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12/06/2020

Virtudes 8


Fortaleza 8

Magnus in prosperis, in adversis maior - Grande na prosperidade, maior na adversidade.
Estas palavras do epitáfio do rei inglês Jaime II, na igreja de Saint Germain em Laye, próximo de Paris, exprimem a harmonia entre os diferentes aspectos da virtude da fortaleza: por um lado, a paciência e a perseverança, que se relacionam com o acto de resistir no bem, e que já considerámos; do outro, a magnificência e a magnanimidade, que fazem referência directa ao acto de atacar, de se lançar a grandes empreendimentos, e também nos pequenos cometimentos da vida corrente. De facto, segundo a Teologia moral, “a fortaleza, como virtude do apetite irascível, não só domina os nossos medos (cohibitiva timorum), mas também modera as ações temerárias e audazes (moderativa audaciarum). Assim, a fortaleza ocupa-se do medo e da audácia, impedindo o primeiro e impondo um equilíbrio à segunda] (R. Cessario, As virtudes, Edicep, Valência 1988, p. 206. [38] Cf. Ángel Rodríguez Luño, Scelti in Cristo per essere santi. III. Morale speciale, EDUSC, Roma 2008, pp. 294 e 296. A magnanimidade ou longanimidade é propriamente considerada tradicionalmente como um dos frutos do Espírito Santo: cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1832).
A magnanimidade ou grandeza de ânimo é a prontidão para tomar decisões de empreender obras virtuosas, admiráveis e difíceis, dignas de grande honra. Por seu lado, a magnificência refere-se à realização efectiva de obras grandes, e em particular a procura e emprego dos recursos económicos e materiais adequados para levar a cabo obras grandes ao serviço de Deus e do bem comum [38].
São Josemaria descrevia a pessoa magnânima com estes termos: ânimo grande, alma dilatada, onde cabem muitos. É a força que nos move a sair de nós mesmos, a fim de nos prepararmos para empreender obras valiosas, em benefício de todos. No homem magnânimo, não se alberga a mesquinhez, não se interpõe a tacanhez, nem o cálculo egoísta, nem a embuste interesseiro. O magnânimo dedica sem reservas as suas forças ao que vale a pena. Por isso é capaz de se entregar a si mesmo. Não se conforma com dar: dá-se. E assim consegue entender qual é a maior prova de magnanimidade: dar-se a Deus ((São Josemaria, Amigos de Deus, n. 80. O Fundador do Opus Dei considerava como manifestação de magnanimidade o cuidado das coisas pequenas: “as almas grandes têm muito em conta as coisas pequenas” ((São Josemaria, Caminho, n. 818).
Requer-se magnanimidade para empreender, em cada dia, o trabalho da própria santificação e o apostolado no meio do mundo, das dificuldades que sempre haverá, com a convicção de que tudo é possível a quem crê (Cf. Mc 9, 23). Neste sentido, o cristão magnânimo não teme proclamar e defender com firmeza, nos ambientes em que se move, os ensinamentos da Igreja, também nos momentos em que isso possa supor um ir contra a corrente (Cf. (São Josemaria, Via Sacra, XIII estação, ponto 3), aspecto que tem uma profunda raiz evangélica. Assim, o cristão conduzir-se-á com compreensão perante as pessoas, por vezes, com uma santa intransigência na doutrina (Cf. (São Josemaria, Caminho, nn. 393-398), fiel ao lema paulino veritatem facientes in caritate, vivendo a verdade com caridade (Ef 4, 15), que implica defender a totalidade da fé sem violência. Isto implica também que a obediência e docilidade ao Magistério da Igreja não se contrapõe ao respeito da liberdade de opinião; pelo contrário, ajuda a distinguir bem a verdade da fé do que são simples opiniões humanas.
No começo fez-se referência à resistência paciente de Maria ao pé da Cruz. A fortaleza exemplar de Nossa Senhora inclui também a grandeza de alma que a levou a exclamar ante a sua prima Isabel: Magnificat anima mea Dominumquia fecit mihi magna qui potens est, a minha alma glorifica o Senhor… porque fez em mim grandes coisas (Lc 1, 46-49). A exultação de Maria encerra uma importante lição para nós, como recordava Bento XVI: “O homem só é grande, se Deus é grande. Com Maria devemos começar a compreender que é assim. Não devemos distanciar-nos de Deus, mas fazer que Deus esteja presente, fazer que Deus seja grande na nossa vida; assim também nós seremos divinos: teremos todo o esplendor da dignidade divina(Bento XVI, Homilia na Solenidade da Assunção, Castelgandolfo, 15 de Agosto de 2005).

S. Sanz Sánchez

Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, nn. 736, 1299, 1303, 1586, 1805, 1808, 1811, 1831-1832, 2473; São João Paulo II, A virtude da fortaleza, Audiência geral, Roma, 15 de Novembro de 1978; Santo Agostinho, De patientia (PL 40); São Tomás de Aquino, Suma Teológica, II- II, qq. 123-140, (São Josemaria, Amigos de Deus, nn. 77-80.

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