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25/11/2020

Leitura espiritual 25 Novembro

 

Evangelho

 

Jo XVIII, 1-18

 

Prisão de Jesus

1 Tendo dito estas coisas, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, e ali entrou com os seus discípulos. 2 Judas, aquele que o ia entregar, conhecia bem o sítio, porque Jesus se reunia ali frequentemente com os discípulos. 3 Judas, então, guiando o destacamento romano e os guardas ao serviço dos sumos sacerdotes e dos fariseus, munidos de lanternas, archotes e armas, entrou lá. 4 Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, adiantou-se e disse-lhes: «Quem buscais?» 5 Responderam-lhe: «Jesus, o Nazareno.» Disse-lhes Ele: «Sou Eu!» E Judas, aquele que o ia entregar, também estava junto deles. 6 Logo que Jesus lhes disse: ‘Sou Eu!’, recuaram e caíram por terra. 7 E perguntou-lhes segunda vez: «Quem buscais?» Disseram-lhe: «Jesus, o Nazareno!» 8 Jesus replicou-lhes: «Já vos disse que sou Eu. Se é a mim que buscais, então deixai estes ir embora.» 9 Assim se cumpria o que dissera antes: ‘Dos que me deste, não perdi nenhum.’ 10 Nessa altura, Simão Pedro, que trazia uma espada, desembainhou-a e arremeteu contra um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. 11 Mas Jesus disse a Pedro: «Mete a espada na bainha. Não hei-de beber o cálice de amargura que o Pai me ofereceu?»

 

Jesus diante do Sinédrio

12 Então, o destacamento, o comandante e os guardas das autoridades judaicas prenderam Jesus e manietaram-no. 13 E levaram-no primeiro a Anás, porque era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. 14 Caifás era quem tinha dado aos judeus este conselho: ‘Convém que morra um só homem pelo povo’.

 

Pedro nega Jesus

15 Entretanto, Simão Pedro e outro discípulo foram seguindo Jesus. Esse outro discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e pôde entrar no seu palácio ao mesmo tempo que Jesus. 16 Mas Pedro ficou à porta, de fora. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote, falou com a porteira e levou Pedro para dentro. 17 Disse-lhe a porteira: «Tu não és um dos discípulos desse homem?» Ele respondeu: «Não sou.» 18 Lá dentro estavam os servos e os guardas, de pé, aquecendo-se à volta de um braseiro que tinham acendido, porque fazia frio. Pedro ficou no meio deles, aquecendo-se também.

 


 

Santo Agostinho

DE CIVITATE DEI[i]

 

LIVRO IX

 

CAPÍTULO I

 

A que ponto chegou a questão e que é que falta para tratar.

 

A respeito dos deuses, há quem julgue que uns são bons e outros maus. Mas também há quem, fazendo deles o melhor conceito, lhes atribua honra e glória tais que não se atreve a pensar que haja algum deus mau. Mas os que afirmaram que havia deuses bons e deuses maus, também aos demónios deram o nom e de deuses; e às vezes, embora raramente, também deram o nome de demónios aos deuses — reconhecendo que o próprio Júpiter, de quem eles fazem o rei e chefe dos outros deuses, foi alcunhado de demónio por Homero.

Mas os que dizem que todos os deuses são bons e muito superiores aos homens que temos por bons, com razão se perturbam com os feitos dos demónios; e, como não podem negar esses feitos nem podem admitir que possam ser cometidos por deuses — que, na sua opinião, são todos bons —, são obrigados a estabelecer diferenças entre os deuses e os demónios. De modo que atribuem aos demónios e não aos deuses tudo o que com razão lhes desagrada nas obras e nos sentimentos depravados em que se revela o poder dos espíritos ocultos. Estão, porém, convencidos de que os demónios estão de tal forma colocados entre os deuses e os homens, que são eles que transmitem os pedidos dos homens e lhes trazem os favores dos deuses, já que nenhum deus se pode misturar com os homens.

E esta a opinião dos platónicos, os mais eminentes e reputados filósofos, com os quais, devido ao seu alto valor, me pareceu conveniente discutir esta questão: se o culto da multidão de deuses tem alguma utilidade para se obter a vida feliz que nos espera depois da morte.

No livro precedente, indagámos por que convénio os demónios (que se comprazem com o que os homens bons e prudentes reprovam e condenam, isto é, com as ficções sacrílegas, torpes e criminosas atribuídas pelos poetas, não a qualquer homem mas aos próprios deuses, e com a condenável violência das artes mágicas) poderiam eles, como vizinhos e amigos, conciliar os homens bons com os deuses

maus — e constatámos que eram disso totalmente incapazes.

 

CAPÍTULO II

 

Entre os demónios, que são inferiores aos deuses, haverá alguns bons sob cuja protecção possa a alma humana alcançar a verdadeira felicidade?

 

Por conseguinte, como prometemos no fim do livro precedente, trataremos neste livro da diferença existente a (a admitir que alguma existe), não entre os deuses, todos considerados bons, nem entre os deuses e os demónios, - aqueles separados dos homens por vastíssimos espaços, e estes colocados entre os deuses e os homens - mas da diferença que há entre os próprios demónios: assunto este que respeita à presente questão.

Diz-se geralmente que há bons e maus demónios.

Quer esta opinião seja dos platónicos quer seja de quaisquer outros, não se pode negligenciar a sua discussão.

Convém que ninguém pense que se deve a ter aos demónios pretensamente bons, com o desejo e o cuidado de, por seu intermédio, alcançar a benevolência dos deuses que considera bons, tendo em mira gozar, depois da morte, da sua sociedade; e, desta forma apanhado na rede dos espíritos malignos, vítima dos seus enganos, se arredaria para muito longe do verdadeiro Deus só com o qual, só no qual, só pelo qual a alma humana, isto é, a alma racional e intelectual é feliz.

 

CAPÍTULO III

Atribuições dos demónios segundo Apuleio, que, embora lhes não negue a razão, não lhes atribui qualquer virtude.

 

Qual é então a diferença entre bons e maus demónios?

O platónico Apuleio, tão minucioso acerca dos seus corpos aéreos quando deles fala em termos gerais, emudece acerca das virtudes de que seriam dotados, caso fossem bons. Ficou, pois, mudo acerca da causa da felicidade; não pôde, porém, esconder os indícios da sua miséria: de facto, com o confessa, a sua mente, que faz deles seres racionais, longe de estar impregnada e armada de virtude para não ceder a qualquer paixão irracional, encontra-se, também ela, com o os espíritos insensatos, de certo modo sacudida por violentas e tempestuosas perturbações. Tais são as suas palavras sobre o caso:

É quase sempre desta espécie de demónios que falam os poetas quando, não muito longe da verdade, imaginam deuses hostis ou favoráveis a certos homens, concedendo a prosperidade e o sucesso a uns e a adversidade e a aflição a outros. Ei-los, pois, sujeitos à compaixão e à indignação, à angústia e à alegria; mostram todos os aspectos das paixões humanas, baloiçados como nós nas ondas dos pensamentos pelos mesmos movimentos do coração e as mesmas agitações do espírito. Estas perturbações e tempestades estão muito longe da tranquilidade dos deuses celestes Apuleio, De Deo Socratis, XII; ed. Thom as, p. 20..

Há nestas palavras lugar para a dúvida de que não são as regiões inferiores da alma dos demónios mas as suas próprias mentes, pelas quais eles são racionais, que, segundo Apuleio, se perturbam com o um mar em fúria pela tempestade das paixões? Não são mesmo comparáveis aos homens sábios que a estas perturbações da alma, mesmo quando as suportam como uma condição desta vida, opõem uma imperturbável razão, sem nada aprovarem, cedendo-lhes, e sem nada fazerem que se afaste do caminho da sabedoria e da lei da justiça. Mas é aos mortais insensatos e iníquos que eles, não no corpo mas nos costumes, são semelhantes (para não dizermos piores, pois o seu mal é mais antigo e, por uma justa pena, incurável). Flutuam à mercê das agitações do espírito, como aquele diz, sem que parte alguma da sua alma possa encontrar apoio na verdade e na justiça, graças às quais se resiste à turbulência das depravadas paixões.

 



[i] Santo Agostinho, De Civitate Dei é obra de Santo Agostinho, onde descreve o mundo, dividido entre o dos homens e o dos céus. Teria sido a obra preferida do imperador Carlos Magno. Uma das criações mais representativas do gênero humano. Data da primeira publicação: 426 d.C.

Assuntos: Filosofia cristã, Teologia cristã, Neoplatonismo

 

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