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02/11/2020

Leitura espiritual Novembro 02

 


 Evangelho 

São João 6 35 a 51

Jesus é o Pão da Vida -

 

35 Jesus respondeu-lhes: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá jamais fome, e aquele que crê em Mim não  terá jamais sede. 36 Porém, já vos disse que vós Me vistes e não credes. 37 Tudo o que O Pai me dá virá a Mim; e aquele que vema  Mim não o lançarei fora. 38 Porque descido Céu não para fazer a Minha vontade mas avontade daqueLe que Me enviou. 39 Ora a vontade dequele que Me enviou é que Eu não perca nada  do que Me deu, mas que o ressuscite no último dia. 40 A vontade de Meu Pai que Me enviou é que todo o que vê O Filho e crê nEle tenha a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. 41 Murmuravam  então dEle os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do Céu. 42 Diziam: Porventura não é este, aquele Jesus filho de José, cujo Pai e Mãe nós conhecemos? Como, pois, diz Ele: Desci do Céu? 43 Jesus, replicando, disse-lhes: Não murmureis entre vós. 44 Ninguém pode vir a Mim se O Pai que Me enviou não o atrair e Eu o ressuscitarei no último dia. 45 Está escrito no Profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto,todo aquele que ouve e aprende do Pai vem a Mim. 46 Não porque alguém tenha visto o Pai; excepto Aquele que vem de Deus; Esse viu o Pai. 47 Em verdade,em verdade vos digo: O que crêem Mim tem a vida eterna. 48 Eu sou o pão da vida. 49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50 Este é o pão que desceu do Céu para que aquele que dele comer não morra. 51 Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente; e o pão que Eu darei é a minha Carne para salvação do mundo.

 


Cristo que passa

 

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Apostolado, co-redenção

 

Com a maravilhosa normalidade do divino, a alma contemplativa derrama-se em afã apostólico: ardia-me o coração dentro do peito, ateava-se o fogo na minha meditação.

 Que fogo é esse senão aquele de que fala Cristo: «Vim trazer fogo (do amor divino) à Terra: e que quero eu senão que se acenda?»

Fogo de apostolado que se robustece na oração: não há meio melhor do que este para desenvolver através de todo o mundo, essa batalha pacífica em que cada cristão está chamado a participar: cumprir o que resta padecer a Cristo.

 

Jesus subiu aos céus, dizíamos.

Mas o cristão pode, na oração e na Eucaristia, conviver com Ele nos mesmos moldes dos primeiros doze, abrasar-se no seu zelo apostólico, para com Ele fazer um serviço de co-redenção, que é semear a paz e a alegria.

Servir, pois o apostolado não é outra coisa.

Se contarmos exclusivamente com as nossas próprias forças, nada conseguiremos no terreno sobrenatural; sendo instrumentos de Deus, conseguiremos tudo: “tudo posso n'Aquele que me conforta”.

Deus, pela, Sua infinita bondade, dispôs-Se a utilizar estes instrumentos ineptos.

Daí que o Apóstolo não tenha outro fim senão deixar agir o Senhor, mostrar-se inteiramente disponível, para que Deus realize - através das Suas criaturas, através da alma escolhida - a Sua obra salvadora.

 

Apóstolo é o cristão que se sente inserido em Cristo, identificado com Cristo, pelo Baptismo; habilitado a lutar por Cristo pela Confirmação; chamado a servir a Deus com a sua acção no mundo, pelo sacerdócio comum dos fiéis, que confere uma certa participação no sacerdócio de Cristo, a qual - sendo essencialmente diferente da que constitui o sacerdócio ministerial - o torna capaz de tomar parte no culto da Igreja e de ajudar os homens no seu caminho para Deus, com o testemunho da palavra e do exemplo, com a oração e a expiação.

 

Cada um de nós há-de ser ipse Christus, o próprio Cristo.

Ele é o único mediador entre Deus e os homens; e nós unimo-nos a Ele para oferecer, com Ele, todas as coisas ao Pai.

A nossa vocação de filhos de Deus, no meio do mundo, exige-nos que não procuremos apenas a nossa santidade pessoal, mas que vamos pelos caminhos da terra, para convertê-los em atalhos que, através dos obstáculos, levem as almas ao Senhor; que participemos, como cidadãos normais e correntes, em todas as actividades temporais, para sermos levedura que há-de informar toda a massa.

 

Cristo subiu aos céus, mas transmitiu a tudo o que é honestamente humano a possibilidade concreta de ser redimido.

São Gregório Magno trata este grande tema cristão com palavras incisivas: “Partia assim Jesus para o lugar de onde era e voltava do lugar em que continuava a morar. Efectivamente, no momento em que subia ao Céu, unia com a sua divindade o Céu e a Terra. Na festa de hoje convém destacar solenemente o facto de que tenha sido suprimido o decreto que nos condenava, o juízo que nos tornava sujeitos à corrupção.

A natureza a que se dirigiam as palavras "tu és pó e em pó te hás-de tornar" (Gen. 3, 19), essa mesma natureza subiu hoje ao Céu com Cristo”.

 

Não me cansarei de repetir, portanto, que o mundo é santificável e que a nós, cristãos, nos toca especialmente essa tarefa, purificando-o das ocasiões de pecado com que os homens o tornam feio e oferecendo-o ao Senhor como Hóstia espiritual, apresentada e dignificada com a graça de Deus e o nosso esforço.

Em rigor, não se pode dizer que haja nobres realidades exclusivamente profanas, uma vez que o Verbo se dignou assumir uma natureza humana íntegra e consagrar a Terra com a sua presença e com o trabalho das suas mãos.

A grande missão que recebemos, no Baptismo, é a co-redenção. Urge-nos a caridade de Cristo para tomarmos sobre os nossos ombros uma parte dessa tarefa divina de resgatar as almas.

 

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Olhai: “a Redenção, que ficou consumada quando Jesus morreu na vergonha e na glória da Cruz, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, por vontade de Deus continuará a fazer-se até que chegue a hora do Senhor”.

Não é compatível viver de acordo com o Coração de Jesus Cristo e não nos sentirmos enviados como Ele, peccatores salvos facere, a salvar todos os pecadores, convencidos de que nós mesmos precisamos de confiar cada dia mais na misericórdia de Deus.

Daí, o desejo veemente de nos considerarmos corredentores com Cristo, de salvar com Ele todas as almas, porque somos, queremos ser, ipse Christus, o próprio Jesus Cristo e Ele deu-Se a Si mesmo em resgate de todos.

 

Temos uma grande tarefa à nossa frente.

Não é possível a atitude de ficarmos passivos porque o Senhor declarou expressamente: «negociai até eu vir».

Enquanto esperamos o regresso do Senhor que voltará a tomar posse plena do Seu Reino, não podemos estar de braços cruzados.

A extensão do Reino de Deus não é só tarefa oficial dos membros da Igreja que representam Cristo, por d'Ele terem recebido os poderes sagrados.

“Vos autem estis corpus Christi, vós também sois Corpo de Cristo”, ensina-nos o Apóstolo, com o mandato concreto de negociar até ao fim.

 

Ainda está tanta coisa por fazer!

Será que em vinte séculos não se fez nada?

Em vinte séculos trabalhou-se muito.

Não me parece, nem objectivo nem honrado o afã de alguns em menosprezar a tarefa daqueles que nos precederam.

Em vinte séculos realizou-se um grande trabalho e, com frequência, foi muito bem realizado.

Outras vezes houve desacertos, regressões, como também há agora retrocessos, medo, timidez, ao mesmo tempo que não falta valentia, generosidade.

Mas a família humana renova-se constantemente; em cada geração é preciso continuar com o empenho de ajudar o homem a descobrir a grandeza da sua vocação de filho de Deus e é necessário inculcar o mandamento do amor ao Criador e ao nosso próximo.

 

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Cristo ensinou-nos, definitivamente, o caminho desse amor a Deus: o apostolado é o amor de Deus, que transborda, dando-se aos outros. A vida interior supõe crescimento na união com Cristo, pelo Pão, e pela Palavra.

E o afã de apostolado é a manifestação exacta, adequada, necessária à vida interior.

Quando se saboreia o amor de Deus sente-se o peso das almas.

Não se pode dissociar a vida interior do apostolado, como não é possível separar em Cristo o seu ser de Deus-Homem e a sua função de Redentor.

O Verbo quis encarnar para salvar os homens, para fazê-los com Ele uma só coisa.

Esta é a razão da sua vinda ao mundo: por nós e pela nossa salvação, desceu do Céu, rezamos no Credo.

 

Para o cristão, o apostolado resulta conatural; não é algo que se acrescente, que se justaponha, alheio à sua actividade diária, à sua ocupação profissional.

Tenho-o dito sem cessar, desde que o Senhor dispôs que surgisse o Opus Dei!

Trata-se de santificar o trabalho vulgar, de santificar-se nessas ocupações e de santificar os outros com o exercício da profissão, cada um no seu próprio estado.

 

O apostolado é como a respiração do cristão: um filho de Deus não pode viver sem esse pulsar espiritual.

A festa de hoje recorda-nos que o zelo pelas almas é um mandato amoroso do Senhor, que, ao subir para a sua glória, nos envia como testemunhas suas pelo mundo inteiro.

Grande é a nossa responsabilidade, porque ser testemunha de Cristo significa, antes de mais nada, procurarmos comportar-nos segundo a Sua doutrina, lutar para que a nossa conduta faça recordar Jesus e evoque a sua figura amabilíssima. Precisamos de conduzir-nos de tal maneira, que os outros ao ver-nos possam dizer: este é cristão, porque não odeia, porque sabe compreender, porque não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimentos de paz, porque ama.

 

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O trigo e o joio

 

Tracei-vos, com a doutrina de Cristo, não com as minhas ideias, um caminho ideal para o cristão.

Concordais que é elevado, sublime, atractivo. Mas talvez nos interroguemos: será possível viver assim na sociedade de hoje?

 

É certo que o Senhor nos chamou em momentos em que muito se fala de paz e não há paz: nem nas almas, nem nas instituições, nem na vida social, nem entre os povos.

Fala-se continuamente de igualdade e de democracia e abundam as castas: fechadas, impenetráveis.

Chamou-nos num tempo em que se clama pela compreensão e a compreensão brilha pela sua ausência, inclusivamente entre pessoas que agem de boa-fé e querem praticar a caridade, porque - não esqueçais - a caridade, mais do que em dar, está em compreender.

 

Atravessamos uma época em que os fanáticos e os intransigentes - incapazes de admitir as razões dos outros - se põem a salvo, tachando de violentos e agressivos os que são as suas vítimas.

Chamou-nos, enfim, quando se ouve tagarelar muito sobre unidade e talvez seja difícil conceber que possa tolerar-se maior desunião entre os próprios católicos, para não falar já dos homens em geral.

 

Eu nunca faço considerações políticas, porque esse não é o meu ofício. Para descrever sacerdotalmente a situação do mundo actual, é suficiente que pensemos de novo numa parábola do Senhor: a do trigo e do joio.

O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo.

Porém, enquanto os trabalhadores dormiam, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e foi-se embora.

Está claro: o campo é fértil e a semente é boa; o Senhor do campo lançou às mãos cheias a semente no momento propicio e com arte consumada; além disso, preparou toda uma vigilância para proteger a recente sementeira.

Se depois apareceu o joio, é porque não houve correspondência, já que os homens - os cristãos especialmente - adormeceram e permitiram que o inimigo se aproximasse.

 

Quando os servidores irresponsáveis perguntam ao Senhor porque cresceu o joio no seu campo, a explicação salta aos olhos: inimicus homo hoc fecit, foi o inimigo!

Nós, os cristãos, que devíamos estar vigilantes para que as coisas boas, postas pelo Criador no mundo, se desenvolvessem ao serviço da verdade e do bem, adormecemos - triste preguiça, esse sono! -, enquanto o inimigo e todos os que o servem se moviam sem descanso.

Bem vedes como cresceu o joio: que sementeira tão abundante espalhada por todos os sítios!

 

Não tenho vocação de profeta de desgraças.

Não desejo com as minhas palavras apresentar-vos um panorama desolador, sem esperança.

Não pretendo queixar-me destes tempos em que vivemos pela providência do Senhor.

Amamos esta nossa época, porque é o âmbito em que temos de alcançar a nossa santificação pessoal.

Não admitimos nostalgias ingénuas e estéreis; o mundo nunca esteve melhor.

Desde sempre, desde os princípios da Igreja, quando mal se acabava de ouvir a pregação dos primeiros doze, já surgiram violentas perseguições, começaram as heresias, propalou-se a mentira e desencadeou-se o ódio.

 

Mas não é lógico negar que o mal parece ter prosperado.

Dentro de todo este campo de Deus, que é a Terra, herança de Cristo, irrompeu o joio: Não apenas joio, mas abundância de joio!

Não podemos deixar enganar-nos pelo mito do progresso perene e irreversível.

O progresso rectamente ordenado é bom e Deus quere-o.

Contudo, tem-se mais em conta o outro falso progresso que cega os olhos a tanta gente, porque com frequência não percebe que a Humanidade, nalguns dos seus passos, volta atrás e perde o que tinha conquistado antes.

 

O Senhor - repito - deu-nos o mundo por herança.

Temos de ter a alma e a inteligência despertas; temos de ser realistas, sem derrotismos.

Só uma consciência cauterizada, só a insensibilidade produzida pela rotina, só o estouvamento frívolo podem permitir que se contemple o mundo sem ver o mal, a ofensa a Deus, o dano por vezes irreparável para as almas.

É preciso sermos optimistas, mas com um optimismo que nasça da fé no poder de Deus - Deus não perde batalhas - com um optimismo que não proceda da satisfação humana, duma complacência néscia e presunçosa.

 

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Sementeira de paz e de alegria

 

Que fazer?

Dizia-vos que não procurei descrever crises sociais ou políticas, derrocadas ou doenças culturais.

Centrado sobre a fé cristã, tenho-me referindo ao mal no sentido preciso da ofensa a Deus.

O apostolado cristão não é um programa político, nem uma alternativa cultural: significa a difusão do bem, o contágio do desejo de amar, uma sementeira concreta de paz e de alegria.

Desse apostolado, sem dúvida, derivarão benefícios espirituais para todos: mais justiça, mais compreensão, mais respeito do homem pelo homem.

 

Há muitas almas à nossa volta, e não temos o direito de sermos obstáculo para o seu bem eterno.

Estamos obrigados a ser plenamente cristãos, a ser santos, a não defraudar Deus nem todas as pessoas que esperam do cristão o exemplo, a doutrina.

 

O nosso apostolado tem de basear-se na compreensão.

Insisto novamente: a caridade, mais do que em dar, está em compreender.

Não vos escondo como aprendi, na minha própria carne, o que custa não ser compreendido.

Esforcei-me sempre por fazer-me compreender, mas há quem se empenhe em não me entender: eis outra razão, prática e viva, para que eu deseje compreender a todos.

Mas não é um impulso circunstancial que há-de obrigar-nos a ter esse coração amplo, universal, católico.

O espírito de compreensão é expressão da caridade cristã do bom filho de Deus: porque o Senhor quer que estejamos presentes em todos os caminhos rectos da terra, para estender a semente da fraternidade - não do joio -, da desculpa, do perdão, da caridade, da paz.

 

Nunca vos sintais inimigos de ninguém.

 

O cristão há-de mostrar-se sempre disposto a conviver com todos, a dar a todos - pela maneira de lidar com os outros - a possibilidade de se aproximarem de Cristo Jesus.

Há-de sacrificar-se gostosamente por todos, sem distinções, sem dividir as almas em departamentos estanques, sem lhes pôr etiquetas como se fossem mercadorias ou insectos dissecados.

O cristão não pode separar-se dos outros, porque a sua vida seria miserável e egoísta: deve fazer-se tudo para todos, para salvar a todos.

Se vivêssemos assim, se soubéssemos impregnar a nossa conduta com esta sementeira de generosidade, com este desejo de convivência, de paz, fomentar-se-ia a legítima independência pessoal dos homens, cada um assumiria a sua responsabilidade e responderia pelos afazeres que lhe competem nos trabalhos temporais.

Além disso, o cristão saberia defender, em primeiro lugar, a liberdade alheia, para poder depois defender a sua própria; teria a caridade de aceitar os outros como são - porque cada um, sem excepção, traz consigo misérias e comete erros -, ajudando-os com a graça de Deus e com delicadeza humana a superar o mal, a arrancar o joio, a fim de que todos possamos ajudar-nos mutuamente e conduzir com dignidade a nossa condição de homens e de cristãos.

 

 

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