o encontro do Menino Jesus entre os doutores do Templo, o Evangelho continua: «desceu com eles e foi para Nazaré; e era-lhes submisso. A Sua Mãe guardava todas estas coisas no seu coração. Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 51-52).

 

Em dois versículos do Evangelho resumem-se dezoito anos da vida de Jesus e de Maria. Anos em que a Sagrada Família leva uma existência como a dos outros habitantes de Nazaré, mas repleta de amor. Anos decisivos na epopeia da Redenção, que o Verbo encarnado estava já a levar a cabo por meio da obediência e do trabalho, no contexto de uma vida normal.

 

Depressa ficou para trás aquele acontecimento do Templo, mas as palavras que Jesus lhes disse nessa altura ofereceram a José e a Maria constante tema de meditação. Perceberam, com uma luz nova, o sentido da vida de Jesus na terra, toda voltada para o cumprimento da missão que O Pai celestial Lhe tinha confiado. E, embora deva ter deixado uma profunda marca nas suas almas, a vida em Nazaré prosseguiu como habitualmente.

 

Cada dia tinha as suas próprias ocupações. As tarefas de Maria eram as próprias de uma dona de casa: caminhadas à única fonte da aldeia para encher o cântaro de água fresca; amassar a farinha e levá-la ao forno para fazer o pão da semana; manter a casa limpa e agradável, servindo-se talvez também de flores simples que dessem  cor e aroma ao ambiente; fiar a lã macia e o linho suave e tecer depois os panos necessários; ocupar-se das compras imprescindíveis quando chegava à aldeia um vendedor ambulante apregoando as suas mercadorias... Mil tarefas domésticas que Maria realizava como as outras mulheres da aldeia, mas com um imenso amor.

 

Quando o Menino era ainda pequeno, acompanharia a Sua Mãe nas tarefas caseiras ou nas suas deslocações pela aldeia. À medida que foi crescendo, passaria mais tempo com José. Durante os anos que agora nos ocupam, começaria a ajudá-lo no seu trabalho, que era abundante. A oficina de José era como as outras existentes naquele tempo na Palestina. Talvez fosse a única de Nazaré, uma aldeia pequena. Cheirava a madeira e a limpo. Os trabalhos que se realizavam eram os próprios do ofício de artesão, como o designa o Evangelho, em que se fazia um pouco de tudo: fazer uma viga, fabricar um armário simples, arranjar uma mesa ou um telhado, passar a plaina numa porta que não encaixava bem... Jesus, primeiro adolescente e depois jovem, aprendeu de José a trabalhar bem, com cuidado nos detalhes, com um sorriso acolhedor para o cliente, cobrando o justo, embora concedendo facilidades de pagamento a quem estivesse a passar uma temporada de apuros económicos.

 

A VIDA DE MARIA NÃO CHAMAVA A ATENÇÃO DOS PARENTES E VIZINHOS. NEM SEQUER A SUA DOÇURA E A SUA DELICADEZA, QUE A TODOS ATRAÍA. PORQUE ERA COMO O ORVALHO, QUE DÁ FRESCURA E COR AOS CAMPOS E MAL SE CHEGA A VER.

Um dia José morreu. Jesus tinha crescido, já se podia encarregar da casa e cuidar da Sua Mãe. Maria e Jesus devem ter chorado ao enfrentar esse transe, enquanto o Santo Patriarca, acompanhado muito de perto pelos seus dois grandes amores, expirava em paz. Tinha cumprido a sua missão.

 

Com a morte do Patriarca, a Mãe e o Filho estreitaram ainda mais a sua intimidade. Quantas vezes o recordariam nas suas conversas a sós, ou com outros membros da família, nas longas veladas do inverno, ao calor da lareira! E iriam desfiando tantos detalhes do esquecimento de si próprio, do serviço aos outros, que constituíam o quadro da vida de José, o artesão.

 

Na tranquila paz daquela casa, Maria continuou as suas tarefas de sempre: cozinhar e lavar louça; moer e amassar a farinha; coser as vestes de Jesus e as suas; receber com um gesto amável as pessoas que a iam visitar... Cada vez com mais amor, pois tinha perto, muito perto, ao seu lado, Aquele que é a Fonte do Amor. No entanto, a sua vida não chamava a atenção dos parentes e vizinhos. Nem sequer a sua doçura e delicadeza, que atraía a todos e fazia com que todos se sentissem bem  ao seu lado. Porque era como o orvalho, que dá frescura e cor aos campos e mal se chega a ver.

 

E enquanto Jesus crescia e trabalhava, a Virgem «guardava todas estas coisas no seu coração» (Lc 2, 51), ponderando-as e meditando-as, fazendo de cada uma ocasião e tema do seu diálogo ininterrupto com Deus.

 

J. A. Loarte

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