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20/08/2020

Leitura espiritual 20 Agosto



Cartas de São Paulo

1ª Coríntios - 13

Cântico do amor
1  Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. 2 Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. 3 Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita. 4 O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, 5 nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. 6 Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. 7 Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 8 O amor jamais passará. As profecias terão o seu fim, o dom das línguas terminará e a ciência vai ser inútil. 9 Pois o nosso conhecimento é imperfeito e também imperfeita é a nossa profecia. 10 Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. 11 Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança. 12 Agora, vemos como num espelho, de maneira confusa; depois, veremos face a face. Agora, conheço de modo imperfeito; depois, conhecerei como sou conhecido. 13 Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor.



Amigos de Deus

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Para ouvir Deus

Se recorrermos à Sagrada Escritura, veremos como a humildade é um requisito indispensável para nos dispormos a ouvir Deus. Onde há humildade há sabedoria, explica o livro dos Provérbios. A humildade consiste em nos vermos como somos, sem disfarces, com verdade. E ao compreendermos que não valemos quase nada, abrimo-nos à grandeza de Deus. Esta é a nossa grandeza.

Que bem o compreendia Nossa Senhora, a Santa Mãe de Jesus, a criatura mais excelsa de todas as que existiram e hão-de existir sobre a terra! Maria glorifica o poder do Senhor, que depôs do trono os poderosos e elevou os humildes. E canta que n'Ela se realizou uma vez mais esta providência divina: porque olhou para a baixeza da sua escrava; portanto, eis que, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada.

Maria manifesta-se santamente transformada, no seu coração puríssimo, em face da humildade de Deus: o Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. E, por isso mesmo, o Santo que há-de nascer de ti será chamado Filho de Deus. A humildade da Virgem é consequência desse abismo insondável de graça, que se opera com a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade nas entranhas da sua Mãe sempre Imaculada.

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Quando S. Paulo evoca este mistério, irrompe também num hino de júbilo, que hoje poderemos saborear com vagar: Tende nos vossos corações os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, o qual, tendo a natureza de Deus, não foi por usurpação, mas por essência, o ser igual a Deus; e, não obstante, aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens e reduzido à condição de homem. Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte, e morte de Cruz.

Jesus Cristo, Nosso Senhor, propõe-nos com muita frequência na sua pregação o exemplo da sua humildade: aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, para que tu e eu aprendamos que não há outro caminho; que só o conhecimento sincero do nosso nada é capaz de atrair sobre nós a graça divina. Por nós, Jesus veio padecer fome e alimentar-nos, veio sentir sede e dar-nos de beber, veio vestir-se da nossa mortalidade e vestir-nos de imortalidade, veio pobre para nos tornar ricos.

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Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes dá a sua graça, ensina o Apóstolo S. Pedro. Em qualquer época, em qualquer situação humana, não existe - para viver vida divina - senão o caminho da humildade. Será que o Senhor se regozija com a nossa humilhação? Não. Que lucraria com o nosso abatimento Aquele que tudo criou, e mantém e governa tudo o que existe? Deus só deseja a nossa humildade, que nos esvaziemos de nós próprios para ele nos poder encher; pretende que não lhe levantemos obstáculos, a fim de que - falando ao modo humano - caiba mais graça sua no nosso pobre coração. Porque o Deus que nos inspira a ser humildes é o mesmo que transformará o nosso corpo de miséria, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso, com aquele poder com que pode também sujeitar a si todas as coisas. Nosso Senhor faz-nos seus, endeusa-nos com um endeusamento bom.

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A soberba, o inimigo

E o que é que impede esta humildade, este eudeusamento bom? A soberba. Esse é o pecado capital que leva ao eudeusamento mau. A soberba induz-nos a seguir, talvez até nas questões mais pequenas, a insinuação que Satanás fez aos nossos primeiros pais: abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal . Lê-se também na escritura que o princípio da soberba é afastar--se de Deus. Na verdade, este vício, uma vez arreigado, influi em toda a existência do homem, até se converter no que S. João chama superbia vitae, soberba da vida.

Soberba? De quê? A Escritura Santa mostra-nos alguns traços, simultaneamente trágicos e cómicos, para estigmatizar a soberba: "de que te ensoberbeces, pó e cinza? Já em vida vomitas as entranhas. Uma ligeira enfermidade: o médico sorri. O homem que hoje é rei, amanhã estará morto".

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Quando o orgulho se apodera da alma, não é estranho que atrás dele, como pela arreata, venham todos os vícios: a avareza, as intemperanças, a inveja, a injustiça. O soberbo procura inutilmente arrancar Deus - que é misericordioso com todas as criaturas - do seu trono para se colocar lá ele, que actua com entranhas de crueldade.

Temos de pedir ao Senhor que não nos deixe cair nesta tentação. A soberba é o pior dos pecados e o mais ridículo. Se consegue atormentar alguém com as suas múltiplas alucinações, a pessoa atacada veste-se de aparências, enche-se de vazio, envaidece-se como o sapo da fábula, que inchava o papo, cheio de presunção, até que rebentou. A soberba é desagradável, mesmo humanamente, porque o que se considera superior a todos e a tudo está continuamente a contemplar-se a si mesmo e a desprezar os outros, que lhe pagam na mesma moeda, rindo-se da sua fatuidade.

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Ouvimos falar de soberba e talvez pensemos numa atitude despótica e avassaladora, com grande barulho de vozes que aclamam o triunfador que passa, como um imperador romano, debaixo dos altos arcos, inclinando a cabeça, pois teme que a sua fronte gloriosa toque o alvo mármore...

Sejamos realistas. Este tipo de soberba só tem lugar numa fantasia louca. Temos de lutar contra outras formas mais subtis, mais frequentes: o orgulho de preferir a própria excelência à do próximo; a vaidade nas conversas, nos pensamentos e nos gestos; uma susceptibilidade quase doentia, que se sente ofendida com palavras ou acções que não são de forma alguma um agravo... Tudo isto, sim, pode ser, é uma tentação corrente. O homem considera-se a si mesmo como o sol e o centro dos que estão ao seu redor. Tudo deve girar em torno dele. Por isso, não raramente acontece que ele recorre, com o seu afã mórbido, à própria simulação da dor, da tristeza e da doença: para que os outros se preocupem com ele e o mimem.

A maior parte dos conflitos que se apresentam na vida interior de muitas pessoas, fabrica-os a imaginação: é que disseram isto ou aquilo, são capazes de pensar aqueloutro, não me consideram... E essa pobre alma sofre, graças à sua triste fatuidade, com suspeitas que não são reais. Nessa aventura desgraçada, a sua amargura é contínua e procura desassossegar os outros, porque não sabe ser humilde, porque não aprendeu a esquecer-se de si mesmo para se entregar, generosamente, ao serviço dos outros por amor de Deus.




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