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05/11/2020

Leitura espiritual Novembro 05

 


Evangelho segundo São João

 

 

Jo VII 6-53


 

Origens de Cristo

25 Então, alguns de Jerusalém comentavam: ‘Não é este a quem procuravam, para o matar? 26 Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias? 27 Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem. 28 Entretanto, Jesus, ensinando no templo, bradava: Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. 29 Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou. 30 Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado. 31 Porém, dentre o povo, muitos creram nele e comentavam: ‘Quando vier o Messias, será que há-de realizar mais sinais miraculosos do que este?’ 32 Tal comentário do povo a respeito dele chegou aos ouvidos dos fariseus. Então, os sumos sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para prenderem Jesus. 33 Entretanto, Jesus começou a dizer: Já pouco tempo vou ficar convosco, pois irei para aquele que me enviou. 34 Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver. 35 Os judeus, por isso, disseram entre si: ‘Para onde tenciona Ele ir, que não o possamos encontrar? Tenciona ir até aos que estão dispersos entre os gregos para pregar aos gregos? 36 Que significam estas palavras que Ele disse: Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver?’

 

Jesus ensina no último dia da festa

37 No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! 38 Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva. 39 Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que nele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado. 40 Então, entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: ‘Ele é realmente o Profeta.’ 41 Diziam outros: ‘É o Messias.’ Outros, porém, replicavam: ‘Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?! 42 Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David? 43 Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa. 44 Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão. 45 Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: ‘Porque é que não o trouxestes?’ 46 Os guardas responderam: ‘Nunca nenhum homem falou assim!’ 47 Replicaram-lhes os fariseus: ‘Será que também vós ficastes seduzidos? 48Po rventura acreditou nele algum dos chefes, ou dos fariseus? 49 Mas essa multidão, que não conhece a Lei, é gente maldita!’

 

Nicodemos defende Jesus

50 Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus e que era um deles, disse-lhes: 51 ‘Porventura permite a nossa Lei julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?’ 52 Responderam-lhe eles: ‘Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.’ 53 E cada um foi para sua casa.

 


Cristo que passa

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Entre os dons do Espírito Santo, eu diria que há um de que todos nós, cristãos, temos especial necessidade: o dom da Sabedoria, que, fazendo-nos conhecer a Deus e tomar-Lhe o sabor, nos coloca em condições de poder julgar com verdade as situações e as coisas da vida presente.

Se fôssemos consequentes com a nossa fé, quando olhássemos à nossa volta e contemplássemos o espectáculo da História e do Mundo, não poderíamos deixar de sentir crescer nos nossos corações os mesmos sentimentos que animaram o de Jesus Cristo: «ao ver aquelas multidões, compadeceu-se delas, porque estavam maltratadas e fatigadas e como ovelhas sem pastor».

 

Não é que o cristão não veja todo o bem que há na Humanidade, não aprecie as alegrias puras, não participe dos anseios e dos ideais terrenos.

Pelo contrário, sente tudo isso desde o mais recôndito da alma e compartilha-o e vive-o com especial intensidade, pois conhece melhor do que ninguém os arcanos do espírito humano.

 

A fé cristã não nos torna pusilânimes nem cerceia os impulsos nobres da alma, pois é ela que os engrandece, ao revelar o seu verdadeiro e mais autêntico sentido: não estamos destinados a uma felicidade qualquer, porque fomos chamados à intimidade divina, a conhecer e amar Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo e, na Trindade e na Unidade de Deus, todos os anjos e todos os homens.

 

Essa é a grande ousadia da fé cristã: proclamar o valor e a dignidade da natureza humana e afirmar que, mediante a graça que nos eleva à ordem sobrenatural, fomos criados para alcançar a dignidade de filhos de Deus.

Ousadia certamente incrível, se não se baseasse no desígnio salvador de Deus Pai e não houvesse sido confirmada pelo Sangue de Cristo e reafirmada e tornada possível pela acção constante do Espírito Santo.

 

Temos de viver de Fé, crescer na Fé, até poder dizer de cada um de nós, de cada cristão, o que há muitos séculos escreveu um dos grandes Doutores da Igreja Oriental: “Da mesma maneira que os corpos transparentes e límpidos, quando recebem os raios luminosos, se tornam resplandecentes e irradiam brilho, assim as almas que são conduzidas e iluminadas pelo Espírito Santo se tornam também espirituais e levam às outras a luz da graça. Do Espírito Santo procede o conhecimento das coisas futuras, a inteligência dos mistérios, a compreensão das verdades ocultas, a distribuição dos dons, a cidadania celeste, a conversação com os Anjos. D'Ele, a alegria que nunca termina, a perseverança em Deus, a semelhança com Deus e - a coisa mais sublime que pode ser pensada - a transformação em Deus”.

 

A consciência da grandeza da dignidade humana - de um modo eminente e inefável, pois fomos, pela acção da graça, constituídos filhos de Deus - é no cristão uma só coisa com a humildade, visto que não são as nossas forças que nos salvam e nos dão a vida, mas o favor divino.

É uma verdade que não se pode esquecer, porque senão pervertia-se o nosso endeusamento, convertendo-se em presunção, em soberba e, mais cedo ou mais tarde, em ruína espiritual perante a experiência da nossa fraqueza e miséria.

 

Perguntava a si mesmo Santo Agostinho:”Atrever-me-ei a dizer que sou santo? Se dissesse santo como santificador e não necessitado de ninguém que me santificasse, seria soberbo e mentiroso. Mas, se entendo por santo o santificado, segundo aquilo que se lê no Levítico: sede santos, porque Eu, Deus, sou santo, então também o corpo de Cristo, até ao último homem situado nos confins da Terra, poderá dizer ousadamente, unido à sua Cabeça e a ela subordinado: sou santo”.

 

Amemos a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade; escutemos na intimidade do nosso ser as moções divinas - alentos, censuras - ; caminhemos sobre a Terra dentro da luz derramada na nossa alma; e o Deus da esperança nos encherá de todas as formas de paz, para que essa esperança vá crescendo em nós cada vez mais, pela virtude do Espírito Santo.

 

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Amizade com o Espírito Santo

 

Viver segundo o Espírito Santo é viver de Fé, de Esperança, de Caridade; é deixar que Deus tome posse de nós e mude os nossos corações desde a raiz, para os fazer à sua medida.

Uma vida cristã madura, profunda e firme não é coisa que se improvise, porque é fruto do crescimento em nós da graça de Deus.

Nos Actos dos Apóstolos, descreve-se a situação da primitiva comunidade cristã numa frase breve, mas cheia de sentido: “perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos e na comum fracção do pão e nas orações”.

 

Assim viveram os primeiros cristãos e assim devemos viver nós: a meditação da doutrina da Fé, de modo assimilá-la, o encontro com Cristo na Eucaristia, o diálogo pessoal - a oração sem anonimato - face a face com Deus, hão-de constituir como que a substância última da nossa vida. Se isso faltar, talvez haja reflexão erudita, actividade mais ou menos intensa, devoções e práticas piedosas.

Não haverá, porém, existência cristã autêntica, porque faltará a compenetração com Cristo, a participação real e vivida na obra divina da salvação.

 

A qualquer cristão se aplica esta doutrina, porque todos estamos igualmente chamados à santidade.

Não há cristãos de segunda classe, obrigados a pôr em prática apenas uma versão reduzida do Evangelho: todos recebemos o mesmo baptismo e, embora exista uma ampla diversidade de carismas e de situações humanas, um mesmo é o Espírito que distribui os dons divinos, uma mesma a Fé, uma só a Esperança, uma só a Caridade.

 

Podemos, pois, ter por dirigida a nós mesmos a pergunta do Apóstolo: “não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? e recebê-la como um convite a um trato mais pessoal e directo com Deus”.

Infelizmente, o Paráclito é para alguns cristãos o Grande Desconhecido, um nome que se pronuncia, mas que não é Alguém - uma das Três Pessoas do Único Deus - com Quem se fala e de Quem Se vive.

 

Ora é indispensável ter com Ele familiaridade e confiança, cheia de simplicidade como nos ensina a Igreja através da Liturgia.

Assim conheceremos melhor Nosso Senhor e ao mesmo tempo compreenderemos melhor o imenso dom que significa ser cristão; veremos como é grande e verdadeiro o "endeusamento", a participação na vida divina a que atrás me referi.

 

Porque o Espírito Santo não é um artista que desenha em nós a divina substância, como se lhe fosse alheio; não é assim que nos conduz à semelhança divina: “é Ele mesmo, que é Deus e de Deus procede, que Se imprime nos corações que O recebem, à maneira de selo sobre a cera, e é assim, por comunicação de si mesmo e pela semelhança, que restabelece a natureza segundo a beleza do modelo divino e restitui ao homem a imagem de Deus”.

 

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Para pôr em prática, ainda que seja de um modo muito genérico, um estilo de vida que nos anime a conviver com o Espírito Santo - e, ao mesmo tempo com o Pai e o Filho - numa verdadeira intimidade com o Paráclito, devemos firmar-nos em três realidades fundamentais: docilidade - digo-o mais uma vez - vida de oração, união com a Cruz.

 

Em primeiro lugar, docilidade - porque é o Espírito Santo que, com as Suas inspirações, vai dando tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e obras.

É Ele que nos impele a aderir à doutrina de Cristo e a assimilá-la em profundidade; que nos dá luz para tomar consciência da nossa vocação pessoal e força para realizar tudo o que Deus espera de nós.

Se formos dóceis ao Espírito Santo, a imagem de Cristo ir-se-á formando, cada vez mais nítida, em nós e assim nos iremos aproximando cada vez mais de Deus Pai.

Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”.

 

Se nos deixarmos guiar por esse princípio de vida, presente em nós, que é o Espírito Santo, a nossa vitalidade espiritual irá crescendo e abandonar-nos-emos nas mãos do nosso Pai Deus, com a mesma espontaneidade e confiança com que um menino se lança nos braços do pai.

«Se não vos tornardes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus», disse o Senhor.

É este o antigo e sempre actual caminho da infância espiritual, que não é sentimentalismo nem falta de maturidade humana, mas sim maioridade sobrenatural, que nos leva a aprofundar as maravilhas do amor divino, reconhecer a nossa pequenez e a identificar plenamente a nossa vontade com a de Deus.

 

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Em segundo lugar, vida de oração, porque a entrega, a obediência, a mansidão do cristão nascem do amor e para o amor caminham.

E o amor conduz ao convívio, à conversação, à intimidade.

A vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito Santo nos conduz.

Quem conhece as coisas que são do homem, senão o espírito do homem, que está nele?

Assim também as coisas que são de Deus, ninguém as conhece senão o Espírito de Deus.

Se tivermos assídua relação com o Espírito Santo, também nós nos faremos espirituais, nos sentiremos irmãos de Cristo e filhos de Deus, a Quem não teremos dúvida de invocar como Pai nosso que É.

 

Acostumemo-nos a conviver com o Espírito Santo, que é quem nos há-de santificar; a confiar n'Ele, a pedir a Sua ajuda, a senti-Lo ao pé de nós.

Assim se irá tornando maior o nosso pobre coração, e teremos mais desejos de amar a Deus e, por Ele, a todas as criaturas.

E nas nossas vidas reproduzir-se-á a visão com que termina o Apocalipse: o Espírito e a Esposa, o Espírito Santo e a Igreja - e cada um dos cristãos - dirigem-se a Jesus Cristo, pedindo-Lhe que venha, que esteja connosco para sempre.

 

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Por último, união com a Cruz.

Porque, na vida de Cristo, o Calvário precedeu a Ressurreição e o Pentecostes, e esse mesmo processo deve reproduzir-se na vida de cada cristão: Diz-nos São Paulo: “Somos co-herdeiros de Cristo; mas isto, se sofrermos com Ele, para sermos com Ele glorificados”.

O Espírito Santo é o fruto da Cruz, da entrega total a Deus, de buscarmos exclusivamente a Sua glória e de renunciarmos completamente a nós mesmos.

 

Só quando o homem, sendo fiel à graça, se decide a colocar no centro da sua alma a Cruz, negando-se a si mesmo por amor de Deus, estando realmente desapegado do egoísmo e de toda a falsa segurança humana, quer dizer, só quando vive verdadeiramente de Fé, é que recebe com plenitude o grande fogo, a grande luz, a grande consolação do Espírito Santo.

 

É então que vêm à alma essa paz e essa liberdade que Cristo ganhou para nós e que se nos comunicam com a graça do Espírito Santo.

Os frutos do Espírito Santo são caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência, castidade; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.

 

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