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08/08/2020

Leitura espiritual 08 Agosto


Cartas de São Paulo

Coríntios 1ª

PRÓLOGO

1 Saudação –
1 Paulo, chamado por vontade de Deus a ser apóstolo de Cristo Jesus, e Sóstenes, nosso irmão, 2 à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, com todos os que em qualquer lugar invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: 3 graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Acção de graças –
4 Dou incessantemente graças ao meu Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi concedida em Cristo Jesus. 5 Pois nele é que fostes enriquecidos com todos os dons, tanto da palavra como do conhecimento. 6 Assim, foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, 7 de modo que não vos falta graça alguma, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. 8 É Ele também que vos confirmará até ao fim, para que sejais encontrados irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. 9 Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor.

I. DIVISÕES NA IGREJA

Divisões na Comunidade –
10 Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento. 11 Pois, meus irmãos, fui informado pelos da casa de Cloé, que há discórdias entre vós. 12 Refiro-me ao facto de cada um dizer: «Eu sou de Paulo», ou «Eu sou de Apolo», ou «Eu sou de Cefas», ou «Eu sou de Cristo». 13 Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Ou fostes baptizados em nome de Paulo? 14 Dou graças a Deus por não ter baptizado nenhum de vós, a não ser Crispo e Gaio, 15 para que ninguém diga que fostes baptizados em meu nome. 16 Baptizei também a família de Estéfanes, mas, além destes, não sei se baptizei mais alguém.

Sabedoria do mundo e loucura da cruz –
17 Na verdade, Cristo não me enviou a baptizar, mas a pregar o Evangelho, e sem recorrer à sabedoria da linguagem, para não esvaziar da sua eficácia a cruz de Cristo. 18 A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus. 19 Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios
e rejeitarei a inteligência dos inteligentes. 20 Onde está o sábio? Onde está o letrado? Onde está o investigador deste mundo? Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? 21 Pois, já que o mundo, por meio da sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem, pela loucura da pregação. 22 Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, 23 nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. 24 Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. 25 Portanto, o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens. 26 Considerai, pois, irmãos, a vossa vocação: humanamente falando, não há entre vós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. 27 Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. 28 O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa. 29 Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus. 30 É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e redenção, 31 a fim de que, como diz a Escritura, aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.

Amigos de Deus

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Responder negativamente a Deus, rejeitar esse princípio de felicidade nova e definitiva, ficou nas mãos da criatura. Mas, se agir assim, deixa de ser filho e torna-se escravo. Cada coisa é aquilo que segundo a sua natureza lhe convém; por isso, quando se move à procura de algo que lhe é estranho, não actua segundo a sua própria maneira de ser, mas por impulso alheio; e isto é servil. O homem é racional por natureza. Quando se comporta segundo a razão, procede, pelo seu próprio movimento, como quem é; e isto é próprio da liberdade. Quando peca, age fora da razão, e então deixa-se conduzir pelo impulso de outro, submetido a domínio alheio; e por isso quem aceita o pecado é servo do pecado (Io 8, 34).

Permitam-me que insista sobre este ponto; é muito claro e podemos comprová-lo com frequência à nossa volta ou no nosso próprio eu: nenhum homem escapa a algum tipo de servidão. Uns prostram-se diante do dinheiro; outros adoram o poder; outros a tranquilidade relativa do cepticismo; outros descobrem na sensualidade o seu bezerro de ouro. E acontece o mesmo com as coisas nobres. Empenhamo-nos num trabalho, numa actividade de maiores ou menores proporções, na realização de um trabalho científico, artístico, literário, espiritual. Se há empenho, se existe verdadeira paixão, quem a isso se entrega vive como escravo, dedica-se com prazer ao serviço da finalidade da sua tarefa.

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Escravidão por escravidão - já que de qualquer modo temos de servir, pois, quer queiramos quer não, essa é a condição humana - não há nada melhor do que saber que somos, por Amor, escravos de Deus. Porque nesse momento perdemos a situação de escravos para nos tornarmos, amigos, filhos. E aqui surge a diferença: enfrentamos as ocupações honestas do mundo com a mesma paixão, com o mesmo empenho que os outros, mas com paz no íntimo da alma; com alegria e serenidade, mesmo nas contradições: pois não depositamos a nossa confiança naquilo que é passageiro, mas no que permanece para sempre, não somos filhos da escrava, mas da mulher livre.

Donde nos vem esta liberdade? De Cristo, Nosso Senhor. Esta é a liberdade com que Ele nos redimiu. Por isso ensina: se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres . Nós, cristãos, não temos de pedir emprestado a ninguém o verdadeiro sentido deste dom, porque a única liberdade que salva o homem é cristã.

Gosto de falar da aventura da liberdade, porque é essa realmente a aventura da vossa vida e da minha. Livremente - como filhos, insisto, não como escravos - seguimos o caminho que Nosso Senhor assinalou para cada um de nós. E saboreamos esta facilidade de movimentos como um presente de Deus.
Livremente, sem qualquer coacção, porque me apetece, decido-me por Deus. E comprometo-me a servir, a converter a minha existência numa entrega aos outros, por amor ao meu Senhor Jesus. Esta liberdade incita-me a clamar que nada na terra me separará da caridade de Cristo .

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Responsáveis perante Deus

Deus fez o homem desde o princípio e deixou-o nas mãos do seu livre arbítrio (Ecli 15, 14). Isto não sucederia se não tivesse capacidade de fazer uma escolha livre. Somos responsáveis perante Deus por todas as acções que realizamos livremente. Não há anonimatos; o homem encontra-se perante o seu Senhor e está na sua vontade decidir-se a viver como amigo ou como inimigo. Assim começa o caminho da luta interior, que é empresa para toda a vida, porque enquanto dura a nossa passagem pela terra ninguém alcança a plenitude da sua liberdade.
Além disso, a nossa fé cristã leva-nos a garantir a todos um clima de liberdade, começando por afastar qualquer tipo de enganosas coacções na apresentação da fé. Se somos arrastados para Cristo, cremos sem querer; então usa-se a violência, não a liberdade. Sem querer podemos entrar na Igreja; sem querer podemos aproximar-nos do altar; podemos, sem querer, receber o Sacramento. Mas só pode crer aquele que o quer. E é evidente que, tendo chegado à idade da razão, se requer a liberdade pessoal para entrar na Igreja e para corresponder aos contínuos chamamentos que Nosso Senhor nos dirige.

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Na parábola dos convidados para o banquete, o pai de família, depois de tomar conhecimento de que alguns dos que deveriam comparecer na festa se tinham desculpado com razões sem razão, ordena ao criado: vai pelos caminhos e ao longo dos cercados e força a vir - compelle intrare - aqueles que encontrares. Não é isto coacção? Não é usar de violência contra a legítima liberdade de cada consciência?

Se meditarmos o Evangelho e ponderarmos os ensinamentos de Jesus, não confundiremos essas ordens com a coacção. Vejam como Cristo insinua sempre: «se queres ser perfeito..., se alguém quer vir atrás de mim...» Esse compelle intrare não implica violência física nem moral; é reflexo do ímpeto do exemplo cristão, que mostra no seu proceder a força de Deus. Vede como o Pai atrai: Deleita ensinando; não impondo a necessidade. Assim atrai a Si .

Quando se respira esse ambiente de liberdade, entende-se claramente que actuar mal não é uma libertação, mas uma escravidão. Quem peca contra Deus conserva o livre arbítrio relativamente à liberdade de coacção, mas perdeu-o em relação à liberdade de culpa . Talvez declare que procedeu de acordo com as suas preferências, mas não conseguirá pronunciar o nome da verdadeira liberdade, porque se fez escravo daquilo por que se decidiu e decidiu-se pelo pior, pela ausência de Deus, e aí não há liberdade.

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Repito: não aceito outra escravidão senão a do Amor de Deus. E isto porque, como já tenho comentado noutras ocasiões, a religião é a maior rebeldia do homem, que não tolera viver como um animal, que não se conforma - não sossega - enquanto não ganha intimidade e conhece o Criador. Quero-os rebeldes, livres de todas os laços, porque os quero - Cristo quer-nos! - filhos de Deus. Escravidão ou filiação divina: eis o dilema da nossa vida. Ou filhos de Deus ou escravos da soberba, da sensualidade, desse egoísmo angustiante em que tantas almas parecem debater-se.

O Amor de Deus marca o caminho da verdade, da justiça, do bem. Quando nos decidimos a responder a Nosso Senhor: a minha liberdade para Ti, encontramo-nos libertos de todas as cadeias que nos atavam a coisas sem importância, a preocupações ridículas, a ambições mesquinhas. E a liberdade - tesouro incalculável, pérola maravilhosa que seria triste lançar aos animais - emprega-se inteiramente em aprender a fazer o bem.

Esta é a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Os cristãos amedrontados - coibidos ou invejosos - na sua conduta, perante a libertinagem dos que não aceitam a Palavra de Deus, demonstram ter um conceito miserável da nossa fé. Se cumprirmos verdadeiramente a Lei de Cristo - se nos esforçarmos por cumpri-la, porque nem sempre o conseguiremos - descobrir-nos-emos dotados dessa maravilhosa elegância de espírito, que não precisa de ir buscar a outro sítio o sentido da mais plena dignidade humana.

A nossa fé não é uma carga, nem uma limitação. Que pobre ideia da verdade cristã manifestaria quem assim pensasse! Ao decidirmo-nos por Deus não perdemos nada; ganhamos tudo. Quem, à custa da sua alma, conserva a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de Mim, voltará a achá-la .

Tirámos a carta que ganha, conseguimos o primeiro prémio. Quando alguma coisa nos impedir de ver isto com clareza, examinemos o interior da nossa alma. Talvez haja pouca fé, pouca intimidade pessoal com Deus, pouca vida de oração. Temos de pedir a Nosso Senhor - através de sua Mãe e nossa Mãe - que aumente em nós o seu amor, que nos conceda saborear a doçura da sua presença; porque só quando se ama se chega à mais plena liberdade: A de jamais querer abandonar, por toda a eternidade, o objecto dos nossos amores.



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