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05/08/2020

Leitura espiritual Agosto 05


 Cartas de São Paulo

Romanos

14 Os «fortes» e os «fracos» -
1 Àquele que é fraco na fé, acolhei-o, sem cair em discussões sobre as suas maneiras de pensar. 2 Enquanto a fé de um lhe permite comer de tudo, o que é fraco só come legumes. 3 Quem come não despreze aquele que não come; e quem não come não julgue aquele que come, porque Deus o acolheu. 4 Quem és tu para julgares o criado de um outro? Se está de pé ou se cai, isso é lá com o seu patrão. Há-de, aliás, ficar de pé, porque o Senhor tem poder para o segurar. 5 Além disso, enquanto um julga que há dias e dias, há quem julgue que os dias são todos iguais. Tenha um e outro plena convicção daquilo que pensa. 6 Quem guarda alguns dias, é em honra do Senhor que os guarda; quem come de tudo, é em honra do Senhor que come, pois dá graças a Deus; e quem não come, é em honra do Senhor que não come, e também ele dá graças a Deus. 7 De facto, nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum morre para si mesmo. 8 Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos quer morramos, é ao Senhor que pertencemos. 9 Pois foi para isto que Cristo morreu e voltou à vida: para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos. 10 Mas tu, porque julgas o teu irmão? E tu, porque desprezas o teu irmão? De facto, todos havemos de comparecer diante do tribunal de Deus, 11 pois está escrito: Tão certo como Eu vivo, diz o Senhor, todo o joelho se dobrará diante de mim e toda a língua dará a Deus glória e louvor. 12 Portanto, cada um de nós terá de dar contas de si mesmo a Deus.

Unidos no amor –
13 Deixemos, pois, de nos julgar uns aos outros. Tomai de preferência esta decisão: não ser para o irmão causa de tropeço ou de escândalo. 14 Sei e estou convencido, no Senhor Jesus, de que nada é impuro em si mesmo. Uma coisa é impura só para aquele que a considera como impura. 15 Se, por tomares um alimento, entristeces o teu irmão, então não estás a proceder de acordo com o amor. Não faças, com o teu alimento, com que se perca aquele por quem Cristo morreu. 16 Que não seja, pois, motivo de blasfémia o bem que há em vós. 17 É que o Reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. 18 E quem deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e estimado pelos homens. 19 Procuremos, portanto, aquilo que leva à paz e à edificação mútua. 20 Não destruas a obra de Deus, por uma questão de alimento. Todas as coisas são puras, certamente, mas tornam-se más para aquele que, ao comê-las, encontra nisso causa de tropeço. 21 O que é bom é não comer carne nem beber vinho, nada em que o teu irmão possa tropeçar. 22 Guarda para ti, diante de Deus, a convicção de fé que tens. Feliz de quem não se condena a si mesmo, devido às decisões que toma. 23 Mas quem sente escrúpulos por aquilo que come fica culpado, por não agir de acordo com a sua convicção de fé. Tudo o que não é feito a partir da convicção de fé é pecado.


Amigos de Deus

21           
Na barca de Cristo
Como a Nosso Senhor, também a mim me agrada muito falar de barcas e de redes, para todos tirarmos propósitos firmes e concretos dessas cenas evangélicas. São Lucas conta-nos que uns pescadores lavavam e remendavam as redes à beira do lago de Genesaré. Jesus aproxima-se de uma daquelas naves atracadas na margem e sobe a uma delas, a de Simão. Com que naturalidade se mete o Mestre na vida de cada um de nós para nos complicar a vida, como se repete por aí em tom de queixa. Nosso Senhor cruzou-se convosco e comigo no nosso caminho, para nos complicar a existência, delicadamente, amorosamente.
Depois de pregar da barca de Pedro, dirige-se aos pescadores: duc in altum, et laxate retia vestra in capturam, remai para o mar alto e lançai as redes! Fiados na palavra de Cristo, obedecem e obtêm aquela pesca prodigiosa. Olhando para Pedro que, como Tiago e João, estava pasmado, Nosso Senhor explica-lhe: «não tenhas medo; desta hora em diante serás pescador de homens. E, trazidas as barcas para terra, deixando tudo, seguiram-no». 
A tua barca - os teus talentos, as tuas aspirações, os teus êxitos - não vale para nada, a não ser que a ponhas à disposição de Jesus Cristo, que permitas que Ele possa entrar nela com liberdade, que não a convertas num ídolo. Sozinho, com a tua barca, se prescindires do Mestre, sobrenaturalmente falando, encaminhas-te directamente para o naufrágio. Só se admitires, se procurares a presença e o governo de Nosso Senhor, estarás a salvo das tempestades e dos reveses da vida. Põe tudo nas mãos de Deus: que os teus pensamentos, as aventuras boas da tua imaginação, as tuas ambições humanas nobres, os teus amores limpos, passem pelo coração de Cristo. De outra forma, mais tarde ou mais cedo, irão a pique com o teu egoísmo.

22           
Se consentires que Deus seja o senhor da tua nave, que Ele seja o amo, que segurança!..., mesmo quando a tempestade se levanta no meio das trevas mais escuras e parece que Ele se ausenta, que está a dormir, que não se preocupa. São Marcos relata que os Apóstolos se encontravam nessas circunstâncias; e Jesus, «vendo-os cansados de remar (porque o vento lhes era contrário), cerca da quarta vigília da noite foi ter com eles, andando sobre o mar... Tende confiança, sou eu, não temais. E subiu para a barca, para junto deles e cessou o vento».
Meus filhos, acontecem tantas coisas na terra...! Podia pôr-me a falar de penas, de sofrimentos, de maus tratos, de martírios - não tiro nem uma letra -, do heroísmo de muitas almas. Aos nossos olhos, na nossa inteligência, surge às vezes a impressão de que Jesus dorme, de que não nos ouve; mas São Lucas narra como Nosso Senhor Se comporta com os Seus: «Enquanto iam navegando, Jesus adormeceu e levantou-se uma tempestade de vento sobre o lago e a barca enchia-se de água e estavam em perigo. Aproximando-se dele, despertaram-no dizendo: Mestre, nós perecemos! Ele, levantando-se, increpou o vento e as ondas, que acalmaram e veio a bonança. Então disse-lhes: onde está a vossa fé?»
Se nos dermos, Ele dá-Se-nos. Temos de confiar plenamente no Mestre, temos de nos abandonar nas Suas mãos sem mesquinhez; de Lhe manifestar, com as nossas obras, que a barca é dEle, que queremos que disponha à vontade de tudo o que nos pertence.
Termino, recorrendo à intercessão de Santa Maria, com estes propósitos: viver de fé; perseverar com esperança; permanecer unidos a Jesus Cristo, amá-Lo de verdade, de verdade, de verdade; percorrer e saborear a nossa aventura de Amor, pois estamos apaixonados por Deus; deixar que Cristo entre na nossa pobre barca e tome posse da nossa alma como Dono e Senhor; manifestar-Lhe com sinceridade que havemos de nos esforçar por nos mantermos sempre na Sua presença, de dia e de noite, porque Ele nos chamou à fé: ecce ego quia vocasti me! e que vimos ao Seu redil atraídos pela Sua voz e pelos Seus assobios de Bom Pastor, com a certeza de que só à Sua sombra encontraremos a verdadeira felicidade temporal e eterna.

23           
Tenho recordado com frequência aquela cena comovedora que o Evangelho nos relata: Jesus está na barca de Pedro, de onde tinha falado ao povo. Essa multidão que o seguia moveu o afã de almas que consome o seu Coração e o Divino Mestre quer que os discípulos participem quanto antes desse zelo. Depois de lhes dizer que se façam ao largo - duc in altum! - sugere a Pedro que lance as redes para pescar.
Não me vou demorar agora nos pormenores, tão instrutivos, desses momentos. Desejo que consideremos a reacção do Príncipe dos Apóstolos perante o milagre: «afasta-te de mim, Senhor, que sou um homem pecador». É uma verdade - disso não tenho dúvidas - que se ajusta perfeitamente à situação pessoal de todos. No entanto, asseguro-vos que, ao tropeçar durante a minha vida com tantos prodígios da graça, realizados através de mãos humanas, tenho-me sentido inclinado, diariamente cada vez mais inclinado, a gritar: Senhor, não te afastes de mim, pois sem Ti não posso fazer nada de bom.
Precisamente por isso, percebo muito bem aquelas palavras do Bispo de Hipona, que soam como um cântico maravilhoso à liberdade: “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti, porque cada um de nós, tu, eu, temos sempre a possibilidade - a triste desventura - de nos levantarmos contra Deus, de rejeitá-lo - talvez só com a nossa conduta - ou de exclamar: não queremos que reine sobre nós”.

24           
Escolher a vida
Agradecidos por nos apercebermos da felicidade a que estamos chamados, aprendemos que todas as criaturas foram tiradas do nada por Deus e para Deus: as racionais, os homens, apesar de tão frequentemente perdermos a razão; e as irracionais, as que percorrem a superfície da terra, ou habitam as entranhas do mundo, ou cruzam o azul do céu, algumas delas até fitarem o Sol. Mas, no meio desta maravilhosa variedade, só nós, homens -nã o falo aqui dos anjos - nos unimos ao Criador pelo exercício da nossa liberdade, podendo prestar ou negar a Nosso Senhor a glória que Lhe corresponde como Autor de tudo o que existe.
Essa possibilidade é a principal componente do claro-escuro da liberdade humana. Nosso Senhor convida-nos e anima-nos a escolher o bem, porque nos ama profundamente. Considera que ponho hoje diante de ti, dum lado, a vida e o bem, do outro, a morte e o mal. Recomendo-te que ames o Senhor teu Deus, que andes nos Seus caminhos, que guardes os Seus preceitos, as Suas leis e os Seus decretos. Se assim fizeres, viverás... Escolhe, pois, a vida para que vivas .
Queres pensar - pela minha parte também farei o meu exame - se manténs imutável e firme a tua escolha da Vida? Se, ao ouvires essa voz de Deus, amabilíssima, que te estimula à santidade, respondes livremente que sim? Dirijamos o olhar para o nosso Jesus, quando falava às multidões pelas cidades e campos da Palestina. Não pretende impor-se. «Se queres ser perfeito...», diz ao jovem rico. Aquele rapaz rejeitou o convite e o Evangelho conta que abiit tristis, que se retirou entristecido. Por isso, alguma vez lhe chamei a ave triste: Perdeu a alegria, porque se negou a entregar a liberdade a Deus.




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