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22/05/2020

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Lucas

Cap. XXII




1 Entretanto, aproximava-se a festa dos Ázimos, chamada Páscoa. 2 E os sumos sacerdotes e doutores da Lei procuravam maneira de fazerem desaparecer Jesus, mas temiam o povo. 3 Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era do número dos Doze. 4 Judas foi falar com os sumos sacerdotes e os oficiais do templo sobre o modo de lhes entregar Jesus. 5 Eles regozijaram-se e combinaram dar-lhe dinheiro. 6 Judas concordou e procurava ocasião de o entregar, sem a multidão saber. 7 Chegou o dia dos Ázimos, em que devia sacrificar-se o cordeiro, 8 e Jesus enviou Pedro e João, dizendo: «Ide preparar-nos o necessário para comermos a ceia pascal.» 9 Perguntaram-lhe: «Onde queres que a preparemos?» 10 Respondeu: «Ao entrardes na cidade, virá ao vosso encontro um homem transportando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que entrar 11e dizei ao dono da casa: ‘O Mestre manda dizer-te: Onde é a sala, em que hei-de comer a ceia pascal com os meus discípulos?’ 12 Mostrar-vos-á uma grande sala mobilada, no andar de cima. Fazei aí os preparativos.» 13 Partiram, encontraram tudo como lhes tinha dito e prepararam a Páscoa. 14 Quando chegou a hora, pôs-se à mesa e os Apóstolos com Ele. 15 Disse-lhes: «Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, 16 pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus.» 17 Tomando uma taça, deu graças e disse: «Tomai e reparti entre vós, 18 pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até chegar o Reino de Deus.» 19 Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em minha memória.» 20 Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós.» 21 «No entanto, vede: a mão daquele que me vai entregar está comigo à mesa! 22 O Filho do Homem segue o seu caminho, como está determinado; mas ai daquele por meio de quem vai ser entregue!» 23 Começaram a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer semelhante coisa. 24 Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior. 25 Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. 26 Convosco, não deve ser assim; o que fôr maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. 27 Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve. 28 Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações, 29 e Eu disponho do Reino a vosso favor, como meu Pai dispõe dele a meu favor, 30 a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino. E haveis de sentar-vos, em tronos, para julgar as doze tribos de Israel.» 31 E o Senhor disse: «Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. 32 Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.» 33 Ele respondeu-lhe: «Senhor, estou pronto a ir contigo até para a prisão e para a morte.» 34 Jesus disse-lhe: «Eu te digo, Pedro: o galo não cantará hoje sem que, por três vezes, tenhas negado conhecer-me.» 35 Depois, acrescentou: «Quando vos enviei sem bolsa, nem alforge, nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?» Eles responderam: «Nada.» 36 E Ele acrescentou: «Mas agora, quem tem uma bolsa que a tome, assim como o alforge, e quem não tem espada venda a capa e compre uma. 37 Porque, digo-vo-lo Eu, deve cumprir-se em mim esta palavra da Escritura: Foi contado entre os malfeitores. Efectivamente, o que me diz respeito chega ao seu termo.» 38 Disseram-lhe eles: «Senhor, aqui estão duas espadas.» Mas Ele respondeu-lhes: «Basta!» 39 Saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. 40 Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» 41 Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: 42 «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.» 43 Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. 44 Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. 45 Depois de orar, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. 46 Disse-lhes: «Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.» 47 Ainda Ele estava a falar quando surgiu uma multidão de gente. Um dos Doze, o chamado Judas, caminhava à frente e aproximou-se de Jesus para o beijar. 48 Jesus disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?» 49 Vendo o que ia suceder, aqueles que o cercavam perguntaram-lhe: «Senhor, ferimo-los à espada?» 50 E um deles feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. 51 Mas Jesus interveio, dizendo: «Basta, deixai-os.» E, tocando na orelha do servo, curou-o. 52 Depois, disse aos que tinham vindo contra Ele, aos sumos sacerdotes, aos oficiais do templo e aos anciãos: «Vós saístes com espadas e varapaus, como se fôsseis ao encontro de um salteador! 53 Estando Eu todos os dias convosco no templo, não me deitastes as mãos; mas esta é a vossa hora e o domínio das trevas.» 54 Apoderando-se, então, de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe. 55 Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles. 56 Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: «Este também estava com Ele.» 57 Mas Pedro negou-o, dizendo: «Não o conheço, mulher.» 58 Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: «Tu também és dos tais.» Mas Pedro disse: «Homem, não sou.» 59 Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: «Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu.» 60 Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes.» E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. 61 Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» 62 E, vindo para fora, chorou amargamente. 63 Entretanto, os que guardavam Jesus troçavam dele e maltratavam-no. 64 Cobriam-lhe o rosto e perguntavam-lhe: «Adivinha! Quem te bateu?» 65 E proferiam muitos outros insultos contra Ele. 66 Quando amanheceu, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e doutores da Lei, que o levaram ao seu tribunal. 67 Disseram-lhe: «Declara-nos se Tu és o Messias.» Ele respondeu-lhes: «Se vo-lo disser, não me acreditareis 68 e, se vos perguntar, não respondereis. 69 Mas doravante, o Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus todo-poderoso.» 70 Disseram todos: «Tu és, então, o Filho de Deus?» Ele respondeu-lhes: «Vós o dizeis; Eu sou.» 71 Então, exclamaram: «Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca.»

Comentários:

1-71 –
Todo este Capítulo do Evangelho escrito por São Lucas relata com detalhe e pormenor – como o Evangelista sempre se revela - , como “cores” brilhantes e destacadas, os factos que antecederam o drama da Paixão de Jesus Cristo. Digo “drama” porque, aos meus olhos humanos, se trata realmente de algo tão inusitado  e, até, insólito, que me custa a ler estas páginas sem sentir um aperto no coração esmagado pela evidência de ter sido, eu e todos os homens, o seu objecto.
Parece que nada falta: traição; angústia; pavor; sofrimento indizível; abandono; negação… e ao mesmo tempo, amor imenso e completo; doação absoluta; entrega à Vontade de Deus.
Mas, ”forço-me”, obrigo-me a ler e, lendo, entrozar bem na minha alma o valor que efectivamente tenho – que todos os homens teem – para ser o objecto de tão extraordinário acto de salvação.
Ao considerar este “valor” que tenho para o meu Criador, esmaga-me a responsabilidade  e o dever. Responsabilidade, porque me dou conta que a minha vida – já longa – tem tido muitas negações, rebeldias, ofensas, faltas de correspondência; dever, porque, tenho de ser agradecido pelo dom da vida, em primeiro lugar, e, depois, pela Infinita Paciência e Misericórdia de Deus que sempre espera que eu volte sobre os passos que dei por caminhos ínvios e, me tem perdoado sempre as minhas faltas e, mais que o perdão, me acolhe novamente no Seu Coração amantíssimo e me reintrega na minha “qualidade” de Seu filho e, sendo filho, Seu herdeiro.

(AMA, 2019)

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