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26/10/2020

Outubro - Mês do Rosário




MISTÉRIOS DO EVANGELHO [i]

Quinto Mistério 


Escolha do Colégio apostólico ou dos Doze

Impressiona a simplicidade de algo tão transcendente com é o chamamento dos quatro primeiros Apóstolos. Não há um discurso, uma explicação o traçar de um plano de acção. O Senhor, que sabe tudo, sabia que a resposta seria pronta, imediata, completa total. Há com certeza algum conhecimento prévio da pessoa de Jesus, os quatro irmãos deveriam ter falado disso com detalhe, mas, não obstante, estariam longe de supor que este convite inopinado lhes seria feito.
As pessoas simples, de espírito aberto e coração puro, abraçam sem titubear os convites que reconhecem instantaneamente como sendo algo radical que mudará as suas vidas para sempre porque, também de imediato, reconhecem em Quem os convida, uma autoridade e grandeza a que não podem resistir. Não “jogam, portanto, no escuro”, mas com a certeza e confiança que estão fazendo o que de facto lhes convém.

Depois seguir-se-ão mais “convites”, mais “escolhas”, até completar o que poderíamos chamar: os Doze do Colégio Apostólico.

Doze!

Porquê doze?
Não eram doze as Tribos de Israel?
Pois Jesus Cristo tem uma intenção que revelará mais tarde: "Sentar-vos eis em doze tronos para julgar as Doze Tribos de Israel". (Cfr. Mt 19, 28)

Mas, pergunto: Não deveria ter escolhido gente competente, ilustrada, culta que desse melhores "garantias" de sucesso na missão? Seria, talvez, o nosso critério.

Os "critérios" de Jesus, sendo humanos são, também, divinos e são estes que prevalecem. E, como não podia deixar de ser, a escolha é acertadissima. 


Dos Doze, apenas um se revelou indigno da "escolha", o que O veio a trair.

Não compreendemos este aparente "engano" do Senhor. Nem nos compete julgar ou, sequer, avaliar o aparente "fracasso". Um dia «tudo será revelado». (Cfr. Jo 6, 64)


São gente comum, anónima, sem proeminência.

Não valiam absolutamente nada no seu tempo; não eram ricos, nem cultos, nem heróis do ponto de vista humano. Jesus lança sobre os ombros deste punhado de discípulos uma tarefa imensa, divina”. (Cfr. São Josemaria, Amar a Igreja 12)


A humanidade inteira deve a Pedro e aos outros seus companheiros, saber quem é Jesus e, sabendo-o, ter a oportunidade através dos Evangelhos, de chegar a conhecê-Lo intimamente.
Conhecer Jesus Cristo é conhecer Deus Uno e Trino, Criador e Senhor de toda a criação.
Sem estes homens, simples, um pouco rudes, cheios de defeitos e debilidades ma,s sentindo um amor incomensurável pelo Mestre por Quem a maior parte deu a própria vida, não teríamos essa ventura.
E devemos, todos, estar-lhes muito gratos e, como são pessoas comuns como nós, imitá-los em tudo mas, sobretudo, nesse Amor com A grande por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Os Apóstolos, homens correntes.

A mim, anima-me muito considerar um precedente, narrado passo a passo, nas páginas do Evangelho: a vocação dos primeiros doze. Vamos meditá-la devagar, pedindo a essas santas testemunhas do Senhor que saibamos seguir Cristo como eles o fizeram. Aqueles primeiros doze apóstolos - a quem tenho grande devoção e carinho - eram, segundo os critérios humanos, bem pouca coisa. Quanto à posição social, com excepção de Mateus - que com certeza ganhava bem a vida e deixou tudo quando Jesus lhe pediu - eram pescadores; viviam do dia-a-dia, trabalhando até de noite para poderem alcançar o seu sustento. Mas a posição social é o de menos. Não eram cultos, nem sequer muito inteligentes, pelo menos no que diz respeito às realidades sobrenaturais. Até os exemplos e as comparações mais simples lhes eram incompreensíveis e pediam ao Mestre: «Domine, edissere nobis parabolam», Senhor, explica-nos a parábola. Quando Jesus, com uma imagem, alude ao fermento dos fariseus, supõem que os está a recriminar por não terem comprado pão. Pobres, ignorantes. E nem sequer eram simples, humildes. Dentro das suas limitações, eram ambiciosos. Muitas vezes discutem sobre quem seria o maior, quando - segundo a sua mentalidade - Cristo instaurasse na terra o reino definitivo de Israel. Discutem e excitam-se até naquela hora sublime em que Jesus está prestes a imolar-se pela humanidade, na intimidade do Cenáculo. Fé? Pouca. O próprio Jesus Cristo o diz. Viram ressuscitar mortos, curar todo o tipo de doenças, multiplicar o pão e os peixes, acalmar tempestades, expulsar demónios. Pois São Pedro, escolhido como cabeça, é o único que sabe responder com prontidão: «Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo». Mas é uma fé que ele interpreta à sua maneira; por isso atreve-se a enfrentar Jesus Cristo, a fim de que Ele não Se entregue pela redenção dos homens. E Jesus tem de responder-lhe: Retira-te de mim, Satanás; tu serves-me de escândalo, porque não tens a sabedoria das coisas de Deus mas das coisas dos homens. Pedro raciocinava humanamente, comenta São João Crisóstomo, e concluía que tudo aquilo (a Paixão e a Morte) era indigno de Cristo, reprovável. Por isso Jesus repreende-o e diz-lhe: Não, sofrer não é coisa indigna de Mim; tu pensas assim porque raciocinas com ideias carnais, humanas. Em que sobressaem então aqueles homens de pouca fé? Talvez no amor a Cristo? Sem dúvida que O amavam, pelo menos de palavra. Chegam até a deixar-se arrebatar pelo entusiasmo: «Vamos nós também e morramos com Ele». Mas à hora da verdade, todos hão-de fugir, excepto João, que O amava com obras e de verdade. Só este adolescente, o mais jovem dos Apóstolos, permanece junto da cruz. Os outros não sentiam esse amor tão forte como a morte. Eram estes os discípulos escolhidos pelo Senhor; assim os escolhe Cristo; assim se comportavam antes de, cheios do Espírito Santo, se tornassem colunas da Igreja. São homens correntes, com defeitos, com debilidades, com palavras maiores do que as suas obras. E, contudo, Jesus chama-os para fazer deles pescadores de homens, corredentores, administradores da graça de Deus”. (Cfr. São Josemaria, Cristo que Passa, 2)


Os Apóstolos homens simples, correntes… “normais”!

Ou seja: Como somos a grande maioria dos homens!

Quer dizer: Temos - todos – capacidades para ser verdadeiros apóstolos.

(AMA, 2019)


[i] Escolhi este título para uma série de reflexões sobre os mistérios contidos no Evangelho. Se por “mistério” consideramos algo que não entendemos inteiramente ou não compreendemos com meridiana clareza, então julgo que o Evangelho contém muitas atitudes, palavras, gestos de Jesus Cristo cujo verdadeiro significado e “alcance” nos escapa.

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