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08/05/2020

Leitura espiritual

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Lucas

Cap. VIII

1 Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze 2 e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; 3 Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens. 4 Como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: 5 Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. 6 Outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. 7 Outra caiu no meio de espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. 8 Uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu fruto centuplicado. Dizendo isto, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, oiça! 9 Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. 10 Disse-lhes: A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam. 11 O significado da parábola é este: a semente é a Palavra de Deus. 12 Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. 13 Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. 14 A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. 15 E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança. 16 Ninguém acende uma candeia para a cobrir com um vaso ou para a esconder debaixo da cama; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. 17 Porque não há coisa oculta que não venha a manifestar-se, nem escondida que não se saiba e venha à luz. 18 Vede, pois, como ouvis, porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser-lhe-á tirado mesmo o que julga possuir. 19 Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa da multidão. 20 Anunciaram-lhe: ‘Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.’ 21 Mas Ele respondeu-lhes: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática. 22 Certo dia, Jesus subiu com os seus discípulos para um barco e disse-lhes: Passemos à outra margem do lago. E fizeram-se ao largo. 23 Enquanto navegavam, adormeceu. Um turbilhão de vento caiu sobre o lago, e eles ficaram inundados e em perigo. 24 Aproximaram-se dele e, despertando-o, disseram: ‘Mestre, Mestre, estamos perdidos!’ E Ele, levantando-se, ameaçou o vento e as águas, que se acalmaram; e veio a bonança. 25 Disse-lhes depois: Onde está a vossa fé? Cheios de medo e admirados, diziam entre eles: ‘Quem é este homem, que até manda nos ventos e nas águas, e eles obedecem-lhe?’ 26 Chegaram à região dos gerasenos, situada defronte da Galileia. 27 Quando desceu para terra, veio-lhes ao encontro um homem da cidade, possesso de vários demónios que, desde há muito, não se vestia nem vivia em casa, mas nos túmulos. 28 Ao ver Jesus, prostrou-se diante dele, gritando em alta voz: ‘Que tens que ver comigo, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes!’ 29 Jesus, efectivamente, ordenava ao espírito maligno que saísse do homem, pois apoderava-se dele com frequência. Prendiam-no com correntes e grilhões para o manterem em segurança, mas ele partia as cadeias e o demónio impelia-o para os desertos. 30Jesus perguntou-lhe: Qual é o teu nome? ‘Legião, - respondeu. Porque muitos demónios tinham entrado nele 31 e suplicavam-lhe que não os mandasse ir para o abismo. 32 Ora, andava ali uma grande vara de porcos a pastar no monte. Os demónios suplicaram a Jesus que os deixasse entrar neles. Ele permitiu. 33 Saíram, pois, do homem, entraram nos porcos e a vara lançou-se do alto do precipício ao lago, e afogou-se. 34 Ao verem o que se tinha passado, os guardas fugiram e levaram a notícia à cidade e aos campos. 35 As pessoas saíram para ver o que tinha acontecido. Vieram ter com Jesus e encontraram o homem, de quem tinham saído os demónios, sentado a seus pés, vestido e em perfeito juízo. 36 Os que tinham visto contaram-lhes como o possesso tinha sido salvo; 37 e toda a população da região dos gerasenos pediu a Jesus que se afastasse deles, pois estavam possuídos de grande temor. Jesus subiu para o barco e afastou-se dali. 38 O homem, de quem os demónios tinham saído, pediu-lhe para ficar com Ele. 39 Mas Jesus despediu-o, dizendo: Volta para a tua casa e conta o que Deus fez por ti. E ele foi anunciando por toda a cidade tudo o que Jesus lhe fizera. 40 Quando regressou, Jesus foi recebido pela multidão, pois todos estavam à sua espera. 41 Veio ao seu encontro um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga. Caindo aos pés de Jesus, suplicava-lhe que entrasse em sua casa, 42 porque tinha uma filha única, de uns doze anos, que estava a morrer. E, quando Ele se dirigia para lá, a multidão apertava-o, a ponto de o sufocar. 43 Ora, certa mulher, que sofria de um fluxo de sangue havia doze anos, e que, tendo gasto com os médicos todos os seus haveres, não pudera ser curada por nenhum, 44 aproximou-se por detrás e tocou-lhe na orla do seu manto; e, naquele mesmo instante, o fluxo de sangue parou. 45 Jesus perguntou: Quem me tocou? Como todos o negassem, Pedro e os que estavam com Ele disseram: ‘Mestre, é a multidão que te aperta e empurra.’ 46 Jesus insistiu: Alguém me tocou, pois senti que saiu de mim uma força. 47 Vendo que não tinha passado despercebida, a mulher aproximou-se, a tremer; e, lançando-se aos pés de Jesus, contou diante de todo o povo por que motivo lhe tinha tocado e como ficara imediatamente curada. 48 Disse-lhe Jesus: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz. 49 Ainda Ele estava a falar, quando alguém da casa do chefe da sinagoga veio dizer: ‘A tua filha morreu; não continues a incomodar o Mestre.’ 50 Mas Jesus, que tinha ouvido tudo, respondeu: Não tenhas receio; crê somente e ela será salva. 51 Ao chegar a casa, não deixou entrar ninguém com Ele, a não ser Pedro, João e Tiago, assim como o pai e a mãe da menina. 52 Todos a choravam e pranteavam. Jesus disse: Não choreis, porque ela não está morta, mas dorme. 53 E, por saberem que ela tinha morrido, troçavam de Jesus. 54 Mas Ele, tomando-a pela mão, chamou-a, dizendo em voz alta: Menina, levanta-te! 55 O espírito voltou-lhe, e imediatamente se levantou. Jesus mandou que lhe dessem de comer. 56 Os pais ficaram estupefactos, e Ele ordenou-lhes que não dissessem a ninguém o que tinha acontecido.

Comentários:

         Desde sempre a mulher desempenhou um papel de extraordinária relevância na história da Salvação humana, a começar, evidentemente, por Santa Maria da qual nasceu o Salvador. Compreende-se que doze homens – e O próprio Jesus Cristo – tinham necessidades correntes, absolutamente naturais, como: quem tratasse da roupa que vestiam, preparasse o alimento que tomavam, etc. A delicadeza do trato feminino deveria contribuir em muito para a tranquilidade do ambiente do pequeno grupo. E não se pense que se tratava de umas pobres coitadas que seguiam o Mestre apenas por entusiasmo ou gratidão pelo bem recebido, o Evangelista sublinha que, uma delas era mulher de um administrador de Herodes, logo, pessoa de estatura social relevante. Cada um de nós deve ter uma permanente dívida de gratidão para com essas mulheres que, sem pedir nada em troca, serviam com alegria e entusiasmo o Senhor os Seus seguidores mais próximos.
        A mulher esteve sempre presente na história humana. Segundo o Génesis, quando O Criador decidiu que não era conveniente que o homem estivesse sozinho e, por isso, criou uma companheira conveniente, Eva, e, esta, tornou-se, assim, a Mãe de todo o género humano. A dignidade da mulher – da Mãe - assume o seu cume quando a Virgem Maria aceita ser a Mãe dO Salvador do Mundo. Em cada mulher, em cada Mãe, devemos respeitar e, até, venerar com especial ternura, essa criatura excelente que, talvez por ser mais débil fisicamente que o homem, é muitas vezes relegada para segundo plano ou, até, vítima de desprezo e rebaixamento. Não seria possível a propagação do género humano sem o concurso inestimável da mulher.
         De facto, não há muito que comentar a respeito deste trecho de São Lucas. O Próprio Jesus o faz explicando aos Doze o significado da parábola. (4-15) Portanto, só caberá dizer que para realmente entender e depois pôr em prática as palavras do Senhor, é absolutamente necessário ter o coração e o espírito limpo de preconceitos e naturalmente disposto a deixar que se enraízem no seu âmago mais profundo para que possam dar o fruto que o Senhor espera.
          Pela segunda vez no ano a Liturgia propõe-nos este trecho (4-15) do Evangelho escrito por São Lucas. Evidentemente que o faz pela importância que tem para a nossa reflexão de cristãos. Qualquer um de nós é um pouco desse terreno bom, pedregoso, ou cheio de espinhos, consoante a nossa disposição, a força da nossa fé, a vontade de seguir Jesus Cristo. Somo como somos, fracos, com defeitos e fraquezas, mas, mesmo assim, O Senhor não deixa de semear em nós a semente da Sua Palavra sempre na esperança que ela arreigue no nosso coração e se transforme em fruto abundante. O Senhor semeia, não escolhendo onde nem em quem, a semente que espalha às mãos largas chega a todos, a cada um de nós. Estejamos atentos a essa sementeira porque – como Ele próprio diz – da forma como acolhermos essa semente, dependerá a nossa vida presente e, sobretudo, a futura, na eternidade.
          No versículo 18 deste capítulo 8 do Evangelho escrito por São Lucas, encerra-se um aviso muito sério de Jesus Cristo. A Fé, que é um dom gratuito de Deus, só se mantém viva e activa, com a oração perseverante e a prática de boas obras. Sem esta “contribuição” da nossa parte, a Fé que pensamos ter irá definhando e enfraquecendo e, como Deus não impõe a Sua Vontade a nenhum dos Seus filhos, acabará por desaparecer. Bem ao contrário, se fizermos como acima se diz, ela fortalecer-se-á ao ponto de arrostar como combates e ameaças que a vida diária sempre traz consigo. Contentamo-nos com a nossa Fé? Mais importante ainda: estamos satisfeitos com as obras que fazemos? Porquê esta pergunta? Em primeiro lugar porque Fé sem obras de pouco vale; o Senhor quer, exige mesmo que a nossa fé se consolide em obras concretas. Depois, porque não basta dizer: ‘eu creio’, é necessário que esse “grito” venha do fundo da nossa alma, do âmago do nosso ser e, sempre, mas sempre, acompanhado do pedido necessário: ‘Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé!’.
         Aos olhos de Deus tudo quanto fazemos ou pensamos é absolutamente claro. As intenções, os propósitos, os compromissos, não podem ser escamoteados. Se não há lealdade e são critério no nosso comportamento e nos nossos desejos de viver como o Senhor quer estaremos como que a querer enganar Deus o que, é impossível. Assim, o nosso comportamento deve ser tal que todos possam vê-lo e apreciá-lo como o vê e aprecia Deus Nosso Senhor. De contrário andaremos pela vida como que “mascarados” de algo ou alguém que, na verdade, não somos e, uma das consequências deste comportamento é irmos perdendo qualidades e virtudes, critério e são discernimento. E, o Senhor, bem avisa: Cuidado porque o pouco que restar de bom nesta pessoa até esse pouco acabará por perder!
         Jesus Cristo esclarece, uma vez mais, quem é a Sua Família. Já o sabemos, todos somos Filhos de Deus, logo, pertencemos à Família Divina e, Jesus Cristo é nosso Irmão. Tal honra e grandeza - sem qualquer mérito da nossa parte - foram-nos dadas gratuitamente pelo Salvador na Cruz. Mas – repete – para que tal seja absolutamente real e certo há uma condição que só depende de nós mesmos: Pôr em prática a Palavra de Deus!
         Assusta um pouco esta declaração do Senhor: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática». O “laço” familiar indispensável está bem claro e definido. Não nos diz para sermos correctos, leais, fiéis, piedosos,mas, “apenas”, que estejamos dispostos a ouvir a palavra de Deus e a pô-la em prática. E, aqui, está o segredo que, afinal, não o é porque como seria lógico alguém pretender pertencer a uma família sem estar disposto a seguir a vontade e desejos do seu Chefe?
          Eu, este pobre homem, fraco e pecador, sou da Família de Jesus Cristo! Assusta-me esta constatação que as palavras do Senhor não deixam qualquer dúvida. Ele compara-me a Sua Mãe, aos Seus irmãos! Sim… quando faço a Sua vontade, quando sigo atrás dEle ansioso por chegar ao porto seguro que me tem reservado. Meu Jesus: Que eu nunca Te perca!

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