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13/08/2020

Virtudes

Humildade 9
O tempo é de Deus: fé e humildade
É unânime, a este respeito, o testemunho da Escritura: a solicitude da divina Providência é concreta e imediata, cuida de tudo, desde os mais insignificantes pormenores até aos grandes acontecimentos do mundo e da história. Os livros santos afirmam, com veemência, a soberania absoluta de Deus no decurso dos acontecimentos: Tudo quanto Lhe aprouve, o nosso Deus fez, no céu e na terra” (Sl 115, 3); e de Cristo se diz: “que abre e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre (Ap 3, 7)há muitos projectos no coração do homem, mas é a vontade do Senhor que prevalece (Pr 19, 21)(Catecismo da Igreja Católica, 303). A direcção espiritual é um meio excelente para nos situar melhor nesse horizonte. O Espírito Santo actua, com paciência, e conta com o tempo: o conselho recebido deve fazer o seu caminho na alma. Deus espera a humildade de um ouvido atento à Sua voz. Deste modo é possível tirar proveito pessoal das homilias ouvidas na paróquia, não só para aprender alguma coisa, mas sobretudo para melhorar. Tomar alguma nota numa palestra de formação ou num tempo de oração, para a comentar depois com quem conhece bem a nossa alma, também é reconhecer a voz do Espírito Santo.
A fé e a humildade andam de mãos dadas. No nosso peregrinar para a pátria celestial é preciso deixar-nos guiar pelo Senhor, recorrendo a Ele e ouvindo a sua Palavra (Cf. Sagrada Bíblia, Tradução e notas da Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, comentário ao Salmo 95). A leitura sossegada do Antigo e do Novo Testamento, com os comentários de carácter teológico-espiritual, ajuda-nos a compreender o que Deus nos diz em cada momento, convidando-nos à conversão: Os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos não são os meus caminhos – oráculo do Senhor (Is 55, 8; cf. Rom 11, 33). A humildade da fé ajoelha-se ante Jesus Cristo presente na Eucaristia, adorando O Verbo Incarnado como os pastores em Belém. Assim aconteceu com Santa Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein. Nunca se esqueceu daquela mulher que entrou numa igreja com o seu saco das compras e se ajoelhou para fazer a sua oração pessoal, em íntima conversa com Deus (Cf. S. Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), Aus dem Leben einer jüdischen Familie. Das Leben Edith Steins: Kindheit und Jugend, 1965 (ed. completa 1985), p. 362).
A humildade leva-nos a viver o presente aligeirado de qualquer possível futuro, porque os cristãos somos os que esperam com amor a Sua vinda (2 Tim 4, 8). Se nos zangamos perante circunstâncias menos favoráveis, precisamos de crescer em fé e em humildade. Quando realmente te abandonares no Senhor, aprenderás a contentar-te com o que suceder, e a não perder a serenidade, se as tarefas - apesar de teres posto todo o teu empenho e empregado os meios convenientes - não saem a teu gosto... Porque terão “saído” como convém a Deus que saiam ((São Josemaria, Sulco, 860)Assim, evita-se o descontentamento exagerado, ou a tendência para reter na memória as humilhações. Um filho de Deus perdoa os agravos, não fica ressentido, segue em frente (Cf. Javier Echevarría, Carta pastoral, 4-XI-2015, 21)E se alguém pensa que foi ofendido, tenta não recordar as ofensas, não fica rancoroso: olha para Jesus, sabendo que «a mim, a quem ainda mais foi perdoado, que grande dívida de amor me fica! ((São Josemaria, Forja, 210). Quem é humilde diz, com São Paulo: esquecendo-me do que fica para trás e avançando para as coisas que estão adiante, prossigo para a meta, para alcançar o prémio da celeste vocação de Deus em Cristo Jesus (Fil 3, 13-14).
Esta atitude ajuda-nos a aceitar a doença e a convertê-la num tempo fecundo: é uma missão que nos dá Deus. E faz parte dessa missão aprender a facilitar que os outros possam ajudar-nos a aliviar a nossa dor e as possíveis angústias. Permitir que nos assistam, nos curem, nos acompanhem, é a prova de que nos abandonamos nas mãos de Jesus, que se faz presente nos nossos irmãos. Temos de completar o que falta à Paixão de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja (Col 1, 24).
A consciência de que somos débeis levar-nos-á a deixar-nos ajudar, a ser indulgentes com os outros, a compreender a condição humana, a evitar surpresas farisaicas. A nossa debilidade abre-nos a inteligência e o coração para compreender a dos outros. Pode-se, por exemplo, salvar a intenção ou pensar que uma pessoa esteve em situações muito difíceis de gerir, embora evidentemente isso não suponha ignorar a verdade, chamando ao mal bem e ao bem ma», e trocando o amargo pelo doce e o doce pelo amargo (Is 5, 20)            Por outro lado, pode acontecer, às vezes, que a pessoa tenha tendência para se infra valorizar. A baixa auto-estima, frequente em muitos ambientes, também não é salutar, porque não corresponde à verdade e corta as asas de quem está chamado a altos voos. Não há motivo para a desmoralização: a humildade leva-nos a aceitar o que nos é dado, com a profunda convicção de que os caminhos, pelos que o Senhor deseja conduzir-nos, são de misericórdia (cf. Heb 3, 10; Sl 95[94], mas leva-nos também, por isso mesmo, a sonhar com audácia: Sentir-se barro, recomposto com grampos, é fonte contínua de alegria; significa reconhecer-se pouca coisa diante de Deus: criança, filho. E haverá maior alegria do que a daquele que, sabendo-se pobre e débil, se sabe também filho de Deus? ((São Josemaria, Amigos de Deus, 108)

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