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28/10/2020

Leitura espiritual Outubro 28

 



Cartas de São Paulo

 

Carta aos Hebreus 4

 

1 Temamos, pois, que, permanecendo a promessa de entrar no seu repouso, algum de vós seja considerado excluído. 2 Porque, a nós como a eles, foi anunciada a Boa-Nova; porém, a eles, a palavra escutada não valeu de nada, pois não permaneceram unidos na fé aos que a tinham escutado. 3 Quanto a nós, os que acreditámos, entraremos no descanso, como Ele disse: Tal como jurei na minha ira, não entrarão no meu repouso. No entanto, as suas obras estavam realizadas desde a fundação do mundo, 4 pois diz-se em qualquer parte, a propósito do sétimo dia: Deus repousou no sétimo dia, de todas as suas obras; 5 e ainda, neste passo: Não entrarão no meu repouso. 6 Assim, uma vez que a alguns está reservado entrar nele, e que os que primeiro receberam a Boa-Nova não entraram por causa da sua desobediência, 7 Ele fixa de novo um dia, hoje, dizendo por David, depois de tanto tempo, como acima se disse: Hoje, se escutardes a sua voz, não endureçais os vossos corações. 8 De facto, se Josué lhes tivesse dado o repouso, Deus não teria falado de um outro dia posterior. 9 Por conseguinte, permanece um repouso sabático para o povo de Deus. 10 O que entra no seu repouso, repousa também das suas obras, tal como Deus repousou das suas. 11 Apressemo-nos, então, a entrar nesse repouso para que ninguém caia no mesmo tipo de desobediência. 12 Na verdade, a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração. 13 Não há nenhuma criatura oculta diante dele, mas todas as coisas estão a nu e a descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas.

 

Jesus, Sumo Sacerdote misericordioso –

14 Uma vez que temos um grande Sumo Sacerdote que atravessou os céus, Jesus, o Filho de Deus, conservemos firme a fé que professamos. 15 De facto, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, excepto no pecado. 16 Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna.

 

 

Cristo que passa

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Viver na intimidade com Jesus Cristo

 

Não ama Cristo quem não ama a Santa Missa e quem não se esforça no sentido de a viver com serenidade e sossego, com devoção e com carinho.

0 amor transforma aqueles que estão apaixonados em pessoas de sensibilidade fina e delicada.

Leva-os a descobrir, para que se não esqueçam de os pôr em prática, pormenores que são por vezes mínimos, mas que trazem a marca de um coração apaixonado.

É assim que devemos assistir à Santa Missa. Por este motivo, sempre pensei que aqueles que querem ouvir uma missa rápida e atabalhoada demonstram com essa atitude, já de si pouco elegante, que não conseguiram aperceber-se do significado do Sacrifício do altar.

 

O amor a Cristo, que Se oferece por nós, anima-nos a saber encontrar, uma vez terminada a Santa Missa, alguns minutos de acção de graças pessoal e íntima, que prolonguem no silêncio do coração essa outra acção de graças que é a Eucaristia.

Como poderemos dirigir-nos a Ele, como falar-Lhe, como comportar-nos?

 

A vida cristã não está feita de normas rígidas, porque o Espírito Santo não dirige as almas massivamente, mas infundindo em cada uma delas propósitos, inspirações e afectos que ajudarão a captar e a cumprir a vontade do Pai. Penso, no entanto, que em muitas ocasiões o nervo do nosso diálogo com Cristo, na acção de graças depois da Santa Missa, pode ser a consideração de que o Senhor É para nós, Rei, Médico, Mestre e Amigo.

 

É Rei e anseia por reinar nos nossos corações de filhos de Deus.

Mas é preciso não imaginar reinados humanos neste caso, porque Cristo não domina nem procura impor-Se, dado que não veio para ser servido, mas para servir.

 

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O seu reino é a paz, a alegria, a justiça. Cristo, nosso Rei, não espera de nós raciocínios vãos, mas factos, porque «nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus; mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus».

 

É Médico e cura o nosso egoísmo, se deixarmos que a Sua graça penetre até ao fundo da nossa alma.

Jesus disse-nos que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que nos faz dissimular os nossos pecados.

Com o Médico, é imprescindível, pela nossa parte, uma sinceridade absoluta, explicar-Lhe toda a verdade e dizer: Domine, si vis, potes me mundare, Senhor, se quiseres - e Tu queres sempre - podes curar-me. Tu conheces as minhas fraquezas, tenho estes sintomas e estas debilidades.

Mostramos-Lhe também com toda a simplicidade as chagas e o pus, no caso de haver pus.

Senhor, Tu, que curasTe tantas almas, faz com que, ao ter-Te no meu peito ou ao contemplar-Te no Sacrário, Te reconheça como Médico divino.

 

É mestre de uma ciência que só Ele possui, a do amor a Deus sem limites e, em Deus, a todos os homens.

Na escola de Cristo aprende-se que a nossa existência não nos pertence. Ele entregou a Sua vida por todos os homens e, se O seguimos, necessitamos de compreender que não devemos apropriar-nos de maneira egoísta da nossa vida sem compartilhar as dores dos outros.

A nossa vida é de Deus.

Temos de gastá-la ao Seu serviço, preocupando-nos generosamente com as almas e demonstrando, com a palavra e com o exemplo, a profundidade das exigências cristãs.

 

Jesus espera que alimentemos o desejo de adquirir essa ciência, para nos repetir: «se alguém tem sede, venha a Mim e beba».

E respondemos: ensina-nos a esquecermo-nos de nós mesmos, para pensarmos em Ti e em todas as almas.

Deste modo, o Senhor far-nos-á progredir com a Sua graça, como quando começávamos a escrever (lembrais-vos daqueles traços que fazíamos, guiados pela mão do professor?) e assim começaremos a saborear a dita de manifestar a nossa fé, que é já de si outra dádiva de Deus, também com traços inequívocos de uma conduta cristã, onde todos possam descobrir as maravilhas divinas.

 

É Amigo, o Amigo: «vos autem dixi amicos», diz-nos Ele.

Chama-nos amigos e foi Ele quem deu o primeiro passo, pois amou-nos primeiro.

Contudo, não impõe o Seu carinho: oferece-o. E prova-o com o sinal mais evidente da amizade: «ninguém tem maior amor que o daquele que dá a vida pelos seus amigos».

Era amigo de Lázaro e chorou por ele quando o viu morto. E ressuscitou-o.

Por isso, se nos vir frios, desalentados, talvez com a rigidez de uma vida interior que se está a extinguir, o seu pranto será vida para nós: Eu te ordeno, meu amigo, levanta-te e anda, deixa essa vida mesquinha, que não é vida!

 

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Vamos acabar a nossa meditação de Quinta-Feira Santa.

Se o Senhor nos ajudou - e está sempre disposto, desde que Lhe abramos o coração - teremos pressa de corresponder àquilo que é mais importante: amar.

E saberemos difundir a caridade entre os outros homens, com uma vida de serviço.

«Dei-vos o exemplo», insiste Jesus, falando aos seus discípulos na noite da Ceia, depois de lhes ter lavado os pés.

Afastemos do coração o orgulho, a ambição, os desejos de domínio e, à nossa volta e dentro de nós, reinarão a paz e a alegria, enraizadas no sacrifício pessoal.

 

Finalmente, um pensamento filial e amoroso para Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.

Peço desculpa de contar de novo uma recordação da minha infância, desta vez relativa a uma imagem que se difundiu muito na minha terra, quando São Pio X impulsionou a prática da comunhão frequente. Representava Maria a adorar a Hóstia Santa.

Hoje, como então e como sempre, Nossa Senhora ensina-nos a falar e a conviver intimamente com Jesus, a reconhecê-Lo e a encontrá-Lo nas diversas circunstâncias do dia e, de um modo especial, nesse instante supremo - o tempo une-se com a eternidade - do Santo Sacrifício da Missa, em que Jesus, com gesto de sacerdote eterno, atrai a Si todas as coisas, para as colocar, divino afflante Spiritu, por intermédio do sopro do Espírito Santo, na presença de Deus Pai.

 

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Esta semana, que o povo cristão tradicionalmente chama Santa, oferece-nos uma vez mais a possibilidade de considerar - de reviver - os momentos em que se consuma a vida de Jesus.

 

Tudo o que as diversas manifestações de piedade nos trazem à memória nestes dias se encaminha decerto para a “Ressurreição, que é o fundamento da nossa fé”, como escreve São Paulo.

Mas não percorramos este caminho demasiado depressa; não deixemos cair no esquecimento alguma coisa muito simples, que por vezes parece escapar-nos: não poderemos participar da Ressurreição do Senhor se não nos unirmos à Sua Paixão e à Sua Morte.

Para acompanhar a Cristo na Sua glória no final da Semana Santa, é necessário que penetremos antes no Seu holocausto e que nos sintamos uma só coisa com Ele, morto no Calvário.

 

A entrega generosa de Cristo enfrenta-se com o pecado, essa realidade dura de aceitar, mas inegável: o mysterium iniquitatis, a inexplicável maldade da criatura que se ergue, por soberba, contra Deus.

 

A história é tão antiga como a Humanidade.

Recordemos a queda dos nossos primeiros pais; depois, toda essa cadeia de depravações que marcam a marcha dos homens; finalmente, as nossas rebeldias pessoais.

Não é fácil considerar a perversidade que o pecado representa e compreender tudo o que a Fé nos ensina.

Temos de ter presente que, mesmo no plano humano, a grandeza da ofensa se mede pela condição do ofendido, pelo seu valor pessoal, pela sua dignidade social, pelas suas qualidades.

E o homem ofende a Deus: a criatura renega o seu Criador.

 

Mas Deus É Amor.

O abismo de malícia, que o que o pecado encerra, foi vencido por uma Caridade infinita.

Deus não abandona os homens.

Os desígnios divinos previram que, para reparar as nossas faltas, para restabelecer a unidade perdida, não bastavam os sacrifícios da Antiga Lei: tornou-se necessária a entrega de um homem que fosse Deus.

Podemos imaginar - para nos aproximarmos de algum modo deste mistério insondável - que a Trindade Santíssima Se reúne em conselho na sua contínua relação íntima de amor imenso e, como resultado de uma decisão eterna, O Filho Unigénito de Deus-Pai assume a nossa condição humana, carrega sobre Si as nossas misérias e as nossas dores, para acabar pregado com cravos num madeiro.

 

Esse fogo, esse desejo de cumprir o decreto salvador de Deus-Pai, enche toda a vida de Cristo, desde o Seu nascimento em Belém.

Ao longo dos três anos que com Ele conviveram, os discípulos ouvem-No repetir incansavelmente que o Seu alimento é fazer a vontade d'Aquele que O enviou, até que, no meio da tarde da primeira Sexta-Feira Santa, se concluiu a Sua imolação: «inclinando a cabeça entregou o espírito».

Com estas palavras descreve-nos o Apóstolo São João a morte de Cristo: Jesus, sob o peso da Cruz com todas as culpas dos homens, morre por causa da força e da vileza dos nossos pecados.

 

Meditemos no Senhor, chagado dos pés à cabeça por amor de nós. Com frase que se aproxima da realidade, embora não consiga exprimi-la completamente, podemos repetir com um escritor de há séculos: “O corpo de Jesus é um retábulo de dores”.

A vista de Cristo feito um farrapo, transformado num corpo inerte descido da Cruz e confiado a Sua Mãe, à vista desse Jesus destroçado, poder-se-ia concluir que esta cena é a exteriorização mais clara de uma derrota.

Onde estão as massas que O seguiram e o Reino cuja vinda anunciava? Contudo, não temos diante dos olhos uma derrota, mas sim uma vitória: está agora mais perto do que nunca o momento da Ressurreição, da manifestação da glória que Cristo conquistou com a sua obediência.

         

 

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A morte de Cristo chama-nos a uma vida cristã plena

 

Acabamos de reviver o drama do Calvário, aquilo que me atreveria a chamar a primeira Missa, a primordial, celebrada por Jesus.

Deus-Pai entrega o Seu Filho à morte. Jesus, o Filho Unigénito, abraça-Se ao madeiro, no qual O haviam de justiçar, e o Seu sacrifício é aceite pelo Pai. Como fruto da Cruz, derrama-se sobre a Humanidade o Espírito Santo.

 

Na tragédia da Paixão consuma-se a nossa própria vida e toda a história humana.

A Semana Santa não pode reduzir-se a uma mera recordação, pois que nela se considera o mistério de Jesus Cristo, que se prolonga nas nossas almas: o cristão está obrigado a ser alter Christus, ipse Christus, outro Cristo, o próprio Cristo.

Pelo Baptismo, fomos todos constituídos sacerdotes da nossa própria existência, para oferecer vítimas espirituais que sejam agradáveis a Deus por Jesus Cristo, para realizar cada uma das nossas acções em espírito de obediência à vontade de Deus, perpetuando assim a missão do Deus-Homem.

 

Por contraste, esta realidade leva-nos a repararmos nas nossas desditas, nos nossos erros pessoais.

Tal consideração não nos deve desanimar, nem colocar na atitude céptica de quem renunciou aos grandes ideais.

Porque o Senhor reclama-nos tal como somos, para que participemos da Sua vida, para que lutemos por ser santos.

 

Santidade!

Quantas vezes pronunciamos esta palavra como se fosse um som vazio!

Para muitos, ela representa mesmo um ideal inacessível, um tema da ascética, mas não um fim concreto, uma realidade viva.

Não pensavam deste modo os primeiros cristãos, que usavam o nome de santos para se chamarem entre si com toda a naturalidade e com grande frequência: saúdam-vos todos os santos, saudai todos os santos em Cristo Jesus.

 

Situados agora no Calvário, quando Jesus já morreu e não se manifestou ainda a glória do Seu triunfo, temos uma boa ocasião para examinar os nossos desejos de vida cristã, de santidade para reagir com um acto de fé perante as nossas debilidades e, confiando no poder de Deus, fazer o propósito de pôr amor nas coisas do nosso dia-a-dia.

A experiência do pecado tem de nos conduzir à dor, a uma decisão mais madura e mais profunda de sermos fiéis, de nos identificarmos deveras com Cristo, de perseverarmos, custe o que custar, nessa missão sacerdotal que Ele encomendou a todos os Seus discípulos sem excepção, que nos impele a sermos sal e luz do mundo.

 

 

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